Arte, História e Escrita | LaborHistórico | 2020

A proposta de organização de um dossiê sobre as diversas relações possíveis entre arte, história e escrita responde ao interesse da revista LaborHistórico, publicação semestral on-line dos Programas de Pós-graduação em Letras Vernáculas e Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, um periódico que tem como foco estudos desenvolvidos a partir de fontes escritas nos quais se destaque o labor do historiador diante de seu material de trabalho. Focada nas áreas de Filologia e Linguística Histórica, a revista busca cada vez mais a interdisciplinaridade, promovendo números relacionados com áreas diversas, como a paleografia, a história, a literatura, a história social da cultura escrita, dentre outras.

Assim, este dossiê, intitulado Arte, História e Escrita, reúne vinte artigos de pesquisadores filiados a instituições do Brasil, Espanha, Argentina, Itália, México, Chile e Estados Unidos, principalmente relacionados com a História da Arte, que refletem sobre o labor do historiador da arte diante de suas fontes de trabalho. O próprio conceito de fonte escrita, sua definição, suas diferentes tipologias e caraterísticas se constituem como elementos vertebradores da reflexão, assim como os diferentes modos possíveis de tratamento destas fontes na Historia da Arte e sua importância para a construção da disciplina.

Numa área que vivencia tempos de crise e renovação, cada vez resulta mais importante pensar na tensão entre um objeto de estudo percebido eminentemente de forma visual e sensorial e a construção da sua história, verbal e escrita. A obra de arte, objeto artístico ou imagem se convertem no objeto principal das reflexões, nas quais as fontes costumam ser eminentemente escritas, atendendo a secular supremacia do escrito sobre o visual. Desde o século XVIII, com a configuração da história da arte e a arqueologia como disciplinas científicas, o domínio de ambas se dividiu notavelmente. Por uma parte, a arqueologia, ligada à história como disciplina positivista, se ocupou da suposta fiabilidade das fontes escritas e da objetividade dos achados arqueológicos e, por outra, a história da arte, por sua vez, se ocupou da intangibilidade do belo e sua discussão ligada ao domínio da filosofia e da estética.

Assim, o uso das fontes imagéticas pelas disciplinas históricas se encontra no foco da História da Arte e da História, que cada vez mais tendem a entrecruzar seus caminhos, diminuindo a distância historicamente estabelecida. Superando o conceito de fonte como constatação ou comprovação, o desafio da imagem como fonte histórica passa pelo equilíbrio entre fazer uma história com imagens e uma história das imagens.

Mas esta dialética entre discurso imagético e discurso verbal não é a única abordagem da múltipla relação entre arte, história e escrita. Na chamada para submissão do dossiê propusemos alguns grandes temas de reflexão para pensar esta relação secular: desde obras nas quais imagem e escrita coexistem na mesma materialidade; o estudo das relações entre a imagem e o texto, como por exemplo os diálogos entre teoria e prática artística, a exemplo de manifestos e obras de arte; a influência mútua entre o texto e a imagem, e como um pode condicionar e dirigir o outro, como no caso dos tratados religiosos; como a imagem e o texto compartilham o mesmo espaço e as relações que estabelecem, como no caso de inscrições, manuscritos iluminados, livros, revistas, quadrinhos ou a própria assinatura; os textos sem relação direta com a imagem, como inscrições na arquitetura, túmulos, etc; como se relacionam tematicamente e formalmente as obras literárias e artísticas que compartilham inspiração, observando as diferentes construções que a arte e a literatura elaboram e suas mútuas relações; assuntos como a ilustração, o uso da imagem a serviço do texto, a écfrase, assuntos de crítica e teoria artística, ou curadoria e o processo de construção através do texto, assim como o próprio papel do texto como elemento artístico ou como própria obra de arte, e a obra de arte como modo de escrita.

