60 anos da Revolução Cubana e 20 anos da Revolução Bolivariana: um balanço histórico, literário e historiográfico / Cadernos do Tempo Presente / 2019

O ano de 2019 foi marcado pelas rememorações de duas experiências históricas relevantes da América Latina: os 60 anos da Revolução Cubana e os 20 anos da Revolução Bolivariana. Ambas as experiências, carregadas de simbolismo, consistem em eventos importantes para a compreensão da História latino-americana, em razão dos impactos dessas experiências revolucionárias na região.

A vitória dos jovens rebeldes de Sierra Maestra do Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR-26), em janeiro de 1959, comandados por Fidel Castro, Raul Castro, Ernesto “Che” Guevara, Camilo Cienfuegos, entre outros nomes marcantes, foi um dos acontecimentos mais relevantes e, por isso, um dos mais influentes da história latino-americana da segunda metade do século XX.

O contexto da Guerra Fria e os impactos dessa revolução na região, exemplificados na propagação das consígnas anti-imperialistas, anticolonialistas, latino-americanistas e no surgimento de grupos guerrilheiros que buscaram no modelo cubano a referência para a transformação social, fizeram dessa experiência o paradigma para os que desejavam a realização da utopia revolucionária na América Latina entre as décadas de 60’ e 80’ do século XX.

Com o fim da Guerra Fria, em 1991, Cuba sofreu com a asfixia econômica, em virtude das da estagnação econômica decorrente do fim da União Soviética e da perpetuação do embargo econômico norte-americano. No entanto, a sua capacidade de resistência fortaleceu o seu simbolismo entre as esquerdas latino-americanas e a perpetuou enquanto um modelo para os desejosos da utopia revolucionária na América Latina.

Em 1998, a eleição de Hugo Chávez para a presidência da Venezuela inaugurou um ciclo político na história do tempo presente latino-americana marcado pelo protagonismo das esquerdas, em decorrência da sucessão de suas vitórias eleitorais entre 1998 e 2009. O resgate das bandeiras políticas propagandeadas pelos cubanos desde a década de 1960, como o anti-imperialismo e o latino-americanismo, foi uma marca desse período, que teve intensas conexões com Cuba revolucionária.

O caso venezuelano foi o mais radicalizado das experiências recentes de governos de esquerda. Os traços nacionalistas, democráticos participativos, pró-socialistas e de soberania nacional, que pareciam esquecidos nos anos neoliberais das décadas de 1980 e 1990, foram retomados e tornaram-se consígnias transformadoras a serem espalhadas pelo nosso continente. Nesse processo, além disso, assistimos a uma apropriação política do discurso revolucionário cubano, que contribui para a construção do imaginário revolucionário do bolivarianismo resgatado por Hugo Chávez.

A forte conexão entre Hugo Chávez e Fidel Castro fez com que o projeto bolivarianista do chavismo exemplificasse de forma mais veemente a influência da revolução cubana nos grupos de esquerda latino-americanos que ganharam projeção política no início do século XXI. A aliança entre esses dois ícones da história latino-americana, iniciada em dezembro de 1994, deveu-se à recíproca admiração e a interesses políticos, econômicos e geopolíticos.

Assim, a importância histórica das duas revoluções fez com que agregássemos contribuições de pesquisadores das áreas de História, Economia, Literatura e Relações Internacionais em único dossiê. Composto por sete artigos e uma resenha de pesquisadores brasileiros e venezuelanos, esse material poderá contribuir para as reflexões sobre as experiências políticas vividas por cubanos e venezuelanos nas últimas seis décadas. Boa leitura!

Dilton Maynard (UFS)

Karl Schurster (UPE)

Rafael Araujo (UERJ)


MAYNARD, Dilton Cândido Santos; PINHIRO DE ARAUJO, Rafael; SCHURSTER, Karl. [60 anos da Revolução Cubana e 20 anos da Revolução Bolivariana: um balanço histórico, literário e historiográfico]. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, v.10, n.2, 2019. Acessar publicação original [DR]

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