Estado e Poder / Tempos históricos / 2007

Seguimos vivendo Tempos Históricos. Impossível não perceber em nosso cotidiano a degradação das condições sociais de existência. A aparência é de desesperança: muita corrupção, muita impunidade, muita desigualdade. Aparência que certamente é parte do real, mas que é difundida como instrumento de reforço do conformismo e da apatia, como espécie de atestado de que nada pode ser transformado e de que não existe sujeito social capaz de intervir construtivamente na realidade e enfrentar os mecanismos e instrumentos de dominação.

Historicamente determinados, tais instrumentos e mecanismos precisam ser historicamente compreendidos. De fato, a realidade é sombria: as formas de dominação e exploração imperialistas permanecem avassaladoras, seja sob a intervenção opressora do capital financeiro transnacionalizado, seja sob a violência explícita e direta perpetuada pelos Estados Unidos contra o povo iraquiano (já sem argumentos ou mediações), contra o povo afegão (sob a capa da Otan) e contra o povo haitiano (com a participação cúmplice do Brasil e outros países latino-americanos) O massacre midiático contra qualquer alternativa ao pensamento único segue indelével: a demonização de Hugo Chaves aparece como eixo articulador de campanhas midiáticas em prol da construção da aparência de um mundo em que não há e não pode haver espaço para construções alternativas ou mesmo pensamento divergente. Ao mesmo tempo a crescente repressão estatal e criminalização dos movimentos sociais em países como México, Peru e Colômbia é simplesmente omitida e tais países são apresentados como exemplos de “democracia”.

Há um discurso que denota uma aparente mudança no comportamento imperialista. Em nome de uma suposta consciência ecológica, a nova mina de ouro são os biocombustíveis, energia supostamente “limpa” e eternamente “renovável”, capaz de alimentar a utopia da perpetuação dos atuais níveis de consumo. A simples proposição do debate em torno da segurança alimentar, ameaçada pela febre dos biocombustíveis, é desqualificada de imediato sob um argumento falsamente “ecológico” por parte dos mesmos que conduziram o planeta às portas da hecatombe. Mais uma vez o papel dos países periféricos é assentado: reestruturar sua economia para abastecer o império que consome cada vez mais, reforçando sua entendidas por eles como lugar desses conflitos e de construção dos embates históricos concretos. Não se trata também de história que proponha a entificação do Estado como algo externo à sociedade, um ser todo-poderoso que a todos impõe sua dominação. O Estado de formas distintas aparece nessas análises como um organizador da dominação de classe, e a partir daí as relações sociais são percebidas e problematizadas, inclusive na resistência dos sujeitos a ela.

Os demais artigos seguem trazendo elementos para a compreensão dos tempos atuais. Tratam de temáticas vinculadas à questão da terra em Senhores de terras e de gentes: Os poderosos senhores das armas na capitania no Ceará (século XVII), de José Eudes Arrais Barroso Gomes e a questão do trabalho em Vivências de metalúrgicos durante o processo de reestruturação produtiva em São José dos Campos, de Mônica Xavier de Medeiros. A revista traz ainda três resenhas, duas delas integrando o Dossiê Estado e Poder.

Conselho Editorial da Revista Tempos Históricos


Conselho editorial. Apresentação. Tempos Históricos, Paraná, v.10, 1º semestre de 2007. Acessar publicação original [DR]

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