Educação, desigualdades sociais e juventude negra na América Latina e Caribe: construindo a resistência antirracista/Kwanissa/2021

La ronda en el tiempo Desigualdades sociais
La ronda en el tiempo, Fanny Rabel, 1964 | Imagem: Lugares INAH

O Dossiê “Educação, desigualdades sociais e juventude negra na América Latina e Caribe: construindo a resistência antirracista” apresenta artigos de autores/as de diferentes países latino-americanos e caribenhos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador e Uruguai), que oferecem um instigante e significativo panorama acerca do modo como a diversidade étnico-racial tem sido tratada na região, predominantemente como desigualdade e de forma discriminatória, sendo um dos aspectos significativos para entender como as desigualdades sociais e as relações assimétricas de poder foram construídas historicamente, bem como as lutas e as tensões para a superação do racismo e das iniquidades.

Os trabalhos que integram o presente dossiê foram produzidos a partir das discussões desenvolvidas nos Seminários “Educação, Racismo e Desigualdades Sociais”, coordenado pelas Profa. Dra. Cidinalva Silva Camara Neris (Universidade Federal do Maranhão, Brasil) e Profa. Dra. Kátia Regis (Universidade Federal do Maranhão, Brasil) e “Juventudes Negras e Racismo”, coordenado pelo Prof. Dr. Rodrigo Ednilson de Jesus (Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil). Leia Mais

A Terceira margem do Gran Caribe / Revista Brasileira do Caribe / 2019

Este número da Revista Brasileira do Caribe é composto por três seções. O dossiê “A terceira margem do Gran Caribe” reúne estudos sobre as relações entre o Caribe, Sul da Europa e África. A partir de diferentes referentes disciplinares e temáticos, os textos reunidos focalizam as conexões, os trânsitos e as experiências comuns entre sujeitos e processos desses três espaços. Eles revelam que a densidade e a continuidade histórica destas relações torna possível falar de um terceiro espaço, o do movimento de ida e retorno, de compartilhamento e mútua influência, nomeado aqui de terceira margem. A segunda sessão, artigos livres, reúne artigos diversos sobre a literatura e sociedade caribenhas. Finaliza o número, a seção resenha.

Abre o dossiê “A terceira margem do Gran Caribe” o artigo Infante y Martí pensadores decoloniales de Fernando Limeres Novoa. Neste texto, tendo como ponto inicial os elos entre o Caribe a Andaluzia, são descritos e analisados as coincidências entre o pensamento de Martí e Blas Infante, pensadores revolucionários do período de transição entre o século XIX e XX. Ígor Rodríguez-Iglesias, em Procesos de la ideología lingüística del andaluz en el Caribe cubano a través de la etnografía sociolingüística crítica tece considerações sobre experiências de preconceito linguístico com o falar andaluz vivenciadas por ele durante etnografia realizada em Cuba. Esse artigos, assim, estão situados dentro das relações entre Caribe o Sul da Europa, esse espaço que Garcia de Léon ( ) chama de caribe afroandaluz.

As relações entre o Caribe a África são problematizados por Hélio Márcio Nunes Lacerda no artigo A ficção do Caribe: Tituba e a invenção do mundo colonial. O autor pergunta-se sobre o lugar das reescritas literárias de eventos e personagens históricos realizadas pela literatura caribenha contemporânea e a relação desse processo pelas disputas en torno da memória de eventos como a escravidão e a resistência.

O último artigo, Pata negra: conversaciones sobre negritud, cultura e Historia de Andalucía. Entrevista con Jesús Cosano é um diálogo entre esse autor e Javier García Fernández em que são tratados da relação entre África e Andaluzia, a partir do ativismo cultural e musical de Cosano e da presença africana no sul da Europa.

A seção artigos livres é composta, em primeiro lugar pelo artigo Periodización y praxis para el estudio de la crítica literaria en las principales publicaciones periódicas y culturales de Santiago de Cuba (1825-1895) de Ivan Gabriel Grajales Melian e Yessy Villavicencio Simón. Os autores procuram, a partir de pesquisa em publicações culturais, estabelecer as bases para a periodização e prática do estudo da crítica literária em Santiago de Cuba no século XIX. Em seguida, Luiza Helena Oliveira da Silva e José Antonio Romero Corzo em Estética do atroz, memória e acontecimento no romance Díptico da fronteira: uma caracterização semiótica do trauma dos deslocados pela violência política colombiana estudam o testemunho do trauma a partir do romance Díptico da fronteira, que narra a história de violência política que faz da fronteira colombiana-venezuelana espaço de trânsito e fuga constante. Por outro lado, Olivia Macedo Miranda de Medeiros em Roberto Fernández Retamar em cartas: (des)encantos da Revolução analisa o lugar ambíguo de Fernandez Retamar no processo de endurecimento das relações entre Estado e produtores culturais em Cuba da década de 1970. Completam a sessão, o artigo Atravessamentos de raça, gênero e nacionalidade: a diáspora estudantil de mulheres haitianas no Brasil de Camila Rodrigues Francisco. Neste artigo, são problematizados as dinâmicas de gênero, raça e nacionalidade como contexto importantes para a compreensão da trajetória da diáspora de estudantes haitianas no Brasil.

Por fim, a seção Resenha publica O que Tata escreveu: resenha do livro Conversas que tive comigo de Nelson Mandela de Josiel Santos. O autor descreve as cartas e trechos de diários de Mandela, indicando articulações entre seus pensamentos e o que chamamos de decolonialidade.

Boa leitura.

Os organizadores

Os organizadores. Editorial. Revista Brasileira do Caribe. São Luís, v. 20, n. 38, jan./jun., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Teoria da História e História da Historiografia na América Latina e no Caribe / História da Historiografia / 2018

La constitución de la historia como disciplina en América Latina y el Caribe durante los siglos XIX y XX coincidió con el proceso de emergencia y consolidación de los Estados nacionales a los que proveyó de relatos e interpretaciones sobre sus orígenes, su evolución, sus rasgos particulares y su identidad. De ese modo, las narrativas históricas tomaron a la nación como principal escala de análisis y, mucho más importante aún, como sujeto protagónico de los procesos históricos.

Hasta mediados del siglo XX, y aunque con importantes diferencias regionales, la historiografía de los países latinoamericanos se desarrolló en buena medida por fuera de los sistemas universitarios. Los historiadores eran en general políticos, funcionarios, escritores, médicos o abogados, que podían estar ligados o no a instituciones como las academias de historia, los institutos históricos o las sociedades de estudios históricos. Después de la Segunda Guerra Mundial, y sobre todo a partir de la década de 1960, las universidades comenzaron a concentrar la producción de conocimiento histórico. Tributaria de una tradición local de ensayismo crítico, y enriquecida por el contacto con la historia social marxista y annaliste -contacto que en parte se debió al exilio provocado por las dictaduras militares-, la historiografía latinoamericana fue entonces objeto de una notable renovación teórico-metodológica que promovió la incorporación de nuevos temas, problemas y abordajes. En ese sentido se destaca la consideración de América Latina y el Caribe como un espacio con una historia común que era pensada con categorías como dependencia, desarrollo, modernización o formación económico-social. Sin embargo, y a diferencia de lo sucedido con otras disciplinas como la filosofía, la sociología o la economía, esta caracterización no fue una condición suficiente para que la historiografía produjera interpretaciones y narraciones de conjunto capaces de trascender la suma de casos nacionales. Leia Mais

Corpo, gênero e sexualidade no Caribe / Revista Brasileira do Caribe / 2017

Corpo – gênero – sexualidade no Caribe / Revista Brasileira do Caribe / 2017

O corpo é a expressão material e biológica da existência humana. Mas haveria um corpo material preexistente à experiência cultural? Na tradição ocidental há muito tempo cristalizou-se a ideia essencialista de um binarismo corpo/alma, corpo/espírito, corpo/mente, natureza/cultura. Entretanto, é impossível pensar o ser humano separado da cultura. Nesse sentido, o corpo não pode ser separado da cultura, em uma preexistência, como algo já dado em que se inscreve a experiência social e cultural. Portanto, o corpo é um produto histórico e cultural, e também produtor de cultura, status, identidades e sexualidades.

Se admitirmos que o corpo seja produto e produtor de identidades, então as identidades de gênero são mesmo performances sociais contínuas, nem verdadeiras ou falsas, nem reais ou aparentes, nem originais ou derivadas. Por conseguinte, as sexualidades também constituem disposições, representações e práticas voltadas para a experiência do desejo que contribuem na formação das identidades de gênero e de outra ordem. Por outro lado, a sexualidade também pode ser vista como um dispositivo normativo para controle da dissipação das energias, para o estabelecimento de normas e valores, enfim, para o controle e a docilidade dos corpos.

O trinômio corpo, gênero e sexualidade como produto e produtor das experiências culturais, históricas, políticas e sociais, tem produzido relações de poder em que o masculinismo e a heterossexualidade aparecem como hegemônicos e naturalizados, muitas vezes, marginalizando, excluindo, perseguindo e silenciando outras formas identidárias de gênero e de sexualidade.

Por essas razões, foi organizado para este número da Revista Brasileira do Caribe, um dossiê intitulado “Corpo, gênero e sexualidade no Caribe”, com o objetivo de debater as experiências históricas, artísticas, políticas e sociais dessas três categorias no Caribe. Como corpo, gênero e sexualidade se articulam no Caribe para formar identidades, relações de poder, desejo? O dossiê se inicia com o artigo “El amor en tiempos de Sidentidades: eros y thanatos en las “autohistorias” de Pedro Lemebel y Reinaldo Arenas” de Massimiliano Carta. Nesse artigo, Carta analisa como a obra de Reinaldo Arenas e Pedro Lemebel, no contexto sanitarista da pandemia da AIDS, nos EUA do final do século passado. O texto aborda a questão do amor, da morte, das identidades latino-americanas e LGBTQI (Lésbica, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queers e Intersexuais) na formação de identidades, mais especificamente as sidentidades proposta por Llamas.

O segundo artigo, “La metáfora de la libertad: el discurso del cuerpo en la literatura de Zoé Valdés” de Brigida Pastor trata de uma análise do romance La nada cotidiana da escritora cubana exilada em Paris, Zoé Valdés. Pastor aborda em seu artigo o uso da linguagem do corpo utilizada pela escritora Zoé Valdés como instrumento e “estratégia feminina/feminista” de resistência da mulher a qualquer forma de repressão.

O terceiro artigo, “Big Bang o el uso de los cuerpos en la poesía de Severo Sarduy”, de Denise León, trata da obra Big Bang de Severo Sarduy, que explora em sua poesia a divulgação científica, restos literários em uma linguagem minimalista, bem como o papel dos corpos no universo do desejo erótico e sua ambígua trajetória, onde o importante é ter algo ou alguém a quem desejar. São corpos que, nas palavras de León, se quebram sem limites e se abrem em infinita expansão.

