Trabalhadores e Trabalhadoras no Passado e no Presente | História em Revista | 2022

Desde que o Núcleo de Documentação Histórica (NDH/UFPel) Beatriz Loner iniciou suas atividades tem como perspectiva estudar o mundo laboral, tanto é assim que serviu como espaço para a UNITRABALHO, nos anos de 1990, justamente quando iniciou seu funcionamento.

A partir dessa abordagem foram vários os estudos sobre trabalhadores e trabalhadoras feitos dentro do NDH, muitos deles vinculados às questões raciais, de classe e de gênero ou ainda tendo em vista pesquisas sobre profissões em específico, como motorneiros, estivadores, tecelãs, sapateiros, alfaiates, pescadores artesanais, resultando em publicações de artigos, capítulos e livros autorais, os quais são publicizados em nosso site. Leia Mais

Mundos do Trabalho: lugares, condições e experiências de trabalhadores e trabalhadora | Mandurarisawa | 2021

O dossiê “Mundos do Trabalho: lugares, condições e experiências de trabalhadores e trabalhadoras” da Revista Manduarisawa apresenta uma diversidade temática congênere as reflexões atinentes aos conflitos nos “Mundos do Trabalho”, visibilizando e trabalhadores formais e/ou informais. Destarte, pensamos nessas práticas a partir de inquietações e problemáticas que envolvem o mercado e as relações de trabalho no tempo presente, partindo de estudos sobre a precarização trabalhista desde o final do século XIX até os dias atuais.

O regime de trabalho escravocrata, uma prática não muito longínqua, deu lugar a outro sistema de exploração do homem pelo homem: o capitalismo. Ele avançou como uma novidade, embora possamos considerá-lo como um tipo de aprisionamento do trabalhador, já que este homem dito “livre” se tornou a principal base para a formação do mercado capitalista do trabalho assalariado. Aliado à ideologia do Progresso, o capitalismo trouxe consigo a mudança nas relações de trabalho e nos modos de vida na cidade. De forma que o século XX provocou transformações estratégicas para uma organização do sistema econômico, mesmo que disso resultassem mudanças drásticas, principalmente ocasionadas pelo que se referia a chamada “ideologia do progresso”, em que se associa a ideia do novo à civilização como referência a modernidade. Leia Mais

História Oral, trabalho, trabalhadoras (es) | História Oral  | 2020

As formas de relações de trabalho e a subjetivação da ideia de trabalhadora e trabalhador têm sido pontos de intensas disputas entre diversos setores sociais nos últimos anos. A massificação da internet, das redes sociais, dos aparelhos celulares e seus aplicativos produziram novas ferramentas e uma nova linguagem para definir e significar o mundo do trabalho.

Nesse cenário, gostaríamos de destacar dois elementos: o discurso de liberdade e os significados da legislação trabalhista. Ao controle e opressão patronais sofridos pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras nas fábricas, nos canaviais e outros espaços, foi contraposto um forte discurso de liberdade. Sem patrão, com livre-iniciativa, com a possibilidade de escolher o horário de trabalho, bem como o tempo dedicado, assim se apresentam as novas formas laborais para as pessoas que se identificam e são identificadas como empreendedoras. Desde os entregadores dos aplicativos de comida em todo Brasil até as costureiras em Toritama, no Agreste de Pernambuco, a promessa da ausência de patrões e dos mecanismos de controle direto empregados pelos mesmos, significaria uma nova fase de mais liberdade e possibilidade de novos ganhos, dependendo apenas do esforço de cada trabalhador ou trabalhadora. Leia Mais

Trabalhadores e Segunda Guerra Mundial | Mundos do Trabalho | 2019

Diversas vertentes da história do trabalho no Brasil convergem na identificação da conjuntura situada entre 1941 e 1945 como um momento marcante tanto para a consolidação institucional do sistema varguista de relações de trabalho quanto para a emergência de um padrão de participação popular na política que viria a se constituir em base do projeto político trabalhista. Na maior parte da historiografia dedicada a esses temas, entretanto, a coincidência desses processos com o progressivo envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial costuma ser ignorada, ou, quando muito, tratada como um mero pano de fundo. Permanece imensamente influente, até os dias de hoje, por exemplo, a abordagem cunhada por Francisco Weffort, que enfatiza a reorganização do movimento operário no pós-guerra e afirma que a ditadura do Estado Novo havia apagado completamente a memória das lutas anteriores.1 Entretanto, já em 1981, o trabalho pioneiro de Alem2 demonstrou que as greves e as transformações vividas pelo sindicalismo no período de redemocratização tiveram origem no próprio contexto da guerra. Como comentaremos posteriormente, as conexões entre “esforço de guerra” e “pós-guerra” vêm sendo exploradas de forma pontual por diversos trabalhos nas últimas décadas. Até recentemente, porém, raros eram os autores que colocavam a conexão entre guerra e mundos do trabalho no centro de suas análises. Leia Mais

Trabajadores y trabajadoras en el siglo XIX | Archivos de Historia del Movimiento Obrero y la Izquierda | 2019

En Argentina, el campo historiográfico dedicado a examinar el desarrollo de la clase trabajadora y las izquierdas muestra una notable riqueza y vitalidad. Incluso a contramano de lo que ocurre en otros lugares del mundo –en particular en Europa, donde los estudios sobre el tema han dejado hace tiempo de ocupar un lugar destacado–, en nuestro país la historia del trabajo atrae la atención de especialistas de diferentes generaciones y crece a través de numerosos ámbitos de intercambio, diálogo y debate colectivo, entre los cuales se ubica esta revista y las diferentes iniciativas que impulsa el CEHTI.

Precisamente por su amplitud y riqueza, se trata de un campo en el cual se desenvuelven abordajes diversos, que se preocupan por encarar múltiples aristas –sociales, económicas, ideológicas, políticas y culturales– de la compleja y fascinante historia de trabajadores y trabajadoras. Sin embargo, un análisis atento permite advertir también que los límites temporales que enmarcan su estudio siguen siendo bastante estrictos. En efecto, son las últimas dos décadas del siglo XIX las que parecen marcar el punto de partida de cualquier pesquisa que pretenda ubicarse en el campo de la historia de la clase obrera y siguen siendo fundamentalmente las relaciones laborales asalariadas –sobre todo de obreros varones– las que delimitan los contornos del mismo. Leia Mais

Trabalho doméstico: sujeitos, experiências e lutas | Mundos do Trabalho | 2018

Nas últimas décadas, muito foi discutido, entre historiadores sociais brasileiros e estrangeiros, sobre as renovações ocorridas no campo da História Social do Trabalho. Em já conhecidos balanços historiográicos reconheceu-se o fato de que, após um período de crise nos anos 1990, os estudos acadêmicos reunidos em torno da História do Trabalho, no Brasil e no mundo, aumentaram em termos de pesquisas e publicações e passaram por signiicativas mudanças nas primeiras décadas do século XXI.1 De modo geral, tais transformações foram marcadas por uma ampliação de temas e problemas e por uma abertura para novos métodos e abordagens. No Brasil, até os anos 1980, aproximadamente, pode-se dizer que se predominou o interesse pelo movimento operário e pelas relações dos trabalhadores organizados com o patronato e o Estado, a partir daquele momento, a historiograia do trabalho passou a abranger também outras dimensões das experiências dos trabalhadores, as quais envolvem, por exemplo, o cotidiano de vida e de trabalho e todo o universo da cultura operária.

Um dos aspectos mais evidentes desse processo de renovação na História do Trabalho é a mudança de perspectiva em relação ao seu objeto, que, inequivocamente, deixou de ser a história do operariado fabril (branco, masculino, imigrante, urbano e organizado). Conforme apontaram Alexandre Fortes e John French, “a exploração da complexidade da formação da classe, com atenção para a diversidade de culturas e identidades entre os trabalhadores” e “a redeinição do campo através de um esforço consciente para incluir aqueles que estão fora do mundo urbano-industrial”, implicou em “um recuo no tempo para incluir o trabalho escravo e outras formas não assalariadas de trabalho”.2 Leia Mais

Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil / História & Perspectivas / 2017

Para este Número 57, da Revista História & Perspectivas, temos a composição do Dossiê Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil e uma seção de artigos com diferentes temáticas.

Ao definir a temática para a chamada deste dossiê, o Conselho Editorial da Revista teve como objetivo construir um panorama sobre estudos com diferentes abordagens, que enfocassem diversos aspectos envolvidos na constituição da condição de trabalhadora ou trabalhador e de seus modos de vida no Brasil. O propósito era de que a delimitação dessa temática abrangesse estudos sobre questões relacionadas a formação de identidades, construção de ofícios, relações de gênero e etnicorraciais, movimentos sociais, organizações sindicais, memórias, lutas, embates e disputas de trabalhadoras e trabalhadores, implicadas na própria constituição do ser trabalhadora ou trabalhador e de suas vidas em diferentes temporalidades e espacialidades do Brasil.

Apresentamos seis artigos originados de pesquisas em torno de trabalhadores e de trabalhadoras no Brasil, sua experiência de atuação profissional, seus movimentos de organização e luta, relações com imprensa, transformações nas relações de produção e de poder nos espaços de vida, em diferentes temporalidades e conjunturas entre os séculos XIX e XXI.

O primeiro artigo, de Luiz Antonio Dias, analisa como o jornal O Estado de S. Paulo retratou os movimentos de trabalhadores, tanto rurais como urbanos, no período que antecedeu o Golpe de 1964, e como justificou o golpe e a violência que se seguiu sobre os trabalhadores. O segundo, de Maristela Novaes e Noé Freire Sandes, discute a presença de profissionais do vestuário (fiandeiras, tecelãs, costureiras, alfaiates, comerciantes) no contexto cultural de Villa Platina, região do Triângulo Mineiro, no início do século XX, a relação dessa sociedade com seu sistema de vestuário e com o comércio direcionado a esse ramo nos termos da redefinição da tradição da manufatura de roupas. O terceiro, de Rosane Marçal da Silva, problematiza elementos e dimensões do processo de intensificação da produção industrial e as mudanças que o trabalho industrial ocasionou na vida dos trabalhadores das indústrias de confecções do vestuário, em Santa Helena, no Paraná, durante os anos 1980-2000. Valéria de Jesus Leite se debruça sobre a organização dos trabalhadores em Montes Claros e Norte de Minas Gerais, suas demandas e suas lutas, entre as décadas de 1970 e 1980, problematizando o processo de modernização econômica. Cleber Augusto Gonçalves Dias e Marina Fernandes Braga Nakayama apresentam reflexões sobre práticas e espaços de sociabilidade de trabalhadores durante o tempo livre e o lazer em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, com base em relatos presentes nos processos crime de homicídio produzidos do período de 1900 a 1924. Escravos que se tornam senhores de escravos é o objeto de discussão de Robson Pedrosa Costa, que investigou um modelo de gestão implementado pela Ordem Beneditina do Brasil em Pernambuco, durante os séculos XVIII E XIX, a partir do estímulo dado a escravos a possuírem os próprios escravos para o trabalho em suas roças.