Partindo desta multiplicidade de possibilidades e perspectivas, os textos que compõem o dossiê se ordenam em função de uma lógica interna. Partimos das novas propostas na teoria e prática, com os textos de Tamara Quírico e Ivair Reinaldim. A preocupação de Tamara Quírico (UERJ) se centra na proposta de entender a arte como ferramenta analítica para uma história não verbal (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.31785). Nesse sentido, seu artigo questiona as analises próprias de uma História da Arte tradicional, ampliando o conceito de objeto artístico e de fonte, reivindicando a importância e a não subordinação das fontes visuais em relação às fontes escritas. Partindo de uma premissa interdisciplinar, aunando História da Arte, História Social, História da Cultura e Antropologia, propõe, através de um estudo de caso, a análise de obras de temática cristã na Península Itálica no fim da Idade Média, mostrando a importância da produção medieval, relegada tradicionalmente a um segundo plano. Por sua parte, Ivair Reinaldim (UFRJ), em Apontamentos sobre a prática da H(h)istória da arte (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32353), reflete sobre a História da Arte possível e a necessidade de uma nova escrita e uma nova forma de ensino da mesma. Através do levantamento de autores imprescindíveis e a delimitação de aspectos teórico-metodológicos, articula alguns tópicos essenciais para o debate, que repercutirão na definição da disciplina e seu ensino fora do contexto ocidental tradicional de produção e institucionalização.

As propostas de Ana de Gusmão Mannarino, Renata Oliveira Caetano, Débora Bastos Fioravante Pereira e Maria Alice Ribeiro Gabriel se voltam para o pensamento da arte através da escrita e suas relações com a imagem. Ana Mannarino (UFRJ), em Repensar a escrita pela arte e pela poesia: Mallarmé, Fenollosa e Mira Schendel (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.33398), parte das considerações de Anne Marie Christin, Jacques Derrida, Haroldo de Campos, Vilém Flusser e Gianni Vattimo para pensar a obra de Mira Schendel. Assim, a autora traça relações entre arte e escrita, privilegiando artistas que incluem a palavra escrita nas suas produções artísticas e poemas que privilegiam a espacialização da palavra e a imagem, propondo relações também com os textos de Mallarmé e Fenollosa para procurar romper as fronteiras estritas das artes visuais, analisando os limites da linguagem. Renata Oliveira Caetano (UFJF) e Débora Bastos Fioravante Pereira (UFJF), em Ilustração em cartas: uma expansão do pensamento entre desenhos e escrita (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32145), focam na relação entre ilustração e texto nas cartas de Albert Müller para, de novo, romper com limites e hierarquias estabelecidas, fugindo da noção de texto como mote e da ilustração como facilitadora de sentidos. Para lograr seu objetivo e relacionar as diferentes linguagens, as autoras partem das ideias de tradução e coerência semiótica, para constatar novas interações entre texto e imagem. Já Maria Alice Ribeiro Gabriel (UFU), em “Cada letra isolada era um desenho”: caligrafia, estética e iconografia em Baú de Ossos (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32758), aborda, partindo do conceito de ut pictura poesis, a obra Baú de Ossos, de Pedro da Silva Nava, para mostrar os diferentes estilos de caligrafia como expressão artística.

O seguinte grupo de textos dirige sua atenção ao âmbito brasileiro através da literatura artística, das fontes primárias de arquivo e dos panoramas oitocentistas como palavra-experiência. Sonia Gomes Pereira (UFRJ), em O uso do Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes da UFRJ para o estudo da História da Arte brasileira: o caso da Exposição Geral de 1884 da Academia (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32216), realiza um trabalho de pesquisa de fontes primárias, destacando a importância dos arquivos como fonte, o que permite novas reflexões e mudanças em ideias tradicionalmente aceitas. Assim, centrando-se em critérios estéticos, artísticos e técnicos usados na avaliação das obras apresentadas na exposição, consegue, por uma parte, mostrar a posição da Academia Imperial de Belas Artes e, por outra, questiona as diferenças entre velhos mestres e jovens artistas. João Brancato (UNICAMP), em Por que estudar a literatura artística brasileira? Considerações sobre as artes de tradição europeia nos séculos XIX e início do XX (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.31935), se ocupa da literatura artística como fonte, destacando sua importância e estimulando novas pesquisas sobre o assunto. O autor define o próprio conceito e levanta as principais publicações para pensar as potencialidades possíveis, especialmente através de um estudo de caso, a crítica de arte de M. Nogueira da Silva. Por sua vez, Carla Hermann (UERJ), em Palavra-experiência e os panoramas oitocentistas britânicos (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32231), analisa a relação especial entre texto e imagem nos panoramas oitocentistas, através dos guias escritos que mediavam a experiência deste gênero e permitiam seu entendimento integral, propondo o termo de palavra-experiência para definir esta relação.

