Vizinhos distantes: universidade e ciência na Argentina e no Brasil | Hugo Lovisolo

O livro de Hugo Lovisolo, escrito numa prosa clara, fluente e não uniforme, ao mesmo tempo que conceitualmente precisa, parte de um tema rico e de um problema oportuno: realizar um estudo comparativo entre o desenvolvimento científico da Argentina e do Brasil, que, apesar das muitas semelhanças, seguiram caminhos distintos. O autor se pergunta, já desde o início, o que interessa às comunidades científicas de muitos países, particularmente as latino-americanas: “historicamente, desde a conquista, os vizinhos próximos herdaram tradições religiosas, políticas, culturais e posições econômicas estruturais bem mais semelhantes do que na comparação com os vizinhos distantes … . Diante do pano de fundo das semelhanças, emerge então com naturalidade a questão geral: como e por que foram geradas as diferenças” (p. 9). O período tratado vai, grosso modo, de 1900 a 1970, mas o século XIX acaba sendo englobado por conta da análise, imprescindível, da influência do positivismo, com suas nuanças e matizes, em ambos os países.

As 132 páginas dividem-se em cinco capítulos, além da ‘Introdução’, na qual o autor apresenta o livro, suas intenções e premissas, e adiciona os agradecimentos. Sua premissa básica é que, em princípio, desenvolvimento econômico e desenvolvimento científico e cultural caminham juntos. Nos dois casos sob análise essa relação não é direta, o que conduz a um paradoxo que terá função heurística, como explica o autor já na primeira página. Outra premissa importante é que comparações com não-vizinhos, principalmente com os freqüentemente citados Estados Unidos, Inglaterra e França, por haverem sido já muito exploradas, estariam agora, de certo modo, esgotadas como desafio intelectual, e portanto valeria a pena apostar na comparação com a América Latina. Leia Mais