Na segunda seção deste número consta um conjunto de nove textos.

Luis Fernando Cerri e Caroline Pacievitch cotejando obras de Jörn Rüsen e de Agnes Heller para discutir suas posições sobre consciência histórica e suas possíveis implicações para a Didática da História, face à importância da defesa de valores como a razão, a verdade e a democracia para a formação de historiadores e professores de história. João Paulo Pereira Coelho e José Joaquim Pereira Melo desenvolvem reflexão sobre o conceito de passado em suas dimensões sociais e históricas, considerando as relações entre enfrentamentos sociais e diferentes formas de apropriação do passado.

Rosana Areal de Carvalho se dedica a compreender a publicação da obra de Primitivo Moacyr e discutir o modo como a questão da instrução enquanto responsabilidade do Estado se fez presente no cenário político e cultural brasileiro entre anos 1930 e 1940. Maria Aparecida Leopoldino desenvolveu pesquisa no campo da História da Disciplina Escolar, tomando como objeto de estudo e fonte de pesquisa o manual O Brasil e o Paraná para uso nas escolas primárias, de 1903, no contexto dos ideais republicanos e da construção de uma “história regional”. Ao mesmo tempo, a relação entre intelectuais educação e imprensa durante o debate brasileiro em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 é o objeto de estudo de Maria Cristina Gomes Machado e Mário Borges Netto, que problematizaram o modo como os intelectuais lidaram com a imprensa para divulgar distintos projetos educacionais no conflituoso processo de constituição e consolidação da escola pública estatal.

Kalina Vanderlei Silva dedica-se à análise crítica e paleográfica de três manuscritos setecentistas, da Capitania de Pernambuco, sobre festas públicas, discutindo possibilidades de estudo de documentos camarários e de interpretação das festas como espaços de demarcação de status para a elite açucareira colonial. André Luiz Moscaleski Cavazzani e Sandro Aramis Richter Gomes discutem práticas terapêuticas em uma região da Província de São Paulo, nos anos de 1848 a 1851, a partir do estudo de registros de tratamentos de doenças em memórias de famílias. Também tratando de festas como temática de estudo, Maria Clara Tomaz Machado e Anderson Aparecido Gonçalves de Oliveira analisam práticas e saberes rurais do interior goiano a partir das festividades religiosas em homenagem a São Sebastião.

Adriana Vaz e Rossano Silva estudaram a forma como as disciplinas de desenho foram formatadas na primeira década da Reforma Universitária na Universidade Federal do Paraná para compreender a matriz do ensino de desenho no início dos anos 1970 e suas relações com outras áreas de conhecimento.

Conselho Editorial


Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil. História & Perspectivas, Uberlândia, n.57, 2017. Acessar publicação original [DR].

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Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores / História & Perspectivas / 2016

Neste momento de instabilidades e atentados a direitos sociais se faz necessário repensar trajetórias e recompor forças para resistirmos às alterações que temos vivenciado. O dossiê número 55 de História & Perspectivas – Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores –, nesse sentido, busca levantar debate sobre o campo político / social e o campo acadêmico no que tange às transformações no mundo dos trabalhadores.

No processo de elaboração do mesmo, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Ellen Meiksins Wood. A historiadora americana foi importante referência para pesquisas sobre trabalhadores, neoliberalismo, globalização e produção do conhecimento histórico. No interior do dossiê, a Revista presta aqui homenagens a Ellen Wood, publicando um de seus textos, intitulado “Os coveiros do capitalismo”, e o obituário, “Lembrando Ellen Meiksins Wood”, escrito por Vivek Chibber, professor de sociologia da New York University.

Deslocando os focos de análise e trazendo outras temáticas para a reflexão a respeito da militância intelectual, temos a honra de publicar a tradução: “Reflexões sobre Jacoby e tudo mais” de E. P. Thompson. O texto foi proferido entre 1987-1988, quando Thompson participou de atividades no programa de História e Sociedade da Universidade de Minnesota. O texto dialoga, se podemos atribuir este tipo de atividade a Thompson, com o livro “The Last Intellectuals: American Culture in the Age of Academe”, de Russell Jacoby que havia sido recentemente lançado. Entre as temáticas visitadas, destacam-se formas de interligação entre os intelectuais radicais e classes trabalhadoras.

O Dossiê Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores se completa com os seguintes artigos. “Fundição: o concurso literário para operários promovido pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1944”, escrito por Adriano Luiz Duarte, o artigo analisa o romance Fundição, premiado no segundo concurso nacional de romance e teatro promovido pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1944, a partir da relação entre história, literatura e sociedade.

Os temas da descoberta de petróleo no Pré-sal e recentes disputas em torno do sistema de partilha de concessão da exploração dos recursos naturais brasileiros são tratados por Carlos Lucena, Lurdes Lucena e Fabiane Santana Previtali, no artigo: “A resistência petroleira e a privatização no Pré-sal no Brasil”.

O artigo de autoria de Sonia Maria Rummert e Aline Amoêdo Corrêa Ribeiro, “Trabalho e lazer regidos pela mesma lógica de conformação. O caso dos comerciários no SESC, entre as décadas de 1940 e 1970”, aborda o Serviço Social do Comércio a partir de documentos que expressam a ótica da burguesia comercial frente a indícios de resistência, representados por um conjunto de críticas e reivindicações, da fração da classe trabalhadora constituída pelos comerciários.

Luciana Raimundo e Ricardo Gaspar Muller, em “A dívida pública e a desresponsabilização do Estado: A percepção de uma experiência ligada às Finanças Solidárias” partem do estudo de caso do Banco Comunitário União Sampaio, da Agência Popular Solano Trindade e da Associação de Mulheres do Campo Limpo e Adjacências, na zona sul da cidade de São Paulo – dentro dos princípios da Economia Solidária – para, entre outros, discutir a percepção da comunidade organizada sobre as ações do Estado no atendimento das demandas locais.

Em “Gestão eficiente, tecnologia moderna e trabalho arcaico: a indústria de conservas de frutas e hortaliças no pampa gaúcho”, Laura Senna Ferreira e Maria Soledad Etcheverry abordam processos de racionalização do trabalho, modernização tecnológica e precarização da força de trabalho no setor de conservas de frutas e hortaliças, especialmente na cidade de Pelotas (RS), no período correspondente entre anos de 1970 até o final dos anos 2000.

No artigo “A educação dos trabalhadores sob a influência do capital internacional: aproximações entre Brasil e Portugal”, Cílson César Fagiani, Robson Luiz de França e Antonio Bosco de Lima traçam discussões sobre o processo de globalização do capital e implicações na educação dos trabalhadores no Brasil e em Portugal, especialmente a partir da década de 1990.

A partir de apontamentos advindos de pesquisas teóricas e estudos realizados sobre trabalho operário, no período 1990-2015, Sérgio Paulo Morais, em “Memórias em disputa: globalização, trabalho industrial e pautas sindicais (1990-2015)”, discute “tradições seletivas”, empreendidas por empresas globais, frente memórias e lutas de sindicatos nacionais.

Além do dossiê, a Revista publica, neste Número 55, os seguintes artigos: “Agronegócio, trabalhadores rurais, sindicalismo: Avicultura no Oeste do Paraná, 1970-2013”, escrito por Vagner José Moreira, discute experiências de trabalhadores rurais na região Oeste do Paraná, no período de 1970 a 2013, perscrutando a inserção desses sujeitos no processo de produção e agroindustrialização de aves, no final do século XX e início do século XXI.

Alexandre Luzzi Las Casas, Rosane Aparecida F. Bacha e Cristiano Marcelo Espínola Carvalho, em “O agronegócio e o marketing rural no estado de Mato Grosso do Sul”, ao discutirem o conceito ampliado de marketing às peculiaridades do agronegócio, e em especial no estado do Mato Grosso dos Sul, apresentam a forte elevação da produção agrícola brasileira nos últimos trinta anos, fazendo um balanço das relações de produção e distribuição de mercadorias advindas daquele setor.

“Da Arena ao picadeiro: uma análise da crise de legitimidade do presidente José Sarney (1985-1990)”, artigo de Ivan Colangelo Salomão, acompanha parte da trajetória política de José Sarney, apresentação motivos que levaram à “hostilidade das ruas e a indiferença do establishment político”.

Carlos Martins Junior e Antonio Firmino de Oliveira Neto discutem ameaça do “caos urbano” derivado do crescimento físico e demográfico das metrópoles, na passagem do século XIX para o XX. De acordo com os autores “as elites dirigentes urbanas aprofundaram um abrangente processo de reformas, cujo sentido ultrapassava em muito a ideia da simples ‘remodelação’ e ‘embelezamento’ das cidades”. Esse enredo é aqui discutido no artigo intitulado: “Representações do “caos urbano” e o sentido das reformas nas metrópoles brasileiras da bélle époque”.

“Narrativas sobre formação e escolarização no curso de história: Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, 1991- 2004” é umartigo assinado por Michele Ferreira da Silva, Wolney Honório Filho e Rita Tatiana Cardoso Erbs, que trata de narrativas de histórias de vida, da formação e escolarização de ex-alunas e professores-formadores do curso de História da UFG (Catalão). A pesquisa, de acordo com os autores, revelou que “o processo de escolarização pode ser formativo, também pode ocupar tanto um papel secundário quanto influenciar negativamente na formação docente”.

Anderson Francisco Ribeiro e Antonio Carlos de Souza contribuem com este número da revista, com o interessante artigo “O lugar da pornografia na sociedade brasileira: as Guerras Púbicas e o direito ao erótico (1964-1985)”. A discussão perpassa o período da Ditadura Militar brasileira e demostra que, frente a repressão e censura a livros e revistas, há um aumento no número de publicações eróticas e pornográficas. Além disso, a discussão aborda e problematiza discursos sobre a sexualidade e a afirmação de identidades masculinas e femininas.

Por fim, esperamos que as análises propostas pelos diversos autores despertem o interesse e incentivem a produção de novos debates.

Sérgio Paulo Morais


MORAIS, Sérgio Paulo. Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores. História & Perspectivas, Uberlândia, V.29, N.55, 2016. Acessar publicação original [DR].

