História Concisa dos Bairros de Curitiba: do Abranches ao Xaxim | Felippy Strapasson Hoy

Pode-se dizer que a história de Curitiba nunca esteve tão presente no cenário curitibano como ocorrera nos tempos mais recentes. O livro, cuja publicação fora feita em 2019 e que tem como título “História concisa dos bairros de Curitiba: do Abranches ao Xaxim”, fez de Felippy Strapasson Hoy2 um dos historiadores mais jovens a incorporar, dentro da historiografia paranaense, discussões e debates acerca da identidade curitibana. Assim, o autor visa fazer com que o(a) seu(sua) leitor(a) viaje pelos bairros da “antiga Curitiba” e entenda a sua formação a partir de divisões geográficas, curiosidades e desdobramentos que (por trás de um passado histórico) constituíram o alvorecer da capital paranaense.

Trata-se de um livro não muito extenso, composto por 182 páginas e que traz ao público-alvo uma gama de investigações baseadas nas evoluções histórica e urbana da cidade brasileira nos últimos séculos. A escrita do livro flui ao longo de suas páginas, caracterizando a leitura da obra como prática, direta, didática e de fácil compreensão ao(a) leitor(a).

Em se tratando da questão literária, Hoy apresenta a importância dos bairros da cidade e o modo como cada um deles contribuiu para que a atual e grande Curitiba se desenvolvesse ao longo do tempo. Para isso, o autor mediou em seu texto algumas reflexões sobre o conceito do que vem a ser um “bairro”, inspirado por aspectos históricos, sociais e geográficos3 para tentar fundamentar tal definição.

Também é importante destacar que o autor utilizou das análises do discurso e do conteúdo como metodologias de investigação, o que fez do seu livro uma vasta pesquisa qualitativa. A obra é dividida em 8 capítulos, tendo cada um deles uma espécie de “subcapítulo”. Organizados em ordem alfabética, os capítulos e subcapítulos manifestam elementos referentes à história de cada bairro curitibano, assim como alguns detalhes e dados estatísticos que estão presentes no seu material literário. No mais, Hoy apresenta a regional de cada bairro, além das áreas e dos números populacionais levantados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) nos últimos anos.

O primeiro capítulo é composto por textos que narram sobre os bairros Abranches, Água Verde, Ahú, Alto Boqueirão, Alto da Glória, Alto da Rua XV, Atuba e Augusta. Em cada um deles, Hoy preocupa-se em relatar questões voltadas para os processos formativos das colônias de imigrantes, colocando em seu texto elementos referentes às instituições que compõem estas regiões atualmente, como hospitais, museu, arena esportiva e alguns parques.

Pelo mesmo segmento do primeiro capítulo, o segundo contempla abordagens relacionadas aos bairros Bacacheri, Bairro Alto, Barreirinha, Batel, Bigorrilho, Boa Vista, Bom Retiro, Boqueirão e Butiatuvinha. Entre os territórios mais “nobres” e periféricos da cidade apresentados nessa parte da obra, Hoy discorre sobre alguns pontos que possuem vínculos com a delimitação territorial deles, expondo o modo como tais divisões geográficas se ampliaram a partir das diferenças e desigualdades sociais (características tão fortemente visíveis na cidade de Curitiba).

O terceiro capítulo traz consigo tópicos sobre os bairros do Cabral, Cachoeira, Cajuru, Campina do Siqueira, Campo Comprido, Capão da Imbuia, a zona central da cidade, a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o Cristo Rei etc. Nesse sentido, Hoy utiliza de algumas abordagens que enfatizam os bairros mais centrais da cidade, dando ênfase à formação do centro de Curitiba, local o qual a história da cidade fora, de fato, iniciada.

O quarto capítulo contempla os bairros Fanny, Fazendinha, Ganchinho, Guabirotuba, Guaíra, Hauer e Hugo Lange. Ao longo de suas páginas, o autor se dispõe a apresentar o desenvolvimento de cada região, tal como não hesita em dissertar sobre questões relacionadas ao crescimento populacional e ao desenvolvimento de cada uma dessas delimitações territoriais (as quais foram ocorridas, sobretudo, durante a década de 1970).

Já o quinto capítulo faz com que o(a) leitor(a) desfrute das histórias de bairros como o Jardim Botânico, Jardim das Américas, Jardim Social, Juvevê, Lindóia, as Mercês e o Mossunguê. Em cada um deles, inclusive, o autor objetiva mostrar alguns projetos que possibilitaram a expansão de algumas das referidas localizações, assim como as suas respectivas criações, inaugurações e denominações.

Não obstante, o sexto e o sétimo capítulo informam sobre as constituições dos bairros Novo Mundo, Orleans, Parolin, Portão, Prado Velho, Rebouças, Santa Cândida, Seminário e tantos mais. Estes dois capítulos apresentam algumas das regiões que se encontram, principalmente, na Zona Norte da cidade, ou ainda, que não estão tão distantes da área central da capital mais fria do país.

