Geografia Escolar: contextualizando a sala de aula | Sona Vanzella Castellar

A coletânea de textos organizados pela Professora Sonia Maria Vanzella Castellar sobre a Geografia Escolar se destaca em virtude do rigor metodológico que acompanha todos os textos e o compromisso com a educação geográfica. O livro reúne textos com abordagens teóricas sobre o processo de aprendizagem no ensino de Geografia, com tom bastante contemporâneo marcado por reflexões e debates realizados pela comunidade geográfica dedicada à Didática da Geografia.

A professora Sonia Castellar é livre-docente em Metodologia do Ensino de Geografia pela Universidade de São Paulo – USP com trabalho sobre a ‘Didática da Geografia (escolar): possibilidades para o ensino e a aprendizagem significativa no ensino fundamental’. Autora de mais de uma centena de artigos e com mais de vinte livros publicados, possui uma quantidade respeitável de trabalhos e orientações desenvolvidas ao longo da carreira. A professora Sonia Castellar é uma das pesquisadoras mais importantes da Geografia Escolar brasileira na atualidade.

Ao começar a leitura da obra, o leitor é agraciado com a apresentação assinada pela Professora Helena Copetti Callai, que em texto elegante apresenta os autores da coletânea e seus textos, e, também estabelece um diálogo com as preocupações que estão no cerne dos trabalhos. Helena Callai é pesquisadora do CNPq e professora titular do Departamento de Humanidades e Educação da UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Tem se dedicado há bastante tempo ao estudo do lugar como conceito que oportuniza a análise geográfica na perspectiva da escala social. No ponto de vista de Callai o conceito de lugar se expressa como possibilidade de entender o mundo.

A professora Sonia Castellar tem defendido há bastante tempo, tanto no debate público como em conversas reservadas, a pertinência do método geográfico e a importância do mesmo em pesquisas na grande área do ensino, por esta razão, e não por acaso, a obra é marcada por pesquisas realizadas com compromisso acadêmico que se traduzem em reflexões com densidades teóricas e metodológicas. A coletânea oferece ao leitor um leque recheado de pesquisas, e encontra-se dividido em doze artigos, distribuídos em três partes. Sendo cada parte com quatro artigos.

O primeiro trabalho, que abre a coletânea, é de autoria de Elisa Favaro Verdi “O movimento de renovação crítica na Geografia brasileira; um ensaio sobre seus fundamentos e desdobramentos”. O trabalho de Verdi resgata a história do pensamento geográfico, e sua importância no estudo da história do Brasil. A autora é mestranda do PPG em Geografia Humana da USP e atualmente realiza pesquisa acerca da relação entre a Geografia Crítica e a ditadura civil-militar no Brasil.

O segundo texto, da primeira parte, é de Gustavo Francisco Teixeira Prieto “A formação da propriedade privada da terra no Brasil: elementos para a crítica da concentração fundiária”. O autor apresenta densa reflexão sobre os fundamentos da formação da propriedade privada da terra, com resgate teórico e histórico. Prieto é geógrafo formado pela Universidade Federal Fluminense, e, atualmente é doutorando em Geografia Humana na USP onde desenvolve pesquisa sobre a questão agrária brasileira. O artigo de Prieto constrói a trajetória da geopolítica da formação da propriedade privada da terra desde a Europa do século XIV até o Brasil do século XIX.

O terceiro artigo é assinado pelo Professor Wagner da Silva Dias docente do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Roraima e integrante do grupo de pesquisa Educação e Didática da Geografia: Práticas Interdisciplinares da Faculdade de Educação da USP. O trabalho do professor Wagner Dias problematiza a questão dos modelos de regionalização do espaço mundial e discute novas possibilidades para o ensino.

O último trabalho da primeira parte da coletânea é assinado pelo Professor Doutor em Geografia Humana pela USP Rosemberg Ferracini “Brasil e África: na Geografia Regional Escolar”. A reflexão construída pelo Professor Ferracini sobre a relação do Brasil com a África, sob o prisma da Geografia Escolar,teve início na pesquisa de doutoramento realizado na USP, sob orientação da Professora Castellar, e defendido em 2012. O trabalho “A África na Geografia Escolar” rendeu ao professor Ferracini o prêmio Kabengele Munanga de 2012, outorgado pelo Centro de Estudos Africano – CEA/ USP. Desta forma o artigo é amparado em estudo relativo ao continente africano com reflexão densa e ordenada sobre a África e a relação com o ensino de Geografia. A pesquisa com profundidade teórica apresenta um panorama atual da África e sua relação política com o mundo.

A segunda parte reúne quatro trabalhos sobre formação de professores. O primeiro artigo “Os lugares da escola na sociedade e o processo de ensino e aprendizagem” é de autoria de Sonia Castellar, Jerusa Vilhena de Moraes e Ana Paula Gomes Seferian. As autoras apresentam de modo relevante a reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem, o papel da escola, a relação professor–saber, e as investigações sobre a aprendizagem e a formação continuada. O trabalho apresenta uma discussão teórica em dialogo permanente com a prática escolar, e para tanto o artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em dois momentos distintos: 2008 a 2010 e em 2012 a 2014.

O segundo artigo é assinado pela Professora Ana Claudia Ramos Sacramento da Faculdade de Formação de Professores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro “A mediação didática do estudo da cidade e o trabalho de campo: diferentes formas de ensinar Geografia”. O estudo, apresentado em texto bem organizado, inicia-se com a reflexão sobre a cidade e o desafio de construir o saber geográfico sobre o processo de organização espacial. Sacramento caminha pela reflexão sobre o ensino de Geografia e a aprendizagem sobre a cidade, e, sem delongas propõe exercício teórico e prático sobre o estudo da cidade. Importante contribuição do trabalho da professora Sacramento é apresentar a metodologia de trabalho realizada que pode ser aplicada em outras realidades. O estudo sobre a cidade, nas aulas de Geografia, ganha novo colorido com a reflexão de Sacramento, e, a contribuição não fica restrita à formação de professores, mas apresenta relevante contribuição às praticas docentes.