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Trabalhadores e Ditadura | Mundos do Trabalho | 2014

Os cinquenta anos do golpe de 1964 têm assistido a um verdadeiro boom de publicações e estudos acadêmicos sobre a Ditadura Civil-Militar. Surpreendentemente, no entanto, os trabalhadores, personagens decisivos naquela conjuntura, têm sido razoavelmente negligenciados nas análises sobre o período. Nos numerosos eventos e atividades sobre o cinquentenário do golpe esta ausência é notável. Contudo, a presença pública e a luta por direitos, crescentes desde o final do Estado Novo, atingiriam um ápice justamente no início da década de 1960, mobilizando sindicatos, partidos, associações de moradores e outras formas de associação, como clubes de bairros e grêmios culturais. No campo e na cidade, os trabalhadores estavam no centro do cenário político.

A derrubada de João Goulart pelos militares representou a interrupção deste processo de ascensão da mobilização da classe trabalhadora brasileira. A elaboração de uma nova política trabalhista encetada pelo governo de Castello Branco (1964-1967), aplicada em conjunto com as medidas repressoras, assim como as intervenções nos sindicatos, possibilitou uma verdadeira revanche patronal. A aliança entre empresários e a polícia tornou-se ainda mais sólida e disseminada. Um clima de medo e perseguições passaria a dominar o interior das empresas. No campo, um número ainda não calculado de trabalhadores rurais foi expulso de suas terras e muitos foram mortos. Uma política econômica antitrabalhista proibiu greves, comprimiu salários, acabou com a estabilidade no emprego, facilitando demissões e a rotatividade da mão de obra. O deliberado enfraquecimento dos sindicatos facilitou em muito a superexploração dos trabalhadores, uma das marcas do regime autoritário, elevando o número de acidentes e mortes nos locais de trabalho. Leia Mais

Saúde-doença dos trabalhadores / Tempos históricos / 2015

As últimas décadas poderiam ser entendidas como de uma verdadeira obsessão por parte do empresariado nacional em busca da obtenção de indicadores de qualidade, traduzidos, por exemplo, na multiplicação de ISOs (International Organization for Standardization) 9000. A argumentação para tal firma-se na necessidade de um mercado globalizado, referenciado em padrões compatíveis com os parâmetros internacionais, visando a satisfação do consumidor mais remoto, via procedimentos massivos adotados na produção e na distribuição.

Desdobramento dessa busca pode ser notado nas constantes liberações (permissões) de produtos e serviços para exportações a países e regiões, conjuntamente a obtenção de certificados de qualidade específicos para este ou aquele produto, que não só os da ISO, como, por exemplo, o British Retail Consortium (BRC) obtido pelo setor frigorífico para exportação na Europa.

Esta obsessão, como tudo na sociedade capitalista, parece extremamente seletiva, pois foca no produto, mas não necessariamente no produtor, aquele que efetivamente faz a transformação das matérias primas no objeto desejado – de diversas ordens -, sujeito a péssimas condições de trabalho e via de regra exposto a riscos, agravos, acidentes etc. Vejamos alguns indicadores disponibilizados pela OIT (2014):

– 2,02 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a enfermidades relacionadas com o trabalho;

– 321 mil pessoas morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho;

– 160 milhões de pessoas sofrem de doenças não letais ligadas ao trabalho;

– 317 milhões de acidentes laborais não mortais ocorrem a cada ano;

– a cada 15 segundos, um trabalhador morre de acidentes ou doenças relacionadas com o trabalho;

– a cada 15 segundos, 115 trabalhadores sofrem um acidente laboral.

As comparações estatísticas seriam diversas. Fiquemos apenas numa: o trabalho matou quase seis vezes mais do que a dengue no Brasil, em números absolutos. Ou seja, em sete anos, de 2007 a 2013,

o país teve 5,3 milhões de casos de dengue, número equivalente aos acidentes de trabalho. Menos letal, a doença matou 3.331 pessoas, média de 475 por ano, contra 19.478 óbitos no trabalho, ou 2.780 por ano – os 720 mil acidentes anuais ainda deixam 14,5 mil inválidos permanentes. Cabe lembrar que, ano após ano, o combate à dengue mobiliza todo o país, um esforço que não se vê no combate aos perigos no trabalho [3].

Além disso, o trabalho era mais letal do que a dengue: o risco de morte é quase 12 vezes maior, tomando-se a população trabalhadora e a população geral sob o risco do vírus. Só no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), esta situação comprometeu, entre 2003 e 2014, R$ 16 bilhões, sendo que estas despesas consomem 90% dos recursos daquele órgão [4]. Isso ilustra o fato de que os recursos públicos são investidos de forma trágica, pois os problemas são estruturais e não se consideram as causas, mas tão somente os aspectos secundários. Ou então, o que dizer sobre a insegurança e a desatenção do capital e do Estado para com a saúde do trabalhador serem tratados nos tribunais!

Com base nos exemplos, que se perdem à exaustão, é imprescindível a associação entre processo de trabalho e saúde do trabalhador. Isso requer nossas atenções para a qualidade de vida do trabalhador dentro e fora do trabalho, já que esta está cada vez mais ameaçada, coerentemente sustentada na irracionalidade sistêmica do capital, ou seja, na extração de trabalho não pago, base estrutural de todo o edifício sociometabólico da sociedade capitalista.

Este dossiê “Saúde / Doença do Trabalhador” busca contribuir não só com esta discussão, mas também com a visibilidade do problema, colocando-a em perspectiva histórica, evidenciando a longevidade e as fissuras da relação saúde / doença. Neste sentido, se a insalubridade e fatalidade do trabalho para o trabalhador é uma aspecto da produção capitalista que perdura conjuntamente a esse sistema, suas circunstâncias e formas têm a mesma diversidade, o que fica caracterizado, longe do suficiente, nos quatro artigos que compõem o dossiê.

Assim, em “Saúde e trabalho no Brasil e os desafios da participação”, Carlos José Naujorks, pontua a historicidade da conceituação da questão, partindo de médicos e sanitaristas europeus no século XIX, deslocando-se à participação e mobilização dos trabalhadores no Brasil na defesa da salubridade laboral no século XX. Comparativamente aos outros artigos que compõem este dossiê, Naujorks contribui com uma visão sintética e geral da questão, ao passo que os demais artigos focam categorias específicas de trabalhadores.

O artigo de Anderson Vieira Moura, “Operários têxteis e o acesso à saúde”, parte de processo judicial, investiga as articulações entre diferentes grupos – patrões, sindicalistas e profissionais da saúde, além dos próprios trabalhadores – no que se refere ao acesso aos serviços médicos vinculados ao trabalho, em Maceió, na década de 1950.

No artigo de César Augusto Martins de Souza, a construção da rodovia Transamazônica, na década de 1970, é o “palco” dos embates vividos pelos trabalhadores em relação às enfermidades e mortes, não só dos que executavam a obra, como também da população lindeira, também atingida pelo “empreendimento”. De posse de farto material empírico, o autor contrapõe elementos críticos com base na euforia dos asseclas da ditadura pós-1964 com a possível “ocupação” daquela região que viabilizaria a exploração de madeiras, fauna, minérios etc. suas muitas riquezas e as preocupações com os riscos que tal obra poderia propiciar à saúde pública.

No quarto artigo desta coletânea, Fernando Mendonça Heck investiga e interpreta uma das categorias profissionais que expressam, desafortunadamente, na contemporaneidade mais estreitamente aquela contradição que apontamos no inicio desta introdução: os trabalhadores em frigoríficos. Este setor que propagandeia o sucesso da produção com qualidade no Brasil, detentora de índices de exportação e rentabilidades, mesmo em períodos de suposta crise, expressivos, laureado com diversos certificados internacionais que atestam a grandeza do agronegócio nacional, é, articuladamente e não tão divulgado, um dos setores que mais danos causam aos trabalhadores. Esses elementos são abordados por Heck, com as atenções também para o processo crescente de terceirização implementado pelo capital para fragilizar a luta político-organizativa dos trabalhadores.

Tendo em conta a natureza do tema, ficaria difícil desejar aos leitores uma agradável leitura. Desejamos assim que ao menos ela seja proveitosa, não só no aprofundamento de discussões, mas também como oportunidade de denunciar a situação.

Notas

3. Gazeta do Paraná, O Trabalho mata mais do que epidemia no Brasil, 5 de julho de 2015. Disponível em www.gazetadopovo.com.br / vida-e-cidadania / especiais / acidentes-de-trabalho-no-brasil / index.jpp.

4. In INSS, 1º. Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade, 25 de abril de 2014. Disponível em http: / / www.previdencia.gov.br / wp-content / uploads / 2014 / 04 / I-Boletim-Quadrimestral-deBenef%C3%ADcios-por-Incapacidade1.pdf

Antonio Thomaz Junior – Doutor em Geografia (USP), professor do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em Geografia da UNESP (Campus de Presidente Prudente).

Rinaldo José Varussa – Doutor em História Social (PUC-SP), professor associado do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em História da UNIOESTE (Campus de Marechal Cândido Rondon).


THOMAZ JUNIOR, Antonio; VARUSSA, Rinaldo José. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.19, n.2, 2015. Acessar publicação original [DR]

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O mundo do trabalho e trabalhadores e suas práticas sociais | Revista Historiar | 2015

Eis mais uma edição da Revista Historiar, que insiste na vontade de contribuir, divulgando estudos realizados por pesquisadores sobre temáticas diversas. Neste número, pautamos novamente os temas relacionados ao mundo do trabalho e trabalhadores e suas práticas sociais. Desta forma este número é especial, pois vivemos tempos difíceis nos quais há flexibilização nas relações de trabalho, ao mesmo tempo em que se vê o aumento do desemprego e a perda de direitos anunciada pelo atual governo interino, além da crescente precarização do trabalho, inclusive nas universidades públicas brasileiras. Estes elementos suscitam o debate e faz um chamamento para as discussões dentro e fora das universidades sobre temas caros: democracia, tolerância, violência, liberdade, organização sindical, movimentos populares, mídias, direitos trabalhistas etc

Destacamos nesta edição artigos que trazem olhares diferenciados sobre o trabalho, as experiências sociais, organização e expressão cultural dos trabalhadores: Leia Mais

Trabalhadores / Esboços / 2015

Repensar el estudio de la clase obrera

“Sólo al tratar de comprender el pasado racionalmente

podemos transformarlo de una masa informe en una plataforma,

o derivar energía del mismo como un Anteo gigantesco

del contacto con su madre Tierra. La máxima que sólo un

involucramiento activo con el pasado puede desarrollar uma

correcta sensación por el pasado es verdad, como lo es a la

inversa, que sólo una familiaridad con el pasado puede darnos

un sentido correcto del presente. No podemos actuar sobre las

cosas que han pasado, pero ellas continúan actuando sobre

nosotros, el pasado y el presente se combinan para hacer el futuro”. [1]

V.G. Kiernan

Este dossier presenta un conjunto de artículos sobre trabajadores en América Latina y en Portugal. En ellos se trata de repensar una serie de problemas en torno a los estudios sobre trabajadores a partir de premisas comunes. En todos los casos el eje que los articula es el problema en torno a clase, género, cultura, politización y por ende conciencia social. Los diversos autores operan con una definición de “clase obrera” derivada, sobre todo, de los marxistas británicos. De ahí que consideren parte de la clase obrera a trabajadores agrícolas, empleados de call centers, comunidades de trabajadores, así como a obreros industriales. Asimismo, los autores consideran los estudios puntales como una ventana que sugiere, y muchas veces cuestiona, nuestras hipótesis historiográficas.

