Madri di uomini e di dèi. La rappresentazione della maternità attraverso la documentazione numismatica di epoca romana | Anna Lina Morelli

A Profª Anna Lina Morelli atua como docente de Numismática do Departamento de História Antiga da Università degli Studi di Bologna (Itália) e se insere, com tal trabalho, no projeto para a realização do Lexicon Iconographicum Numismaticae Classicae et Mediae Aetatis (LIN). Neste projeto conjunto, promovido pelas Universidades de Messina, Bolonha, Gênova e Milão, a autora se distingue por ter colocado em foco o papel da mulher no império romano; particularmente, através da coletânea de todas as moedas que trazem a representação dos membros femininos da domus imperial, pesquisa a ideologia que conduz à sucessão dinástica centralizada na figura da Mater e na própria idéia de maternidade em suas múltiplas acepções: desde que a concessão do título de Mater correspondia à designação oficial do Filius e a legitimação do poder imperial em âmbito dinástico. Mater era aquela que havia concebido e dado à luz, e ainda à qual o papel materno era atribuído juridicamente, com base no sistema da adoptio. Mas também era quem que assumia a função de maternidade social e institucional, da qual derivam ações de proteção e tutela dos exércitos (Mater Castrorum), do Senado ou mesmo da Pátria, sendo este último um papel paralelo à paternidade da figura do imperador.

A Autora reconstruiu e evidenciou não só a representação da figura da Mater (mãe do Augusto ou dos Augustos, mãe dos filhos mortos e divinizados, mãe adotiva de filhos destinados à sucessão imperial), mas também seu domínio semântico, ligando-o a aspectos jurídicos, militares, religiosos, éticos e ideológicos; e se entrelaça com questões complexas como a sucessão, a gestão do poder, o controle social e a realidade institucional.

Os documentos recolhidos (moedas) são exaustivamente examinados e criteriosamente apresentados, pois foram cunhadas não somente na casa da moeda central de Roma, mas ainda nas casas de moeda provinciais e periféricas, desde a época tardo-republicana até Otacília Severa, a última Augusta identificada como Mater. A Autora analisa as diferenças no emprego de metais e nominais como forma de estabelecer uma hierarquia no papel dessas imperatrizes, os diversos papéis iconográficos de seus retratos, em confronto com os dos imperadores, bem como os tipos monetários: estes últimos ressaltam a relação das mães da domus imperial com as mães divinas (deusas), geradoras no que diz respeito aos ciclos da natureza e da fertilidade da terra; e especificamente com relação à esfera política, como geradoras divinas da estirpe imperial, e transmissoras do poder real. Em seu caráter alegórico, numa dimensão de Fecunditas, seja genética, seja moral, a Mater é vista ainda como a base da Concordia familiar, por sua vez fundamento da Aeternitas do império e garantia de Felicitas Temporum.

Assim, o elemento feminino da domus imperial, em todas as suas acepções e manifestações icônicas foi recordado, através de excelente análise no plano histórico, exímia metodologia de pesquisa, e pleno domínio da interpretação iconográfica; além disso, mostra a suma relevância do papel da moeda nas estratégias de comunicação, propaganda e manutenção do poder.

O plano da obra se apresenta com o Prefácio da renomada Profª Maria Caccamo Caltabiano (Università di Messina), Premissa e Introdução da Autora. A análise histórica se inicia com o uso político da maternidade e as premissas da idade republicana, a figura da mater em época Augustana, e consequentemente de Lívia, mãe de Tibério e ícone da legitimação. Ainda dedicados à dinastia Júlio-Cláudia são os capítulos sobre Agripina Maior (enquanto mater do imperador Calígula), Antônia Menor (“a maternidade calada” da mãe de Cláudio) e Agripina Menor, mãe, irmã e mulher de imperadores (de Nero, de Calígula e Cláudio, respectivamente). Sobre o período dos Flávios, encontramos um estudo sobre Domícia (mulher de Domiciano), Júlia (filha de Tito) e sua ausente descendência dinástica. Subsequentemente, a estudiosa enfoca Plotina, mulher de Trajano, e Sabina, mulher de Adriano (as chamadas “mães adotivas”) e as Augustas Antoninas, entre maternidade genética, tutela social e implicações religiosas. Os últimos capítulos são dedicados a Júlia Domna (mulher de Septímio Severo), mãe de homens e de deuses, e as outras Augustas dos Severos; e enfim Otacília Severa (mulher de Felipe I), a última Augusta identificada como mater, como já dito antes.

Seguem-se as Conclusões e uma Tabella de equivalência extremamente útil, com as ocorrências dos termos mater / meter nas legendas e nas iconografias correspondentes, nas emissões oficiais e locais. A Bibliografia é exaustiva, atualizada e de altíssimo nível, e as 83 Figuras de moedas exemplificam os diversos capítulos com precisão e competência, algumas dentre as várias qualidades da Autora. O volume traz precioso conteúdo de pesquisa, e não exclusivamente para estudiosos de Numismática, mas ótimo documento de consulta, de amplo espectro, para os que se dedicam à História e à Arqueologia romana, e à Antiguidade em geral.

Maricí Martins Magalhães –  Museu Histórico Nacional.


MORELLI, A.L. Madri di uomini e di dèi. La rappresentazione della maternità attraverso la documentazione numismatica di epoca romana. Collana Ricerche 1. Bologna: Ante Quem soc. coop., 2009. Resenha de: MAGALHÃES, Maricí Martins. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, v.9, n.9, p. 182-184, 2013. Acessar publicação original [DR]