A Terceira margem do Gran Caribe / Revista Brasileira do Caribe / 2019

Este número da Revista Brasileira do Caribe é composto por três seções. O dossiê “A terceira margem do Gran Caribe” reúne estudos sobre as relações entre o Caribe, Sul da Europa e África. A partir de diferentes referentes disciplinares e temáticos, os textos reunidos focalizam as conexões, os trânsitos e as experiências comuns entre sujeitos e processos desses três espaços. Eles revelam que a densidade e a continuidade histórica destas relações torna possível falar de um terceiro espaço, o do movimento de ida e retorno, de compartilhamento e mútua influência, nomeado aqui de terceira margem. A segunda sessão, artigos livres, reúne artigos diversos sobre a literatura e sociedade caribenhas. Finaliza o número, a seção resenha.

Abre o dossiê “A terceira margem do Gran Caribe” o artigo Infante y Martí pensadores decoloniales de Fernando Limeres Novoa. Neste texto, tendo como ponto inicial os elos entre o Caribe a Andaluzia, são descritos e analisados as coincidências entre o pensamento de Martí e Blas Infante, pensadores revolucionários do período de transição entre o século XIX e XX. Ígor Rodríguez-Iglesias, em Procesos de la ideología lingüística del andaluz en el Caribe cubano a través de la etnografía sociolingüística crítica tece considerações sobre experiências de preconceito linguístico com o falar andaluz vivenciadas por ele durante etnografia realizada em Cuba. Esse artigos, assim, estão situados dentro das relações entre Caribe o Sul da Europa, esse espaço que Garcia de Léon ( ) chama de caribe afroandaluz.

As relações entre o Caribe a África são problematizados por Hélio Márcio Nunes Lacerda no artigo A ficção do Caribe: Tituba e a invenção do mundo colonial. O autor pergunta-se sobre o lugar das reescritas literárias de eventos e personagens históricos realizadas pela literatura caribenha contemporânea e a relação desse processo pelas disputas en torno da memória de eventos como a escravidão e a resistência.

O último artigo, Pata negra: conversaciones sobre negritud, cultura e Historia de Andalucía. Entrevista con Jesús Cosano é um diálogo entre esse autor e Javier García Fernández em que são tratados da relação entre África e Andaluzia, a partir do ativismo cultural e musical de Cosano e da presença africana no sul da Europa.

A seção artigos livres é composta, em primeiro lugar pelo artigo Periodización y praxis para el estudio de la crítica literaria en las principales publicaciones periódicas y culturales de Santiago de Cuba (1825-1895) de Ivan Gabriel Grajales Melian e Yessy Villavicencio Simón. Os autores procuram, a partir de pesquisa em publicações culturais, estabelecer as bases para a periodização e prática do estudo da crítica literária em Santiago de Cuba no século XIX. Em seguida, Luiza Helena Oliveira da Silva e José Antonio Romero Corzo em Estética do atroz, memória e acontecimento no romance Díptico da fronteira: uma caracterização semiótica do trauma dos deslocados pela violência política colombiana estudam o testemunho do trauma a partir do romance Díptico da fronteira, que narra a história de violência política que faz da fronteira colombiana-venezuelana espaço de trânsito e fuga constante. Por outro lado, Olivia Macedo Miranda de Medeiros em Roberto Fernández Retamar em cartas: (des)encantos da Revolução analisa o lugar ambíguo de Fernandez Retamar no processo de endurecimento das relações entre Estado e produtores culturais em Cuba da década de 1970. Completam a sessão, o artigo Atravessamentos de raça, gênero e nacionalidade: a diáspora estudantil de mulheres haitianas no Brasil de Camila Rodrigues Francisco. Neste artigo, são problematizados as dinâmicas de gênero, raça e nacionalidade como contexto importantes para a compreensão da trajetória da diáspora de estudantes haitianas no Brasil.

Por fim, a seção Resenha publica O que Tata escreveu: resenha do livro Conversas que tive comigo de Nelson Mandela de Josiel Santos. O autor descreve as cartas e trechos de diários de Mandela, indicando articulações entre seus pensamentos e o que chamamos de decolonialidade.

Boa leitura.

Os organizadores

Os organizadores. Editorial. Revista Brasileira do Caribe. São Luís, v. 20, n. 38, jan./jun., 2019. Acessar publicação original [DR]

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