Los enfoques “desde abajo” aportados por los artículos de Mastrángelo, Raimundo y Pisani articulan clase con género para ir delineando las características de esa cultura obrera: Mastrángelo examina como un conflicto específico (la huelga de 1936 en Rio Cuarto, Argentina) revela esa cultura que abarca no sólo a los huelguistas sino también a sus compañeras destacando que las estructuras de sentimiento que la conforman abarcaban al colectivo social. Raimundo, por su parte, contribuye a este proceso comparando dos casos regionales: el de los trabajadores de la ciudad de La Plata con el más conocido y emblemático de los trabajadores de la ciudad de Córdoba. El resultado es más que interesante ya que sugiere que los procesos de politización obrera, que dieron surgimiento al fenómeno denominado “clasismo” en la década de 1970, encuentran sus raíces en patrones culturales comunes. A su vez, Alejandra Pisani utiliza la historia oral para rastrear las pautas culturales de una obrera en Tucumán. La historia de vida que se presenta demuestra que el proceso de politización es un emergente de una tradición obrera contestataria que, en este caso, se articula con una perspectiva de género para dar surgimiento a una conciencia de clase determinada.

Tan interesantes como los anteriores son los artículos de Igor Goicovic, José Benclowicz y João Carlos Louçao. Goicovic estudia la articulación entre los trabajadores agrícolas de una zona en Chile con organizaciones políticas de izquierda. Por su parte Benclowicz demuestra que las organizaciones de desempleados en Argentina, lejos de ser fenómenos radicalmente nuevos, se inscriben en la cultura de los gremios combativos, presentando una continuidad obrera más allá de la realidad de empleo. También Louçao al estudiar a los empleados de call centers en Portugal encuentra una fuerte lucha en torno a la hegemonía de las pautas culturales de estos “nuevos” trabajadores que “transforman el conflicto de clases en un juego de sombras”.

Los estudios anteriores, reunidos en este dossier, son representativos de un fenómeno mucho más amplio que está aconteciendo en los estudios sobre trabajadores. Estos revisten una particular importancia para los procesos históricos de sociedades como las del así llamado Tercer Mundo puesto que, en ese contexto, el movimiento obrero tuvo –y tiene aún hoy– un peso significativo en la estructura económica y social. Como bien señaló Kim Moody [2] hace ya muchos años: “Si bien en los países industrializados la cantidad de obreros como porcentaje de población descendió a partir de 1980, no es así en cuanto a números absolutos. Al mismo tiempo la cantidad de obreros en el Tercer Mundo aumentó considerablemente a partir de la industrialización acelerada de países como México, Brasil, China, India, Tailandia, Corea del Sur, Taiwán, Singapur, Indonesia, Vietnam.“ Esto conlleva a entender que la actividad desplegada por los trabajadores condicionó el desarrollo del capitalismo, aunque no como la clase obrera deseara. De hecho observamos, en el transcurso de su historia, una profunda interrelación entre acción colectiva, poder social, efectividad y conciencia política. Sobre el particular Ellen Meiksins Wood sostiene “…que los conflictos de clase han históricamente estructurado fuerzas políticas sin que necesariamente produzcan organizaciones políticas.” [3] Así, comprender la historia social de los últimos ciento cincuenta años prescindiendo de los trabajadores implica una deformación del proceso histórico nacional. En este sentido, es indudable que las transformaciones realizadas fueron producto de la articulación entre el accionar y el nivel de lucha de la clase obrera y el de otros sectores sociales.

A pesar de esto, un aspecto notable de las últimas décadas del siglo XX, es que la cantidad de estudios históricos que sobre los trabajadores ha sido relativamente escasa, sobre todo si la comparamos con otros temas dentro del contexto latinoamericano: como por ejemplo la historia colonial o la que hace énfasis en el período de la construcción de los estados nacionales. Más aún, se han estudiado golpes de Estado, ciudadanía, democracia, construcción de la nación, y otros temas con la casi total ausencia de los trabajadores. Recién en la primera década del siglo XXI es que ha crecido la cantidad de estudios históricos sobre trabajadores, protagonizados sobre todo por una nueva generación de estudiosos que han realizado nuevas preguntas y han desarrollado nuevas perspectivas en búsqueda de respuestas.

En gran medida, en América Latina, la modificación de esta actitud ha tenido que ver con el reconocimiento recibido por la obra de Daniel James publicada en 1988. [4] Si bien, varios historiadores se habían dedicado a la historia de los trabajadores y publicado en forma previa, muchos más lo han hecho a partir de ese momento. La característica principal de estos últimos es que son jóvenes, de manera que muchas de las investigaciones tienen que ver con tesis doctorales y primeras investigaciones.Esto es importante, puesto que no sólo muestra posibilidades de gran desarrollo, sino que esta historiografía concentra una serie de interrogantes, perspectivas y aproximaciones que pueden redituar en el futuro en importantes replanteos históricos. La virtud principal de estos estudios es hacerse una serie de preguntas profundas, cuyas respuestas (logradas o no) requieren obligadamente de la interacción con otras ciencias sociales desarrollando el potencial de aproximaciones innovadoras desde perspectivas interdisciplinarias.

Las preocupaciones que trasuntan las investigaciones recientes están entroncadas con el surgimiento y consolidación de una nueva historia social en el ámbito occidental desde la posguerra. A esto contribuyó –en forma decisiva– la renovación de la historiografía y la teoría social marxistas, desarrollada, sobre todo, en Gran Bretaña. En los escritos de esta nueva historiografía obrera se advierte la influencia de las concepciones de Edward P. Thompson, especialmente en lo que hace a su valorización del concepto de “experiencia” y a sus definiciones de clase y conciencia de clase. Este enfoque además se ha nutrido con el concepto de “estructura de sentimiento” de Raymond Williams. También se abasteció con las investigaciones sobre las situaciones políticas y discursivas en que aparecen y retroceden determinados “lenguajes de clase” de Gareth Stedman Jones y los estudios sobre “cultura popular” de Stuart Hall. [5]

Los planteos y sugerencias de la historiografía anglo-sajona han incidido en los estudios recientes sobre la clase obrera. La historiografía previa a 1980 contribuyó significativamente al conocimiento de la estructura de la clase obrera, de las formas de organización y lucha, y de lo que puede denominarse como el mundo político y sindical. Al mismo tiempo tendió a soslayar la experiencia viva y compleja de los trabajadores; su realidad cotidiana en los ámbitos de producción o vivienda; sus prácticas de lucha y de autoorganización. Por lo general se limitaron a indagar sólo sobre los trabajadores agremiados y en el análisis estructural de la sociedad. Asimismo, eludieron, o abordaron en forma superficial, el problema de la conciencia de clase. No es casual que se recurriera allí de una forma muy limitada y pobre a una metodología como lo es la historia oral que tanto puede aportar en la reconstrucción de las prácticas, creencias, sentimientos y proyectos pasados, individuales y colectivos, de los trabajadores. No pocos autores crearon y utilizaron fuentes orales en el tratamiento del movimiento obrero. Sin embargo, cuando lo hicieron fue en torno a la trayectoria de dirigentes sindicales, empresarios, militares o funcionarios; rara vez, centrados sobre activistas o trabajadores de base.

Es en este contexto, marcado por los alcances y límites de la bibliografía, donde debemos insertar el aporte de la nueva historiografía obrera sobre el período en cuestión, en la que la obra de Daniel James es su expresión más profunda debido al corte que ésta representó. Como hemos visto, estaban faltando investigaciones que pusieran como objeto de estudio las experiencias y creencias de los trabajadores, rescatando todos los matices de su práctica social. Se carecía de una literatura específica que abordara como preocupación principal la relación entre la lucha de clases y la experiencia obrera. Se había logrado avanzar en la indagación de los factores económicos y políticos que determinaron la situación del proletariado. Pero este análisis estructural debía ser complementado con otros aspectos vinculados a la cotidianidad de la clase obrera: su respuesta a la ofensiva patronal-estatal y las transformaciones ocurridas en el plano de su conciencia social y de su cultura política, lo cual conduce a reconsiderar la relación entre ésta y los diversos movimientos políticos.

La obra del investigador británico presentó un nuevo enfoque en la historiografía obrera; ella se articuló en torno al objetivo de reconstruir las prácticas, las percepciones y los discursos de los trabajadores, los cuales permitieron recrear a estos como un sujeto histórico colectivo. Es indudable, entonces, que la relevancia de la obra de James está fundada en algo más que en su aporte al conocimiento de un período puntual; este texto operó como legitimizador de toda una nueva y variada producción historiográfica y ha ampliado las posibilidades para la constitución de una nueva tradición interpretativa. De hecho, el libro terminó de instalar el debate acerca de cómo encarar el estudio sobre este sujeto social. Es por eso que su publicación fue señalada como un punto de inflexión en el desarrollo de esta temática. Esta nueva mirada permitió superponer, complementar y quebrar otros enfoques que analizaron a la clase obrera y al movimiento sindical en cada país. James había prestado cierta atención a las relaciones de fuerzas que intervinieron en el desenvolvimiento de la clase trabajadora. Los sujetos sociales, la lucha entablada entre ellos, y no las determinaciones estructurales o ideológicas, fueron los aspectos históricos por él privilegiados. Todo esto reclamó un aparato heurístico alternativo al utilizado tradicionalmente por los historiadores académicos, que se basara no sólo en documentación y archivos oficiales, sino también en fuentes escritas y orales recabadas entre activistas y trabajadores de base. La búsqueda, construcción y utilización de estos testimonios no oficiales, importante desde el punto de vista cualitativo, implicó la consolidación de esta práctica historiográfica innovadora.

