Histórias e Experiências: as interfaces e os múltiplos olhares históricos / Caminhos da História / 2013

O que descobrimos (em minha opinião) está num termo que falta: “experiência humana”. (…). Os homens e mulheres também retornam como sujeitos, dentro deste termo – não como sujeitos autônomos, “indivíduos livres”, mas como pessoas que experimentam suas situações e relações produtivas determinadas como necessidades e interesses e como antagonismos, e em seguida “tratam” essa experiência em sua consciência e sua cultura (…) das mais complexas maneiras e em seguida (…) agem, por sua vez, sobre sua situação determinada. (THOMPSON)

As experiências humanas se concretizam no cotidiano a partir das relações que os sujeitos históricos – homens e mulheres – estabelecem na sociedade em que vive. Viver é experimentar o outro e o mundo que nos rodeia. A História se preocupa com estas questões e reflete as possibilidades do seu olhar na interface com outras ciências como a arquitetura, turismo, geografia, economia, sociologia, psicologia e pedagogia, conforme se apresentam os artigos, em especial desse dossiê. As experiências históricas, conforme Thompson (1991, p. 180-2001), constituirão outras histórias, pensadas na perspectiva da diversidade e da luta de classes. Esse dossiê “Histórias e Experiências: as interfaces e os múltiplos olhares históricos” se propôs a escrever a história no plural, trazendo análises distintas e interdisciplinares, revelando silêncios antes ocultos em formatos historiográficos que primavam pela ordem vigente e descritiva. Neste sentido, com múltiplos olhares históricos iremos fazer a experiência da leitura de vivências concretas de sujeitos que, cujas práticas diárias, se mostram por meio de teorias e conceitos concebidos por pensadores que tentam compreendê-los (des)(re)construindo a história.

Dessa forma, os artigos “Homem, lugar & paisagem – topofilia e topofobia: reflexões sobre o patrimônio histórico, arquitetônico e urbanístico de Diamantina – MG”, “Gestão de políticas públicas de cultura: o poder legislativo e as leis de proteção ao patrimônio cultural em Montes Claros, Minas Gerais” e “Morte à espreita: história de um turismo macabro associado à caça da baleia em Lucena – Paraíba (1970-1990)” nos inserem no mundo do patrimônio cultural, turismo e meio ambiente, abordando o sentimento de pertencimento e a identidade que advém desses bens na consciência humana e na concepção estatal. Ao tratar de Diamantina e Montes Claros, cidades mineiras, e de Lucena localizada na Paraíba – apesar de se situarem em estados diferentes e distantes um do outro, não obstante, no mesmo país: Brasil -, percebemos que há uma lógica capitalista que permeia o entendimento de cultura entrelaçada ao poder com o objetivo de desfigurar uma proposta que não despreza a noção de pertencimento de vidas coletivas.

Os artigos “Trabalho fora dos trilhos: impactos da privatização sobre os ferroviários no norte de Minas Gerais” e “Mototaxistas nos bairros da região sul na cidade de Montes Claros / MG: os relatos sobre a profissão”, utilizando a história oral revela outras histórias através do estudo de um trabalho informal – mototaxistas – e formal – ferroviários – que se vêem na mão dupla da sobrevivência física e mental. “Higienismo e sanitarismo em Montes Claros entre 1889 e 1926” discute as ações higienistas e sanitaristas em Montes Claros-MG entre os anos de 1889 e 1926. Para tanto, as experiências nesta perspectiva na cidade utilizou como fonte a imprensa periódica escrita e a produção de memorialistas da região. Estas análise nos mostram uma Montes Claros se (des)organizando para o “desenvolvimento” e o “progresso”.

“Aprendendo a ser professor(a) através da Revista Pedagógica (1890-1896)”, analisa como fonte uma revista específica, que ajuda a compreender as atribuições do professor na escola primária brasileira, bem como a relação das mulheres e suas possibilidades de atuação no magistério. Novas fontes e metodologias proporcionam estudos que revelam experiências históricas diversificadas e bastante instigantes.

“De tatus moqueados e porcos fumados: caça e criação de mamíferos na América Portuguesa Quinhentista”, “As câmaras e os ouvidores na construção da administração de Minas Gerais no século XVIII” e “Movimentos reativos e lideranças católicas no século XIX no Brasil”, apresentam experiências históricas que pensam séculos diferentes, no entanto, os seus sujeitos históricos se mostram diante de conflitos e tensões próprias das relações humanas inseridos em sistemas que predispõem a luta de classes.

Esse dossiê na sua diversidade de escrita historiográfica e por meio da interdisciplinaridade apresenta, de acordo com a lógica histórica, vivências do ser humano que, nos embates, conflitos, tensões e disputas revelam as interfaces e os múltiplos olhares da História.

Por fim, os artigos livres “O fenômeno da educação na construção da história”, “’Deu a louca na Chapeuzinho’ e história: uma análise possível” e Uma revisão histórica da economia do desenvolvimento: os pioneiros da Escola Anglo-Saxã”, expõem teorias que permitem pensar o universo da educação, assim como a introdução de fontes como a mídia para a reflexão historiográfica e a relação da História da Economia do Desenvolvimento de acordo com a abordagem da escola Anglo-Saxã.

Filomena Luciene Cordeiro Reis – Professora de História / Unimontes.


CORDEIRO, Filomena Luciene. Apresentação. Caminhos da História, Montes Claros, v. 18, n.1, 2013. Acessar publicação original [DR]

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