No artigo “Corpo e negritude no discurso do rap cubano e do rap brasileiro: diálogos (d)e resistência”, Yanelys Abreu Babi analisa, por meio da análise de discurso de Pêcheux, como as condições de produção, formação ideológica e formação discursiva são usadas na construção de sentidos em torno do corpo negro. Para tanto, o artigo analisa seis letras de rap, compostas por rappers negros de Havana e São Paulo no período entre 2000-2012.

O artigo de Clara Heibron trata da representação da mulher Mokaná. A autora reúne na sua análise uma documentação variada constituída por crônicas, imagens do artesanato local que evidencia o constituir feminino na comunidade Mokaná, especialmente, da mulher mohana, a mulher guerreira.

A seção Outros Artigos abre-se com o artigo “Legal and Extra-Legal Measures of Labor Exploitation: Work, Workers and Socio-Racial Control in Spanish Colonial Puerto Rico, c. 1500-1850” de Jorge Chinea. O artigo analisa e debate a conexão entre trabalho, regimes de trabalho e o desenvolvimento da colônia espanhola de Porto Rico de 1500 até a metade do século XIX, em que os exploradores buscaram extrair o máximo de trabalho da população alvo ao mínimo custo possível para reduzir despesas operacionais e maximizar os lucros em seus empreendimentos de mineração, criação de gado e agricultura, bem como controlar essa população.

O artigo “Convenios laborales de las personas de origen africano y afrodescendientes en el valle de Toluca, siglos XVI y XVII”, de Georgina Flores, Maria Guadalupe Zárate Barrios e Brenda Jaqueline Montes de Oca, também trata da temática do trabalho. Com base na documentação histórica do Arquivo Geral de Notarías do Estado do México as autoras debatem parte da história laboral de homens e mulheres africanos e afrodescendentes que habitaram o vale de Toluca durante o período colonial. O artigo apresenta a forma na qual os escravos alcançaram a liberdade, as atividades realizadas, as relações sociais e econômicas entre os grupos étnicos, os contratos laborais pactuados entre indivíduos de diferentes qualidades etc.

Por sua vez, no seu artigo, “A Revolução Cubana e o perfil ideológico do Movimento 26 de Julho”, Rafael Saddi analisa o perfil ideológico do Movimento 26 de Julho na luta contra a ditadura de Fulgêncio Batista e algumas de suas consequências para a Revolução Cubana após a tomada do poder.

Fechando a seção de outros artigos, “Bob Marley: memórias, narrativas e paradoxos de um mito polissêmico”, de Danilo Rabelo, debate por meio da biografia de Marley as várias representações e discursos elaborados sobre Bob Marley durante sua vida e após a sua morte, estabelecendo significados, apropriações, estratégias políticas e interesses em jogo, bem como as contradições e paradoxos da sociedade jamaicana quanto ao uso das imagens elaboradas sobre o cantor.

Por último, a resenha sobre a obra de Elzbieta Sklodowska “Invento, luego resisto: El Período Especial en Cuba como experiencia y metáfora (1990-2015)” de Marcos Antonio da Silva. O autor nos convida a ler essa importante obra sobre a História do tempo presente em Cuba e as grandes mudanças do fim de século após o desaparecimento do campo socialista e os reflexos dessas transformações no cenário social e cultural da ilha caribenha.

Na oportunidade, agradecemos aos autores e autoras que contribuíram para a publicação deste fascículo e desejamos aos nossos leitores e leitoras uma ótima e proveitosa leitura.

Danilo Rabelo Isabel Ibarra


RABELO, Danilo; IBARRA, Isabel. Corpo, gênero e sexualidade no Caribe. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.18, n.35, jul./dez. 2017. Acessar publicação original. [IF].

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Política de Saúde Pública na América Latina e no Caribe / História Ciências Saúde — Manguinhos / 2017

Neste último número de 2017 temos a satisfação de entregar-lhes um cardápio variado de artigos de diferentes áreas do conhecimento, campos temáticos, abordagens, temporalidades e geografias, sempre procurando privilegiar a perspectiva histórica, que confere identidade a este veículo transdisciplinar que é História, Ciências, Saúde – Manguinhos. A diversidade, que não é exclusividade desta edição, teve reconhecimento na recente avaliação quadrienal de periódicos pela Capes. A revista manteve-se como A1 nas áreas de História; Interdisciplinar; Sociologia; e Educação. Foi classificada como A2 em Arquitetura; Urbanismo e Design; Ciência Política e Relações Internacionais; Ensino; Planejamento Urbano e Regional / Demografia; e Serviço Social. Nosso periódico passou a ser classificado também em novas áreas: Artes (A2); Comunicação e Informação (A2); e Direito (B2).

Certamente isso é motivo de particular satisfação, pois a capacidade de dialogar com campos disciplinares tão variados representa uma virtude, mas também impõe desafios em termos de política editorial, os quais implicam lidar com o paradoxo de manter essa interface com diversas áreas do conhecimento sem comprometer a identidade do periódico, que, em certa medida, obedece a parâmetros disciplinares. As escolhas nesse sentido são estratégicas, pois apontam para a revista que queremos ter no complexo cenário de início de século e para o potencial de manter-se longeva. Por ora, parece-nos que o enfrentamento da complexidade envolvida nos diversos dilemas contemporâneos requer exatamente a articulação de conhecimentos para superar barreiras disciplinares. Sem respostas ainda claras, temos agido pragmaticamente no intuito de favorecer a qualidade, que não é um parâmetro claramente delimitado, porque envolve subjetividades, mas é a bússola que nos orienta, assim como o amparo de nosso conselho de editores, e, acima de tudo, dos avaliadores. Não podemos deixar de prestar a estes últimos, no derradeiro número de 2017, um profundo e sincero agradecimento, por encontrarem tempo, em meio a rotinas acadêmicas cada vez mais atribuladas e burocratizadas, para examinar com cuidado os manuscritos que nos chegam em números crescentes e com variedade temática cada vez mais ampla.

O julgamento final deste complexo critério chamado “qualidade” é sempre conferido por vocês, leitores, a quem também expressamos gratidão por terem se mantido fiéis este ano, seja pela leitura de nossas edições impressas e digitais, seja pelo acompanhamento de nossos blogs e mídias sociais. Tal agradecimento é extensível aos autores, publicados ou não, que vislumbraram em nossas páginas um veículo atraente para divulgação de pesquisas, comentários e pontos de vista.

A perspectiva latino-americana, bastante presente nos artigos desta edição, é reforçada e ganha nuances caribenhas com o dossiê “Política de Saúde Pública na América Latina e no Caribe”, coordenado pela historiadora Henrice Altink, da Universidade de York (Inglaterra), pela pesquisadora Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz (Brasil), e pela professora Debbie McCollin, da University of the West Indies (Trinidad e Tobago). Os artigos resultam das apresentações de três encontros promovidos por cooperação entre a Casa de Oswaldo Cruz e a Universidade de York financiada pela British Academy. Os encontros ocorreram em 2014, 2015 e 2016 em York, Rio de Janeiro e Port of Spain, respectivamente. Os cinco trabalhos que compõem o dossiê trazem um rico panorama das dinâmicas envolvendo saúde pública, política e cultura em países como Haiti, Cuba, Jamaica, Brasil, Peru e Bolívia, e as redes de circulação de saberes com Europa e EUA.

Este número traz também debate sobre a epidemia de zika, travado quando a doença suscitou uma série de anseios, em virtude dos enigmas que ainda pairavam em torno de sua transmissão, patofisiologia e correlação com a microcefalia que acometia bebês de mulheres infectadas pelo vírus na gravidez. Apesar da virose de certa forma ter retrocedido do debate público, permanece uma ameaça concreta, ainda mais às vésperas do verão, quando seu vetor, o Aedes aegypti, alastra-se pelos centros urbanos, instaurando verdadeiro caos sanitário. O debate representa excelente registro das percepções de especialistas dedicados a pensar a doença em seus condicionantes sociais, econômicos e culturais.

Não podemos deixar de registrar nestas linhas que já se estendem nossa inquietude com os recentes ataques à liberdade e à autonomia do pensamento acadêmico no Brasil. Ataques revestidos de nebuloso autoritarismo querem censurar aquilo que destoa da agenda proposta para o país por segmentos fundamentalistas. Já assistimos ao cerceamento da expressão na arte, com argumentos de ordem pseudomoralista, mobilizados para defender a família – sempre este ente abstrato e flexível, que junto com Deus e a liberdade pôs nas ruas milhares de pessoas clamando por intervenção autoritária na véspera do golpe de 1964. No campo da educação, há algum tempo ganha vulto o movimento “Escola sem Partido”. Não tem faltado ataques a professores e alunos atinados com o debate contemporâneo de gênero e sexualidade e outras temáticas de cariz progressista. Na Universidade Federal da Bahia, professores e estudantes que pesquisam questões relacionadas a gênero foram ameaçados de morte. Notícia bastante recente (22 de novembro de 2017) veiculada na Folha de S.Paulo dá conta que artigo da área de educação, avaliado por pares, foi retirado da página do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, a contragosto da editora responsável, abrindo uma crise entre pesquisadores do campo. Aos colegas e instituições, nossa solidariedade.

O fascismo, de definição ampla e heterogênea, mas de percepção bastante clara quando diante de nossas faces, avança a passos largos. Mantenhamo-nos atentos, na esperança de que, no próximo ano, a sociedade brasileira possa manifestar nas urnas suas aspirações em eleições plenamente democráticas.

A todos uma boa leitura e um 2018 mais auspicioso!

André Felipe Cândido da Silva – Editor científico

Marcos Cueto – Editor científico


CUETO, Marcos; SILVA, André Felipe Cândido da. Carta dos editores. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.24, n.4, out. / Dez., 2017. Acessar publicação original [DR]

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Carnaval e Ritmo / Revista Brasileira do Caribe / 2017

¡A RITMO CARIBE!

Los carnavales caribeños son expresiones culturales de síntesis y pugnas, en donde lo simbólico y lo material se dan cita una vez por año para restaurar memorias festivas, irónicas, tradicionales y ampliamente populares a través de sus músicas, bailes, trajes, juegos, personajes, escenificaciones mitológicas y espectáculos característicos. El presente número de la Revista Brasileira do Caribe tiene como objetivo abrir un diálogo regional en torno al complejo mosaico que configuran los carnavales caribeños contemporáneos.

Pese a que muchas veces asumimos o vivimos los carnavales como espacios de total libertad o de disolución de las fronteras sociales, lo cierto es que los festejos carnavaleros han enfrentado históricamente una serie de construcciones normativas, morales, económicas, políticas y patrimoniales, fenómenos que en nuestros días han redundado en toda suerte de reglamentaciones a sus desfiles, estandarizándolos como espectáculos exóticos de alto costo.

