Imagem e imaginário colonial / Outros Tempos / 2016

O presente volume da revista Outros Tempos traz o dossiê intitulado imagem e imaginário colonial, com oito artigos de especialistas no campo da história cultural, da história visual do colonialismo e da história social da fotografia e do cinema. Todos os artigos versam sobre o binômio imagem e imaginário a partir de abordagens variadas e com base em diferentes suportes materiais às imagens, como a imprensa periódica ilustrada, a fotografia e o filme. Ora como fontes, ora como objetos de estudo, as imagens interpelam historiadores e demais especialistas em suas investigações sobre a visualidade do período colonial. Encontra-se no presente dossiê um conjunto de questionamentos sobre a representação imagética da alteridade em situação colonial, sobre aquilo que se busca ver e / ou exibir nos quadros do colonialismo e ainda sobre obnubilações e invisibilidade de certas práticas em territórios sob domínio colonial.

Nas últimas décadas, as imagens têm sido muito usadas em trabalhos acadêmicos que tratam do imperialismo e do colonialismo dos séculos XIX e XX. Filmes, fotografias, cartões postais, série de selos, cartazes, desenhos da imprensa e outros materiais iconográficos oferecem uma panóplia de recursos visuais. Algumas tendências no campo da história visual podem ser observadas em pesquisas sobre a produção e a circulação de imagens da África, da Ásia e da Oceania. Com o desenvolvimento das linguagens visuais modernas como a fotografia e o cinema, os historiadores têm também se interessado pelo balbuciar dessas práticas culturais nos confins dos impérios coloniais.

Os aportes de uma história visual do colonialismo são recentes. Algumas pesquisas nessa área têm contribuído para uma melhor compreensão acerca de uma economia visual e de sua relação com um imaginário colonial. Essa nova historiografia dialoga, igualmente, com os estudos pós-coloniais e com os estudos de gênero. Assim, as pesquisas realizadas têm dado mais ênfase às representações visuais e aos modelos de visualidade durante o colonialismo, com destaque para o agenciamento feminino.

Da lavra de Odile Goerg, professora de história da África contemporânea da Universidade Paris-Diderot, o artigo Visibilidade e invisibilidade dos cinemas na África colonial abre o dossiê. A autora de Fantômas sous les tropiques (2015) destaca em seu artigo as raras evidências das primeiras projeções cinematográficas no continente africano. No segundo artigo, a professora emérita da Universidade de Tours, Christine de Gemeaux, analisa a representação colonial da alteridade feminina no cinema a partir da narrativa da jovem Meg Gehrts sobre a sua viagem ao Togo entre 1913 e 1914. Ainda sobre cinema e colonialismo, Catherine Repussard, mestre de conferência na Universidade de Estrasburgo, trata do filme Tabu, de Friedrich W. Murnau, no terceiro artigo do dossiê. A autora de Utopies coloniales et Modernité (2016) demonstra o des / encanto de um dos principais cineastas do expressionismo alemão ao realizar um filme nos mares do Sul em 1931. De autoria de Maria do Carmo Piçarra, da Universidade de Lisboa, o artigo seguinte versa sobre a instrumentalização do cinema pela propaganda colonial portuguesa à época do Estado. A autora de Azuis Ultramarinos (2015) analisa no seu artigo alguns filmes que foram exibidos em exposições internacionais com o fito de afirmar e legitimar o regime ditatorial de Salazar.

Os próximos três artigos abordam o imaginário colonial por meio de fotografias conservadas nos “arquivos coloniais”. Nádia Vargaftig, professora da Universidade de Reims-Champagne Ardenne (URCA), tratou do acervo fotográfico da Companhia de Moçambique em seu artigo Construção visual de um território colonial. A autora de Des empires en carton (2016) discorre sobre algumas particularidades desse fundo fotográfico guardado na Torre do Tombo. No seu artigo A Souvenir of Lourenço Marques, a doutoranda Inês Vieira Gomes (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) analisa imagens de dois álbuns fotográficos. No penúltimo artigo, intitulado Fotografia e alteridade feminina na literatura colonial escrita por mulheres alemãs, a mestre em história cultural (Universidade Federal de Santa Catarina), Ana Carolina Schveitzer, analisa algumas imagens fotográficas de africanas em situação colonial. O último artigo do dossiê, de minha autoria, apresenta uma versão lusitana da Partilha da África por meio de imagens satíricas da imprensa periódica ilustrada de Lisboa.

Para as autoras estrangeiras convidadas a participar do presente dossiê é a primeira vez que seus trabalhos são publicados no Brasil. A revista Outros Tempos logra com este volume divulgar em nível nacional alguns resultados de pesquisas de especialistas reconhecidas em nível internacional. Além dos oito artigos, integra o dossiê uma entrevista com a organizadora do livro O império da visão (2015), a historiadora portuguesa Filipa Lowndes Vicente, atualmente, professora visitante na Brown University.

Fazem ainda parte do referido dossiê as resenhas de Matheus Serva Pereira, Priscila Maria Weber, Thiago Henrique Mota, e Taciana Almeida Garrido de Resende, respectivamente, dos livros Angola: história, nação e literatura (1975-1985); Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola (Século XVII); The Walking Qur’an: Islamic Education, Embodied Knowledge and History in West Africa; e, Encontros com Moçambique.

O presente volume conta ainda com os seguintes artigos livres: A contribuição da ciência da história na compreensão de políticas públicas educacionais: uma análise do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) – 2008-2012 (Suseli Cristiane Alves Camilo), As noções de progresso do Império à República: transformações recônditas em uma mesma terminologia (André Nunes de Azevedo), A modernidade e a pós-modernidade como gênese do fascismo: o caso dos velhos e novos integralistas brasileiros (Natália dos Reis Cruz) e Romaria na cidade de Panamá em Goiás: um novo olhar na devoção ao Divino Pai Eterno (Eloane Aparecida Rodrigues Carvalho; Mary Anne Vieira Silva; Eliézer Cardoso de Oliveira).

Boa leitura!

Sílvio Marcus de Souza Correa


CORREA, Sílvio Marcus de Souza. Apresentação. Outros Tempos, Maranhão, v. 13, n. 22, 2016. Acessar publicação original [DR]

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