Filosofias da História | Revista de Teoria da História | 2021

Zoltan Simon 2 Filosofias da História
Zoltán Boldizsár Simon | Foto: IAS/UCL

A crescente especialização da história-disciplina, somada às catástrofes ocorridas ao longo do século XX são dois fatores para a recusa, largamente estabelecida na academia, da categoria filosofia da história – muitas vezes reduzida às versões “clássicas” ou “substantivas” que, conforme o célebre esquema proposto por Arthur Danto, procuravam determinar um sentido ou lógica total ao curso dos eventos históricos, tal como podemos ver em clássicos como Kant, Hegel ou Marx. Essa tendência foi reforçada pela ideia, primeiramente introduzida por William Henry Walsh, segundo a qual caberia ao historiador tratar apenas de problemas epistemológicos sobre como é possível conhecer os acontecimentos históricos, em detrimento de outras questões filosófico-teóricas a respeito da história. Em um contexto mais contemporâneo, Aviezer Tucker replicou a dicotomia entre filosofia substantiva e filosofia crítica da história com os conceitos de “filosofia da história” e “filosofia da historiografia”, respectivamente. Se essa configuração do saber permitiu grandes avanços no que diz respeito ao debate epistemológico sobre a historiografia, ela também contribuiu para um relativo isolamento da reflexão histórico-filosófica frente a outras ordens do discurso historiográfico.

Nos últimos anos, porém, é possível verificar no interior do campo da teoria da história uma reabertura a problemas de caráter filosófico para além das questões estritamente ligadas à teoria do conhecimento. Em outras palavras, falar em “filosofia da história” não é algo que possa ser reduzido a uma dicotomia na qual, por um lado, estaria uma reflexão crítica focada exclusivamente em fixar os critérios metodológicos da pesquisa e da escrita da história, e, por outro lado, certa abordagem “substantiva” ou “especulativa”, que procura identificar uma teleologia histórica determinista e universal. Muitos trabalhos recentes têm demonstrado que essa dicotomia não esgota as possibilidades da abordagem filosófica sobre a história. Quanto a isso, é possível mencionarmos, por exemplo, as dimensões ético-políticas do discurso histórico, os pressupostos subjacentes às reivindicações por justiça histórica, a multiplicidade de tempos históricos, a emergência de novas sensibilidades histórico-temporais advindas com a revolução digital, entre outros temas.

Diante dessa tendência atual, apresentamos este Dossiê Temático Filosofias da história, que reúne trabalhos sobre as múltiplas potencialidades que o diálogo entre a história e a filosofia ainda pode assumir: Mauro Franco Neto e Emil Angehrn, de um ponto de vista ontológico; Berber Bevernage, Hélio Rebello e Zoltán Boldizsár Simon, por meio da crítica à ideia de tempo histórico; Guilherme José Santini e Juan Padilla Moreno, do ângulo epistemológico; Renato Paes Rodrigues, Bennett Gilbert e Natan Elgabsi a partir de uma perspectiva ético-política e existencial. Esses artigos evidenciam que, ao contrário do que sustentavam certas objeções, as reflexões filosóficas sobre a história não apenas extrapolam uma compreensão reducionista sobre a experiência da história e sobre o seu conhecimento, como também indicam a relevância das filosofias da história em nosso contexto atual. Dessa forma, ao mesmo tempo em que os textos respondem de maneira afirmativa à pergunta feita no título desta breve apresentação, eles também salientam a importância de uma concepção plural das filosofias da história.

Finalmente, agradecemos a todos e todas que trabalharam para a composição deste Dossiê Temático: Danilo Marques, Edmar Luis da Silva, Guilherme Bianchi, Hugo Merlo, Lorena Lopes da Costa, Marcelo Durão Rodrigues da Cunha, Taynna Marino.


Organizadores

Augusto Bruno de Carvalho Dias Leite – Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected]

Breno Mendes – Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: [email protected]

Marcelo de Mello Rangel – Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail:  [email protected]

Walderez Simões Costa Ramalho – Universidade Estadual de Santa Catarina. E-mail:  [email protected] 


Referências desta apresentação

LEITE, Augusto Bruno de Carvalho Dias; MENDES, Breno; RANGEL, Marcelo de Mello; RAMALHO, Walderez Simões Costa. Apresentação. Ainda há espaço para a filosofia da história? Revista de Teoria da História. Goiânia, v.24, n.1, p. 5-6, 2021. Acessar publicação original [DR]

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