Cinema e Estudos Culturais: perspectivas em debate/ Albuquerque/2022

A atualidade do cinema e sua presença em novas formas de produção, distribuição e exibição (como o streaming, por exemplo), ampliando o espectro da representação e de temáticas de raça, gênero e sexualidades, entre outras, trazem à tona o debate sobre o consumo de imagens, as culturas visuais e midiáticas, bem como as pedagogias culturais que tais produções podem sugerir.

Foi pensando nessa problemática que propusemos a organização do dossiê “Cinema e Estudos Culturais: perspectivas em debate”. Sabemos como os Estudos Culturais têm contribuído para a ampliação das investigações que tomam as imagens em movimento como fontes e pontos de reflexão. Do mesmo modo, a renovação nas chamadas Ciências Humanas apresentam novos e novas sujeitos e sujeitas, conceitos e temas que problematizam posições até então compreendidas como subalternidade e que passam a ser lidas como resistências e enfrentamentos ao poder.

Os textos ora publicados tomam o Cinema como ponto de reflexão, seja enquanto fonte histórica, representação social, produto da indústria cultural, prática e experiência social, na perspectiva plural de metodologias, conceitos e sujeitos que os Estudos Culturais abarcam e dialogam.

Partindo de um olhar sobre a produção cinematográfica em Mato Grosso, o texto de Caroline de Oliveira Santos Araújo e Marithê Azevedo intitulado “Territorialização e cultura: como Mato Grosso aparece nas cinematografias contemporâneas”, nas palavras das autoras, “busca observar como signos e elementos da cultura de Mato Grosso foram incorporados em narrativas audiovisuais construídas por cineastas locais, produzindo discursos sobre o local/ regional dentro de um contexto de globalização e mundialização da cultura.”

As análises de produções cinematográficas que abordam o período da ditadura civil- -militar de 1964 no Brasil ganham destaque em três trabalhos. Jean Carllo de Souza Silva, em seu texto intitulado “A tortura (re)encenada como denúncia: uma análise de Brazil, a report on torture e No es hora de llorar,” a partir da perspectiva da antropologia visual, analisa os filmes documentários anunciados no título. Ambas as produções foram realizadas no Chile em 1971, “mas abordam e, sobretudo, encenam a tortura sofrida por militantes brasileiros durante a ditadura civil-militar”, tema que é problematizado e analisado pelo autor ao longo do trabalho.

Em “Gays shuold not exist: morte e encarceramento da população LGBT no Brasil”, os autores Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos e Bruno do Prado Alexandre analisam o documentário brasileiro “Temporada de Caça” (1988), de Rita Moreira, problematizando “o processo de encarceramento e extermínio da população LGBT na cidade de São Paulo e Rio de Janeiro”, nos anos finais da ditadura civil-militar, nos anos 1980.

Ainda dentro do período histórico da Ditadura Civil-Militar, em diálogo com as questões LGBTQIA+, o artigo de Victor Hugo da Silva Gomes Mariusso intitulado “Um Lampião nas esquinas escuras: história, sexualidade e cinema no Brasil contemporâneo” resgata a história do jornal “Lampião da Esquina”, importante periódico que compõe a história do movimento gay brasileiro, que se tornou objeto de um documentário em 2016, analisado pelo autor.

As questões de gênero são analisadas também do ponto de vista das produções hollywoodianas no trabalho “Relações de gênero, casamento e ascensão social em ‘Os homens preferem as loiras’ (1953)”, estrelado por Marilyn Monroe, no texto de Ana Elisa Muçouçah, onde analisa “a imagem pública da artista, de sua persona cinematográfica”, a partir do filme dirigido por Howard Hanks.

Uma das marcas que a ditadura civil-militar deixou na história brasileira é a violência de parte das polícias, em seus diferentes estratos. Esse tema é objeto de análise de Felipe Biguinatti Carias no artigo intitulado “Cadê a porra do Baiano? O uso da tragédia para a formação de policiais fascistas em ‘Tropa de elite’ (2007), de José Padilha”, onde o autor dedica “maior ênfase nas intrigas socais, como o ressentimento e a vingança estéril”.

Outra importante produção hollywoodiana é analisada no texto de Gustavo de Freitas Sivi, intitulado “O wilderness e a fronteira no século XXI: uma reflexão sobre Babel (Alejandro González Iñárritu, 2006)”, destacando “a forma como o filme lida com aspecto contemporâneo de fronteira, wilderness, estranhamento e identidade”, em suas palavras.

Finalmente, analisando obras produzidas para o streaming, o texto de Fabrício Silva Parmindo analisa como a plataforma Netflix aborda o conceito da nostalgia em algumas de suas produções a partir de 2013.

Esperamos que a diversidade de temas, produções e cinematografias que compõem o presente dossiê amplifiquem os estudos de Cinema e Estudos Culturais, bem como, contribuam para um olhar mais crítico e analítico de obras audiovisuais.

Boa leitura!


Organizadores

Flávio Vilas-Bôas Trovão – Universidade Federal de Rondonópolis (UFR).

Alcilene Cavalcante de Oliveira – Universidade Federal de Goiás (UFG).


Referências desta apresentação

TROVÃO, Flávio Vilas-Bôas; OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. Apresentação. Albuquerque. Campo Grande, v. 14, n. 28, p.11-12, jul./dez. 2022. Acessar publicação original [DR/JF]

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