Por último, mas não menos importante, o oitavo capítulo do livro apresenta alguns textos baseados nos entornos dos bairros Taboão, Tarumã, Tingui, Umbará e Vila Izabel, por exemplo. É interessante perceber que no capítulo apresentado (e assim como nos anteriores), Hoy pontua, inspirado por suas análises documentais, elementos que apresentam não só a estruturação de cada bairro de Curitiba, como também uma fundamentação teórica que sustenta discussões de natureza histórica e social para todas as regiões exibidas em sua obra. Sendo assim, o livro carrega consigo a importância de levar os desdobramentos da história regional para além dos muros da Academia.

Segundo Bigoto, a história regional colabora na formação de identidades, tendo em vista que o território brasileiro agrega uma grande quantidade de culturas, afinal, “[…] cada cidade tem suas particularidades que devem ser preservadas pela história regional e não absorvidas pela história nacional”.4 Se aproximando da exposição feita por Bigoto, Hoy ramifica a história regional enquanto complemento da história nacional, além de explorar a identidade e o espaço temporal dentro do seu próprio texto.

À vista disso, Bezerra define que o bairro se constitui na circunscrição espacial do habitar, da vivência e das múltiplas relações que o permeiam. Tais observações nos levam a entender o bairro enquanto uma unidade geográfica ou territorialmente localizada para a “identificação e a avaliação dos processos da vida urbana, em que pese o fato de […] reestruturação urbana”.5 Assim, a ideia de “bairro” no livro é observada e indagada pelo olhar de um autor e historiador que revela, a partir de sua narrativa e das suas investigações, alguns argumentos que são pautados na ideia de “urbanização”.

De um modo geral, a obra constrói um elo entre texto, imagens e mapas (das mais variadas épocas e décadas da cidade de Curitiba) como maneira de despertar, em seu público-alvo, o imaginário e a atenção. O livro “História Concisa dos Bairros de Curitiba” tende não só a promover um panorama entre o passado e o presente da capital do Paraná durante o decorrer da sua leitura, como também propõe para o(a) leitor(a) questões relacionadas ao tempo, ao espaço e à identidade curitibana.

Pode-se inferir, portanto, que a obra do autor curitibano, Felippy Strapasson Hoy, tem muito a contribuir com a aprendizagem de quem a está lendo e consumindo, no sentido de expandir ou realçar a ideia de que todos somos sujeitos históricos e frutos do (nosso) tempo, a partir de realidades e locais que nos inserimos, pertencemos ou vivemos no dia a dia.

Notas

2 Felippy Strapasson Hoy é graduado e pós-graduado pela PUCPR. O autor possui o grau de licenciado em História pela PUCPR, além de ter o título de especialista em História Contemporânea e Relações Internacionais na mesma instituição. No entanto, quando o livro foi publicado em 2019, o autor ainda era discente de pós-graduação. Para mais informações acerca do autor é possível acessar: http://lattes.cnpq.br/223858561344575. Acesso em: 12 jul. de 2021.

3 HOY, Felippy Strapasson. História Concisa dos Bairros de Curitiba: do Abranches ao Xaxim. In: HOY, Felippy Strapasson. (org.). 1ed. Curitiba: Appris, 2019, 182p.

4 BIGOTO, Benedito Marcos. O Estudo da História Regional e da História Local nas Universidades. Revista Científica UNAR, Araras (SP), v.15, n.2, p.155-169, 2017, p. 162.

5 BEZERRA, José Alencar. Como definir o bairro? Uma breve revisão. Revista GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011, p. 30.

Referências

BEZERRA, José Alencar. Como definir o bairro? Uma breve revisão. GEOTemas, v. 1, n. 1, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, p. 21-31, jan./jun., 2011. Disponível em: http://periodicos.uern.br/index.php/geotemas/article/viewFile/118/109. Acesso em: 10 dez. de 2020.

BIGOTO, Benedito Marcos. O Estudo da História Regional e da História Local nas Universidades. Revista UNAR, v.15, n.2, Araras (SP), p.155-169, 2017. Disponível em: http://revistaunar.com.br/cientifica/documentos/vol15_n2_2017/11_O_ESTUDO _DA_HIST%C3%93RIA_REGIONAL.pdf. Acesso em: 12 dez. de 2020.

HOY, Felippy Strapasson. História Concisa dos Bairros de Curitiba: do Abranches ao Xaxim. In: HOY, Felippy Strapasson. (org.). 1ed. Curitiba: Appris, 2019, 182p.


Resenhista

Caio Murilo Pereira – Graduando e Formando em Licenciatura em História pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Atual bolsista pelo programa “Residência Pedagógica” da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected]  Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2601037086672712.


Referências desta Resenha

HOY, Felippy Strapasson. História Concisa dos Bairros de Curitiba: do Abranches ao Xaxim. Curitiba: Appris, 2019. Resenha de: PEREIRA, Caio Murilo. Entre narrativas, construções identitárias e história regional: uma viagem ao passa do curitibano por meio da obra “História concisa dos bairros de Curitiba: do Abranches ao Xaxim”. Revista Hydra. São Paulo, v.5, n.10, p. 321- 325, ago. 2021. Acessar publicação original [DR]

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.