Así, ciertos festejos de la escena latinoamericana y caribeña se han homogeneizado y elitizado, convirtiendo una celebración de origen predominantemente disidente, diversa y popular, en un espectáculo mayoritariamente hegemónico y con un alto nivel de exclusión.

Entendemos la hegemonía como el estado en el cual los grupos dominantes ejercen una dirección ideológica sobre la manera en la que los sectores dominados conciben el mundo para legitimar y mantener el poder. Funciona desde la subordinación política, social y económica, más lo hace por consentimiento, permitiendo la coexistencia “pacífica” de heterogéneos e incluso antagónicos sectores sociales en un mismo espacio social. El rol de la hegemonía es garantizar la reproducción de una sociedad jerarquizada. Sin embargo, ella no es ni estable ni fija. Al contrario, parte de su eficacia radica en su capacidad de actualización y reproducción permanentes.

La disidencia por su parte, a diferencia de la rebelión, no confronta directamente a los detentores del poder. Se trata de acciones cotidianas y concretas que intentan detener los procesos de homogenización hegemónicos. Las respuestas disidentes suelen tener un origen sutil, poco visible, pero trascendentales en la medida en que logran realizarse históricamente, proyectarse socialmente y mantenerse en el tiempo, pudiendo configurarse como respuestas contra-hegemónica, es decir, de disputa directa al papel ideológico, sociopolítico y/o económico de los sectores dominantes.

En este marco, las grandes fiestas públicas aparecen como espacios privilegiados para la expresión de resistencias simbólicas y respuestas disidentes o contra-hegemónicas frente a la cultura dominante, aun cuando el festejo y su vistosidad expresiva puedan volcarse al poder o al mercado, al punto de desdibujar la politicidad de sus posiciones.

Como veremos a lo largo de los artículos de este dossier, el carnaval caribeño contemporáneo sigue siendo un espacio político en el que las identidades y relaciones sociales de clase, “raza”, etnia y género, se dan cita para reivindicarse, contestarse y reconfigurarse, transformando también al carnaval oficial en una vitrina simbólica de contradicciones sociales. O bien, generando respuestas autogestivas, en forma de carnavales no oficiales, a los diferentes tipos de dominaciones económicas y políticas al festejo.

Todas estas dinámicas, están además enmarcadas en políticas multiculturales del turismo global y la institucionalidad patrimonializadora, que vuelven un terreno aún más complejo y ambiguo al carnaval, haciendo de lo tradicional un espectáculo contemporáneo, y de lo popular una alegoría festiva que muchas veces queda excluida de su propio festejo.

Abordamos el carnaval caribeño contemporáneo desde sus rincones más vistosos, pero también más difusos, desde sus múltiples dimensiones y formas, así como también desde sus significaciones escondidas, camufladas. Cada artículo es una vitrina que permite afinar nuestra mirada, instándonos a abrir nuevas preguntas y posibilidades interpretativas sobre las especificidades y rasgos compartidos de los muchos carnavales caribeños, como también sobre las fricciones y conflictos latentes en su festejo: tensiones entre espectador y participante activo; adaptaciones de danzas y músicas “tradicionales” a un gusto “global”; reivindicaciones políticas y valorizaciones estéticas en resistencia que conviven con presiones económicas tendientes a su homogeneización; negociaciones y reivindicaciones de identidades invisibilizadas; y la constante pugna entre control y reglamentación del festejo, y su insistente subversión impúdica, satírica, creativa y organizativa.

En concordancia con la línea editorial de la Revista, comprendemos geográfica y simbólicamente el Caribe desde una amplia perspectiva territorial, como un dinámico espacio social, cultural, geopolítico y económico, que va más allá de las Antillas, abarcando las costas del Circuncaribe en centro, norte y sur América, lo que nos permite incluir reflexiones sobre expresiones de carnaval en “los caribes” colombiano, venezolano y mexicano. Asimismo, extendemos nuestra comprensión sobre “lo caribeño” a aquellos lugares donde el legado de la diáspora afrodescendiente y mestiza, producida durante la esclavitud colonial por los procesos de trata trasatlántica y comercio triangular, son parte fundamental en la cultura y la so ciedad caribeña contemporánea. Así, además de los territorios antillanos considerados –Haití, Cuba, Trinidad y Tobago y República Dominicana–, abordamos ejemplos situados en Brasil, en diálogo con Jamaica o EE.UU., o incluso coordenadas ampliamente lejanas de su propia geografía, resultantes de procesos migratorios contemporáneos, donde aparecen el Carnaval en Melbourne, Australia, o el recientemente inaugurado Carnaval Multicultural Migrante en Santiago de Chile. Dinámicas festivas caribeñas que en ese flujo dinámico y migrante, terminan siendo recreadas, actualizadas y adoptadas como propias.

El dossier abre con la sección Hegemonía y carnaval en el Caribe contemporáneo el cual incluye dos artículos de autoría de las dos organizadoras. En ellos se discuten las aproximaciones eurocéntricas, hoy clásicas, sobre el carnaval, para proponer rutas teórico-metodológicas propias, adaptadas a las especificidades de la escena carnavalera latinoamericana y caribeña. Después de habitar, desde la investigación festiva, diferentes expresiones del carnaval en la región, fue evidente que los planteamientos de Peter Burke, Julio Caro Baroja y Mijail Bakthin (tantas veces citados), no eran ya suficientes para explicar las complejidades y particularidades de los carnavales caribeños contemporáneos, considerados en su perspectiva histórica. Además, muchos de los procesos de mercantilización, significación política, subversión simbólica, reivindicación identitaria, (in)visibilización, disciplinamiento, resistencia y patrimonialización que identificamos, desbordan ampliamente las explicaciones clásicas del fenómeno carnavalesco. A partir de esta constatación Lorena Ardito desde la apropiación, deconstrucción y resignificación de la teoría cultural de Raymond Williams, y Laura De la Rosa desde la actualización metodológica propuesta por Michael Houseman, desarrollan su propuesta a la luz de dos ejemplos histórico-concretos del carnaval circuncaribeño. Esta sección cierra con el artículo de Danny González quien a través de sus análisis de imágenes (propias y de archivo) del Carnaval de Barranquilla, Colombia, nos ofrece un ejemplo de cómo una hegemonía estética se va construyendo y afianzando a través del lente fotográfico.

A continuación, cuatro artículos en la sección Disputas y horizontes en la escena de la calle discuten las tensiones entre hegemonías, contra-hegemonías y disidencias que tienen lugar en el espacio público. Las calles que se suponen comunes, colectivas, se vuelven espacios de confrontación entre el afán de control y reglamentación “desde arriba” del “orden” establecido por las élites y la reapropiación creativa de los sectores subalternos que responden desde el propio carnaval, como un espacio para la reivindicación, la ironía, la autoafirmación y la disputa.

El primer caso es expuesto por Mathilde Pèrivier, quien hace un contraste entre las notas periodísticas que muestran las “bandes-a-pie” del Carnaval de Puerto Príncipe en Haití, como “destructoras del espacio público”, y los datos recogidos en su trabajo de campo que demuestran la potencia en los procesos de re-significación política y articulación social comunitaria de los territorios habitados por las prácticas festivas de los grupos de jóvenes Seguidamente, Karen Gómez analiza la transformación patrimonial de uno de los blocos afrobrasileros más representativos del movimento musical, social y político del Samba Reggae, Ilê Aiyê, luego de haber irrumpido en el desfile de 1974, ser perseguido por la policía y recibir el apelativo de “bloco racista” por la prensa y las élites locales. Utilizando como bandera el ritmo de los terreiros de candomblé, la formación instrumental de las Escolas de Samba, la consciencia musical del reggae jamaiquino y la inclusión de los procesos reivindicativos afronorteamericanos del Black Power, Ilê Aiyé logró instalar un proceso de autoafirmación etnica e institucionalizar un espacio educativo propio en el entorno del barrio “de periferia”, utilizando como tribuna al propio carnaval que antaño le fuera negado.

Karina Smith, por su parte, traslada la discusión de la disputa por el derecho a las calles que tiene lugar en los festejos carnavaleros de Australia. En este caso, una comunidad negra anglófona venida del Caribe, encuentra en el desfile Moomba su espacio de visibilización en una sociedad que, aunque se declara multicultural, no se reconoce como multirracial.

Para cerrar esta sección central del dossier sobre disputas y escenificaciones carnavaleras en la escena de la calle, presentamos el trabajo de Priscilla Stilwell, quien realiza una comparación entre el arte callejero y festividades públicas masivas –dentro de las que considera al carnaval–. Su principal eje analítico es el uso social que adquiere el espacio público en tales manifestaciones, reiterando el poder de las calles como escenarios de expresión política popular, así como su potencial de reivindicación y disputa, cuya relevancia en América Latina y el Caribe radica en nuestras profundas condiciones de desigualdad social, conflicto y exclusión.

Finalmente, el dossier cierra con la sección Caribe a contracorriente el cual incluye dos trabajos histórico-sociales sobre los carnavales de Santiago de Cuba y Cartagena de Indias, territorios plenamente insertos en las dinámicas globales del colonialismo, la expansión capitalista, la trata trasatlántica esclavista, y sus formas conexas de organización social y simbólica, racializada y sexualizada, de la desigualdad. En ambos, se constata la ineludible impronta eurocéntrica en la formación de la sociedad y la cultura caribeñas, no obstante, también se evidencian los procesos de interconexión, respuesta y resistencia “desde abajo” que disputan el derecho a re-fundar un Caribe con voz propia.

Daniela Quintanar nos remite a la enorme influencia de la migración haitiana en el oriente cubano desde finales del siglo XVIII, empujada como consecuencia de la Revolución Francesa. Procesos globales que se actualizan en lo local, en este caso, como expresión de diversidad e interconexión que se manifiesta en los carnavales, músicas, danzas y formas de organización social (los cabildos de nación), adoptadas y adaptadas en Santiago de Cuba, como parte de una historia común diversa en las Antillas.

En el artículo de cierre del dossier Milton Moura propone una lectura irónica, desde el espíritu carnavalesco de la ciudad de Cartagena de Indias, al afán de control imperial español, recapitulando códigos normativos y cartas apostólicas, que pretendieron en el siglo XVIII constreñir la fiesta popular sin éxito, escandalizándose por la tozuda insolencia de sus protagonistas negros, pobres y artesanos.

Fuera del Dossier, en Otros artículos, Massimiliano Cartas describe el fenómeno de las artistas que afiliaron sus imágenes a la religión afro caribeña.

Invitamos a nuestros lectores y lectoras a recorrer las calles de este Caribe ampliado, danzando sus rasgos históricamente hegemónicos, contra-hegemónicos y disidentes, al ritmo de sus comparsas, disfraces, grupos musicales y cantos satíricos.