O terceiro trabalho da segundo parte da coletânea é o artigo do Professor Waldiney Gomes de Aguiar da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE “Didática da Geografia: um processo de ensino e aprendizagem”. O trabalho apoia-se nas questões sobre a articulação entre o conhecimento geográfico e a didática nas escolas de educação básica em processos de formação continuada. Para tanto a reflexão transita pela epistemologia da Geografia e as questões que orientam os estudos geográficos na atualidade.

O último trabalho da segunda parte da coletânea é a pesquisa da Gislaine Batista Munhoz que apresenta um dos temas mais atuais e desafiadores para a educação geográfica: as novas tecnologias. O trabalho de Munhoz intitulado “Apropriação da Geoinformação, dos jogos digitais e objetos de aprendizagem na educação geográfica por professores” estabelece um diálogo com o leitor apoiado nas reflexões sociológicas de Marshall McLuhan, e, geográficas de Horacio Capel. Munhoz é membro do Grupo de Pesquisa em Educação e Didática da Geografia: práticas interdisciplinares, coordenado pela Professora Sonia Castellar.

A terceira parte do livro é composta por quatro trabalhos. O primeiro artigo “Linguagem, forma e conteúdo: contribuições da literatura infantil” é de autoria de Paula Cristiane Strina Juliasz que se dedica aos estudos da educação infantil e a relevante contribuição que o saber cartográfico e conhecimento geográfico podem ter quando associados à literatura infantil. Por meio da reflexão sobre o papel da literatura infantil na aprendizagem, o trabalho de Juliasz conclui que a aprendizagem, de conteúdos e conceitos geográficos, pode ser potencializada se associados. A autora parte de duas obras para demonstrar a força que a literatura infantil tem para construir uma cartografia pertinente para as crianças.

O segundo artigo “As relações espaciais projetivas com crianças do 1º. ano do ensino fundamental” é de autoria de Glaúcia Reuwsaat Justo. O trabalho é parte da pesquisa realizada no mestrado e defendida em 2014 sobre a orientação da Professora Sonia Castellar no PPG da Faculdade de Educação da USP. Assim como o artigo de Juliasz que abre a terceira parte da coletânea, o trabalho de Justo também apresenta pesquisa realizada com crianças dos anos iniciais do ensino fundamental. O trabalho foi desenvolvido com crianças de 6 anos com o objetivo de identificar e compreender as teias de relações que são construídas pelas crianças na elaboração das relações espaciais. O trabalho apresenta a metodologia da pesquisa, os resultados e aponta possíveis diálogos para pesquisas futuras.

O terceiro trabalho “A sequencia didática no ensino de Geografia física na educação básica: proposta de encaminhamentos para o planejamento das aulas” é de autoria do Professor Julio César Epifânio Machado. A pesquisa apresenta contribuição para o debate acerca das metodologias de ensino de Geografia na educação básica. Norteado pela preocupação com as sequências didáticas para um ensino significativo de conteúdos da geografia física, o Professor Julio César apresenta inicialmente a reflexão sobre a estrutura e o significado da sequencia didática, para então propor atividades práticas associadas ao tema ‘alagamento’. O trabalho traz uma série de atividades com tarefas e objetivos específicos que podem ser aplicados em outros contextos. A pesquisa amparada no debate teórico apresenta preocupação metodológica e por esta razão dedica-se de forma competente na construção das atividades e das sequências didáticas.

Encerrando a coletânea encontramos o trabalho “A potencialidade do trabalho de campo no ensino de Geografia: a cidade e o urbano” de Davi Bachelli, mestrando do PPG em Geografia Humana pela USP. O objetivo da pesquisa de Bachelli é refletir sobre a importância do trabalho de campo no ensino de Geografia e sua relevância para o estudo da cidade e do urbano. O trabalho inicia-se com reflexão teórica sobre a importância do ensino da cidade e do urbano nas aulas de Geografia. Feita as considerações iniciais que fundamenta o trabalho, o pesquisador dedica-se à reflexão sobre o trabalho de campo, desde a sua importância até a metodologia para o desenvolvimento do trabalho. E como parte da reflexão o autor apresenta uma experiência de prática realizada em escola municipal de São Paulo com alunos do 1º. ano do ensino médio.

Em suma, esta é uma coletânea atraente e desejável para estudantes, professores e pesquisadores. Nela se ressalta o papel da Didática da Geografia e a importância de aprofundar temas que ainda estão distantes da escola. O livro aborda questões urbanas, regionais, políticas que gravitam ao redor da grande área de Geografia escolar. A obra apresenta reflexões com fôlegos renovados e alimentados por pesquisas acadêmicas derivadas do ensino, da pesquisa e também da extensão.

Por fim convido todos(as) a percorrem os caminhos propostos pelas reflexões que compõem a coletânea “Geografia Escolar: contextualizando a sala de aula” e que ela possa propiciar ressonância e significados nos novos tempos e espaços de formação em educação geográfica.


Resenhista

Carolina Machado Rocha Busch Pereira – Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Adjunta do curso de 1 Geografia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Porto Nacional. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

CASTELLAR, Sonia Vanzella (org.). Geografia Escolar: contextualizando a sala de aula. Curitiba: CRV, 2014. Resenha de: PEREIRA, Carolina Machado Rocha Busch. Revista Brasileira de Ensino em Geografia. Campinas, v. 5, n. 9, p. 186-190, jan./jun. 2015. Acessar publicação original

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