Hipertexto e Gêneros Digitais: novas formas de construção do sentido | Fernanda Correia Silveira Galli
Fernanda Correa Silveira Galli é Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com estágio na Universidade de Lisboa, Portugal; e desenvolve pesquisa de Pós-Doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP). É pesquisadora dos grupos Discurso e memória: movimentos do sujeito e Laboratório Discursivo: sujeito, rede eletrônica e sentidos em movimentos (E-L@DIS), e coordenadora do Grupo de Estudos sobre Internet (GNET) [2].
No artigo Linguagem da Internet: um meio de comunicação global, a autora aborda as diferenças terminológicas entre as línguas gerais e a língua de especialidade com ênfase nas “informações léxico-neológicas, abertas no campo da internet.” (p. 148). Essa abordagem é feita com ênfase na percepção que os usuários da internet possuem em relação às informações léxico-neológicas. Galli inicia falando da importância da globalização de informações, que acaba por gerar uma linguagem também globalizada. A linguagem da internet “pegou emprestado” o léxico da língua inglesa, principalmente, por ser ela a língua oficial dos países líderes na tecnologia da informação.
A autora enfatiza também o link, que dá informações adicionais de qualquer lugar do mundo sem necessariamente indicar-lhes a fonte; o hipertexto é visto como enriquecedor da leitura e responsável pela liberdade que o leitor tem de navegar entre vários textos, o que não lhe seria permitido em papel impresso. Um problema nessa abordagem é que a autora não destaca os aspectos negativos do hipertexto, como a perda de foco. No segundo tópico, A internet: linguagem interativa e persuasiva, ela destaca o espaço democrático da internet – onde qualquer pessoa pode expor suas ideias – e os tipos de interação citados por Lévy (1999): um e todos, sem interatividade; um e um, que não abrange o coletivo, dando como exemplo a ligação telefônica; e todos e todos, onde todas as partes podem emitir e receber, dando como exemplo a internet. O problema em considerar a internet um exemplo de interação todos e todos é que são desconsiderados os ambientes onde se pode ter outros tipos de interação, como em chats, onde se tem a comunicação opcional um e um, e em reportagens de sites de jornais, onde há a configuração um e todos, embora essas interações possam ser transformadas em todos e todos por meio de abertura do chat ou de comentários, respectivamente. A facilitação da persuasão comercial – ilustrações coloridas, vídeos – também é citada nesse tópico.
No terceiro tópico, Língua de especialidade: caminho para a globalização de conceitos, são dadas as definições de lexicologia como estudo do léxico e de terminologia como uma subdivisão da lexicologia que trata de linguagens especializadas. Fica claro que a linguagem técnica, determinada pelo seu campo de atuação, não considera regionalismo ou fatores sociais, embora Galli considere que essa linguagem se mistura à linguagem comum, momento no qual o regional e o social passam a ser importantes. Ela trata, ainda neste tópico, dos neologismos, necessários para nomear novos recursos e processos, e de suas fases: o aparecimento e a aceitação. Após essas duas fases, pode ocorrer a banalização de alguns termos, no sentido de esses termos serem incorporados ao vocabulário de uma língua e, portanto, serem usados fora do ambiente específico. A última fase é tratada no texto como algo positivo no que diz respeito à rede mundial de computadores, já que o seu objetivo é difundir informações. Se pensarmos em outras esferas de comunicação, como a linguagem utilizada no Direito, por exemplo, essa mesma banalização é vista como algo extremamente negativo, pois a essa esfera não interessa a difusão de informações, e sim a concentração delas e de suas consequentes relações de poder.
O último tópico abrange a construção e a análise de corpus por meio de questionários respondidos por informantes escolhidos aleatoriamente. Quanto à função da internet, os usuários indicaram seu uso por necessidade ou por diversão; quanto ao sentido das palavras de origem inglesa ou dos termos específicos que aparecem nos sites, a maioria já compreende os seus significados ou não deixa de compreender a mensagem por causa dos termos que não conhecem; e quanto à persuasão dos sites, os informantes se disseram convencidos a comprar produtos ou a concordar com pontos de vista de fabricantes ou comerciantes. A autora mostra também que muitos termos referentes à internet já foram dicionarizados, tanto na língua geral quanto na específica e, portanto, deixaram de ser neologismos e já foram banalizados. Ela não aprofunda tanto, por outro lado, a metodologia, os dados e os resultados da pesquisa, e encerra seu artigo pontuando que as dificuldades apontadas pelos informantes diziam respeito aos termos em inglês, porém esses termos eram compreendidos dentro dos contextos.
O artigo como um todo é bastante informativo e esclarecedor, embora tenhamos discordado dele em alguns pontos, como já foi comentado. É indicado para estudiosos da língua e para pessoas que se interessem pelas mudanças linguísticas trazidas pela internet.
Nota
2 Fonte: FAPESP. Biblioteca virtual: Fonte primária de informação para a Pesquisa Apoiada pela FAPESP.
Referência
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34 Ltda, 1999. pp. 45-83.
Resenhista
Edite Consuêlo da Silva Santos – Mestrando em Linguística na Universidade de Brasília (UnB); Pós-graduando em Leitura e Produção de Textos na Universidade Católica de Brasília (UCB).
Referências desta Resenha
GALLI, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da Internet: um meio de comunicação global. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos dos Santos (Orgs.). Hipertexto e Gêneros Digitais: novas formas de construção do sentido. São Paulo: Cortez, 2010. P. 147-164. Resenha de: SANTOS, Edite Consuêlo da Silva. As mudanças na linguagem trazidas pela internet. Revista Aprendizagem em EAD. Taguatinga, v.2, n.1, novembro, 2013. Acessar publicação original [DR]