Mato Grosso: história e historiografia / Territórios & Fronteiras / 2012

A Territórios & Fronteiras do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso, ao trazer no presente número o dossiê “Mato Grosso: História e Historiografia”, dá continuidade ao objetivo de aproximar historiadores e historiadoras de várias instituições de pesquisa e ensino do país, responsáveis pela garimpagem de temáticas recorrentes na historiografia brasileira e mundial. A localização de fontes e instrumentos de pesquisa inéditos, dispostos em acervos e arquivos nacionais e internacionais, e também disponibilizados em meios eletrônicos, permitiu a estes estudiosos e estudiosas a coleta e a feitura de cinco artigos, tidos por nós, como autênticas “gotas do melhor licor de pequi do cerrado”. A seguir, o convite para degustarem das leituras.

André Nicásio de Lima, em “Mato Grosso e a geopolítica da Independência (1821-1830)”, ao analisar a situação mato-grossense nas primeiras décadas do século XIX, traz as tensões estabelecidas entre as Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa e o Reino Unido do Brasil, particularmente no curto período de gestão do Príncipe Regente D. Pedro I, em que foram gerados, segundo o autor, novos espaços de poder e representação, e que entraram em contraposição com as estruturas políticas constituídas ao longo do período colonial. De acordo com Lima deve-se ter em conta no processo “as transformações resultantes da reorientação da geopolítica portuguesa para a fronteira Oeste na virada para o século XIX”.

Ione Aparecida Martins Castilho Pereira, João Ivo Puhll e Otávio Ribeiro Chaves, em “Indios de Mojo e Chiquitos no contexto colonial ibérico do século XVI ao XVIII”, embrenham-se na intrincada trama da memória para localizar o que para eles foi denominado de “um espaço de relações tensas de fronteira” entre portugueses e espanhóis. Para os portugueses, um espaço a ser ocupado definitivamente visando a manutenção de suas possessões no extremo oeste da Capitania Geral de Mato Grosso e Goiás e, para os espanhóis, ações de constantes oposições mediante a fundação de missões jesuíticas, com o propósito de firmar o direito de posse sobre as margens do rio Guaporé. Segundo os autores, nesse espaço “novas espacialidades foram criadas, (re) significadas e (re) elaboradas, conduzindo a novas realidades históricas e sínteses culturais”.

Maria de Lourdes Fanaia, em “O silêncio sobre a Rusga nos livros didáticos de História”, reafirma a importância da inserção dessa temática no âmbito da historiografia nacional, com vistas à ampliação do conhecimento histórico sobre as revoltas regenciais no Império Brasileiro. Ainda, segundo Fanaia, o episódio de “30 de maio de 1834”, ocorrido em Cuiabá, e em localidades próximas, não foi um fato isolado, mas parte integrante do movimento do Período Regencial, e a observação de que “as práticas do processo ensino-aprendizagem precisam ser revisadas diante das mudanças historiográficas”.

Marinete Aparecida Zacharias Rodrigues, em “Justiça e Ordem: discurso político e contexto criminal no Sul da Província de Mato Grosso de 1870 a 1889”, apresenta-nos aspectos de algumas proposições apontadas por pensadores da história do pensamento político para analisar os discursos oficiais elaborados pelas autoridades que administraram a província de Mato Grosso no período posterior a Guerra com o Paraguai. E neste sentido, segundo a autora, “a escassez de funcionários instruídos, leia-se pessoas qualificadas para cargos no judiciário, polícia e administração, criaram barreiras e conflitos ao exercício da autoridade legal e a estabilidade das posições sociais conquistadas.”

Nanci Leonzo, em “A propósito do beribéri”, lança algumas observações sobre o percurso do beribéri em várias regiões do mundo, e em que momento e como teria se manifestado em Mato Grosso. Ao refazer o trajeto percorrido pelo beribéri, a autora surpreende-nos com um criterioso levantamento de fontes e bibliografia sobre o tema, e torna o artigo uma importante contribuição à história do nosso corpo, ao dissecar a relação saúde e sociedade na história da medicina social. Na interpretação de Leonzo, “O retorno do beribéri expõe a miséria cotidiana e em certo sentido crônica de parte dos trabalhadores brasileiros esquecidos em longínquos espaços do território nacional. […] É o presente contaminado por um passado longínquo e pleno de desgraça humana”.

Nauk Maria de Jesus, em “A capitania de Mato Grosso: História, historiografia e fontes”, divulga pesquisas que por vezes, “ficam restritas aos seus locais de produção”. Após apresentar e discutir narrativas de cronistas do século XVIII, propõe uma divisão da historiografia do período colonial mato-grossense em três momentos históricos distintos: a) antes da década de 1970; b) entre as décadas de 1970 e 1990; e c) pós 2000 e, indica, para efeito de divulgação, o “Guia de Fundos e Coleções do Arquivo Público de Mato Grosso” (APMT).

Maria Adenir Peraro – E-mail: [email protected]

Fernando Tadeu de Miranda Borges


PERARO, Maria Adenir; BORGES, Fernando Tadeu de Miranda. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.5, n.2, jul / dez, 2012. Acessar publicação original [DR]

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