Trabalhismo, populismo e democracia na América latina / Canoa do Tempo / 2017

Diante de um quadro político marcado pelo avanço de uma onda conservadora e por sucessivos ataques à democracia, não apenas no Brasil, mas também pelo mundo afora, propusemos um dossiê intitulado “Trabalhismo, Populismo e Democracia na América Latina”. O objetivo central foi buscar subsídios para compreender a conjuntura política atual e a crise radical das instituições democráticas brasileiras, fazendo uma reflexão sobre os fenômenos do Populismo e do Trabalhismo bem como sobre as experiências democráticas nesses países.

Para iniciar essa discussão, apresentamos o artigo A flexibilização da legislação trabalhista brasileira: a redução dos direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho ao longo do tempo, de Alisson Droppa. Nesse trabalho, o autor busca fazer uma relação entre as modificações ocorridas na Consolidação das Leis do Trabalho a partir do golpe civil-militar de 1964, apresentadas como uma “primeira onda liberal” e a atual investida sobre a legislação trabalhista e a nova onda de ataques sobre os direitos sociais.

Em Da harmonia ao conflito: a Delegacia Regional do Trabalho em Alagoas (1956- 1959), Anderson Vieira Moura se propõe a analisar atuação de Edson Falcão na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) em Alagoas, destacando os conflitos e disputas que acabaram acarretando um desgaste de sua figura junto com os O autor faz uso de vasta documentação, utilizando de atas sindicais, reportagens de jornais, processos trabalhistas e até uma entrevista feita com seu primogênito.

Amaury Oliveira Pio Jr busca discutir as relações políticas que se desenvolvem no estado do Amazonas a partir da implantação da Revolução de 30 e do novo modelo sindical proposto por Getúlio Vargas. Para isso, analisa o periódico Tribuna Popular, jornal inicialmente vinculado ao Partido Trabalhista Amazonense (PTA) e que representava um importante veículo de divulgação do projeto varguista no estado. No artigo Jornal Tribuna Popular e a construção de um ideário “proto-trabalhista” no Amazonas, o autor percebe o surgimento de uma proposta trabalhista em um estágio embrionário já na década de 30 no estado.

No artigo Conflitos, solidariedade e formação de classe – “nacionais” e estrangeiros nos primórdios da mineração de carvão do Brasil (1850-1950), Clarice Speranza analisa as relações entre trabalhadores brasileiros e imigrantes na construção nas minas de carvão do Sul do Brasil. Discutindo o processo de migração e sua importância para o o desenvolvimento das minas de carvão, destaca ainda a resistência desses trabalhadores, suas formas de organização e a tensão percebida entre uma identidade de ofício calcada na coesão e na solidariedade e a existência de espaços de segregação entre os trabalhadores.

Cremos que esse seja um momento extremamente apropriado para discutir temas como as investidas sobre a legislação trabalhista, os ataques sobre os direitos sociais e as estrategias de resistência e organização dos trabalhadores. Que a leitura dos artigos do dossiê possa contribuir para o debate e a reflexão sobre o tema. Agradecendo a excelente contribuição dos autores, desejamos uma boa leitura.

César Augusto Bubolz Queirós – Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: [email protected]

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Trabalhismo(s) / Anos 90 / 2004

Datas. Mas o que são datas?

Datas são pontas de icebergs.

Alfredo Bosi

A revista Anos 90 – cujo título é uma referência à década em que foi criada – prossegue, pelo século XXI adentro, com seu objetivo de contribuir para o debate qualificado sobre temas e questões teóricas, metodológicas e historiográficas relevantes ao campo do conhecimento histórico. Neste número, apresentamos dois dossiês que aludem a datas bastante lembradas em 2004: o cinqüentenário do suicídio de Getulio Vargas e os vinte anos do falecimento de Michel Foucault. Poderíamos acrescentar ainda, à lista dos eventos motivadores de nossos dossiês, a morte de Leonel Brizola, ocorrida também em 2004.

Pensando em tais datas como “pontas de icebergs”, queremos convidar nossos leitores a refletirem, inicialmente, com Angela de Castro Gomes, Lucia Hippolito e João Trajano Sento-Sé, sobre os diversos “trabalhismos” que, na esteira do legado de Vargas, encontraram em Brizola seu último grande representante. A seguir, na trilha dos “jogos e diálogos” sugeridos por Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Fernando Nicolazzi e José Carlos dos Anjos, propomos que atentem para os desafios colocados pela obra de Foucault aos historiadores e as suas convergências e divergências com o pensamento de E. P. Thompson e o de Pierre Bourdieu.

Os demais artigos abordam facetas e temáticas distintas e instigantes do conhecimento histórico. Roberto Wu e Enrique Serra Padrós examinam questões teórico-metodológicas referentes, respectivamente, às noções de experiência e tradição em Benjamin e Gadamer e aos desafios da chamada história do tempo presente. Eliane Cristina Deckmann Fleck apresenta as reduções jesuítico-guaranis do século XVII como um espaço de reinvenção de significados, tendo em vista a apropriação seletiva e criativa e a ressignificação de expressões da cultura indígena guarani e da cultura cristã ocidental. Marcelo Basile trata de revoltas ainda pouco conhecidas ocorridas na Corte no período regencial brasileiro. Renato Amado Peixoto realiza um criativo exercício de análise da Carta Niemeyer de 1846, a primeira Carta Geral do Brasil, discutindo a leitura dos produtos cartográficos pelos historiadores. Ricardo Luiz de Souza investiga as noções de tradição, identidade nacional e modernidade na obra de Joaquim Nabuco. Finalmente, Letícia Borges Nedel enfoca as disputas de memórias relacionadas ao “herói missioneiro” Sepé Tiaraju.

Como os leitores poderão notar, a revista apresenta um novo projeto gráfico, fruto da criatividade de Daniel Clós e da contribuição do talentoso cartunista Santiago, a quem agradecemos. Agradecemos igualmente às profissionais de Letras Nara Widholzer, que revisou os textos, e Marília Marques Lopes, que traduziu os títulos para o inglês e revisou os abstracts; aos alunos Evandro dos Santos e Sandro Gonzaga, pelo apoio na organização da revista; à Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRGS, na pessoa da Pró-Reitora Marininha Aranha Rocha, pelo imprescindível auxílio financeiro, através do programa de apoio à editoração de periódicos; e aos pareceristas ad hoc dos artigos enviados para este número, Eliane Colussi (da UPF), João Adolfo Hansen (da USP), Carla Brandalise, Carla Simone Rodeghero, Céli Regina Jardim Pinto, Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, José Augusto Avancini, Paulo Vizenti, Regina Célia Lima Xavier, Temístocles Cezar e Benito Schmidt (da UFRGS).

Desejo a todos uma boa leitura…

Benito Bisso Schmidt – Editor.


SCHMIDT, Benito Bisso. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v.11, 19 / 20, jan. / dez., 2004. Acessar publicação original [DR]

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