James se basó en las categorías teóricas y analíticas de E.P. Thompson. El intento por establecer un balance de la obra y del itinerario historiográfico, teórico y político de Thompson tiene numerosos antecedentes; entre ellos, se destacan los diversos trabajos de Harvey J. Kaye, Meiksins Wood, William H. Sewell Jr., Pedro Benítez Martín y Markus Rediker (todos de disímil profundidad y calidad). A estos deben agregarse los escritos de otros grandes representantes de la intelectualidad marxista inglesa que evaluaron o debatieron la perspectiva metodológica, teórica e histórica del autor de La formación de la clase obrera en Inglaterra, como Perry Anderson, Eric Hobsbawm y Raphael Samuel. [6]

Los supuestos con los que Thompson construyó su contexto teórico son ya clásicos y han sido antes enunciados por autores como Hobsbawm, Anderson y él mismo. Lo que aquí nos interesa es que para éste último, la disciplina histórica sintetizaba pasado y futuro a través del compromiso con el presente, haciendo del sujeto histórico el centro de una indagación que emerge como fruto de ese marxismo ecléctico, más político que teórico, más romántico que racionalista. Lo más rescatable y útil para el historiador de la clase obrera es que Thompson intentó recuperar del olvido el problema de la subjetividad pretendiendo arrancar del marxismo la exuberante maleza del predeterminismo con un espíritu antidogmático ajeno a supuestos teóricos definidos a priori y que reclamó la necesidad de una lectura crítica hasta del propio Marx. Esto lo llevó a un desarrollo teórico que lo colocaba, por momentos, en los límites del propio materialismo histórico.

Dos de los conceptos centrales de la historiografía thompsoniana, los de “clase” y “lucha de clases”, le dieron una identidad propia a sus planteamientos y lo colocaron en el centro de fuertes polémicas teóricas. Frente a los que definían a las clases simplemente como efectos de relaciones económicoestructurales, Thompson recordaba el papel que la cultura, las formas de vida tradicionales y la propia conciencia ejercen en la definición de clase. De ahí es que le dé un peso a este último elemento, cuando sostenía: “una clase no puede existir sin algún tipo de conciencia de sí”. Aquí rescatamos una observación que ya formulara Perry Anderson: el progresivo “culturalismo” que lleva implícita una concepción que cree que la formación de clases es independiente de determinantes objetivos. Thompson nunca aceptó esta acusación y negó que de su obra pudiera surgir la idea que “clase puede definirse simplemente como una formulación cultural”.

Thompson es mucho menos importante por las respuestas que ofreció que por el hecho de que nos obligó a repensar la historia obrera desde una perspectiva innovadora que implicó nuevas hipótesis y también el recurrir a la construcción de nuevas fuentes documentales. En cuanto a la Historia, nos obligó a repensar el concepto heredado del siglo XIX y fue capaz de proponernos, desde su posición comunista y radical, nuevas vías de análisis en, al menos, cuatro direcciones: 1) en el análisis de la lucha de clases; 2) en su concepción de la ‘Historia desde abajo’; 3) en la recuperación de la tradición radical; 4) en la denuncia de todo proceso histórico supuestamente guiado y orientado hacia un progreso ininterrumpido. Inclusive, planteó algo que es particularmente relevante: imaginó a su lector medio como fuera del mundo académico por lo que su historia tuvo ecos insospechados y gozó de una gran relevancia para el activismo de izquierda inglés.

La conceptualización y la obra de Thompson, sin embargo, tuvo múltiples lecturas y ellas mismas presentaron tensiones, contradicciones y problemas irresueltos. Si bien nunca dejó de sostener que las relaciones de producción tienen un papel definitorio en la vida social y que la experiencia de clase está ampliamente determinada por esas relaciones, también es cierto que llegó a plantear, en función de romper con las tendencias ultradeterministas (como la de Althusser) que la clase obrera es una formación tanto cultural como económica, siendo imposible dar alguna prioridad teórica a un aspecto sobre otro. En esta última concepción se apoyaron no pocos historiadores que plantearon nuevos condicionantes y problemas (características de la “vida cotidiana”, cultura, elementos discursivos y simbólicos, uso del tiempo libre, identidades étnicas, de comunidad, de género y otros), desjerarquizando su importancia. Plantearon que la identidad de los trabajadores podía aparecer como descentrada del mundo laboral y podía ser reconsiderada a partir de las condiciones de la vida material que asimilan a los asalariados a otros grupos y sectores. De esta forma, extendieron con tanto empeño las fronteras del estudio de los trabajadores por fuera del universo productivo que acabaron por disolver la categoría de clase obrera en otras, tal como la de “sectores populares urbanos”.

En algunos trabajos que reivindican la perspectiva teórica plasmada por Thompson, se establece un nexo de causalidad entre las innovaciones que suponen el estudio de la clase obrera a través de su concepto de experiencia y el “fracaso del paradigma leninista” en las interpretaciones del movimiento obrero. [7] En verdad, gran parte de los esfuerzos de Thompson se dirigieron a estudiar cómo una clase, a través de la autoidentificación de sus miembros en lucha contra otra clase, se conforma en un sujeto colectivo real. Hay más vínculos entre la concepción de Thompson y el “paradigma leninista”, que entre el primero y el que intenta disolver a la clase en fragmentos condicionados por disímiles situaciones de la “vida cotidiana” o de la cultura. Los dos primeros son intentos de dar cuenta de cómo se construye una clase como fenómeno unitario, el último es un enfoque que apunta a su disolución.

Definir el término “clase” es de por si complejo y ha sido tema de numerosos debates. Para los autores de este Dossier la existencia de las clases sociales es algo real, tangible y vivenciable, más allá de las diferencias culturales o históricas de una nación a otra. La existencia del capitalismo como tal define la existencia de una clase obrera. En este sentido, la clase se define por su relación con los medios de producción. Pero esta relación no es estática, sino dinámica. Un obrero no deja de ser tal automáticamente cuando abandona la fábrica, como bien demuestra Benclowicz. Por el contrario, como señala Pisani, mantiene criterios culturales, solidaridades, aspiraciones y relaciones sociales que tienen que ver con su historia pasada. Lo mismo podemos decir de su familia; si bien los hijos pueden no trabajar sí se encuentran dentro de la clase obrera. Lo concreto es que la definición de clase no es un problema individual, sino colectivo definido por experiencias comunes gestadas a través de las relaciones sociales de producción, por lo tanto la unidad mínima analítica es la familia. [8] Al ser dinámica la relación, implica que los límites en la que los grupos de seres humanos dejan de pertenecer a una clase para convertirse en otra sean difusos, pero no por eso menos existentes.

Parte del problema es la riqueza del fenómeno social que se trata de aprehender y el cómo delimitar el sujeto. Por ejemplo, en las investigaciones de este Dossier, la clase obrera incluye no sólo a los obreros industriales, sino también a los de la construcción, la minería, a los rurales, así como a los desempleados, todos cuyas relaciones sociales de producción son similares. Pero no nos limitamos sólo al proletariado, el estudio también abarca a los trabajadores asalariados no obreros, como por ejemplo a sus familias y a los empleados de los de los call centers. Esto lo consideramos así por tres razones básicas. Primero, porque en el comportamiento social, si bien el proletariado es aislable, en general no actúa y se organiza en forma aislada. Si bien hay varios casos de gremios que agrupan sólo a empleados, muchos de los gremios “de servicios” incluyen sectores de obreros industriales. Asimismo, varios sindicatos “industriales” también organizan a los empleados en esa rama de la industria. Casi todos los gremios estatales abarcan ambos sectores.

Pero además de esta razón existen dos más que están interrelacionadas. La primera es que el capitalismo en sí es un fenómeno histórico dinámico cuyas transformaciones constantes también modifican las estructuras sociales. Aunque las relaciones sociales de producción y lo que producen, son diferentes, empleados y proletarios se encuentran cotidianamente sujetos a los criterios de producción capitalista. En este sentido, a partir de 1945, lentamente grandes sectores de empleados se han “proletarizado” y desarrollado pautas sociales y organizativas acordes. El taylorismo, la productividad, la racionalización y los equipos “a la japonesa” se aplican hoy en día en fábricas y en oficinas generando condiciones que tienden a unir empleados y obreros en experiencia. La segunda razón, es que uno de los resultados más importantes del desarrollo del capitalismo en los últimos años ha sido que la diferenciación entre la vida de un empleado y la de un obrero se ha convertido en cada vez menor. El empleado no sólo ha perdido cosas intangibles, pero reales, como prestigio social sino que se ha visto obligado a compartir pautas de sectores proletarios: vecindarios, ámbitos de sociabilización, estilo de vestimentas, entre otras características, a un nivel mayor que en las décadas pasadas. Todo lo anterior no significa que se han borrado las diferencias sociales entre ambos sectores sociales. Estas siguen existiendo y las impone la realidad laboral de cada uno. Y esta no es una distinción banal o meramente analítica, es una distinción vivencial que hacen los propios obreros y empleados. Por todo esto, si bien diferenciamos entre proletarios y trabajadores asalariados, nuestras investigaciones deben tomar a ambos en cuenta y relacionarlos tal como ocurre en la vida real.

De esta manera nos encontramos ante un problema similar con el que se enfrentó hace más de medio siglo Richard Hoggart: “Las personas que recuerdo aún conservan la sensación de pertenecer a un grupo propio […] Sienten que son ‘clase obrera’ en gustos y costumbres, en que ‘pertenecen a ella’. Esta distinción no resulta muy exacta, pero es importante […] No es fácil distinguir a los trabajadores del resto por la cantidad de dinero que ganan, ya que hay una enorme variación de jornales entre la clase obrera. […] Tratar de aislar a la clase obrera, grosso modo, no implica que no exista gran número de diferencias, matices y distinciones de clase dentro del mismo grupo. […] Es posible, por tanto, generalizar, sin que esto implique que toda la clase obrera coincide en actitudes o creencias respecto al matrimonio o la religión; por otra parte, no hay manera de analizar una cultura sino a través de las constantes de la uniformidad”.[9] Nuestras dificultades teóricas y metodológicas, las insuficiencias de las herramientas para el análisis, no justifican el descartar el concepto de “clase” como una categoría poderosa para el investigador, más allá de sus problemas y complejidades para aprehender un fenómeno social dinámico, cambiante y también complejo. De hecho, hasta el día de hoy es la herramienta teórica que mejor lo describe. En este sentido, los investigadores de este Dossier no comparten los criterios de los que diluyen la cuestión de clase como a aquellos que la convierten en un fetiche.

