Teoria Antropológica e Arqueológica, Convergências e Divergências – MILLER JÚNIOR (CA)

MILLER JÚNIOR, Tom O. Teoria Antropológica e Arqueológica, Convergências e Divergências. Prefácio de Gabriela Martin. NATAL: Ed. da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 237 pp, 2019. Resenha de: CISNEIROS, Daniela.  Clio Arqueológica, Recife v.3, n.3, p.253-255, 2018.

A Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte publica a obra póstuma do Professor Tom Miller Teoria Antropológica e Arqueológica, Convergências e Divergências que sairá ao público nos primeiros meses de 2019 com o patrocínio da Associação norte-rio-grandense de Arqueologia. O livro é aguardado com a natural impaciência pela publicação de uma obra que passará a ser básica, especialmente para o conhecimento da teoria arqueológica nos programas de pós-graduação em Arqueologia que tem proliferado no Brasil nas duas últimas décadas. Escrito de forma didática e despretensiosa orienta, porém, no caminho árduo da teoria numa disciplina cuja base é aparentemente prática.

A obra está composta por doze capítulos e um anexo, também dividido em doze apartados sob o título Paradigmas e Escolas de Teoria Antropológica. Esse anexo demonstra o interesse do autor em que o livro seja um guia para o conhecimento das teorias antropológicas e das possibilidades da sua aplicação no início do aprendizado teórico. Uma ampla e escolhida relação bibliográfica completa a obra.

Podemos afirmar que o lado mais original do livro do Professor Miller é a tentativa bem-sucedida de relacional o conhecimento antropológico e arqueológico num seguimento diacrônico e útil às duas disciplinas e na procura de um paradigma teórico válido para a Arqueologia brasileira.

São também itens ressaltáveis do livro os conceitos e diferenças entre o difusionismo europeu e o americano assim como entre o estruturalismo francês e o dos americanistas. O Livro aborda a difusão mundial da cultura formulada pelos difusionistas da Escola de Viena, com raízes fincadas no século XIX e marcado teor religioso, por sua vez criticados pelos histórico-difusionistas americanos mais rigorosos na demonstração dos caminhos para a difusão das culturas.

Como “Arqueologia Irrequieta” o autor discorre sobre as dúvidas de antropólogos e etnólogos norte-americanos em relação à funcionalidade de uma teoria para a arqueologia. Nesse capítulo o Professor Miller foi particularmente severo em relação aos seus colegas norte-americanos da escola radicar de Frans Boas: “De fato, os arqueólogos norte-americanos caíram sobre o mesmo feitiço empirista antiteórico boasiano que os outros antropólogos seus colegas para o quais “teoria” representava o frívolo, ginástica mental inútil, indigno de um cientista sério e responsável”.

Segundo o autor, depois da Segunda Guerra Mundial, a Antropologia norteamericana teve uma influência crescente sobre a nascente Antropologia brasileira, dando-se maior ênfase ao trabalho de campo e na responsabilidade do pesquisador em coletar e publicar dados fidedignos, embora com despreocupação com a teoria e um ecletismo que, por muitos anos, influenciaram diversas instituições no Brasil, inclusive as mais fortes e tradicionais.

Além do alto grau de informações antropológicas e arqueológicas que o livro apresenta, não podemos deixar de citar as numerosas reflexões do autor em relação ao alto grau de complexidade dos fenômenos socioculturais e da capacidade humana de acumular conhecimentos, reflexões que transformam o livro póstumo do professor Tom Mille numa obra singular e de utilidade indubitável para as novas gerações de arqueólogos brasileiros.

Daniela Cisneiros – Departamento de Arqueologia, UFPE. E-mail: [email protected]

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