História do tempo no Brasil | Revista Hydra | 2018

Apontamentos para uma história do tempo no Brasil

“Ciência dos homens, no tempo”: eis a célebre definição de história oferecida há mais de sete décadas por Marc Bloch [1], e cuja primeira palavra permite maior discordância do que as demais. Pois se é controversa a condição científica da história, é unânime que seu foco deva estar em seres humanos e no tempo. Esta última palavra, aliás, também pode nos remeter a um fenômeno social: partindo-se de uma história de homens no tempo, é possível tomar o tempo como objeto da história [2]. Um objeto qualquer, como tantos outros? Não exatamente, na medida em que este apresenta potencial singular de requalificar uma reflexão teórica inescapável: o problema da dívida tanto da realidade social como de seu conhecimento para com aquilo que aquela palavra revela (ou encobre).

Com o avanço desse duplo tratamento de tempo – como condição da história, como objeto da história – logo o simples singular deve ensejar um singular coletivo. Afinal não há, a rigor, um único tempo da história, de uma época ou de uma sociedade. Sempre, como nos ensina Braudel, toda e qualquer história é sempre constituída por uma pluralidade de tempos simultâneos: uns mais lentos e longos, outros mais rápidos e curtos; mas todos dinâmicos, configurados pelas dimensões concretas da realidade social – estas transformadas segundo seus ritmos próprios – e ensejando entre eles relações: tensões, amálgamas, hierarquias e definições recíprocas [3]. Pode-se entender, a partir daí, tempo histórico ou tempo social como a síntese dessas relações, a criarem certas permanências que, segundo Koselleck, resultam em estruturas temporais, também elas presentes em toda e qualquer sociedade [4]. Leia Mais