Mercosul: a trajetória em formação | Meridiano 47 | 2011

O primeiro semestre de 2011 trouxe importante efeméride para os países do Cone Sul: em março último, celebraram-se as duas primeiras décadas de existência de um portentoso projeto de integração regional, ainda que assinalado em seu início por caráter essencialmente econômico.

Após décadas de desconfiança entre si, marcada por eventos distintos ao longo do tempo como a Crise de 1929, a ascensão do populismo nos anos 30 e 40, o advento da Guerra Fria e, por último, a existência das ditaduras militares entre as décadas de 50 e 80, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai conseguiram firmar em 1991 a primeira institucionalização robusta de um arranjo diplomático que desaguaria no Mercado Comum do Sul (Mercosul).

Embora menos ambicioso na obtenção de resultados no curto prazo, o projeto mercosulino foi mais sofisticado que as demais tentativas de integração no continente, como o da Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (ALALC), de 1960, e o da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), de 1980, ao ter buscado ir além da mera aproximação econômica. Nesse sentido, seus integrantes aspiraram a convergir não somente suas expectativas econômicas, mas também emparelhar suas instituições políticas maiores, ao fixar a democracia como a condição básica de convívio interno – o Protocolo de Ushuaia, de 1998 – e estabelecer o funcionamento de um parlamento, de existência ainda incipiente, porém promissor para os próximos anos.

De modo geral, a convivência entre os países da região no Mercosul significou a delimitação de um posicionamento político-econômico na nova ordem mundial, caracterizada pelo espraiamento da democracia neoliberal, diferente de outros períodos históricos. Assim, a opção por um bloco representou a superação definitiva de projetos ora do Brasil, ora da Argentina por primazia regional e, por conseguinte, de liderança continental, a partir de um ponto de vista meramente nacional, incapaz, por seu turno, de contemplar de modo harmônico a superação de tantos problemas comuns.

Embora trêmula nos anos 90, a bandeira da integração sul-americana foi retomada na década passada e as perspectivas de maior aprfundamento intensificam-se. Com a adesão da Venezuela, outras possibilidades ofertam-se aos países-membros, entre as quais a formação de um condomínio energético interessante, após a superação de rompantes populistas.

Apesar das dificuldades, inerentes também a projetos na faixa norte-atlântica como o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) ou a própria União Européia, o consórcio mercosulino tem impulsionado a parceria econômica, vide a participação da Argentina, por exemplo, na balança comercial brasileira, e a convergência política, como foi o caso do malogrado golpe de Estado no Paraguai em 2000.

É sob as bases desta instituição tão singular ao continente sul-americano que o Boletim Meridiano 47 apresenta ao leitor esta edição especial, que traz um dossiê composto por cinco artigos sobre o Mercosul


Organizadores

Antônio Carlos Lessa – Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnBe pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. E-mail: [email protected]

Virgílio Caixeta Arraes – Professor do Departamento de História da Universidade de Brasília – UnB. E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

LESSA, Antônio Carlos; ARRAES, Virgílio Caixeta. Editorial. Meridiano 47, v.12, n.125, p.3, maio/jun. 2011. Acessar publicação original [DR]

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