História e História Econômica / Sæculum / 2013

O dossiê História e História Econômica, publicado neste número 29 da Sæculum, reúne um conjunto bastante amplo e diversificado da produção historiográfica atual neste campo. Como se poderá ver, as contribuições são muito variadas, desde a apresentação do método de georreferenciamento, proposto por Angelo Carrara e Rafael Laguardia, até o debate contemporâneo sobre o Estado de Bem Estar Social formulado por Matteo Troilo, passando por uma saudável questão em torno do método comparativo de dois clássicos da História Econômica proposta por Elio Flores.

Por outro lado, o leitor poderá encontrar algumas afinidades temáticas entre os artigos, representando, talvez, as tradições mais consolidadas da historiografia brasileira no campo da História Econômica. Os textos de Marina Candido e Filipa da Silva tratam do tráfico de escravos, tema que também é tangenciado no estudo de Natália Tammone sobre o comércio brasileiro com os Estados Unidos durante o século XIX. Um diálogo interessante também pode ser promovido entre os artigos de Laurent Saes e Rafael Marquese em torno da evolução dos sistemas escravistas americanos e do abolicionismo. O que, por sua vez, leva-nos ao problema da transição ao trabalho livre, acercado qual o estudo monográfico de Paulo Gonçalves sobre o transporte de imigrantes italianos no Atlântico e o artigo de Alexandre Saes e Fábio Castilhos sobre a produção de café e de mantimentos no Sul de Minas têm muito a acrescentar. Há ainda os trabalhos de História Agrária de Gustavo Pereira da Silva, também sobre o complexo cafeeiro, e o de André Corrêa sobre a pecuária em Caçapava, no Rio Grande do Sul, que ajudam a traçar um panorama mais amplo e complexo das estruturas agrárias do Brasil nos oitocentos.

Também há de se destacar os trabalhos que tratam da economia colonial, outro campo tradicional e de importância no Brasil desde os clássicos de Roberto Simonsen e Caio Prado Jr. Pablo MontSerrath retoma o debate sobre a crise do ouro nas décadas de 1760 e 1770; Regina Batista investiga o comércio de Madeiras no Grão Pará; Denise Moura trata do comércio do açúcar no circuito platino; e Leonardo Rolim aborda o negócio de carnes no Ceará Grande; estudos que revelam outras geografias econômicas da América portuguesa na segunda metade do século XVIII.

Por último, o artigo de Aloisio Cunha, acerca das estradas de ferro na Bahia, e o de Sydenham Neto, que versa sobre o papel do Estado e dos empresários na constituição da siderurgia brasileira, permitem enriquecer o debate a respeito da industrialização e da modernização do Brasil durante o século XX.

O dossiê é completado pela entrevista com Robin Blackburn, historiador e sociólogo inglês, na qual são abordados temas como a contribuição dos estudos marxistas para a história da escravidão e sua relação com a formação do capitalismo, o impacto do tráfico de escravos nas sociedades africanas, as origens da Revolução Industrial inglesa, entre outros. Agradecemos a ele por ter aceito o convite para a entrevista, que foi feita durante sua estadia em João Pessoa, onde esteve a convite do Departamento de História da UFPB. Agradecemos, igualmente, a todos os autores que enviaram suas contribuições ao dossiê, representando quinze instituições distintas, doze do Brasil e três de outros países.

Registre-se à guisa de conclusão que, com este dossiê, os organizadores esperam estar estimulando a pesquisa e a investigação em História Econômica, área tão maltratada quanto necessária nesses anos de crise, mas que, como os artigos aqui publicados indicam, ainda desperta o interesse de pesquisadores de várias gerações.

Na seção de artigos livres, como sempre, Sæculum abre espaço para temas dos mais variados: Breno Lisboa trata das especificidades das despesas da Câmara de Olinda entre os séculos XVII e XVIII; Aaron Sena Cerqueira Reis analisa o livro Lições de História Pátria, publicado em 1876 por Américo Brasiliense com aprovação do IHGB; Antônio Manoel Elíbio Jr, Carolina Soccio Di Manno de Almeida e Marcos Costa Lima discutem a importância de Edward Said para os estudos sobre o póscolonialismo; e Alessandra Soares Santos se debruça sobre a obra de Afonso Arinos a fim de melhor compreender as visões desse intelectual sobre a identidade nacional e a cultura popular. A resenha de Elisgardênia de Oliveira Chaves sobre o livro Homens de caminho, originado na tese de doutorado de Isnara Pereira Ivo, docente da UESB, mostra a riqueza e profundidade que os estudos coloniais vêm alcançando nos últimos anos fora do eixo Rio / São Paulo. Fechando a edição, uma saborosa entrevista com o prof. Robin Blackburn, da Universidade de Essex, exdiretor da New LeftReview, que visitou a UFPB em março deste ano.

Esperamos que o leitor aproveite estas páginas, que elas encontrem terreno fértil para fomentar a constante e incansável construção do conhecimento histórico crítico que possibilita, ao final, o exercício de uma cidadania mais plena por todos nós. Vamos ao mundo de Clio, então…

A Comissão Editorial.


Comissão Editorial. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.29, 2013. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê