Educação para as Relações Etnicorraciais: O ensino de ciências e suas tecnologias | Abatirá | 2021

Detalhe da Capa da Abatirá (v.2, n.3, 2021) |Imagem: Pedro Arão

A revista Abatirá nesta edição traz um dossiê duplo intitulado “Educação para a diferença”, que reuniu textos de grande valor intelectual e que carregam uma significativa simbologia de reversão do alterocídio e da destituição do homem branco em perspectiva cisheteropatriarcal deste lugar de sujeito universal.

No dossiê “Educação para as relações étnico-raciais: o ensino de ciências e suas tecnologias”, as professoras Afro-brasileiras Dra. Bárbara Carine Soares Pinheiro e Dra. Marta Regina dos Santos Nunes, juntamente com o professor Senegalês Dr. Mamour Sop Ndiaye apresentam um compilado de textos que desafiam o genocídio e a pilhagem epistêmicos nas ciências tidas socialmente como “exatas”. Foram selecionadas produções textuais que dialogam diretamente com o intuito desta edição da revista que ao divulgar a ciência africana, seja por meio do complexo educacional ou por outras vias, visando ressignificar a constituição subjetiva de pessoas negras marcada fortemente por uma memória de ausências: ausência de intelectualidade, de pioneirismo, de cientistas, de positivisação histórica, de produções científico-tecnológicas, de memórias afetivas acerca de si e dos seus.

As ciências naturais e suas tecnologias atuam socialmente como um importante espaço de poder, uma vez que o sistema capitalista é desenvolvido e impulsionado por elas nos processos de produção de mercadorias e, portanto, de mais valor na esfera de mediação do ser humano com a natureza. Neste sentido, nesta área, assim como todas as outras vinculadas ao poder, reverbera a dinâmica racista das relações sociais que excluem pessoas negras da possibilidade de existirem e atuarem como protagonistas também nestes espaços e não apenas nos espaços de subserviência, como a história única nos narra. Precisamos superar a “pré-história” da humanidade contemporânea, vencendo o racismo estrutural que destitui pessoas negras de humanização pela via da desintelectualização de seus corpos.

Somos as filhas e os filhos dos primeiros humanos. A humanidade surge em África acerca de 350 mil anos e, sem sombra de dúvidas, não ficaria aguardando a modernidade européia para serem desumanizados, expropriados, sequestrados e assassinados a partir do século XVII. Como nos ensina Cheik Anta Diop, Philippe Fluzin, Anjali Bukkfeed, Henrique Cunha Jr, Gustavo Ford, Carlos Machado, Katemari Rosa, Anna Benite, Douglas Verrangia, Renato Silva, Alan Brito, Nicéa Amauro, dentre muitos outros e outras, somos descendentes daqueles e daquelas que fundaram as primeiras formas de constituição societárias, que desenvolveram as ciências e suas tecnologias, que produziram cultura de forma pluriversal, que foram pioneiros em diversos campos e impulsionaram o desenvolvimento sócio-histórico da humanidade. O ocidente nos empurrou para um lugar de subalternidade marcado por narrativas mitológicas brancas desde o “milagre grego” até as teses do racismo científico moderno que serviram para nos desprover de memórias e de altivez subjetiva, contudo, subalternidade não combina com nossa real história.

Que possamos por meio desta produção desvelar essa realidade em todos os espaços de produção de conhecimento e, principalmente, por meio da escola no fortalecimento das leis federais 10639/2003 e 11645/2008, afim de reeducarmos a juventude negra quanto a sua potência ancestral desconhecida e contribuir significantemente para a diversidade nas ciências naturais, exatas e tecnologias.


Organizadores

Bárbara Carine Soares Pinheiro – Mãe, nordestina e militante negra, é Doutora em Ensino de Química pelo Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências da UFBA/UEFS. É membro permanente do Programa de pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências da UFBA/UEFS, coordena o Grupo de Pesquisa em Diversidade e Criticidade nas Ciências Naturais (DICCINA), desenvolvendo pesquisas nas linhas de pesquisa: Formação de professoras e professores na perspectiva crítico-decolonial; Diversidade no Ensino de Ciências. Atua como vice-diretora do Instituto de Química da UFBA e também trabalha como consultora Pedagógica na Escola Afro-Brasileira Maria Felipa. https://orcid.org/0000-0001-6899-8485 E-mail: [email protected]

Marta Regina dos Santos Nunes – Mãe do Francisco, militante junto ao Movimento Negro Unificado (MNU/RS). Doutora em Química Orgânica pela Universidade de São Paulo (USP), realizou pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Davis (UC-Davis). É professora adjunta da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS. Tem experiência na área de Química Orgânica e Química dos Alimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: Bioativos vegetais, ciência e cultura alimentar, educação em química, diversidade de gênero e raça em ciências. https://orcid.org/0000-0001-5339-6836 E-mail: [email protected]

Mamour Sop Ndiaye – Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Docente no CEFET/RJ – Campus do Maracanã. Atual chefe do departamento de engenharia elétrica. É coordenador do Programa CEFET Solar, voltado para a disseminação da Energia Solar Fotovoltaica no Rio de Janeiro a atender comunidades isoladas. https://orcid.org/0000-0003-4952-4203 E-mail: [email protected]  .


Referências desta apresentação

PINHEIRO, Bárbara Carine Soares; NUNES, Marta Regina dos Santos; NDIAYE,

Mamour Sop. Educação para as Relações Etnicorraciais: O ensino de ciências e suas tecnologias. Abatirá – Revista de Ciências Humanas e Linguagens. Eunápolis, v.2, n.3, p.221-223, jan./jul. 2021. Acessar publicação original [IF].

Acessar dossiê.

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