Métodos estatísticos para a geografia: um guia para o estudante | Peter Rogerson

A estatística é uma ferramenta muito utilizada por diversos ramos da ciência, notadamente nas Exatas e Biológicas. Nas ciências humanas, em passado remoto, ela ainda gozava de certa refutação, talvez em função do uso indiscriminado de metodologias e ferramentas matemático-estatísticas como forma de atingir os objetivos de pesquisas.

No entanto, alguns setores das ciências sociais já utilizavam essa ferramenta como forma de subsidiar as discussões em torno de seus objetos de pesquisa. Dessa forma a econometria, a sociometria, as estatísticas aplicadas à Psicologia, à História, entre outras, são aplicações práticas do uso da estatística.

Na Geografia a estatística surge a partir dos anos 1950, associado à teoria geral dos sistemas, mas se apresentou mais forte a partir da década de 1970 com a chamada revolução da geografia quantitativa. Nesse momento a então “crise” epistemológica pela qual passava a ciência geográfica, serviu de argumento para o uso indiscriminado da estatística como metodologia de abordagem na Geografia física e humana.

No Brasil se destacam como baluartes desse período, o Curso de Geografia de Rio Claro (Universidade Estadual Paulista/UNESP) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na UNESP vários professores utilizaram com afinco essa abordagem, sendo por isso muito criticado por seus pares de outras instituições que não viam com bons olhos o uso dessa ferramenta. Nesse período foi lançado o periódico “Boletim de Geografia Teorética” e o livro “Quantificação em Geografia”, até hoje um marco na literatura em nosso vernáculo escrito pelas professoras “Lúcia Helena de Oliveira Gerardi” e “Bárbara Christine Nentwig Silva”.

No IBGE, o uso da quantificação era presença obrigatória nas discussões de trabalhos (para uma melhor averiguação veja os artigos Revista Brasileira de Geografia e Estatística-RBG, nesse período), sendo inclusive lançado um livro na temática, mas quem se destacou foi o geógrafo Speridião Faissol, escrevendo vários artigos no período.

Hoje, os ânimos se arrefeceram em relação ao uso da estatística na geografia, tendo vários cursos colocados em suas grades curriculares a disciplina “Estatística” ou mesmo “Quantificação em Geografia”. Percebe-se a nítida falta de literatura específica na área, sendo por isso usado livros de estatística geral, com exemplos nem sempre condizentes com as especificidades da Geografia, sendo inclusive lecionados por professores das áreas da matemática e/ou estatística.

Vários livros sobre estatística aplicada à Geografia foram escritos em língua inglesa, mas o “Métodos estatísticos para a geografia: um guia para o estudante”, é o primeiro a ser traduzido no Brasil. Os títulos dos capítulos não diferem daqueles observados em manuais de estatísticas, mas faz uso de exemplos aplicados na geografia, sendo por isso de fácil leitura e compreensão pelos alunos, não sendo necessário uma carga de conhecimentos matemáticos mais avançados.

No prefácio da edição o autor delineia como o objetivo do livro “oferecer aos estudantes dos cursos de graduação e do início da pós-graduação em geografia o conhecimento e o embasamento necessários à preparação para análise espacial” (p.vii). Essa visão do autor se dá em função do momento histórico, quando do auge da Geografia Quantitativa, nos anos 1970 -1980. Nesse período as ferramentas tecnológicas advindas do uso da computação e da era espacial, período em que se desenvolveram os satélites espaciais originando as imagens espectrais, principalmente as imagens de satélite e de radar, faziam uma cobertura de áreas até então impossíveis de serem cobertas pelas ferramentas existentes à época.

Com a chegada de novas tecnologias e uma busca por, assim dizer, de caráter mais científico para a geografia naquele momento, buscou entre outras coisas o uso de técnicas estatísticas e computacionais como forma de cientificar a Geografia. O uso dessas técnicas se deu mais precisamente na geografia que tinha influência das escolas anglo-americanas.

O livro se encontra dividido em 12 capítulos. Logo na introdução do capítulo o autor diz que “o estudo de fenômenos geográficos normalmente requer a aplicação de métodos estatísticos para produzir uma nova compreensão” (p.01). Os capítulos são 01 (Introdução aos métodos estatísticos para a geografia), 02 (Estatística descritiva), 03 (Probabilidade e distribuições de probabilidade discreta, 04 (Distribuição de probabilidades contínuas e modelos de probabilidade), 05 (Estatística inferencial: intervalos de confiança, testes de hipótese e amostragem), 06 (Análise de variância), 07 (Correlação), 08 (Introdução à análise de regressão), 09 (Mais sobre regressão), 10 (Padrões espaciais), 11 (Alguns aspectos espaciais da análise de regressão) e 12 (Redução de dados: análise fatorial e análise de agrupamento). No final cada capítulo há uma lista de exercícios, onde os estudantes podem fazer na prática o que foi discutido na teoria. Os exercícios podem ser resolvidos no pacote estatístico SPSS ou no Excel, que são programas de fácil acesso e de utilização. Finalmente, o autor faz uma indicação de bibliografias para aqueles alunos que queiram avançar em métodos quantitativos na geografia.


Resenhista

Josiel de Alencar Guedes – Professor do Curso de Geografia na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) – CAMEAM. Geógrafo, Mestre em Geociências, Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

ROGERSON, Peter A. Métodos estatísticos para a geografia: um guia para o estudante. 7 ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. Resenha de: GUEDES, Josiel de Alencar. Revista Brasileira de Educação Geográfica, Campinas, v. 3, n. 5, p. 158-160, jan./jun. 2013. Acessar publicação original

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