As Garras do Condor. Como as ditaduras militares da Argentina/ do Chile/ do Uruguai/ do Brasil/ da Bolívia e do Paraguai se associaram para eliminar adversários políticos | Nilson Cesar Mariano

Uma exposição da covardia da ditadura, assim deve ser caracterizado o livro-reportagem de Mariano, jornalista do jornal Zero Hora. O livro é uma obra advinda de sua pesquisa sobre a cooperação entre as ditaduras militares do Cone Sul, desde 1993. O jornalista foi honrado com os principais prêmios jornalísticos, como o Esso e o Vladimir Herzog. O autor pretende informar que a perseguição no período das ditaduras do Cone Sul, entre 1954 a 1989, ultrapassou fronteiras, porque as ditaduras cooperaram entre si para prender os opositores de seus regimes, sem respeitar qualquer tratado de proteção a refugiados e órgãos internacionais, como o ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Dentre a cooperação, destacou-se a Operação Condor que foi idealizada pelo General Contreras, do Chile, tendo entrado em vigor em 1975.

O autor expõe fatos que fazem com que o leitor veja a ditadura nos países do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai) de forma bem mais crítica. É bastante conhecida a perseguição de opositores dos militares no período, entretanto o tratamento desumano a que essas pessoas foram submetidas não é muito mencionado. Para as relações internacionais, é demonstrado o fim das fronteiras geográficas e a ascensão das fronteiras ideológicas, algo que foi constante na Guerra Fria, mas pouco discutido na esfera sul-americana. A teoria das fronteiras ideológicas consiste na idéia de que para se alcançar objetivos não houve barreiras fronteiriças entre ditaduras, de forma que elas se uniram para combater seu inimigo comum, os comunistas.

Com o sucesso da Revolução Cubana, muitos grupos formaram-se nos países sul-americanos com o intuito de chegar a uma revolução. Mariano demonstra como esses movimentos foram esmagados em cada país e como os membros desses grupos sofreram com tamanha repressão. O autor estrutura o livro de maneira bem simples, dividindo os capítulos entre os países que participaram da Operação Condor. Por isso, introduz uma explicação sobre o que realmente foi a Operação Condor.

Mariano sempre inicia os capítulos com citações de envolvidos com a ditadura, sejam vítimas, ou vilões, estratégia que chama atenção do leitor. Nas primeiras páginas, o autor também mostra números importantes, ao demonstrar as vítimas das ditaduras em cada país, o que já revela ao leitor, por método de comparação, quais sofreram mais com ela. Além disso, há os relatos de tortura que impressionam (não apenas físicas, mas também psicológicas) e enriquecem o conteúdo do texto.

A obra também demonstra a impunidade dos responsáveis, acobertados pelas “leis de esquecimento”, apesar da pressão de organizações de defesa dos direito humanos e dos próprios familiares das vítimas. A grande ausência no livro foi de um capítulo dedicado à Bolívia, país que também foi integrante da Operação Condor. Embora Mariano cite o país em alguns capítulos, ele poderia ter dedicado uma parte específica, mesmo menor. Não há muito sentido em fragmentar o que ocorreu na ditadura do General Hugo Banzer Suárez e colocar em outros capítulos. Seria bastante interessante analisar os acontecimentos sobre esse país tão pouco estudado no Brasil.

Em decorrência dos vários relatos adquiridos pelo autor em suas valiosas entrevistas, Mariano se prende muito às torturas, ao escapar um pouco do foco argumentativo da obra. Apesar disso, não se pode negar que a sua contribuição é muito importante para os especialistas em América do Sul. Graças à liberação de documentos do Palácio da Justiça do Paraguai que os fatos relativos à Operação vieram a tona, principalmente devido à pressão das antigas vítimas e dos órgãos de defesa dos direitos humanos. ISSN 1518-1219 Editor: Antônio Carlos Lessa Editor-adjunto: Virgílio Arraes Editor-assistente: Rogério de Souza Farias Conselho Editorial: Amado Luiz Cervo, Antônio Jorge Ramalho da Rocha, Argemiro Procópio Filho, Estevão R. Martins, Francisco Doratioto, José Flávio S. Saraiva, João Paulo Peixoto, Tânia Pechir Manzur. Diagramação e edit. eletrônica: Samuel Tabosa de Castro – [email protected] Meridiano 47 Boletim de Análise de Conjuntura em Relações Internacionais Segundo o livro, a Operação demonstra a ingerência dos Estado Unidos no conjunto de ditaduras do Cone Sul, comprovada já por documentos liberados pela CIA (Agência de Informação Americana) e expostos no livro, de modo que proporciona aos historiadores a informação que a maior democracia do mundo seguiu o mesmo compasso naquele período das pequenas e médias ditaduras do continente.


Resenhista

Guilherme Ferreira Soares de Lima – Bacharelando em Relações Internacionais do Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB.


Referências desta Resenha

MARIANO, Nilson Cezar. As Garras do Condor. Como as ditaduras militares da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Brasil, da Bolívia e do Paraguai se associaram para eliminar adversários políticos. Petrópolis: Vozes, 2003. Resenha de: LIMA, Guilherme Ferreira Soares de. Meridiano 47, v.6, n.55, p.15-16, fev.2005. Acessar publicação original [DR]

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