Por último, debemos aclarar que, a pesar del pensamiento positivista, cada fenómeno histórico no sólo se presta a distintas lecturas sino que puede tener múltiples resultados. La actividad del ser humano no sólo es compleja sino que tiende a plantear soluciones a problemas concretos. Lejos de visiones teleológicas, tratamos de rastrear un proceso histórico rico y contradictorio en búsqueda de las claves no sólo de su desarrollo sino de los desarrollos futuros. Por lo tanto la clase –como protagonista y como objeto/sujeto de estudio– está integrada por el obrero que trabaja y el que se encuentra desocupado y sus familias. La historia social de la clase incluye estudiar a sus hombres y mujeres (nunca hay que perder de vista que también hay obreras mujeres), la familia, la comunidad, la cultura, su ideología, sus identidades políticas. De ahí la importancia de estudiar la cultura, las identidades, redes relacionales, la solidaridad de clase y cómo se manifiesta ésta. En este sentido, se trata de demostrar que en la actividad de los obreros no actúa sólo lo económico sino que están motivados por ideas y valores desarrollados a partir de la totalidad de la experiencia.

Si bien los estudios históricos del período están en un interesante desarrollo que hace complejo definir con precisión tendencias y trayectorias, sí han surgido toda una serie de problemáticas que constituyen líneas de investigación a profundizar. Por ejemplo, temas tales como la conciencia de los trabajadores; su posible autonomía de clase; la articulación entre cultura, conciencia y política; el control obrero de la producción y el surgimiento de formas alternativas de organización. Al mismo tiempo han surgido planteos riquísimos e importantes, como por ejemplo qué constituye la lucha de clases. Así han surgido una serie de interrogantes cuyas respuestas son por demás complejas y que van dando lugar a esquemas analíticos e interpretaciones; todos a ser debatidos. Por ejemplo, ¿siempre lucha la clase obrera? Depende de qué se quiere decir con “lucha”. Si se entienden por esto batallas campales, puño en alto, con contenido implícitamente revolucionario es evidente que no. Pero si por lucha se entiende toda aquella actividad (económica, social, cultural y política) que al definir la cohesión de una clase la contrapone a otra(s), entonces sí. Es en esta conflictividad obrero-patronal que se forja una experiencia cotidiana dialéctica que hace al movimiento de la historia de los trabajadores. Similares apreciaciones se pueden problematizar sobre el tema de la conciencia. ¿Siempre son conscientes los trabajadores? Una vez más: depende de como se enfoque el tema. Si la conciencia es vista como un progreso lineal positivista hacia un ideario predeterminado, entonces no. Pero tampoco se la puede ver como algo estancado, si no más bien como algo en permanente movimiento, con altibajos, latencia y explosiones, y en referencia permanente a otras clases sociales. Todo esto implica que la historia obrera –observada en movimiento– debe lograr una cuidadosa, y difícil, articulación entre las relaciones de producción y la cultura.

Notas

1. KIERNAN, V.G., “Notes on Marxism in 1968”; en Ralph Miliband y John Saville, eds. The Socialist Register 1968 (Londres, 1968), p. 182. La cita original es: “It is only by trying to comprehend the past rationally that we can transform it from a shapeless mass into a platform, or draw energy from it like the giant Antaeus from contact with his mother Earth. The maxim that only active involvement in the present can develop the right sense of touch for the past is a true one, but so is the converse, that only familiarity with the past can impart the right touch for the present. We cannot act on things gone by, but they continue to act on us, and past and present combine to make the future”.

2. MOODY, Kim Workers In A Lean World.Unions In The International Economy. London: Verso Books, 1997. Pg. 186

3. WOOD, Ellen Meiksins. The retreat from class. A new ‘true’ socialism. Londres: Verso, 1986, p.97.

4. JAMES, Daniel. Resistance and Integration. Peronism and the Argentine Working Class, 1946-1976. London: Cambridge University Press, 1988.

5. Una visión de la historiografía marxista inglesa en Harvey J. Kaye. Los historiadores marxistas británicos. Un análisis introductorio. Zaragoza: Universidad, Prensas Universitarias, 1989. También véase: THOMPSON, Edward P.: La formación de la clase obrera en Inglaterra. Barcelona: Crítica, 1984; Raymond Williams. Marxismo y Literatura. Barcelona: Península, 1980; Gareth Stedman Jones. Lenguajes de clase. Estudios sobre la historia de la clase obrera inglesa (1832-1982). Madrid: Siglo XXI, 1989; Stuart Hall: “Notas sobre la deconstrucción de ‘lo popular’”; en Raphael Samuel (ed.). Historia Popular y Teoría Socialista. Barcelona: Crítica, 1984.

6. PALMER, Bryan. E.P. Thompson. Objections and Oppositions London: Verso Books,1994.

7. CANGIANO, María Cecilia, “Pensando a los trabajadores: la historiografía obrera contemporánea. Argentina entre el dogmatismo y la innovación”; Boletín del Instituto de Historia Argentina y Americana “Dr. Emilio Ravignani” No. 8, (Buenos Aires: Facultad de Filosofía y Letras, UBA, 3ra serie, 2do semestre de 1993). Mirta Zaida Lobato y Juan Suriano. “Trabajadores y movimiento obrero: entre la crisis de los paradigmas y la profesionalización del historiador”; Entrepasados, Revista de Historia, Año III, Nº 4-5, fines de 1993. Según Cangiano, la aparición del libro de James, Resistencia e integración. La clase obrera y el peronismo, 1945-1976 (sic), no puede explicarse sin “el fracaso y la derrota del proyecto revolucionario marxista leninista de los años setenta” en Latinoamérica (pág.118). Sin embargo, la autora no expone ninguna prueba para avalar esta hipótesis explicativa sobre la génesis y el contexto en el que surge la obra de James. Suriano-Lobato encuentran retrospectivamente un aval a su planteo de la imposibilidad de compaginar el análisis de la lucha de clases con el tradicional “paradigma leninista”: es una cita de Federico Engels de 1895, referida a las dificultades en torno a las esperanzas revolucionarias y los resultados concretos.

8. SWEEZY, Véase Paul. “La clase dirigente norteamericana”, en Paul Sweezy. Capitalismo e imperialismo norteamericano. Buenos Aires: Merayo Editor, 1973. Este artículo fue publicado originalmente por Monthly Review en mayo y junio de 1951. Allí expresa: “La unidad fundamental de integración de una clase es la familia y no el individuo. La prueba de ello es sencillamente que cada uno nace dentro de una determinada clase, la clase a la cual pertenece su familia. […] El nouveau riche nunca es plenamente aceptado en su flamante ubicación social y el hombre que pierde su posición nunca llega a aceptar totalmente la variante. Son solo las familias las que en cada caso, y con el correr del tiempo, realizan el ajuste.”

9. HOGGART, Richard. La cultura obrera en la sociedad de masas. México: Grijalbo, 1990, pp. 30-33

Pablo Pozzi – (UBA). Organizador.

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Trabalhadores e Natureza no Brasil Equatorial / Tempo Amazônico / 2014

O I Encontro Estadual da Associação Nacional de História- Secção Amapá, realizado no final de 2014, coincidiu com um momento de ampla produção do conhecimento histórico que contemplou os quatro extremos do Brasil. Dois movimentos contribuíram para o desenho desse quadro, quais sejam, a ampliação dos programas de pós-graduação pelo país e a constituição de Grupos de Trabalho vinculados a ANPUH-Brasil.

O GT Mundos do Trabalho tem tido especial inserção nesse quadro, reunindo variadas temáticas e historiadores de diversas instituições da Amazônia, que nos últimos anos tem aventado novos temas, fontes e abordagens. O Simpósio Temático Mundos do Trabalho encampado no primeiro evento amapaense da ANPUH foi um dos resultados desse processo. Nele foram acomodados estudiosos do Acre, do Amapá, do Pará e do Amazonas permitindo um amplo debate sobre a temática da história dos trabalhadores.

A presente edição da Revista Tempo Amazônico congrega alguns textos apresentados no referido ST, revelando uma multiplicidade de pesquisas desenvolvidas sobre a temática do trabalho, envolvendo questões de família, conflitos agrários, política, meio ambiente, dentre outros tópicos, revelando novas fontes e alargando as possibilidades de análise da História Social do Trabalho. Todos esses estudos têm sido partícipes das mudanças que vem ocorrendo nos últimos anos, valorizando as experiências protagonizadas pelos mais diversos sujeitos em diferentes universos de trabalho. A ampliação temática, geográfica, epistemológica e cronológica, juntamente com o rompimento de dicotomias (trabalhador livre / escravo; rural / urbano; formal / informal), têm se destacado nas jornadas, seminários e nos últimos STs organizados pelo GT Mundos do Trabalho. Os eventos nacionais da ANPUH também têm sido palco desse movimento, incluindo o ST Mundos do Trabalho organizado no I Encontro Estadual da Anpuh-AP, cujos resultados seguem materializados nos artigos contidos neste número da RTA.

Dentre as várias questões abordadas, serão adensadas importantes problemáticas sobre o complexo inter-relacionamento entre trabalhadores e natureza, tônica principal do dossiê Trabalhadores e Natureza no Brasil Equatorial. Os artigos desta seção permitem apreciar o papel decisivo da natureza no universo de trabalho amazônico. Os pesquisadores produziram seus textos com atenção especial à historicidade do componente espacial. Poder-se-á observar trabalhadores, autoridades públicas e particulares tendo como território de disputa o domínio e o ordenamento de áreas de comércio, povoamento, utilização de recursos naturais, usos da terra e reprodução da força de trabalho nas cidade, rios e florestas.

Nesse sentindo, abrindo o dossiê, Frederico de Oliveira apresenta em seu artigo as experiências dos chamados Soldados da Borracha, arregimentados durante a II Guerra Mundial para o serviço nos seringais amazônicos. O pesquisador aponta como eixo de discussão a transformação dos migrantes nordestinos – alcunhados de arigós – em Soldados da Borracha, analisando ainda o aparecimento de uma consciência ambiental rumo às lutas em nome da preservação da floresta.

Na Amazônia, o hábito de extrair da floresta e rios o necessário para sobreviver faz da natureza um elemento importante para o entendimento do modo de vida dos amazônidas. Fabrício Ribeiro, autor do segundo texto deste dossiê, analisa em seu artigo tais referências tendo em conta as experiências dos trabalhadores extrativistas do açaí e suas formas de sustento, avaliando as complexas relações laborais estabelecidas na extração da fruta sob os moldes do trabalho familiar, especialmente atentando às mudanças vivenciadas a partir da introdução da indústria de exportação. Segundo Ribeiro, as referidas transformações vêm alterando não somente os circuitos produtivos, mas também a relação desses trabalhadores com a própria natureza.