Após os textos que pensam novas propostas metodológicas, a arte através da escrita e a relação entre ambas e o âmbito brasileiro, os textos a seguir se estruturam cronologicamente, iniciando com o período clássico, passando pela Idade Média, a arte moderna espanhola e italiana, e pela arte sulamericana colonial e oitocentista. Antonio Leandro Barros (UNICAMP), em Golpes e perseguição: como Homero chega para sua desventura socrática na República (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32351), propõe ampliar o campo de estudo da estética para além do eixo platônico-aristotélico, reivindicando a construção histórica de Giambattista Vico, baseando-se na figura de Homero.

O período medieval, junto com o texto de Tamara Quírico, é contemplado por Jefferson de Albuquerque Mendes (UERJ) em Imagens, Fontes e Manuscritos: o conhecimento médico-astrológico nos calendários astronômicos de Nicholas de Lynn e John Somer (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.31813), trabalho no qual o autor analisa a complementariedade de texto e imagem nos calendários astronômicos de Nicholas de Lynn e de John Somer, na Inglaterra dos séculos XIV e XV. Passando para a Primeira Idade Moderna, Borja Franco Llopis (Universidad Nacional de Educación a Distancia/Espanha), em Nuevas fuentes sobre la rueda de la Fortuna y su aparición en el arte efímero hispánico: de la alegoría del buen gobierno al conflicto interreligioso frente al islam (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32308), analisa a cultura visual hispânica, especialmente a alegoria da Fortuna, para destacar sua relação com as festividades relacionadas com a monarquia e sua finalidade comemorativa, adaptando os modelos clássicos e medievais. Alexandre Ragazzi (UERJ), em A incerteza como método nos escritos e na arte de Jacopo Pontormo (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32306), revisita a obra do artista italiano através da noção de incerteza, usando os próprios escritos e obras do artista, assim como uma possível fonte, a obra de Sexto Empírico, que permitiriam novas vias de compreensão para o tradicional entendimento deste artista considerado como maneirista. Em O Discorso de Paleotti e o desejo de uma teoria Tridentina da imagem (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32589), Clara Habib de Salles Abreu (UERJ) se debruça sobre as reformas religiosas do século XVI na Europa católica, para, a partir do Discorso intorno alle immagini sacre e profane de Gabriele Paleotti, mensurar a relação entre os discursos religiosos intelectualizados e canônicos e o exercício artístico, que nem sempre acompanhava estes textos normatizadores.

Atravessando tempo e espaço, a produção do período colonial na América do Sul é tratada por Elvia Estefania Lopez (Universidad Autónoma de San Luis Potosí/México) e Guadalupe Rodríguez Domínguez (Universidad Autónoma de San Luis Potosí/México), em Biblioiconografía y evangelización: la relación entre texto e imagen en libros impresos novohispanos (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.31150), e Juan Ricardo Rey-Márquez (Universidad Nacional deTres de Febrero/ Universidad del Salvador/Argentina), em Americanus pinxit: os artistas da Real expedição botânica do Novo Reino de Granada (1783-1816) desde a epistemologia visual (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32394). O primeiro trabalho constata a não correspondência entre gravura e texto nos impressos doutrinais do mexicano Pedro de Ocharte ou o reaproveitamento sem alterações de gravuras evangelizadoras próprias do âmbito europeu. Assim, conclui como a efetividade da gravura não se encontrava somente na ilustração do texto, mas também na efetividade de sua iconografia. Juan Ricardo Rey-Márquez recorre à epistemologia visual para reivindicar a relevância dos desenhos realizados pela Real expedição botânica do Novo Reino de Granada (1783- 1816) e, novamente, reclama a não subordinação da arte a serviço da ciência, mergulhando nos interstícios de uma combinação não hierárquica. Na mesma época, mas na Argentina, Juan Albín (Universidad de Buenos Aires/Universidad Nacional de las Artes/Argentina), em Imágenes para la gauchesca: una genealogía (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32032), a partir das gravuras de La lira argentina o colección de las piezas poéticas, dadas a luz en Buenos-Ayres durante la guerra de su independência, publicada por Bartolomé Hidalgo em 1824, aprofunda na construção do tipo do gaúcho através da ação conjunta entre texto e imagem, especificamente através de matrizes preexistentes nas imprensas.

