Utopias e distopias na contemporaneidade | PerCursos | 2020

Na abertura do filme “Arquitetura da destruição”, lançado em 1989, vê-se a sequência de imagens aéreas de uma pequena povoação, em meio à paisagem predominantemente natural. No desdobrar das imagens idílicas, o narrador anuncia uma característica fundamental do projeto nacional-socialista: a de ser um sonho de harmonia, pureza, força e beleza, em reação à ordem percebida como existente, na qual esses valores supostamente se degradavam e estariam às portas da aniquilação. Era preciso combater aqueles que ameaçavam esses valores e impediam a realização do sonho. Como se sabe, o que daí derivou concretizou-se como terrível pesadelo, vivido em vigília.

Visões acerca de um estado de coisas ideal, sonhado e desejado, que proporcionaria o bem viver, estão associadas às utopias. São traduzidas, às vezes, por projeções de um mundo de liberdade, igualdade, justiça, felicidade; outras vezes, associadas à prosperidade, segurança, ordem, harmonia. Já as distopias – etimologicamente, lugares ruins, hostis, doentios, imperfeitos, como destacou o historiador britânico Gregory Claeys (2017, p. 4) – configuram a negação da felicidade, ao inverter os termos valorizados nas utopias ou ao lê-los em outra clave. Assim, as projeções distópicas costumam ser caracterizadas por desigualdade, injustiça, ausência de liberdade; aquilo que, na perspectiva utópica, poderia ser considerado ordenado e harmonioso, nas distopias mostra dimensões controladoras, autoritárias, opressivas. Leia Mais