Comunismo, anticomunismo e anarquismo na América Latina no século XX | Revista Latino-Americana de História | 2018

A Revista Latino-Americana de História apresenta o seu décimo nono número que é composto pelo o dossiê “Comunismo, anticomunismo e anarquismo na América Latina no século XX”, divulgando trabalhos inovadores e atuais sobre essas temáticas, refletindo as novas possibilidades historiográficas que aprimoram e tornam mais complexo o ato de fazer e escrever a História. As pesquisas que se apresentam apontam algumas dimensões fundamentais da renovação dos escritos da História Política, tais como: a autonomia da percepção do político no fazer histórico; a busca por novos olhares sobre objetos tradicionais – como os partidos políticos; novas fontes, objetos e novos sujeitos históricos, dentre tantas outras questões; tornando, portanto, esse número da Revista Latino-Americana de História um painel que possibilita visibilidades sobre as recentes práticas no exercício histórico no campo político.

Tal dossiê, ainda, tem o seu valor maximizado, uma vez que se insere em tempos marcados por uma intensa polarização política, aumento de ações de intolerância religiosa, política ou de gênero, dificuldade ou, até mesmo, impossibilidade de diálogos construtivos entre sujeitos detentores de visões de mundo distintas, de forma que a proposta aqui apresentada põe em relevo movimentos políticos de esquerda e direita no século XX.

Cientes do lugar dos historiadores nessa conjuntura, o dossiê é composto por uma entrevista e onze artigos inéditos que tocam em assuntos primordiais para a compreensão tanto da difusão como da negação dos diferentes movimentos políticos e sociais que se fizeram presentes na América Latina envolvendo o comunismo, o anarquismo e o anticomunismo, tais como: a interferência da imprensa nas lutas políticas e os diferentes discursos propagados em suas páginas; a repressão policial/estatal aos grupos contestatórios; as relações/conexões estabelecidas com os países vizinhos; a recepção da Revolução Russa e da Revolução Cubana por determinados atores sociais; trajetórias individuais de resistência; as diferentes táticas e relações políticas dos grupos de esquerda; a influência do anarquismo nas práticas terapêuticas e a possibilidade de estudos transnacionais dos movimentos políticos e sociais em questão.

Nesse percurso escriturístico, os leitores irão se deparar com vários quadros analíticos que capturaram também as transformações no campo da História Política atual. Os textos presentes nessa edição apontam para uma produção renovada, perscrutando o redimensionamento dos estudos políticos e evidenciando a ações de grupos ou sujeitos históricos que são devidamente classificados nas esferas entre direita e esquerda.

O Dossiê também amplia o leque de estudos centrados no movimento operário para outras áreas que não aquelas da economia e da política e apresenta uma importante reflexão sobre a própria utilização de jornais enquanto fonte de pesquisa histórica e, por fim, acaba englobando questões teórico-metodológicas, possibilitando ao leitor e pesquisador vislumbrar novos horizontes de estudo e pesquisa, dentre os quais certos aspectos são destacados, como a aposta numa perspectiva transnacional, no rompimento das barreiras linguísticas, na aplicação mais intensa da teoria das redes sociais, no compromisso com a compreensão dos movimentos contestatórios, na circulação de ideias, entre outros. Diante do exposto, ressalta-se que os estudos que compõe esse corpo investigativo comportam visões de mundo distintas em que pese a construção de representações, práticas e apropriações que visavam instituir códigos de conduta, valores e sentidos às vivências coletivas. Esse dossiê trata, portanto, não apenas de questões políticas tradicionais, mas de formas de ver e sentir o mundo a partir do espectro político.

Almeja-se, por fim, que a leitura do dossiê possa motivar os pesquisadores no sentido de explorar certos aspectos do anarquismo, do comunismo e do anticomunismo que ainda não foram desbravados intensamente, sendo colocados em segundo plano por grande parte da historiografia dedicada ao movimento operário e à repressão que sempre o acompanhou.

Satisfeitas com a estrutura do Dossiê e com a diversidade e complexidade das pesquisas que o dão forma, desejamos a todos uma ótima leitura.


Organizadores

Caroline Poletto – Doutora em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Marylu Alves de Oliveira – Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará.


Referências desta apresentação

POLETTO, Caroline; OLIVEIRA, Marylu Alves de. Apresentação. Revista Latino-Americana de História. São Leopoldo, v.7, n.19, p. 5-6, jan./jul. 2018. Acessar publicação original [DR]

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