De volta à contemporaneidade, Maria Silvina Sosa Vota (Universidad de Santiago de Chile/Chile), em Nós que aqui estamos por vós esperamos. Aproximaciones entre el Cine y la Historia (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.31530), propõe o entendimento do longa-metragem Nós que aqui estamos por vós esperamos, 1999, de Marcelo Masagão, como uma história não textual, construída a partir do cinema, com uma linguagem e recursos próprios, criando assim uma historiografia por imagens.

Especificamente dedicados à critica de arte e à historiografia seguem os textos de Ninel Valderrama Negron (Duke University/Estados Unidos), (Hi)Story in the Margins: Jose Rizal’s Footnotes to Antonio Morga’s Chronicle (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.30599), e Fernanda Marinho (Bibliotheca Hertziana, Max-Planck Institut/Itália), Giulio Carlo Argan e Eugenio Battisti: Novas Diretrizes para a Crítica de Arte Italiana (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32219 ). Ninel Valderrama destaca a rivalidade visual entre o texto principal de Sucesos de las Islas Filipinas, que narra a conquista espanhola, e as anotações feitas ao mesmo por José Rizal em 1890. Estas anotações não só rompem com as estruturas acadêmicas ocidentais apropriando-se delas, mas também agregam a visão do filipino, que passa de objeto de estudo a sujeito agente. Já Fernanda Marinho analisa a crítica italiana da década de 1950, momento das disputas entre o pensamento de Lionello Venturi e Roberto Longhi, confrontando dois textos de Giulio Carlo Argan e Eugenio Battisti, que se debruçam sobre o ambiente artístico.

Por último, e não menos importante, o original trabalho de Danilo Oliveira Nascimento Julião (UFRJ), Algumas considerações sobre a presença da epigrafia em latim no Rio de Janeiro (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.32307), nos oferece uma necessária perspectiva das inscrições epigráficas latinas como parte essencial das obras públicas e monumentos nos séculos XVIII e XIX no Rio de Janeiro, sua relação com o suporte de escrita e a longa tradição cultural que se atualiza em terras cariocas.