Agradecemos a todas las autoras y autores cuyas miradas enriquecen y entregan nuevas perspectivas a los planteamientos iniciales del presente dossier, como también a Olga Cabrera, por su infinita paciencia y compromiso con desenterrar de la Cuaresma a estos carnavales caribeños contemporáneos.

Laura de la Rosa Solano Lorena Ardito


SOLANO, Laura de la Rosa; ARDITO, Lorena. Carnaval e Ritmo. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.19, n.34, p.9-14, jan./jun., 2017. Acessar publicação original. [IF].

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Revisitando o Caribe: antigos e novos temas sobre sua história / Revista Brasileira do Caribe / 2014

El presente número de la Revista Brasileira do Caribe (REBRASCA) contiene varios artículos en un dossier dedicado al Caribe que fue organizado y especialmente comenta el profesor Pedro San Miguel y otra sección de artículos con textos comparativos entre Caribe y Brasil de varios autores que actuan en Brasil. El dossier recoge diversos trabajos elaborados por académicos que, de una u otra forma, están vinculados con la Universidad de Puerto Rico (UPR), que es el principal centro docente en esa isla antillana. Dejemos a Pedro San Miguel el análisis de los artículos del dossier.

Durante décadas, la UPR ha establecido nexos con el resto del Caribe, los que han fructifi cado de variadas maneras. Por ejemplo, en el campus de Río Piedras de la UPR —que es el más importante de sus recintos— se encuentra el Instituto de Estudios del Caribe (IEC), que cuenta con una distinguida trayectoria desde su fundación en 1958. Con el IEC estuvieron vinculadas muchas de las principales fi guras de los estudios caribeños durante las décadas de los sesenta y los setenta del siglo pasado.

Incluso, uno de sus inspiradores fue Eric Williams, uno de los grandes historiadores del Caribe. Durante los años más recientes, el IEC ha conocido un renovado esplendor gracias al impulso que le ha impartido su actual director, el doctor Humberto García- Muñiz, que es el más destacado caribeñista de la isla de Puerto Rico y cuya obra es ampliamente reconocida. Bajo la dirección del doctor García-Muñiz, el IEC ha promocionado un ciclo de Conferencias Caribeñas que abarcan una extensa temática y que ya supera las 200 conferencias. A esta labor de difusión se suma la revista Caribbean Studies, publicada desde el IEC y que se remonta al año 1961.

Y no es el IEC el único organismo de la UPR que tiene vínculos con el Caribe o cuyas gestiones han tenido reverberaciones en el. El Departamento de Historia, ubicado en la Facultad de Humanidades de la UPR, también ha tenido proyecciones y nexos con la región caribeña. Por ejemplo, una de las obras clásicas de la historiografía puertorriqueña, Puerto Rico and the Non-Hispanic Caribbean: A Study in the Decline of Spanish Exclusivism (1952), de Arturo Morales Carrión — quien estuviera adscrito a dicho Departamento—, traza las interacciones de la sociedad local con su entorno caribeño durante los tres primeros siglos de dominación española. Al día de hoy, ésta es una de las obras fundacionales del caribeñismo académico puertorriqueño. Con el devenir de los años, otros profesores del Departamento de Historia de la UPR entablaron lazos estrechos con el resto del Caribe, efectuando investigaciones en torno a la región, intercambiando con caribeñistas de diversas latitudes, y participando y colaborando en variados proyectos académicos.

Entre esas personas se distinguen Andrés Ramos Mattei, Fernando Picó, Blanca Silvestrini, Javier Figueroa, Francisco Moscoso y Teresita Martínez-Vergne. Amén de la presencia de estos destacados historiadores, en el Programa Graduado del Departamento de Historia se ofrecen regularmente cursos acerca del Caribe, razón por la cual en los últimos años se han efectuado varias investigaciones por parte de los estudiantes que han culminado en tesis de maestría y de doctorado; algunos de estos trabajos se han publicado como libros y otros más han dado lugar a la aparición de artículos en revistas y en obras colectivas. Por todo ello, se puede afirmar que el Departamento de Historia de la UPR es un importante centro de investigación y difusión acerca del Caribe.

Así que al solicitarme la Revista del Caribe Brasileña que actuara como editor invitado en este número, me pareció apropiado ofrecer a los lectores una muestra del tipo de investigación y de refl exión que se ha venido realizando en el Departamento de Historia de la UPR. El dossier: Revisitando el Caribe: antiguos y nuevos temas sobre su historia, se inicia con una investigación de Juan Giusti-Cordero titulada Sugar and Livestock: Contraband Networks in Hispaniola and the Continental Caribbean in the Eighteenth Century. Su autor, un acucioso y puntilloso investigador que se desempeña como profesor en el Departamento, revisita uno de los temas clásicos de la historiografía caribeña, el contrabando. Tomando como eje central de su inquisición la Isla Española y siguiendo el rastro del comercio ilegal de reses y mulas, Giusti-Cordero nos ofrece un perfi l más complejo del Caribe, uno en el cual el azúcar no resulta omnipresente ni totalmente dominante. El Caribe, en fi n, no eran únicamente sus zonas cañeras, sino también sus áreas ganaderas, sus regiones de bosques, sus hinterlands, y, por supuesto, aquellos espacios donde predominaba la producción campesina.

Las articulaciones espaciales han constituido durante décadas una de las principales líneas de investigación de Giusti-Cordero. En ello no se encuentra solo, como evidencia el siguiente texto del dossier, en el cual Carlos D. Altagracia Espada elabora una interesante comparación entre cómo dos destacados intelectuales —haitiano uno, brasileño el otro— imaginaron a África. “Geografía africana e identidad en Jean Price Mars y Gilberto Freyre” representa una continuación de una línea de investigación cuyo autor viene desarrollando desde que elaboró su tesis doctoral en el Departamento de Historia de la UPR y que desembocó en la publicación del libro El cuerpo de la patria: Intelectuales, imaginación geográfi ca y paisaje de la frontera en la República Dominicana durante la Era de Trujillo (2010). Siguiendo el modelo de este trabajo previo, ahora Altagracia Espada —quien se desempeña como profesor en el recinto de Arecibo de la UPR— se aboca a rastrear cómo esos dos destacados intelectuales representaron la geografía y el espacio africanos. Conceptuado tradicionalmente el continente africano como el lugar por excelencia de la barbarie y hasta del salvajismo, el autor de este artículo sugiere que en los imaginarios caribeños y latinoamericanos África podía adquirir variados sentidos. Como región imaginaria, ese continente ha tenido un papel signifi cativo tanto en las discursivas letradas como en las populares, constituyendo una pieza clave en determinadas construcciones identitarias.

De los espacios y las geografías pasamos en el siguiente ensayo, de César Augusto Salcedo Chirinos, a los arcanos de la Iglesia católica, a sus (aparentemente) rigurosos procedimientos disciplinarios, y a sus pretensiones de controlar los cuerpos, de regir las voluntades y de domeñar a sus fi eles y sus servidores. Lo que nos brinda el autor de Sin delitos ni pecados: La negociación de la justicia eclesiástica en Puerto Rico (1795-1857) es un puntual análisis de las infracciones y las transgresiones del clero —en particular las de tipo sexual—, del funcionamiento de la justicia eclesiástica, así como de sus entresijos, subterfugios y argucias. De más está decir que la minuciosa investigación de Salcedo Chirinos —parte de su tesis doctoral en el Departamento de Historia de la UPR—, pese a referirse una época remota, es de una gran actualidad debido a los debates públicos que en la época contemporánea se han suscitado en torno a situaciones muy similares a las examinadas por él en su investigación. La misma constituye una muestra ejemplar de la pertinencia de la investigación histórica para comprender los problemas y los dilemas del presente.

Mas la vida no es sólo angustia y condena: también es gozo y fruición. Así que Nora Rodríguez Vallés —historiadora graduada del programa doctoral en Historia de la UPR, profesora en su recinto de Bayamón y, como si fuera poco, una destacada pintora— nos cautiva con un pionero estudio sobre el turismo en Puerto Rico, la dizque “Isla del encanto”. Citando en su título una popular canción que destaca el carácter edénico de la Isla, Seguro sueñas que estás en Puerto Rico, o sobre la historia del turismo en la Isla indaga los orígenes de esos imaginarios que fueron construyendo a este país caribeño como un lugar paradisiaco, capaz de seducir a quienes arribaran a sus playas. En esta investigación, la autora recurrió a las imágenes visuales como fuente primaria, razón por la cual su trabajo brinda elementos novedosos desde una perspectiva metodológica.

En torno a las representaciones de Puerto Rico trabaja, asimismo, Pablo Samuel Torres en Los cronistas del 98: Americanización y discurso colonial según la vanguardia capitalista. Sus fuentes son una serie de libros escritos y publicados a poco de haber tomado Estados Unidos posesión de la Isla de Puerto Rico como secuela de la Guerra Hispano-Cubano- Americana. El artículo que aquí se incluye es, igualmente, producto de una tesis doctoral recientemente aprobada. Con ella Torres se ha sumado a varios investigadores —Lanny Thompson, Mario Cancel y José Anasagazty, entre otros— que se han dado a la tarea de rastrear las formas en que los estadounidenses concibieron y representaron a Puerto Rico y a los puertorriqueños durante las primeras décadas del siglo XX. El trabajo de Torres abona este campo de investigación, atendiendo en particular los discursos de quienes él denomina la “vanguardia capitalista”, que llegó a Puerto Rico con la intención de sondear las posibilidades que para el capital estadounidense tenía la Isla, recién arrebatada a España.

El dossier se cierra con el sexto artículo, Una «mirada imperial» a la historia de Cuba: Our Cuban Colony de Leland Jenks, de mi autoría. Este texto escruta también las representaciones que desde Estados Unidos se elaboraron sobre el Caribe; en esta ocasión, es la isla de Cuba el objeto de examen.

El artículo se centra en el afamado libro Our Cuban Colony, obra publicada en 1928, el que marcó un hito importante en la historiografía cubana. Constituye, pues, un lugar apropiado para escrutar los imaginarios estadounidenses sobre Cuba e, incluso, en torno a las políticas del Coloso del Norte respecto del Caribe.

De más está decir que el conjunto de artículos que componen el dossier que he coordinado son sólo unos pocos ejemplos de las investigaciones que se han venido realizando en el Departamento de Historia de la UPR. Las que se incluyen aquí pretenden mostrar algunas de las vertientes de esa labor.

En nombre de los participantes en el dossier y en el mío propio, agradezco a la RBC y, en especial, a Olga Cabrera la oportunidad de poder presentarles esta pequeña muestra.