No artigo seguinte, ainda com a mesmo direcionamento, Rafaele Flexa introduz uma discussão sobre os trabalhadores extrativistas do sul do Amapá e o uso dos recursos naturais entre as décadas de 1950 até 1990, problematizando a relação dos trabalhadores com a natureza dentro de um cotidiano em progressiva transformação. A autora discute o usufruto comum de recursos da floresta, as formas de uso, e o estabelecimento de regras e normas. Em acréscimo, Flexa contextualiza os grandes projetos agromineralógicos da segunda metade do século XX na Amazônia, sugerindo que a população não assistia as violentas mudanças de forma pasmada, articulando-se em lutas pela garantia do acesso à terra e demais recursos. Em tal conjuntura, as políticas de colonização dos supostos “espaços vazios” tornavam-se base para uma economia de exportação assentada em processos de concentração fundiária, que corroboravam na escalada ascendente da desigualdade social que afligia e ainda aflige muitos amazônidas.

Analisando referências semelhantes, o artigo de Adriane Silva dá continuidade ao debate estudando as experiências de trabalhadores rurais do baixo Tocantins (PA), que em parceria com a igreja católica progressista, trabalhavam numa lógica oposta aos grandes projetos à época da Ditadura Militar no Brasil. Nessa ocasião, em nome da garantia do uso da terra e da permanência do costume da agricultura em família ou em mutirão, foram formados os “animadores de comunidade” e os “sítios demonstrativos”, espaços de aprendizado da lida e de outras sociabilidades.

Para além dos artigos do dossiê, esta edição da RTA abrirá também espaço para mais duas partes, compostas por uma seção de artigos livres e um pequeno ensaio final. A seção livre trará temas como trabalho escravo, trabalho compulsório, família e um estudo sobre as possibilidades e análises de fontes para a escrita da História Social do trabalho. O texto de abertura da referida parte é de Maurício Guedes de Negreiros, que discutirá algumas problemáticas da composição dos trabalhadores nos seringais do Afuá (PA), trazendo interessantes referências sobre a presença de mulheres e crianças na lida extrativista. Ainda tratando da questão do trabalho, mas em outras perspectivas e temporalidades, o artigo de Paulo Marcelo Cambraia da Costa discutirá algumas dimensões da escravidão e dos recrutamentos forçados no território amazônico setecentista, dando especial atenção às populações negras e indígenas. Abordando a relação trabalho e migração, Francisco Bento da Silva expõe os dilemas vivenciados especialmente por haitianos, que utilizam o Acre como porta de entrada para o Brasil, através da panamazônia. A seção livre será fechada pelo texto César Augusto Queiroz, que mudará um pouco o encadeamento das discussões da seção (embora continue discutindo História do Trabalho), tratando de alguns melindres metodológicos do “fazer” historiográfico. O autor contribuirá com um rico debate resultante de experiências de pesquisa com processos crime – tipologia de fonte que tem tido forte presença entre vários historiadores da temática do trabalho.

Finda a parte dos artigos livres, a seção seguinte será composta pelo breve ensaio de Lauriane do Santos, mestranda da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), que em sua primeira viagem de pesquisa ao Arquipélago do Bailique (AP) buscou entender o cotidiano dos ribeirinhos e a atuação da justiça itinerante fluvial amapaense.

Ao final dessa apresentação ficamos com a sensação de que pesquisadores amazônidas estão protagonizando uma produção plural que atenta às mais diversas direções. Nessa perspectiva, a RTA se engaja como partícipe no esforço geral de divulgar e incentivar a produção de ainda mais trabalhos, enriquecendo ainda mais nosso conhecimento sobre a história da população amazônica.

Boa leitura!

Alexandre Cardoso – Doutorando em história social na Universidade de São Paulo

Lara de Castro – Doutoranda em história social na Universidade Federal da Bahia. Editora da Revista Tempo Amazônico.


CARDOSO, Alexandre; CASTRO, Lara de. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.2, n.1, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Del Cordobazo al clasismo: protesta obrera y alternativas culturales | Archivos de Historia del Movimiento Obrero y la Izquierda | 2014

El período que abrió el Cordobazo de mayo de 1969 en la Argentina estuvo caracterizado por el ascenso de las luchas obreras y la radicalización ideológico-política. Si bien ello desembocó en una situación finalmente canalizada por el regreso del peronismo al poder, en el transcurso fue perceptible el crecimiento de las fuerzas de la izquierda revolucionaria y la emergencia de una nueva vanguardia sindical-política, que en el campo específico de los trabajadores se corporizó en el llamado “clasismo”. La salida electoral de 1973, sin cerrar esa etapa, la matizó con otros elementos. El objetivo de este dossier, “Del Cordobazo al clasismo: protesta obrera y alternativas culturales”, es abordar ese intenso y convulsivo ciclo de cuatro años a partir de algunas de sus especificidades. Su título en cierta manera quiere recordar el texto que hace veinte años escribiera uno de los protagonistas de esta historia, Gregorio Flores: Sitrac-Sitram: Del Cordobazo al clasismo. Un elemento que le confiere originalidad al enfoque global aquí planteado es el entrecruzamiento que se propone entre las dimensiones de la historia social, política, intelectual y cultural.

El artículo de Mariano Mestman explora la dinámica de la protesta obrera ocurrida en ese tiempo desde un ángulo particular: en las maneras en las que el cine político argentino las representó. Coteja los modos en que se utilizaron las imágenes de las ocupaciones de fábricas y la lucha de calles. Encuentra una suerte de disputa visual entre las producciones fílmicas privilegiadas en el estudio, ambas de carácter emblemático: La hora de los hornos (1968), del grupo Cine Liberación, vinculado al movimiento peronista; y Los traidores (1973), del grupo Cine de la Base, vinculado al PRT-ERP. Martín Mangiantini refiere al nacimiento y desarrollo del Partido Revolucionario de los TrabajadoresLa Verdad, tras la ruptura ocurrida en 1968 con la fracción liderada por Mario Santucho. Analiza el posicionamiento político global de dicha organización trotskista en el contexto de los años del pos Cordobazo y, en especial, considera las estrategias y tácticas que aquella dispuso para su objetivo de “proletarización”, es decir, de intentar insertarse en la clase obrera, desde los sitios de trabajo, los conflictos y la participación en las organizaciones gremiales. Adrián Celentano se ocupa de algunas interpretaciones que, en el campo de la “nueva izquierda intelectual” surgida en la segunda mitad de los años 60, se efectuaron respecto de la secuencia política desarrollada entre el Cordobazo y el Viborazo (1969-1971). Leia Mais

Trabalhadores, Culturas e Movimentos Sociais / História & Perspectivas / 2014

A Revista História & Perspectivas apresenta neste número o Dossiê: Trabalhadores, Culturas e Movimentos Sociais, composto por artigos que trazem reflexões em torno da presença dos trabalhadores, da visibilidade de suas práticas socioculturais na arena pública e as diferentes configurações políticas que essas práticas assumem enquanto movimentos sociais contemporâneos. O nosso objetivo é o de contribuir com o debate, apresentando propostas investigativas com focos diferenciados de análises acerca desse eixo temático. Artigos cuja contribuição está, sobretudo, no apontamento das diferentes problemáticas vinculadas às culturas e experiências do fazer-se dos trabalhadores enquanto protagonistas da História.

O artigo de Mariana Mastrángelo tem como objetivo refletir sobre a existência de uma cultura operária esquerdista no interior da Argentina, a partir dos testemunhos de operários, intelectuais e militantes de esquerda que viveram em duas cidades da província de Córdoba, nas décadas de 1930-1940. Seu enfoque tem como suposto as reflexões de Raymond Willians, no que diz respeito a investigar a cultura em seus processos variáveis, em suas definições sociais e, também, em suas inter-relações dinâmicas, apontando que cada cultura contém elementos explorados de seu passado, mas o seu lugar no processo cultural contemporâneo é variável. Desse modo, através dos testemunhos recolhidos, a proposta é de analisar os problemas da memória elucidando na cultura dos seus protagonistas o modo como convivem os elementos “residuais”, “emergentes” e “dominantes” nos processos de narrar / significar / resignificar o presente-passado.

O artigo de Pablo A. Pozzi também parte dos supostos de Raymond Willians sobre cultura ordinária e estruturas de sentimentos, propondo analisar a longa tradição de consignas políticas que conformam cânticos, por exemplo, no “apego” cultural dos trabalhadores pelo futebol, e que também coroaram as participações nos movimentos nacionais de disputas políticas na Argentina. Refletindo as canções e metáforas da linguagem socialmente produzida nessas práticas culturais, o autor busca as articulações e significados das mesmas nos processos de tensão, conflitos e resistências vividos pelos trabalhadores em diferentes conjunturas políticas. Sua hipótese é a de que essa linguagem evidencia propostas programáticas, uma identificação de inimigos e / ou aliados e, em particular, elementos que apontam para a definição de uma “identidade própria”. Nas palavras do autor: a proposta é traçar por meio do estudo de uma série de cânticos e consignas políticas, a permanência de uma subjetividade política de esquerda durante parte do século XX argentino (…) vinculadas a figuras específicas que aparecem em distintos testemunhos de militantes políticos; o impacto do cântico quando o testemunhante busca explicar com maior profundidade um conceito repetindo algumas consignas apreendidas durante as participações nas mobilizações políticas.

Já o artigo Los Indignados de Latino América – de Antonio J. Chica Badel, Giovani Cheuiche Godoy, José María Monzón e Mércia Pereira – busca refletir sobre o que os autores consideram a força dos movimentos sociais nas lutas por melhores condições de vida, melhores oportunidades de trabalho e igualdade. Movimentos que contribuem para o questionamento de paradigmas que sustentam a ideia de uma sujeição tradicional e ou submissa ao sistema dos mercados globalizados. Segundo os autores, tais movimentos sociais reclamam autonomia em relação ao poder das forças econômicas que interferem na organização interna dos países da América Latina.

Outro artigo que contribui para as reflexões desse Dossiê é Breve história das jornadas de junho: uma análise sobre os novos movimentos sociais e a nova classe trabalhadora no Brasil, de Josué Medeiros. É uma reflexão sobre as novas configurações dos movimentos sociais focadas nos protestos ocorridos em junho de 2013 e que foram chamados de Jornadas de Junho. O autor trata esses protestos como novos movimentos sociais, pautado na análise sobre a constituição da nova classe trabalhadora no Brasil. A indagação é sobre a natureza política dos protestos, problematizando a maneira como foram difundidos pela imprensa periódica, atentando para ações e participações dos seus integrantes nas redes sociais, questionando sobre quem eram os agentes ou jovens, protagonistas desses protestos, o que reivindicavam por meio dessas ações, suas visibilidades na arena política mediante a conjuntura e suas propostas de intervenções. Questões que se articulam na hipótese de que as jornadas de Junho de 2013 no Brasil podem ser vistas enquanto um momento de afirmação de novas formas de organização coletiva e que podem ser relacionadas com o debate acerca da nova classe social ou da nova classe trabalhadora, diante das políticas dos governos pós-neoliberais no Brasil.

