Letramentos no ensino médio | Ana Lúcia S. Souza

Não é por acaso que “Letramentos no ensino médio”, de autoria de Ana Lúcia Souza, Ana Paula Corti e Márcia Mendonça, emprega a palavra “letramentos”, no plural. Considerando o letramento um conjunto de práticas sociais diversificadas ligadas à cultura escrita, as autoras propõem atividades que podem transformar a sala de aula em um espaço de discussão, prática e reflexão sobre os textos que circulam em nossa sociedade. Dessa forma, consideram que o Ensino Médio pode ficar mais interessante e mais ligado às demandas com que lidamos socialmente, na atualidade.

A obra, publicada pela editora paulista Parábola e com projeto gráfico de livro paradidático, apresenta 110 páginas que mesclam, de forma leve e responsável, teoria e prática para o professor. Lançado como parte da série Estratégias de Ensino, o livro tem, claramente, como público-alvo o professor de Ensino Médio, já que, em diversos boxes e mesmo no texto central, dirige-se ao docente, sugerindo-lhe abordagens e atividades para executar com seus alunos.

Ao todo, são 5 partes, sendo uma Apresentação, em que as autoras expõem a perspectiva teórica dos letramentos e apresentam três personagens que ajudam a concretizar a ideia do livro – os jovens Malu, Murilo e Tiago; três capítulos em que se desenvolvem questões e estratégias para o Ensino Médio, especialmente em relação à leitura e à produção de textos; e uma parte intitulada “Finalizando”, em que as autoras retomam parte do que foi dito e concluem a obra. É importante saber que “Letramentos no ensino médio” é a reedição de um material gerado por encontros de formação de professores da rede pública de ensino no estado de São Paulo. Em outra roupagem, a obra circula desde 2009, distribuída aos professores.

O Capítulo I – Os jovens, a leitura e a escrita – aborda uma questão que está sempre em pauta, inclusive na mídia: os jovens leem? Geralmente, afirma-se que não. No entanto, Souza, Corti e Mendonça nos ajudam a perceber que, sim, os jovens leem uma série de textos, de diversos gêneros, em seu dia a dia. O que ocorre é que nem sempre esses textos (aliás, lidos e produzidos!) são legitimados pela escola. A “invisibilidade” dos materiais lidos termina por apagar as práticas de leitura dos adolescentes, consideradas, então, inválidas em relação aos gêneros elencados como “escolares”.

O Capítulo I oferece muitos dados interessantes sobre leitura e escrita de jovens, especialmente os apresentados pelo Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), e propõe um grupo de atividades que funciona como uma espécie de “sondagem” para que o professor possa, antes de tudo, conhecer seu aluno, suas práticas de leitura e escrita e suas preferências. As sugestões de atividades para o Ensino Médio são feitas em um box chamado “Na sala de aula” e aparecem diversas vezes ao longo dos capítulos. Neste primeiro, são quatro sugestões, todas com indicação de quanto tempo (quantas aulas) o professor gastaria no desenvolvimento de cada atividade. Esse, aliás, foi o único ponto que às vezes pareceu subestimado, quando pensei que talvez meus alunos de Ensino Médio demandassem mais tempo na consecução das tarefas, por diversas razões. De toda forma, trata-se de uma estimativa.

O capítulo 2 – Ler e escrever para (se) conhecer – focaliza textos ligados às identidades juvenis. As tarefas sugeridas estão ligadas à vida dos jovens, como, por exemplo: a biografia e a autobiografia, a linha do tempo, a entrevista, a crônica e mesmo a camiseta estampada e o sarau. Interessante notar que as sugestões de textos alcançam os gêneros multimodais, isto é, com forte componente visual ou de outras linguagens além da verbal, o que nem sempre ocorre em aulas de leitura e escrita.

O Capítulo 3 – Ler e escrever para aprender na escola – trabalha, então, questões mais diretamente relacionadas a um letramento “escolar”, abordando a leitura e a produção de gêneros como os enunciados de questões, a anotação, o seminário, o resumo e a resenha, inclusive detalhando aspectos da edição do texto que nem sempre são apontados em outras obras. A questão central, neste capítulo, é o “ler e escrever para aprender”, isto é, os letramentos envolvidos em práticas escolares importantes para o desenvolvimento intelectual e social do estudante. Quadros e fichas são sugeridos ao professor para que ele possa supervisionar, organizar, sistematizar e avaliar as atividades com os alunos, cabendo também espaço para adaptações e mudanças.

Para finalizar o livro, as autoras retomam a ideia de que a leitura e a escrita são muito presentes nas vidas dos jovens, isto é, práticas diversas de letramento os envolvem. A escola poderia funcionar, então, como um espaço de reflexão e produção de textos muito interessante para jovens que precisarão fazer vestibular, trabalhar, se divertir e interagir socialmente.

A última folha do livro traz para o professor um “decálogo para ensinar a ler e a escrever no ensino médio”, isto é, um grupo de dez princípios que, segundo as autoras, podem tornar as atividades de leitura e escrita no Ensino Médio “mais significativas para os jovens”.

“Letramentos no ensino médio” é uma ferramenta certamente orientadora e interessante para o professor que pretende atuar no Ensino Médio em conexão com os jovens deste milênio, conectados e interativos. A obra dá sugestões fáceis de aproveitar, além de abertas a outras possibilidades que o professor tenha em sua sala de aula. O ponto mais fundamental deste livro é, antes de qualquer coisa, nos ajudar a atuar orientados por uma compreensão plural de letramento e de práticas de leitura e escrita.


Resenhista

Ana Elisa Ribeiro – Doutora em Linguística Aplicada; professora e pesquisadora do Departamento de Linguagem e Tecnologia do CEFET-MG. E-mail: [email protected]


Referências desta resenha

SOUZA, Ana Lúcia S.; CORTI, Ana Paula; MENDONÇA, Márcia. Letramentos no ensino médio. São Paulo: Parábola, 2012. Resenha de: RIBEIRO, Ana Elisa. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.3, n. 1, p.119-121, jan./ jun. 2013. Acessar publicação original [DR]

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