En relación a los artículos que componen la sección de textos comparados de Brasil con el Caribe lo integran, el séptimo, de Alexandre Araujo Martins, Lugares de Xangô, em Trinidad e no Brasil: contemporaneidade e diferença colonial, el cual revela algunas de las contradicciones que se derivan de las ideologías africanistas nacidas en América. El octavo, Diálogos transnacionais e interdisciplinares: Brasil/Caribe de Olga Cabrera e Isabel Ibarra, las autoras orientan seguir el camino del estudio de los procesos de formación de identidades, focalizando los grupos humanos simultáneos en el tempo…

[Original incompleto]

Pedro San Miguel


SAN MIGUEL, Pedro. Revisitando o Caribe: antigos e novos temas sobre sua história. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.15, n.29, jul./dez., 2014. Acessar publicação original. [IF].

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O Caribe como espaço de representações / Revista Brasileira do Caribe / 2014

Desde los viajes de Colón, cuando este intrépido marinero comparó a la región del Caribe con el paraíso, se han formulado varias ideas acerca del conjunto de islas y mares que las rodean, ideas que han alimentado los imaginarios de muchas generaciones de diversas latitudes. En todas ellas la llamada región del Caribe aparece como un espacio que ha sido objeto de innumerables representaciones. Es decir, tras un proceso de percepción e interpretación se han presentado recreaciones de una cierta “realidad”, estructuras de comprensión, a través de las cuales “el sujeto mira el mundo: sus cosmovisiones, su mentalidad, su percepción histórica” (SZURMUK Y MCKEE IRWIN, 2009, p.250).

En el conjunto de trabajos reunidos en este número ofrecemos muestras de algunas representaciones del Caribe que circularon y que formaron parte de un sistema de prácticas sociales y culturales en las que los agentes que realizaron esas representaciones apelaron a referentes, reales o imaginarios.

En primer lugar hablamos de las representaciones cartográfi cas que a lo largo del siglo XX se difundieron mediante grandes mapas a colores que eran distribuidos como suplemento por la revista National Geographic. En ellos se percibe el cambio en el signifi cado de la región como zona de defensa, lugar ideal para la inversión, y ante todo espacio propicio para el turismo. En los diversos mapas vemos cómo se representa también la actuación de Estados Unidos sobre ese espacio. En particular, en el mapa elaborado en 1987, lo que constatamos es la representación de los diversos ciclos de la historia de la zona desde la llegada de Cristóbal Colón y hasta la consolidación del llamado siglo americano.

En el segundo trabajo reunido en este número, el Golfo- Caribe es el espacio de confrontación entre los intereses de la Real Hacienda novohispana y los intereses particulares de los contrabandistas. El mar representa el lugar idóneo para realizar las transacciones que generarán las subastas y con ellas los crecientes ingresos, pero sobre todo, lo que el artículo de Julio Rodríguez describe es el espacio de acción de las redes de poder entre contrabandistas y funcionarios reales.

En su análisis de la dinámica que siguió el partido de Bacalar y su área aledaña, durante el siglo XVII, la autora Gabriela Barke destaca cómo éste forma parte de un complicado proceso en el cual los sujetos que intervinieron en él “crearon un paisaje modifi cado de acuerdo a sus percepciones, acciones, relaciones y usos”. Fue, en primer lugar, contenedor de una enmarañada red de relaciones políticas, económicas y sociales, vinculadas tanto al ámbito local como al internacional, pero también, fue lugar de refugio y aislamiento para los nativos, y zona despoblada y fuera de control para los conquistadores. En la colaboración de Silvia Rábago percibimos cómo las representaciones que los encargados de la diplomacia mexicana construyeron del Caribe marcaron sus decisiones y su actuación en la región en el siglo XIX.

La educación rural en las islas del Caribe, producto de las intervenciones militares de Estados Unidos, es el tema del texto de Juan Alfonseca. Esa educación contribuyó a construir representaciones de las realidades donde se inscribió y, en función de esas representaciones, propuso la inserción del campesinado en el mercado agroexportador de las Antillas mayores.

En el texto de Yoel Cordoví somos testigos de cómo operaron las representaciones de lo que se percibía como la realidad cubana, nos adentramos en las estrategias expedicionarias concebidas y articuladas por las estructuras directivas de la Delegación Plenipotenciaria de la República de Cuba en Armas, constituidas durante la guerra de independencia (1895-1898), y conocemos los pasos seguidos para vencer los obstáculos que impusieron a los revolucionarios cubanos las autoridades de Estados Unidos. Estrategias en las que la astucia, las infl uencias y el dinero tuvieron un papel hasta ahora no sufi cientemente resaltado. Mientras, el artículo escrito por Erik del Ángel presenta a La Habana como el lugar en el que se podía conspirar, pero ante todo se identifi caba como el lugar idóneo para salvar la vida. Hilda Vázquez Medina continúa, en el siglo XX, la refl exión sobre las representaciones y la actuación de la diplomacia mexicana en el Caribe.

Finalmente, dos trabajos sobre música del Caribe son el medio utilizado para analizar otros ámbitos de representación. En el estudio de la salsa propone Alejandro Martínez mostrar la opresión sobre el afrodescendiente y la imagen estereotipada de éste. El rap ofrece, de acuerdo con Allysson Fernandes imágenes de la exclusión del negro en Cuba. Lo que los trabajos aquí publicados muestran es que el Caribe es mucho más que un espacio concreto. Es, más bien, sujeto y objeto de múltiples representaciones. Desde la geografía, la cartografía, la historia, la diplomacia, la educación, la música.

Referencias

SZURMUK, Mónica y MCKEE IRWIN, Robert Coords. Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos, México: Instituto Mora/Siglo XXI, 2009.

Laura Muñoz – Instituto Mora/ Mex DF.


MÚÑOZ, Laura. O Caribe como espaço de representações. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.14, n.28, jan./jun., 2014. Acessar publicação original. [IF].

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Festas, Cultura e Ambiente no Caribe / Revista Brasileira do Caribe / 2013

O Caribe surpreende pela sua capacidade de mostrar frequentemente ao mundo que a modernidade é um processo contraditório e que as desigualdades e injustiças vêm se perenizando no seu curso, para além do desenvolvimento tecnológico e das possibilidades que este abre em termos de educação, saúde, moradia e outros domínios da existência humana. A inquietude de sua gente diante da dominação colonial que ainda não conheceu o fim, a efervescência cultural verificada em diversas linguagens, os processos migratórios em várias migrações e suas intensas conexões com diversas outras regiões do mundo fazem do Caribe um desafio permanente de pesquisa e reflexão.

Este número se debruça diante da relação entre festa, cultura e ambiente. Seu primeiro artigo, de Giliard da Silva Prado, apresenta a relação entre as comemorações da Revolução Cubana e sua legitimação, a partir da análise dos discursos de seus líderes, focando principalmente as transformações verificadas neste processo ao longo de mais de cinco décadas.

O segundo artigo, de Milton Moura, bem como o terceiro, de Edgar Gutiérrez, abordam as festas populares no Caribe Colombiano, mais precisamente, em Cartagena de Indias. Milton Moura aborda sobretudo as transformações recentes ocorridas na Festa de Independência daquela cidade, enquanto Edgar Gutiérrez tece considerações mais amplas sobre o fazer festivo na Costa e sua importância na história desta porção do Caribe, abrangendo iniciativas de produção cultural neste âmbito. De forma complementar, o quarto texto, de Eduardo Hernández Fuentes, discorre sobre a dimensão festiva da Costa a partir da reflexão sobre o Projeto BordCaribe, relacionando este aspecto da sociedade caribenha a expressões artísticas contemporâneas.

De que é feito o Caribe? De praias e rotas de navegação? De fortalezas e praças de comércio? De tambores, guitarras e ritmos que alcançam sucesso em boa parte do mundo? Em que mesmo consiste esta região de história tão dramática, de natureza tão singular, em que vivem sociedades tão marcadas pelos trânsitos interétnicos e pela violência? O que faz como que esta parte da América atraia tanto os olhares e ouvidos da humanidade como uma região especialmente vigorosa na sua expressão?

Poder-se-ia perguntar, em tantos casos, onde termina a peleja política e onde começa a festa. A esta indagação, em vão se procuraria responder. As sociedades caribenhas, desde o início, têm suas expressões plásticas, musicais e coreográficas no núcleo de sua vitalidade diuturna. Por isso não se poderia pensar autenticamente em um tipo de arte desencarnada, assim como não se poderia falar em um tipo de festa que não tivesse, estampada em suas manifestações, sua dimensão política. Assim como o ambiente, que aparece sempre paradisíaco na propaganda turística e, por outro lado, se constitui como uma arena de conflitos, quando se coloca a perspectiva da escassez dos recursos naturais e a questão ético-biológica da sustentabilidade.

O Caribe surpreende pela sua capacidade de mostrar frequentemente ao mundo que a modernidade é um processo contraditório e que as desigualdades e injustiças vêm se perenizando no seu curso, para além do desenvolvimento tecnológico e das possibilidades que este abre em termos de educação, saúde, moradia e outros domínios da existência humana. A inquietude de sua gente diante da dominação colonial que ainda não conheceu o fim, a efervescência cultural verificada em diversas linguagens, os processos migratórios em várias migrações e suas intensas conexões com diversas outras regiões do mundo fazem do Caribe um desafio permanente de pesquisa e reflexão.

Este número se debruça diante da relação entre festa, cultura e ambiente. Seu primeiro artigo, de Giliard da Silva Prado, apresenta a relação entre as comemorações da Revolução Cubana e sua legitimação, a partir da análise dos discursos de seus líderes, focando principalmente as transformações verificadas neste processo ao longo de mais de cinco décadas.

O segundo artigo, de Milton Moura, bem como o terceiro, de Edgar Gutiérrez, abordam as festas populares no Caribe Colombiano, mais precisamente, em Cartagena de Indias. Milton Moura aborda sobretudo as transformações recentes ocorridas na Festa de Independência daquela cidade, enquanto Edgar Gutiérrez tece considerações mais amplas sobre o fazer festivo na Costa e sua importância na história desta porção do Caribe, abrangendo iniciativas de produção cultural neste âmbito. De forma complementar, o quarto texto, de Eduardo Hernández Fuentes, discorre sobre a dimensão festiva da Costa a partir da reflexão sobre o Projeto BordCaribe, relacionando este aspecto da sociedade caribenha a expressões artísticas contemporâneas.

O quinto artigo, de Joseania Miranda Freitas, coloca a importância dos museus como estratégia de dinamização cultural e de reflexão sobre o patrimônio cultural a partir de pesquisas e intervenções no Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, destacando a importância da formação dos estudantes para a percepção do valor das coleções presentes nos museus aos efeitos de uma educação etno-cultural.