Além dos artigos, o dossiê temático Arte, História e Escrita conta ainda com quatro contribuições na seção Fontes Primárias. Em torno a um tema em comum – os Prêmios de Viagem a Europa obtidos por alunos da Academia Imperial de Belas Artes e Escola Nacional de Belas Artes -, o trabalho interdisciplinar entre História da Arte, Filologia e Paleografia, no labor de leitura, decifração, transcrição e apresentação de fontes documentais inegavelmente importantes para o estudo da arte brasileira oitocentista e, mais particularmente, do funcionamento do próprio sistema de ensino da Academia, também se deu, em três dos casos, na composição das parcerias de trabalho, que contam com estudantes de graduação e pós-graduação da Escola de Belas Artes e da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Com base em uma organização cronológica dos documentos, a fonte primária de Paola Matheus dos Santos e Beatriz Dias Mikhail, intitulada Instruções de viagem a Europa ao primeiro pensionista da Academia Imperial de Belas Artes (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.40556), abre a seção. Em seu texto, as autoras apresentam um documento importante para a história da arte. Trata-se das primeiras instruções dadas pela Academia a Antônio Baptista da Rocha, estudante de arquitetura que ganhou o primeiro concurso para o Prêmio de Viagem em 1845. Neste documento se detalham as instruções práticas e burocráticas, mas também o que o estudante deveria ver, estudar e copiar, sendo assim um testemunho essencial para a história da arte brasileira. Flora Pereira Flor e Maria Elisa Lima de Souza, em Reflexões sobre o ensino na Academia Imperial de Belas Artes a partir das Instruções para o pensionista de Pintura Histórica em Roma Francisco Antonio Nery (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.40524), fazem o mesmo para o caso do aluno de pintura, Francisco Antonio Nery, com uma excelente e minuciosa explanação do texto em seu contexto de produção, o que nos permite ampliar o conhecimento sobre o sistema de ensino acadêmico. O trabalho Rodolpho Amoêdo e seu pensionato em Paris (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.40557), de Débora Poncio Soares, trata das correspondências do pintor Rodolpho Amoêdo durante o seu pensionato, evidenciando também as relações institucionais deste processo, além de oferecer algumas imagens de obras do artista presentes no mesmo arquivo. Por fim, a fonte primária de Lindley de Oliveira Corrêa e Millena Cassim Rodrigues Guedes, Dinorá de Simas Enéas: uma pensionista de Gravura de Medalhas em Roma durante a 1ª Guerra Mundial (https://doi.org/10.24206/lh.v6i2.40555), aborda o caso excepcional da estudante de gravura de medalhas e pedras preciosas Dinorá de Simas Enéas, que viu-se obrigado a voltar da Europa por motivos de saúde e devido à 1ª Guerra Mundial. As correspondências apresentam o desejo da artista de voltar à Europa, desejo que nunca se viu cumprido, e que nos permite pensar também sobre as limitações que uma artista mulher podia enfrentar nesse momento.

Até aqui foram vinte visões diferenciadas – além das inúmeras questões que podem ser levantadas a partir das fontes primárias – para refletir sobre a relação entre arte, história e escrita a partir de diferentes objetos, perspectivas e abordagens, desde diferentes períodos, recortes geográficos e gêneros, que mostram a importância da própria definição da fonte, a ampliação necessária da mesma e a sua contínua reformulação para o necessário redimensionamento da própria disciplina da História da Arte. Mas o estudo da imagem não fica restrito a uma História da Arte tradicional, senão que se faz necessária uma ampliação de horizontes e sua adaptação às diferentes especificidades de uma disciplina que nasceu ocidental e se redefine nos diferentes contextos levando em consideração as suas necessidades e caraterísticas, fugindo de uma pretendida universalidade.

Assim como o fato artístico é complexo, plural e polissêmico, a imagem como fonte requer cada vez mais vozes e epistemologias que concorram a uma interdisciplinaridade efetiva, contribuindo para isso, por exemplo, os estudos culturais, os estudos visuais, a antropologia artística, a história social da arte, a semiótica, entre outros. Essa confluência interdisciplinar sobre as fontes proporciona um entendimento mais amplo e abrangente das linguagens simbólicas e a complexidade do imagético. Nesse sentido, História da Arte e História, como disciplinas tradicionais que lidam com a imagem como fonte, devem se aproximar mais, diluindo progressivamente as fronteiras com as que nasceram, equilibrando o fazer história com imagens e fazer história das imagens.

Por isso, como apontam os textos do dossiê, tanto as fronteiras como as hierarquias estão sendo revistas, questionando, por exemplo, o lugar subordinado que a imagem ocupou em relação ao texto, e destacando seu lugar privilegiado na percepção, mas sem esquecer as múltiplas relações de convivência, e até dependência, numa história que sempre esteve unida, mas que foi parcelada por disciplinas e que cada vez mais procuramos aproximar, fazendo do conceito de fonte menos um lugar de constatação, e mais um lugar de novos questionamentos.


Organizador

Alberto Martín Chillón – UFRJ.


Referências desta apresentação

CHILLÓN, Alberto Martín. Apresentação. LaborHistórico. Rio de Janeiro, v.6, n.2, p. 10-16, maio/ago. 2020. Acessar publicação original [DR]

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