Mundos do Trabalho: lugares, condições e experiências de trabalhadores e trabalhadora | Mandurarisawa | 2021

O dossiê “Mundos do Trabalho: lugares, condições e experiências de trabalhadores e trabalhadoras” da Revista Manduarisawa apresenta uma diversidade temática congênere as reflexões atinentes aos conflitos nos “Mundos do Trabalho”, visibilizando e trabalhadores formais e/ou informais. Destarte, pensamos nessas práticas a partir de inquietações e problemáticas que envolvem o mercado e as relações de trabalho no tempo presente, partindo de estudos sobre a precarização trabalhista desde o final do século XIX até os dias atuais.

O regime de trabalho escravocrata, uma prática não muito longínqua, deu lugar a outro sistema de exploração do homem pelo homem: o capitalismo. Ele avançou como uma novidade, embora possamos considerá-lo como um tipo de aprisionamento do trabalhador, já que este homem dito “livre” se tornou a principal base para a formação do mercado capitalista do trabalho assalariado. Aliado à ideologia do Progresso, o capitalismo trouxe consigo a mudança nas relações de trabalho e nos modos de vida na cidade. De forma que o século XX provocou transformações estratégicas para uma organização do sistema econômico, mesmo que disso resultassem mudanças drásticas, principalmente ocasionadas pelo que se referia a chamada “ideologia do progresso”, em que se associa a ideia do novo à civilização como referência a modernidade.

No Brasil, na virada do século XIX para o século XX, num processo de transição das associações beneficentes para o sindicalismo de resistência, a criação deste impulsionou a resistência e a luta pelos direitos sociais e trabalhistas através das greves, motins, barricadas, vindo paulatinamente, conquistas, como a jornada de trabalho por 8 horas, inicialmente, dada aos ferroviários. O sindicalismo de resistência concretizado na luta dos trabalhadores foi decisivo para, na década de 1940, aparecer no mundo jurídico a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), estabelecendo assim, um código que a partir de então deveria ser cumprido. No início do século XXI uma avalanche de informações e inovações tecnológicas aconteceram, o que fez com que o trabalhador se adaptasse para não sucumbir ao desemprego. Ao longo dos anos percebemos novas estratégias de dominação e exploração, que desembocaram na precarização do trabalho e das relações de trabalho.

Outrossim, refletir o trabalho a partir de um isolamento mundial, aprazando um cenário perturbador para as classes trabalhadoras dos mais diversos segmentos, observamos um turbilhão de dilemas tais como: o perigo iminente do desemprego, o medo da morte, a incerteza da garantia do sustento familiar, os desafios trazidos pelo trabalho remoto, dentre outras questões. Imersos há cerca de dezoito meses nesta pandemia, que nos impactou de forma inesperada e avassaladora num piscar de olhos, passamos a viver em função da luta pela vida, pela garantia da vacina, desencadeando assim embates e conflitos intermináveis.

Como se não bastasse tudo isso, no mesmo momento em que contabilizamos a perda de mais de seiscentos mil entes queridos, sem contar as sequelas deixadas nos sobreviventes do novo coronavírus (SARS-CoV-2), nos vemos na imposição das “voltas presenciais” pela necessidade de lutarmos pelo nosso pão de cada dia, o que faz com que o significado da palavra “sobrevivência” amplie ainda mais seu sentido, quando levamos em consideração as marcas do desemprego no país que alcançaram a marca de 14,8 milhões de pessoas, segundo IBGE em 2021.

Nessa toada, estamos diante de uma dramática crise política, econômica e social, que em certa medida, abalou todas as esferas, quiçá, o destino da humanidade. De fato, as mudanças que também são reflexos da pandemia têm atingido diretamente os nossos trabalhadores e trabalhadoras sujeitos às “novas configurações” das relações de trabalho. Com o desemprego, é notório o crescimento do número de pessoas que aderem à forma precária de trabalho, como por exemplo o processo de Pejotização, Terceirização e Uberização etc.

Esta última é a mais recente forma de precarização do trabalho, a qual vem ganhando espaço como um serviço, sendo essa criada a partir de plataformas virtuais que agregam um novo formato aos Mundos do Trabalho, assim como o conflituoso conceito de “parceiros”. Conflituoso haja vista que essas trabalhadoras e esses trabalhadores não são considerados empregados formais, informais e nem terceirizados, são aqueles que irão ter seu “próprio negócio”. Entretanto, as empresas de Uberização aplicam regras e punições aos “parceiros” que não se enquadram na política da empresa, ocasionando a saída desses homens e mulheres sem nenhuma garantia de direitos sociais e trabalhistas, aproveitando-se, assim, das fissuras da lei.

O rigor teórico e metodológico que embasa este Dossiê nos remeteu as fontes jornalísticas, que sempre se apresentam como um manancial dos mais férteis caminhos para se reconstruir e elucidar o passado; as narrativas orais e as memórias, pois, não nos oferecem um esquema de experiências comuns, mas sim um campo de possibilidades compartilhadas, reais ou imaginárias; os processos jurídicos que, particularmente, estão sujeitos a se tornarem objetos de pesquisa, levando em conta a sua individualidade e os seus pormenores; os filmes com suas linguagem fílmicas e audiovisuais; a Consolidação das Leis do Trabalho como um instrumento para consultarmos as leis sempre que se faz necessário.

Assim, em meio à precarização da vida laboral desses sujeitos, propusemo-nos a aprofundar as relações do trabalho em períodos distintos através de treze artigos científicos embasados nas experiências dessa classe trabalhadora. De modo que os estudos que serão abordados a seguir tratam das mais diversas temáticas sendo elas: exploração, experiências e trajetórias, lutas por direitos, reformulação de valores, memórias, imigração, gênero, espacialidade, relações de violência no trabalho, entre outros.

Desta forma, o dossiê buscou abrir um leque de abordagens, no intuito de aguçar nos leitores a curiosidade intelectual ou mesmo pessoal, oferecendo a possibilidade de reflexão sobre quais são as questões que permeiam as relações sociais do trabalho, tendo em vista que a trajetória do trabalho se dá como um processo contínuo, com avanços e recuos, onde o sujeito das pesquisas realizadas – o trabalhador – não deve jamais ser visto como uma vítima e sim como protagonista da própria história.

Agradecemos a toda equipe editorial da Revista que com seriedade, cordialidade e afeto nos auxiliou no decorrer do processo, assim também, os autores e pareceristas dos artigos que com sensibilidade e responsabilidade entenderam a urgência da chamada desta reflexão para o tempo presente. Por isso, desejamos a todos uma boa leitura!


Organizadores

Marineide da Silva Ribeiro – Professora da Secretária Municipal de Educação (SEMED). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Sérgio Carvalho de Lima – Licenciado e Mestre em História pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES/MG). Especialista em Educação Moderna da PUCRS. Doutorando em História na UNESP, Campus de Assis/SP.

Wanderlene de Freitas Souza Barros – Doutoranda em História pelo programa de Pós-Graduação em História da UFAM. Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre História Política e História do Trabalho na Amazônia (LABHUTA). E-mail: wanda.sc.barros@gmail.com


Referências desta apresentação

BARROS, Wanderlene de Freitas Souza; RIBEIRO, Marineide da Silva. Apresentação. Mandurarisawa – Revista Discente do Curso de História da UFAM. Manaus, v.5, n.1, p.7-9, 2021. Acessar publicação original [DR]

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