O sexto artigo, de Dernival Venâncio Ramos Júnior, toma como problema a construção da nacionalidade moderna na América Latina, enfocando o drama colombiano. O autor sublinha as dificuldades que as elites andinas, que capitanearam o estabelecimento dos estados nacionais ao longo da cordilheira, encontraram no sentido de forjar um projeto propriamente nacional, que pudesse incluir e integrar diferentes territórios e grupos étnicos. Destaca-se o papel dos intelectuais neste processo.

Olga Cabrera e Rickley Leandro Marques construíram o sétimo artigo a partir de pesquisas realizadas em Santana dos Pretos, no Maranhão, Brasil, e no Palenque de San Basílio, em Cartagena de Indias, na perspectiva de uma educação etno-histórico-ambiental. Consideram a importância da percepção da dimensão transnacional manifesta nas culturas negras da Diáspora para uma reflexão sobre os rumos e modelos da educação, justamente em áreas tão empobrecidas em que a dominação colonial perdura de formas renovadas.

O oitavo artigo, de Gilberto Javier Cabrera Trimiño, enfoca as práticas da agricultura urbana em Ciudad Habana, Cuba. Esta estratégia foi estimulada para a produção de alimentos para as populações urbanas, levando em conta os saberes destas populações em termos ambientais como um recurso fundamental para enfrentar o drama da segurança alimentar.

A perspectiva de gênero se mostra cada vez mais relevante na análise das sociedades caribenhas. Sonia Catasús Cervera, no nono artigo, mostra que o modo como se dá o desenvolvimento econômico e social tem influxos sobre o comportamento reprodutivo da população, como se pode verificar pelas modificações na taxa de nupcialidade e na idade média para o enlace matrimonial, bem como na taxa de divórcio. O estudo parte da comparação entre os quadros de Cuba e República Dominicana, destacando a especificidade do Oriente Cubano.

Por fim, o décimo artigo, de Isabel Ibarra, apresenta as transformações na sociedade cubana contemporânea a partir da análise realizada pela autora das cartas de cubanos à ONG Puente Familiar con Cuba.

A partir destas miradas múltiplas, temos mais uma oportunidade de nos voltarmos reflexivamente sobre o Caribe e continuar desdobrando nosso papel de pesquisadores, artistas, pensadores e profissionais envolvidos em políticas públicas, no sentido de buscar estratégias de desenvolvimento que não somente respeitem o legado etno-histórico destas sociedades; mais do que isto, trata-se de pensar estratégias que considerem o próprio patrimônio cultural caribenho como uma base fecunda a partir da qual se possa pensar caminhos de construção da prosperidade, da paz e da liberdade. O Caribe anseia por isto.

Milton Moura – Universidade Federal de Bahia. Salvador de Bahia, Br.


MOURA, Milton. Festas, Cultura e Ambiente no Caribe. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.14, n.27, p.7-10, jul./dez., 2013. Acessar publicação original [IF].

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Povos indígenas no Caribe contemporâneo / Revista Brasileira do Caribe / 2012

A Revista Brasileira do Caribe, sob a direção atual da professora Isabel Ibarra Cabrera, historiadora da Universidade Federal do Maranhão que já organizou vários fascículos e se encontra vinculada à Revista desde sua fundação, conta também com o apoio da fundadora e diretora anterior de longos anos, professora Olga Cabrera. A Revista está fortemente comprometida com o projeto de desenvolver os estudos do Caribe no Brasil vinculados também com outras culturas e com suas matrizes africanas.

Foi-me uma grande honra receber convite da professora Isabel Ibarra para colaborar na organização de um dossiê que abrangesse, entre outros temas, artigos que tratam da questão indígena na região do Caribe. Ao abordar povos indígenas no Caribe, resolvi incluir artigos que versam sobre alguns povos indígenas contemporâneos em toda a região do Maciço Guianense do norte da América do Sul, região de maior concentração dos povos indígenas que pertencem à família linguística Caribe, incluindo, também, o litoral norte da América do Sul, as ilhas do Caribe e a região Circum-Caribe mexicana. Além de povos indígenas da família linguística Caribe, essa região também abarca outros povos indígenas da família linguística aruaque, alguns povos da família tupi e outros povos de famílias linguísticas menores. Em uma tentativa de caracterizar ospovos de línguas caribe da América do Sul na década de 1970, Ellen Basso (1977) separa oito características que julga serem tipicamente caribes, relacionadas, em parte, a fatores ecológicos. Entretanto, esses traços são encontrados em muitas sociedades indígenas, revelando que diferenças linguísticas não coincidem necessariamente com diferenças socioculturais. Focalizando os povos indígenas do maciço guianense, Peter Rivière (2001 [1984]), na década seguinte, desenvolve uma teoria a partir de um estudo comparativo da organização social ameríndia,

de que os povos da região guianense representariam, ao serem comparados com os povos de línguas jê e os povos do Alto Rio Negro, a cultura das Terras Baixas da América do Sul em sua forma mais simples de todas as possibilidades, referindo-se a possibilidades lógicas, e não como a origem da cultura. Segundo esse autor a economia política das sociedades indígenas da região guianense preocupa-se com o gerenciamento das capacidades produtivas e reprodutivas dos indivíduos, homens e mulheres, sobretudo das mulheres que constituem um recurso escasso. A partir de estudos realizados por pesquisadores do seu grupo de pesquisa centrado na Universidade de São Paulo, sobre os sistemas indígenas multilocalizados de comunicação e intercâmbio na região das Guianas, Dominique Gallois (2005) implode qualquer tentativa de fazer um recorte étnico dos povos indígenas dessa região por ser inadequado para explicar essas sociedades indígenas,ressaltando a importância de estudos da história. Em trabalho publicado no mesmo volume organizado por Gallois, a pesquisadora Denise Fajardo Grupioni (2005) questiona a caracterização típica feita por Rivière e propõe, a partir de uma abordagem que leva em consideração o espaço e o tempo, em que “abertura e fechamento, dispersão e isolamento, exogamia e endogamia, descendência e aliança não se excluem, mas se opõem de forma complementar (2005, p.50)”. Enquanto crescer o número e a qualidade das pesquisas etnológicas com povos indígenas nas Guianas, revela-se uma enorme diversidade sociocultural entre os povos dessa região, e histórias particulares e regionais do contato interétnico entre povos indígenas e as sociedades nacionais, em que as pesquisas sobre temas diversos se complementam. A obra de Nádia Farage (1991) sobre a colonização do rio Branco apresenta uma rica história dos povos indígenas da região guianense, como também o livro de Paulo Santilli (1994) sobre as fronteiras da República do Brasil, e a obra de Niel Whitehead (1988) sobre a história dos povos caribes na Venezuela e na Guiana em tempos coloniais.

O dossiê “Povos Indígenas no Caribe contemporâneo” inclui seis artigos sobre povos indígenas atuais e cinco artigos históricos e literários.

O primeiro artigo, “Dispersão e Concentração Indígena nas Fronteiras das Guianas: análise do caso kaxuyana” de autoria do professor Ruben Caixeta de Queiroz da Universidade Federal de Minas Gerais junto com Luisa Gonçalves Girardi, aborda o povo indígena kaxuyana que habita um tributário direito do médio rio Trombetas, localizado na porção brasileira da Amazônia Setentrional. No final dos anos 1960, esse povo, assolado por doenças trazidas pelas frentes de colonização, dividiu-se, uma parte mudando para o rio Paru de Oeste, outra parte para o rio Nhamundá. Por meio de casamentos com índios Tiriyó no Paru de Oeste, e com os índios Hixkaryana no Nhamundá, a população kaxuyana voltou a crescer, e após quatro décadas separadas, estas duas frentes voltaram a se reunir no seu lugar de habitação tradicional, onde fundaram duas aldeias próximas e distantes ao mesmo tempo para garantir a boa relação dos grupos.

O artigo seguinte, “A Vontade de Saber – a escola e o mundo das profissões entre os Ye’kuana”, escrito por Karenina Vieira Andrade, professora do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais, trata da busca da educação superior por parte do povo indígena Ye’kuana, cujas terras se localizam na fronteira entre o noroeste do estado de Roraima no Brasil e os estados de Bolívar e Amazonas no sul da Venezuela. Na mitologia ye’kuana, Wanaadi, o demiurgo ye’kuana, criou, dentre outras coisas, o papel e a escrita para enganar o anti-herói Odo’sha. Nos últimos anos os Ye’kuana têm se envolvido em um processo acelerado pela formação dos

primeiros professores ye’kuana na licenciatura intercultural do Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima, e de repensar a escola indígena. Apesar da sua história violenta de contato com a população não-indígena, os Ye’kuana buscam se reinventar novamente por meio da profissionalização no mundo dos brancos, mantendo sua própria cultura.

O terceiro artigo, “Una montaña bañada por el mar: La Sierra Nevada de Santa Marta en el Caribe Colombiano” de autoria de José Arenas Gómez, aluno de Pós-Graduação do Departamento de Antropologia da UnB, aborda a Sierra Nevada de Santa Marta no litoral Caribe da Colômbia, região onde, conforme ressalta esse autor, os estudos

que se têm realizado nos diferentes campos do conhecimento não parecem transcender as fronteiras físicas da zona, e em decorrência disso muitos dos elementos mais interessantes dos grupos ijka, kággaba, viwa y kankuamo, seus habitantes indígenas, são desconhecidos no âmbito acadêmico internacional. O autor analisa aspectos destas comunidades indígenas com o objetivo de abrir possibilidades de diálogo tanto com as zonas vizinhas quanto com outras regiões geograficamente distantes como a Amazônia, que compartilham elementos etnológicos.

O quarto artigo do dossiê, “Estratégia de Aumento de Valência: A Construção Causativa em Waimiri Atroari (Carib do Norte)” da antropóloga e linguista Dra. Ana Carla Bruno, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA/CSAS propõe descrever e analisar alguns aspectos da morfologia verbal concentrando-se em algumas questões comoa estratégia de aumento de valência e a construção causativa na língua waimiri-atroari. Os Waimiri Atroari, povo indígena que habita o norte do estado do Amazonas e sul de Roraima, no Brasil, em comum com outras línguas da família Carib, falam uma língua cuja estrutura do verbo é basicamente prefixo-raiz sufixo. A análise linguística revela que os prefixos, nesta língua, usualmente marcam a pessoa e os sufixos marcam tempo/aspecto/ modo, negação, nominalização e mudança de valência através do processo de causativização.

O quinto artigo “Os povos indígenas Wapichana e Makuxi na fronteira Brasil-Guiana, região do Maciço Guianense”, de autoria de Stephen G. Baines, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília e pesquisador do CNPq, aborda as estratégias narrativas entre os Makuxi e Wapichana que vivem ao longo da fronteira internacional entre o Brasil e a Guiana de se reafirmarem etnicamente a partir da crescente consolidação do movimento indígena desde a década de 1970 até o momento. A história indígena é acionada por lideranças dentro do contexto dos Estados nacionais como uma apropriação do passado para fortalecer as identidades indígenas em lutas políticas atuais. Os discursos dos Makuxi e dos Wapichana, cujos territórios tradicionais foram divididos pela fronteira internacional em 1904, revelam as contradições e as ambiguidades dos discursos governamentais dos respectivos Estados nacionais a respeito de nacionalidade e etnicidade.

