História e Gênero | Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade | 2019

Os artigos que compõem o Dossiê “História e Gênero” da Revista Cordis, n. 22 – publicação do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – têm como temática a questão de gênero, com artigos concebidos a partir de pressupostos teórico-metodológicos de diversos matizes. Nesta perspectiva, este número propõe a discussão que gênero é um conceito que aborda os múltiplos femininos e masculinos, sem práticas etnocêntricas.

O primeiro artigo, o segundo artigo e o terceiro artigos do Dossiê História e Gênero abordam mulheres em estratégias de luta e preservação da vida. O primeiro artigo, denominado “Descolonizando Currículo: educação antirracista com Carolina Maria de Jesus”, de Veruschka de Sales Azevedo, discute os desafios e o desenvolvimento das principais leis responsáveis pela descolonização no currículo no Brasil; leis que foram se desenvolvendo ao longo dos anos oitenta do século XX e início do século XXI, que se referem aos direitos e desafios presentes no campo educacional, a partir da obrigatoriedade do ensino de História da África e das culturas afro-brasileiras na escola. O texto apresenta um relato de prática descolonizadora com o livro “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus, na escola pública de São Paulo.

Já o segundo artigo, chamado “Quebradeiras de coco de babaçu: histórias, memórias, estratégias de produção e luta em prol da preservação dos babaçuais e da cultura local. 1990 a 2010”, das autoras Maria Izilda Santos de Matos, Andrea Borelli e Rosana Schwartz, objetiva discutir as ações e lutas cotidianas das mulheres quebradeiras de coco de babaçu, do Médio Mearim (Maranhão), organizadas em movimentos sociais e associações que defendem práticas sustentáveis e a preservação da Floresta Amazônica e, principalmente, a valorização do trabalho feminino, direitos fundamentais e práticas culturais tradicionais, particularmente, as ações e lutas a partir da ONG ASSEMA (Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão).

E o terceiro artigo, denominado “Aspectos sobre as políticas públicas de reabilitação para mulheres negras no sistema penitenciário do Distrito Federal”, de Walace Roza Pinel e Darliane Silva do Amaral, tem como objetivo refletir sobre as políticas públicas oferecidas as mulheres no Sistema Penitenciário Feminino do Distrito Federal. De modo particular, é analisada a questão da raça, uma vez que a mulher negra é a categoria predominante do Sistema Penitenciário e reflete-se sobre a proposta da Educação de Jovens e Adultos, considerando-a como uma política pública oferecida pelo Estado Brasileiro durante o período em que as mulheres estão em privação de liberdade, pois identificou-se que essa modalidade de ensino assume uma proeminência no contexto prisional.

O quarto e quinto artigos abordam questões de gênero de uma cantora e uma literata, respectivamente, em dissonância com o patriarcado de seu tempo. O quarto artigo, denominado “O Fado de Amália Rodrigues (1920- 1960)”, de Yvone Dias Avelino, tem como objetivo contribuir com a história do fado e trazer à tona as multiplicidades de expressões contidas nesse estilo cancioneiro realizando a interlocução com a trajetória de vida da renomada fadista Amália, entre as décadas de 20 a 60. A trajetória da referida artista está permeada de conflitos e superações onde a menina pobre nascida em Lisboa no ano de 1920 desde pequena, já cantarolava pelas ruas e era ouvida pelos vizinhos que, como recompensa, lhe davam algumas moedas, alimentos e doces. Na adolescência foi vendedora de frutas e de flores nas zonas portuárias, onde se punha a cantar para atrair a atenção dos fregueses, assim foi ganhando visibilidade e popularidade até se consagrar como a dama do fado, onde pode expressar as tramas e os dramas da alma humana vivenciadas por si mesma e ou por outros sujeitos de sua temporalidade na íntima relação de projeção e identificação com o seu público.

Já o quinto artigo, denominado “Couraça e liberdade: apontamentos sobre a questão de gênero em Clarice Lispector”, de Bruno Marco Cuer dos Santos e de Marcelo Flório, propõe a necessidade de uma rediscussão sobre a autora Clarice Lispector a partir dos debates sobre gênero e sexualidade que emergem na contemporaneidade. Trata-se de uma reflexão suscitada pela trajetória da personagem Joana na obra Perto do Coração Selvagem de 1944. Partiu-se da ideia de que a busca da personagem para um sentido de sua existência em sua condição de mulher, expressa, no limite, uma superação da construção do feminino em relação de subordinação ao masculino o que contrapõe valores binários da sociedade brasileira na década de 1940.

O sexto e sétimo artigos do Dossiê História e Gênero abordam questões referentes às identidades sexuais de sujeitos sociais. O sexto artigo denominado “’Aparelho excretor não reproduz’! Representações de mulheres sobre o sexo anal”, dos autores Silvia Piedade de Moraes e José Roberto da Silva Brêtas, integra uma pesquisa intitulada Representações Sociais de mulheres sobre sexo anal que destaca a existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e os sujeitos da pesquisa, entre os sujeitos e o objeto estudado, entre o mundo objetivo e a subjetividade dos sujeitos, atendendo as convicções teóricas e conceituais. A Teoria das Representações Sociais possibilita conhecer o processo de elaboração das condutas e conhecimentos como fundamentais para detecção de dados e contribuição para mudanças a partir de elaboração reflexiva e vivencial dos sujeitos. Os objetivos da pesquisa são conhecer as Representações Sociais de mulheres sobre a prática do sexo anal; identificar juízos de valor atribuídos à prática do sexo anal e identificar as subjetividades relativas às questões de gênero sobre o tema.

O sétimo artigo, denominado, “As representações do conceito de sexualidade: subsídios para intervenção”, de Ana Maria Limeira de Godoi, José Roberto da Silva Brêtas e Silvia Piedade de Moraes, discute que as representações dos participantes sobre sexualidade encontram-se ancoradas no prazer, em estereótipos de gênero e sexismo, enquanto sexo biológico e reprodução e enquanto ciência e forma de conhecimento. A sexualidade ainda é fortemente representada pela biologia, há a biologização da sexualidade nos discursos e a conclusão da pesquisa aponta que é ressaltada a necessidade de implementar cursos de capacitação para professores e alunos de graduação de cursos na área da saúde, considerando essas representações.

O oitavo artigo é um trabalho de pesquisa de graduação e é denominado, “Gênero e Sexualidade no ambiente escolar: sequência didática na formação docente”, de Bruno Pereira de Castro, que aborda, que, cabe pensar de forma comprometida e responsável sobre a formação docente, ou seja, a responsabilidade do educador enquanto agente de desenvolvimento e transformação social, de modo que sua formação e a sua capacidade técnico-profissional e pessoal, sejam capazes de identificar e desconstruir todo e qualquer princípio de preconceito, seja ele relacionado a gênero, sexualidade e/ou qualquer outra matriz que dê ao outro plenas condições de condenar e boicotar a existência do seu semelhante pelo simples fato dele ou dela não corresponder ao que está socialmente posto.


Organizador

Marcelo Flório – Pós-doutor em História (PUC/SP), Doutor em Ciências Sociais (PUC/SP), Mestre em História (PUC/SP) e docente da Universidade de Guarulhos (UnG).


Referências desta apresentação

FLÓRIO, Marcelo. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade. São Paulo, v.1, n.22, 2019. Acessar publicação original [DR]

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