História & Cinema | ArtCultura | 2018

O menu desta edição da ArtCultura é, como de praxe, bastante variado, mesmo que mais de cinquenta por cento dos textos nela agrupados integrem dois dossiês temáticos. Para não fugir à regra, pesquisadores de diferentes instituições aqui comparecem, estendendo o raio de colaboradores aos estados de Goiás, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, a ponto de abarcar, portanto, as regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul, parcela expressiva de um Brasil que abriga múltiplos brasis.

Mas a ArtCultura 36, na trilha de outros números, não se acomoda à bitola da produção nacional. Transpõe as nossas fronteiras e estabelece linhas de conexão com a América do Sul e com a Europa. Tanto que a revista é aberta as contribuições de María Inés Mudrovcic, da Universidad Nacional de Comahue e do Conicet/Argentina, e de Gerard Vilar, francês radicado na Catalunha/Espanha, onde atua na Universitat Autònoma de Barcelona. Ela, historiadora que atrela boa parte de sua densa reflexão à Teoria e Filosofi a da História. Ele, prolífi co e profícuo intelectual que tem privilegiado nos seus escritos o campo da Estética e Teoria das Artes. E, de quebra, os dois nos deram a honra de acolhermos dois textos inéditos (no caso de María Inés Mudrovcic, uma palestra pronunciada em um evento internacional realizado meses atrás).

Na sequência, o primeiro dossiê, “Fora do cânone: História & Música Popular”, desloca o foco de atenção predominante nos estudos sobre o mundo das canções. Organizado por Adalberto Paranhos, pesquisador do CNPq, professor do Instituto de Ciências Sociais e do Programa de Pós-graduação em História da UFU, ele, propositalmente, se prende aos galhos considerados menos nobre do tronco da música popular made in Brazil. Daí sua denominação, que já sugere tratar-se de um conjunto de artigos que vão no contrafluxo daquilo que historicamente definiu o mainstream musical por estas bandas.

O passo seguinte aponta para mais um dossiê que entrecruza História & Cinema. Além de textos diversificados (incluindo uma tradução, feita pela própria autora, de um trabalho publicado originalmente na França), contamos com o “auxílio luxuoso” dos pesquisadores Eduardo Morett in e Mônica Almeida Kornis. Eles tomaram a iniciativa de encaminhar para a ArtCultura duas entrevistas concedidas pelos por Silvio Tendler e Lucia Murat. Ambos os cineastas, como é de conhecimento de apreciadores da sétima arte, buscam, em suas obras, reconfigurar na tela fragmentos de uma história viva, como, por exemplo, a dos tempos da ditadura militar brasileira, que, de uma maneira ou de outra, está presente também em dois outros artigos dessa seção.

A seguir, vem a seção Primeira mão, que, com a antecipação da publicação do capítulo “Para uma história cultural do teatro”, coloca o leitor na antessala do último livro, ora no prelo, de Edélcio Mostaço. No fecho da ArtCultura 36, três resenhas se ocupam de lançamentos recentes que enveredam por distintas formas de racismo no Brasil (pretensa terra da decantada “democracia racial”) e nos Estados Unidos, pelos institutos históricos e geográficos e a institucionalização dos saberes sobre a nação brasileira, bem como pela afirmação, mundo afora, da História como ciência.

Ao lado disso tudo, reservamos para o fim desta apresentação mais uma boa-nova aos assinantes e leitores da ArtCultura. A partir deste número, incorporamos ao nosso conselho consultivo ninguém menos que um dos mais notáveis pesquisadores portugueses, Rui Vieira Nery. Historiador de formação, ele se converteu em eminente musicólogo, ligado ao Instituto de Etnomusicologia e ao Centro de Estudos de Música e Dança (Inet-MD) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), além de exercer a função de diretor da prestigiosa Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), sediada na capital lusitana. Em meio a uma vasta produção, sua obra monumental Para uma história do fado1 faz as vezes de porta de entrada para quem se disponha a embrenhar-se pelos meandros desse gênero musical. Logo se vê que estamos, ou melhor, continuamos em boa companhia. E não percam por esperar. Conforme entendimentos mantidos quando, em sua sala, na FCG, lhe formulamos o convite para juntar-se ao rol de conselheiros da ArtCultura, tudo indica que, em breve, Rui Vieira Nery brindará os apreciadores da revista com uma colaboração especial.

Nota

1 NERY, Rui Vieira. Para uma história do fado. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 2012.


Organizadores

Adalberto Paranhos – Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor do Instituto de Ciências Sociais e dos Programas de Pós-graduação em História e em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador do CNPq. Autor, entre outros livros, de O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no Brasil. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2007.  E-mail: [email protected]

Kátia Rodrigues Paranhos – Professora dos cursos de graduação e pós-graduação em História da UFU, pesquisadora do CNPq e membro da Câmara de Ciências Humanas, Sociais e Educação da Fapemig.


Referências desta apresentação

PARANHOS, Adalberto; PARANHOS, Kátia Rodrigues. Apresentação. ArtCultura. Uberlândia, v. 20, n. 36, p. 5-6, jan./jun. 2018.  Acessar publicação original [DR]

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