O sexto artigo “Migraciones mayas y yucatecas a Cuba; notas etnográficas”, escrito pela antropóloga Victoria Novelo O. do Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social (CIESAS), México, versa sobre os Yucatecos que, desde

o início da colonização do México participaram de um processo migratório à Ilha de Cuba. Segundo a autora, os maias foram, na maioria dos casos, levados pela força à Cuba colonial para servir como trabalhadores domésticos e da construção. No séculoXIX foram enviados como prisioneiros feitos durante o conflito conhecido como “guerra de castas” em Yucatán e vendidos como escravos. No século XX os migrantes são mais variados, incluindo diaristas e operários, políticos, professionais, artesãos, músicos, artistas, sacerdotes e outros. A migração yucateca e mexicana ao longo dos séculos deixou uma herança cultural visível na cultura popular cubana.

O sétimo artigo, em Artigos históricos e literários, “La apuesta por el “Guano” en Puerto Rico: exploraciones científicas, desempeño empresarial y mercado internacional”, escrito pelos professores María Teresa Cortés Závala e José Alfredo Uribe Salas da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, México, trata da história do “guano” das ilhas caribenhas de Mona e Monito que, a partir da metade do século XIX, havia penetrado no imaginário científico e popular de Espanha como a panaceia para potenciar a produção agrícola e diversificar seus cultivos, e como uma saída à crise do açúcar nos domínios espanhóis de Cuba e Puerto Rico. O crescimento de demanda levou o governo da Espanha a financiar expedições nas ilhas Mona e Monito, no Caribe, com a finalidade de determinar seu valor no mercado. O resultado revelou que se tratava de um mineral com rico conteúdo de cal-fosfato A exploração do minério utilizou mão de obra barata das ilhas de Guadalupe e Bahamas, e deixou pouco para a economia local, até que nos anos de 1920 e 1930 o crescimento da indústria química tornou sua extração obsoleta.

O oitavo artigo, “Uma janela sobre o Haiti: estórias andantes de uma blanc no Caribe” escrito por Pâmela Marconatto Marques, da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, propõe uma estética híbrida: é testemunho de viagem atravessado por elaborações poéticas de uma brasileira em sua “viagem de descobrimento” ao Haiti. Conforme a autora, se a estética é ambígua, a ética do trabalho, entretanto, é uma e bem definida: “contar” um Haiti pouco conhecido dos brasileiros, sendo mais complexo e mais humano.

O nono artigo, “A Guiana Francesa, entre o pós-colonialismo e a afirmação nacional” de autoria de Charles Benedito Gemaque Souza, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/UFPA, aborda a Guiana Francesa, região administrativa da França metropolitana no litoral norte da América do Sul, sociedade etnicamente diversificada que abarca todas as contradições do pós-colonialismo. O modelo estatal francês universalista e integracionista não tolera as diferenças seja aquelas trazidas pelos imigrantes ou originárias dos povos indígenas, e o processo de descolonização reproduz as velhas políticas de dominação colonial.

O décimo artigo desse dossiê, “Notas historiográficas sobre la elección presidencial de Tomás Estrada Palma y el establecimiento de la República cubana, 1902”, escrito pela pesquisadora María del Rosario Rodríguez Díaz, do Instituto de Investigaciones Históricas, da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, objetiva mostrar as tendências gerais da historiografia cubana referente às diferentes discussões que a primeira eleição presidencial na Ilha provocou na narrativa histórica cubana em datas recentes. A autora focaliza textos de dois acadêmicos cubanos, Ana Cairo e Yoel Cordoví, ambos representantes ambos do mais atual da historiografia em torno ao estabelecimento da República em Maio de 1902.

O décimo primeiro e último artigo, escrito pelo professor Amailton Magno Azevedo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, intitulado “Gilberto Gil e Caetano Veloso: ser jovem nos alegres tristes trópicos” visa à identificação e à reconstrução de rastros de um modo de juventude no Brasil a partir das trajetórias musicais de Gilberto Gil e Caetano Veloso nos anos 1960 ao início dos anos 1980. O autor enfatiza que, com as obras desses dois artistas musicais, surgiu a construção de uma nova experiência juvenil no Brasil que moldou uma estética de ser e estar no mundo.

O dossiê apresenta uma variedade de temas, todos versando sobre a região Caribe tomado em sentido amplo. Espera-se que este dossiê apresenta uma contribuição para os estudos dessa região.

Referências

BASSO, Ellen B. Introduction: The status of Carib ethnography, p. 9-22, In: BASSO, Ellen B. (org.). Carib-Speaking Indians: Culture, Society and Language. Anthropological Papers of the University of Arizona nº 28, Tucson: The University of Arizona Press, 1977.

FARAGE, Nádia. As Muralhas do Sertão: os povos indígenas no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra; ANPOCS, 1991.

GALLOIS, Dominique Tilkin. Introdução: percursos de uma pesquisa temática. In: GALLOIS, Dominique Tilkin (org.) Redes de relações nas Guianas. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 6-22.

GRUPIONI, Denise Fajardo. Capítulo 1 Tempo e espaço na Guiana indígena. In:

GALLOIS, Dominique Tilkin (org.) Redes de relações nas Guianas. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 23-57.

RIVIÈRE, Peter. O Indivíduo e a Sociedade na Guiana: um estudo comparativo da organização social ameríndia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001 [Cambridge University Press, 1984].

SANTILLI, Paulo. As Fronteiras da República: história e política entre os Makuxi no vale do rio Branco. São Paulo: NHII – USP; FAPESP, 1994.

WHITEHEAD, Niel. Lords of the tiger spirit: a history of the Caribs in colonial Venezuela and Guya na, 1498-1820. Dordrecht, Holland; Providence, U.S.A.: Foris Publications, 1988.

Stephen G. BainesProfessor Associado 3, Departamento de Antropologia, UnB; Pesquisador 1A do CNPq.


BAINES, Stephen Grant. Povos indígenas no Caribe contemporâneo. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.13, n.25, p.7-14, jul./dez. 2012. Acessar publicação original. [IF].

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Mulher e Caribe: aproximações à problemática de gênero / Revista Brasileira do Caribe / 2011

O presente número monográfico da Revista Brasileira do Caribe incorpora uma variada e rica coletânea de artigos que oferecem reveladores aspectos sobre o Caribe desde a polêmica perspectiva do gênero. Assim, todos os artigos selecionados se encontram interconectados pelo vínculo de serem portadores de evidentes explorações sobre a temática da noção de gênero como uma concepção metodológica, epistemológica, multidefínivel, porque a realidade que estudam é ontologicamente diversa, e porque os que se aproximam a ela cognoscitivamente também o fazem com olhares diferentes. Empregar um enfoque de gênero significa aproximar-se às realidades sociais comprendendo que as mulheres e os homens não têm somente sexos biológicos, mas também estão dentro dos marcos e padrões construídos em sociedades historicamente concretas, que têm atribuído papéis determinados ao significado de ser homem e ser mulher.

Este fascículo nasce da necessidade de revelar múltiplos olhares inovadores sobre a autenticidade da construção de diferentes identidades sexuais e de gênero nos espaços caribenhos. Dessa forma, propiciamos a colaboração de especialistas de diversos âmbitos dentro das áreas, da Filologia, da História, da Sociologia, dos Estudos Culturais, com a finalidade de pesquisar e encontrar aspectos cruciais de uma organização social que sustenta este tipo de discriminação, oferecendo possíveis alternativas de ação pública para a resolução deste tipo de desigualdade. Daí deriva o valor inquestionável deste coletivo de estudos que reúne um importante grupo de autores de diferentes países e especialistas em diversas disciplinas. Estes pesquisadores oferecem novos e provocadores debates, enfoques e marcos teóricos que revelam valiosas aproximações para a historiografía, estimulando espaços inovadores em vários campos e perspectivas dos estudos caribenhos.

Os artigos se encontram organizados seguindo uma orden disciplinar e cronológica, ainda que esta não seja a única classificação possível. A primeira parte deste número especial, dedicada a Cuba, se inicia com um artigo de María Guadalupe Mercado Méndez no qual aparece uma interesante abordagem sobre o romance El siglo de las luces do escritor cubano Alejo Carpentier. No contexto histórico da Revolução Francesa, o relato centra-se em três jovens órfãos que foram prejudicados pela chegada de um comerciante francês que introduz em Havana os novos conhecimentos da ciência, da técnica e da filosofia. A personagem de Sofia, uma adolescente, revela a surpreendente construção do feminino na História, influenciada por uma forte presença de ideologias machistas.

O segundo artigo de Brígida M. Pastor, oferece uma reveladora interpretação de duas escritoras pioneiras na temática feminina e suas contribuições desde o exílio: María de las Mercedes Santa Cruz y Montalvo, Condesa de Merlín e Gertrudis Gómez de Avellaneda. Pastor expõe como no século XIX a mulher escritora enfrenta o dilema não somente de escrever, mas também de como escrever. Trata-se de um discurso que revela a ansiedade de autoria ou o grande dilema que vive na realidade, e sua necesidade de recorrer a uma série de estratégias com o propósito de construir e dar expressão a suas ideias emancipadoras.

A continuação Verena Berger presenta um estudo sobre a novela gráfica De sangre y ron mi Cuba (2010), do desenhista galego Fran Jaraba, e através de um enfoque histórico – a Guerra de Independência de Cuba (1895-1898)– faz uma revisão do fim do colonialismo espanhol no Caribe. O estudo de Berger aborda como Jaraba integra na sua novela a representação dos gêneros no médio popular que trata da violência da guerra.

Conrad James examina alguns dos assuntos políticos relacionados com a escritura de uma Cuba lésbica. Este estudo estabelece algumas das preocupações essenciais do florescente discurso lésbico forjado internamente e na diáspora, centrando-se na narrativa confessional de Sonia Rivera-Valdés, produzida nos Estados Unidos. James explora admiravelmente, desde as perspectivas das identidades lesbianas múltiplas, tanto o passado colonial de Cuba, como o governo de Castro e a reconstrução cultural dos últimos anos da década de 1990.

Carlos Uxó apresenta em seu artigo uma análise crítica da representação da mulher afro-cubana em cinco romances publicados em Cuba na primeira década do século XXI (Maldita danza de Alexis Díaz-Pimienta, 2002; Las criadas de La Habana de Pedro Pérez Sarduy, 2003; El harén de Oviedo, de Marta Rojas, 2004; Allegro de habaneras de Humberto Arenal, 2004; y Palimpsesto de José Antonio Martínez Coronel, 2008). Uxó convincentemente demonstra até que ponto estas novelas conseguem destacar a subalternidade na mais recente narrativa cubana.

O fascículo estende suas aproximações sobre a temática de gênero às regiões continentais do Caribe. O artigo de Daniel Noemí Voionmaá oferece uma abordagem sobre dois romances que acontecem na Zona do Canal, no Panamá: Canal Zone (1935), do equatoriano Demetrio Aguilera-Malta, e Luna verde (1950) do panamenho Joaquín Beleño. A análise incisiva de Voionmaa apresenta uma realidade marcada pelo cruzamento e transporte de capital, e de corpos excluídos por sua raça e gênero.

O artigo de Omar García Obregón tem sido incluído no dossiê pelas contribuições teóricas que podem ser extendidas ao Caribe. O autor oferece uma iluminadora exploração sobre a arte de narrar da escritora brasileira Nélida Piñón, em seu relato «I Love My Husband». García Obregón leva em consideração os aportes ensaísticos da escritora, para situar a mulher dentro de uma memória ancestral feminina que a autora explora para, através de atos paródicos, ir contra a normatividade de gênero num contexto patriarcal.

Outro artigo da autora Livia Maria Bastos Vivas aborda as problemáticas de gênero e de raça na Ilha Antiga, no contexto de domínio colonial com predomínio da atividade turística e do turismo sexual. O artigo desenvolve a temática a partir de A small place, romance de uma das mais destacadas narradoras do Caribe, Jamaica Kincaid. A autora-protagonista, no romance questiona, desde a segunda pessoa do singular, as práticas sexuais dos turistas homens em uma franca transgressão dos códigos sexuais atribuidos às mulheres.

Dina Comisarenco Mirkin, por sua parte, apresenta uma interessante leitura da obra mural que a artista mexicana Electa Arenal realizou na Cuba pós-revolucionária, nos primeiros anos da década de 1960. Centra-se na análise formal de algumas de suas obras e poemas, demonstrando eloquentemente que existe uma singular iconografia na qual a representação do gênero, a infância e a maternidade foram renomeados de acordo com o conteúdo político próprio do muralismo mexicano e da ideologia personal da artista.

No estudo de Julio Moracén Naranjo se explora a relação de gênero e sociedade em Cuba e Brasil a partir da análise de dois personagens femininos (Maria Antonia e Efigênia) num cenário de referência do teatro negro caribenho. Desde uma perspectiva inovadora se tomam como ponto de partida duas obras emblemáticas do teatro: Sortilégio (1957), do autor brasileiro Abdias do Nascimento e Maria Antonia (1967), do autor cubano Eugenio Hernández Espinosa. No artigo exploram-se os diferentes níveis de construção de identidade feminina numa meta_reelaboração continua de materiais simbólicos que definem culturas caribenhas transculturadas.

Por último, Georgina Flores García e Belén Benhumea Bahena visibilizam a relevante atuação de um grupo de mulheres que não tem sido registradas na história e que não aparecem nos estudos sobre o Caribe mexicano apenas por um problema espacial. Estas duas autoras escolhem um caso de estudo revelador para dar testemunho de mulheres brancas espanholas, negras e indígenas emprendedoras e progressistas no contexto do Vale de Toluca durante os séculos XVII e XVIII.

A história, a literatura e a cultura no contexto do Caribe sempre tiveram que enfrentar-se com uma arraigada tradição machista e com uma constante prática de censura. Por isso, esses discursos oscilaram em relação à liberdade de expressão, entre visões liberais e autoritárias. Durante os últimos cinquenta anos houve um despertar que tem visto nascer novas e revolucionárias expressões artísticas, entre as quais se destacam os discursos históricos, literários e artísticos, como sólidos canais dedicados à denúncia das injustiças, às vivências de construção de uma sociedade nova, surgindo assim um questionamento conflitivo de noções de identidade, gênero, nação e diáspora. Descobrem-se novos discursos transgressores e estratégicos em busca de uma formulação ideológica que gere sociedades mais justas e igualitárias.


PASTOR, Brígida. Mulher e Caribe: aproximações à problemática de gênero / Revista Brasileira do Caribe. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.12, n.23, p.7-10, jul./dez., 2011. Acessar publicação original. [IF].

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Territorialidades e Influências Afro-Caribenhas nas Américas / Revista Brasileira do Caribe / 2011

VIDIGAL, Leonardo Alvares; SILVA, Carlos Benedito Rodrigues da. Territorialidades e Influências Afro-Caribenhas nas Américas. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.11, n.22, jan./jun. 2011. Arquivo indisponível na publicação original. [IF].

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Caribe(s) / Textos de História / 2005

Apresentação

Os Programas de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Goiás e o Centro de Pesquisa c Pós-Graduação sobre as Américas — Ccppac — da Universidade de Brasília desenvolveram conjuntamente o projeto “Fronteiras: Espaços Imaginados, Lugares Concretos” nos quadros do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad), entre 2001 e 2005.

Esta experiência de cooperação acadêmica tinha como preocupação teórica mais geral as regiões de fronteira e os imaginários construídos sobre elas e, em particular, as problemáticas postas pelo chamado mediterrâneo caribenho. Dentre os objetivos do projeto, destacava-se a contribuição para a criação do curso de doutorado em história da Universidade Federal de Goiás.

Como equipe líder do projeto, o PPGHIS da UnB passou a receber um número significativo de estudantes de mestrado e de doutorado com projetos voltados para os referenciais espaciais, teóricos c metodológicos do projeto Fronteiras. Cuba, Jamaica, o Haiti, as Güianas, as regiões caribenhas do México, da Colômbia e da Venezuela, bem como as dinâmicas e complexas relações entre o Caribe, a África, os Estados Unidos, o Brasil e a Europa, tornaram-se questões recorrentes em nossos seminários, especialmente na área de concentração em história cultural.

Este dossiê apresenta uma nova contribuição aos estudos caribenhos, na esteira de uma série de publicações articuladas ao projeto Fronteiras} O ensaio ” O conceito de fronteira em Deleuze e Sarduy” do professor Luís Sérgio Duarte, da UFG, indica um dos mais fecundos caminhos que vêm sendo trilhados pelos pesquisadores reunidos no referido projeto: a reflexão crítica acerca das múltiplas dimensões do fenômeno fronteira. Relacionando as obras de Gilles Deleuze e de Severo Sarduy, a partir do conceito de fronteira, Luís Sérgio Duarte procura definir as características de uma epistemologia neobarroca (“o método da fronteira”), mostrando sua validade para uma teoria pós-moderna da história.

Olga Cabrera, também da U FG e principal responsável pelo dinamismo do projeto Fronteiras, expressa, com o artigo ” E l proyecto pedagógico de Ias lecturas de tabaquerías: de la búsqueda de la igualdad a la consolidación de la diferencia”, uma inquietação que já estava presente na sua dissertação de Mestrado,2 e que permanece evidente em meio à grande variedade de projetos que tem orientado e coordenado: a investigação dos processos de construção e reconstrução de identidades, explorando as fronteiras entre escritura e oralidade, entre discursos hegemônicos e subalternos, entre a história e a literatura.

O historiador haitiano Vertus Saint-Louis visitou Brasília pela primeira vez em 2005, quando participou do seminário internacional Saídas da Escravidão e Políticas Públicas, aproveitando para estabelecer contato com o Departamento de História da UnB. A conclusão de seu texto, intitulado “A Guerra do Sul c as apostas do comércio internacional”, conserva o t om e o estilo adequados ao momento em que foi apresentado ao público haitiano: durante as comemorações do bicentenário da morte de Toussaint Louverture (e dois anos antes do bicentenário da independência do Haiti).3 É muito reconfortantc a oportunidade de reconhecer um certo “ar de família” neste artigo, que renova o diálogo da historiografia c om a opinião pública, trazendo, da pesquisa sistemática em arquivos, a evidência da necessidade de uma postura crítica frente aos mitos construídos pelo sistema político haitiano.

O professor Dinair Andrade da Silva, que atuou por muitos anos na área de História da América do curso de História da UnB, e que agora colabora como pesquisador associado ao programa de pós-graduação, na área de concentração em história social, apresenta um extenso e criterioso painel, construído em torno de um personagem emblemático: “Aproximação a Félix Varela, fundador da nacionalidade cubana e reformador social nos Estados Unidos”. O padre Félix Varela, cuja ação internacionalista deixou marcas indeléveis na sua pátria, na América Latina, na Espanha e nos Estados Unidos, como aponta com propriedade Dinair Andrade da Silva, merece a atenção de todos os que acompanham a inquietação contemporânea das comunidades cubana, latino-americana, e mesmo norte-americana, em relação ao futuro imediato da nacionalidade e da cultura cubanas.

Esperamos que este dossiê amplie o círculo de leitura que, até o presente momento, vem acompanhando a produção historiográfica da equipe de professores e estudantes vinculados ao projeto Fronteiras: espaços imaginados, lugares concretos, e também que estimule novos projetos, intensificando a inserção da pós-graduação brasileira no cenário internacional.

Notas

1 CABRERA, Olga, CORTÊS ZAVALA, Maria Teresa; UR1BE SALAS, José Alfredo (org.). Región, frontera yprácticas cnltnrales en la historia de América Latinay el Caribe. Morelia: Universidad Michoacana dc San Nicolás de Hidalgo; Goiânia: Cecab, 2002. ALMEIDA, Jaime de; CABRERA, Olga; CORTÊS ZAVALA, Maria Teresa (org.). Cenários Caribenhos.

Brasília: Paralelo 15, 2003. CABRERA, Olga; ALMEIDA, Jaime dc (org.). Caribe, sintonias e dissonâncias. Goiânia: CECAB, 2004. Alem dessas três coletâneas, cabe ressaltar a também a Revista Brasileira do Caribe, publicada regularmente desde 2000, pelo Centro de Estudos do Caribe no Brasil (CECAB), dirigido por Olga Cabrera.

2 CABRERA, Olga. Historia dei movimiento obero cubano. La Habana, Universidad de la Habana. Dissertação de Mestrado, 1968.

3 Cf., a propósito, ALMEIDA, Jaime de. Há duzentos anos, o Haiti: a historiografia diante da comemoração. In ALMEIDA, Jaime de; CABRERA, Olga (org.), op. cit. p.

312-332. Acerca da relação histografia/comemoração, v. também SÁ, Antônio Fernando Araújo. “Canudos Plural: memórias em confronto nas comemorações dos centenários de Canudos (1993-1997)” in Textos de História vol. 5, n. 1, 1997; e ANKERSMIT, Franck.

“Commemoration and national identity” in Textos de História vol. 10, n. 1/2, 2002.

Jaime de Almeida

Cléria Botelho da Costa

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