O último artigo do Dossiê é de Fernando Perli sobre a temática: Impressos, leituras de passado e configurações do ensino de História no Movimento dos Sem Terra (MST), no qual apresenta uma análise relevante sobre as propostas desse movimento no que diz respeito à produção das “representações de passado”, tecidas por lideranças, intelectuais e entidades de apoio como atos que delineiam um lugar para o ensino de História na organização do movimento. O autor faz sua interpretação pautando-se nos processos de produção dos impressos difundidos pelo MST.

Na seção dos artigos avulsos encontram-se textos cujas análises assentam-se em pesquisas sobre memórias, culturas e experiências de trabalhadores de diversas localidades do Brasil. A problemática da participação / organização dos trabalhadores nos movimentos sociais de bairro na década de 1980, no município de Toledo no Estado do Paraná, foi foco da pesquisa de Jiane Fernando Langaro. Em seu artigo, o autor analisa as trajetórias, os aprendizados dessas lutas, por meio das memórias dos seus protagonistas, primando por compreender os significados dessas experiências durante um processo tenso de busca por parte do poder publico municipal em institucionalizar as organizações, associações comunitárias, destacando, principalmente, o caráter de sujeitos históricos daqueles que se envolveram nessas lutas por direitos naquela cidade. Já o artigo de Rosangela M. Silva Petuba dialoga com as experiências dos trabalhadores e de suas famílias na cidade de Ponta Grossa (PR). O interesse foi demonstrar a maneira pela qual esses trabalhadores constituíramse ferroviários, por meio de um modo de vida, entendido como prática social, em que visões e projetos de viver, morar e trabalhar se articulam na vida da cidade e na ferrovia. Experiências que foram analisadas como outra possibilidade de diálogo com o tempo vivido e como alternativa para a construção de outras histórias da ferrovia e de sua relação com a cidade. Noutro enfoque, temos o artigo de Sheille Soares de Freitas e Carlos Meneses de Souza Santos cujo tema é: Laços de Violências em vínculos classistas: os trabalhadores rurais na porção Oeste do Paraná na segunda metade do século XX. A análise problematiza o modo como determinadas relações de poder, estabelecidas por trabalhadores rurais, podem extrapolar definições fragmentárias, indicadas em noções como “mundo do trabalho” e “cotidiano de trabalhadores”.

Ainda nessa seção encontram-se os artigos de Marco Antonio S. de Almeida, intitulado O que ocorreu com os trabalhadores desligados da indústria de transformação da microrregião de Juiz de Fora pós-abertura econômica?; de Antonio de Pádua Bosi – Uma História Social comparada do trabalho em frigoríficos: Estados Unidos e Brasil (1880-1970); e de Alysson Luiz Freitas, – A violência praticada por escravos e homens livres: crimes em comum? que tratam de temáticas relativas às mudanças nos processos de produção capitalista, a exploração do trabalho em situações distintas e comparadas e as transgressões e ou violências praticadas e vividas por trabalhadores em variadas relações de subordinação / dominação em diferentes temporalidades históricas.

Por último, o artigo de Alessandro de Almeida e Edwirgens A. Ribeiro Lopes de Almeida, intitulado Que Presidente sou eu? A telenovela como instrumento de propaganda eleitoral nas eleições de 1989, problematiza a produção de telenovelas pela empresa Rede Globo, no ano de 1989, como instrumento político que contribuiu para a vitória do candidato vinculado ao projeto neoliberal no Brasil.

Vale destacar a nova seção Debates criada nesse número e que aborda Sobre a Profissão do Historiador. Esta seção traz o posicionamento de duas Associações sobre este tema: a da Sociedade Brasileira de História da Ciência – SBHC e da Associação Nacional dos Professores de História – ANPUHNACIONAL. A profissionalização do historiador tem sido debatida em vários fóruns e é uma preocupação constante da ANPUH. A apresentação destes posicionamentos visa contribuir com a divulgação deste debate.

Por fim a seção Resenhas, com o texto: A atualidade do pensamento de Antonio Gramsci para a historiografia contemporânea de autoria de Heloisa Helena Pacheco Cardoso. A autora tece considerações sobre a importante presença dos referentes teóricos de Antonio Gramsci na historiografia brasileira, analisando os artigos publicados no livro intitulado Sociedade Civil. Ensaios Históricos, 2013, organizado por Dilma Andrade de Paula e Sônia Regina de Mendonça.

Celia Rocha Calvo – Conselho Editorial


CALVO, Celia Rocha. Trabalhadores, Culturas e Movimentos Sociais. História & Perspectivas, Uberlândia, v.27, n.51, 2014. Acessar publicação original [DR].

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Trabalhadores e Poder Municipal | Mundos do Trabalho | 2013

Organizadores

Cristiana Schettini – Pesquisadora do CONICET com sede no Instituto Interdisciplinario de Estudios de Género – Universidad de Buenos Aires. Professora no Instituto de Altos Estudios Sociales da Universidad Nacional de San Martín. E-mail: [email protected]

Paulo Terra –  Professor da Universidade Federal Fluminense, Polo Campos dos Goitacazes. E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

SCHETTINI, Cristiana; TERRA, Paulo. Apresentação. Mundos do Trabalho. Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 5-8, jan./jun. 2013. Acesso apenas pelo link original [DR]

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Estudios de género, trabajadores e izquierda | Archivos de Historia del Movimiento Obrero y la Izquierda | 2015

Existe hoy en día en la Argentina una extensa tradición historiográfica abocada al estudio de la clase trabajadora. Si hasta los años 80 hubo contribuciones aisladas en los ámbitos académicos sobre esta temática, en las últimas cuatro décadas las investigaciones se incrementaron constituyendo un vigoroso campo de estudios articulado por nuevas preocupaciones teóricas e históricas. Entre algunas de ellas se destaca el haber llevado al centro del análisis a los sujetos sociales propiciando una revisión sobre las formas de indagar en las estructuras socioeconómicas y materiales. Este cambio, hacia una historia cada vez más social, se produjo en buena medida por la influencia de historiadores británicos como Eric Hobsbawm, Raphael Samuel o Edward P. Thompson, que dieron lugar en los años 60 a la History from below (“historia desde abajo”) preocupada por valorar aspectos de la vida de los trabajadores como la cotidianeidad extendida del ámbito laboral a los hogares, las formas de inclusión de estos sectores en la vida barrial o comunitaria, los modos de experimentar el tiempo libre o las distintas sociabilidades colectivas. Poner en foco en el análisis estas experiencias implicó dejar a un lado los relatos que recuperaban la historia de la clase trabajadora a través de sus líderes u obreros más destacados para sumergirse en el trajín de la vida diaria de distintos sujetos. Sin dejar de prestar atención a las formas de protesta y a los repertorios de enfrentamiento con las patronales y el Estado, la clase trabajadora comenzó a ser vista como parte de un proceso histórico en el que ella misma se constituía como tal.1

En estas reformulaciones que se fueron sucediendo a lo largo del tiempo es donde las corrientes feministas hicieron pie y también aportaron y dinamizaron con nuevos interrogantes las formas de indagar en el pasado. Estos aportes provinieron de diferentes grupos, muchos de los cuales contaban con una fuerte raigambre de militancia política. Este aspecto es significativo porque el desarrollo de los estudios de género estuvo vinculado desde un comienzo con el devenir político y social del movimiento de mujeres que llevó a la confrontación de los saberes estatuidos dentro de los ámbitos universitarios. Fueron justamente las mujeres, que con su agencia social y política lucharon por la consecución de sus derechos, quienes empujaron a la legitimidad a estos estudios. Y a la vez fue desde estas experiencias académicas que en distintas oportunidades se impulsó la lucha por la ampliación de los derechos de las mujeres (Andújar y D’Antonio, 2008). Leia Mais

Trabalho e Trabalhadores / Revista Brasileira de História / 2012

Revista Brasileira de História, criada em 1981 com o objetivo de se constituir em um canal de divulgação da produção dos professores e historiadores brasileiros, está lançando seu 64º número. Com periodicidade semestral, a partir do número 59 a RBH iniciou uma nova etapa, passando a ser somente digital e a oferecer uma versão em inglês. Essas inovações visam agilizar a consulta dos volumes novos e antigos, bem como ampliar o escopo de circulação do periódico, permitindo que um público não conhecedor da língua portuguesa possa acessar nossa produção.

Neste número o Conselho Editorial elegeu o tema “Trabalho e Trabalhadores” para o Dossiê que, seguindo a trilha do anterior, também está sofrendo uma ampliação no que diz respeito ao número de artigos publicados. Como já dissemos, o interesse em publicar na RBH tem sido crescente na comunidade de historiadores e cientistas sociais, e a cada número aumenta o volume de contribuições para avaliação. Neste número, recebemos cerca de cem artigos apenas para o Dossiê, dos quais um montante expressivo foi aprovado pelos nossos pareceristas, sem que tenhamos condições de publicar todos. Essa nova demanda da produção historiográfica brasileira em busca de canais para internacionalização dos seus estudos é muito bem-vinda, mas coloca muitos desafios para a RBH e indica a necessidade não só de ampliarmos a extensão dos números, mas também de repensarmos sua periodicidade. Este número conta com 15 artigos.

Para o Dossiê “Trabalho e Trabalhadores” foram selecionados nove artigos focados essencialmente na realidade brasileira, com apenas dois dedicados aos Estados Unidos e a Portugal. No que diz respeito aos recortes temporais, pudemos selecionar textos que abordavam diferentes conjunturas, contemplando desde as relações de trabalho no final do século XIX até a problemática do trabalho análogo ao escravo, já no século XXI. Quanto às formas de abordagem, são apresentados trabalhos que adotaram como estratégia de pesquisa o estudo de trajetórias de lideranças, assim como análises de movimentos sociais como greves e lutas contra a repressão. Do conjunto de textos recebidos e selecionados podemos dizer que essa área de trabalho, que por um expressivo período se mostrou em declínio, apresenta-se agora com grande dinamismo e de maneira renovada. Assim, do ponto de vista historiográfico é possível detectar que esse campo de investigação sobre o trabalho dá indicações de voltar a ser alvo de grande interesse dos pesquisadores, conquistando um novo espaço entre os objetos nobres de pesquisa. Iniciamos com um artigo de Leon Fink que apresenta análise historiográfica com foco especial nos Estados Unidos sobre a renovação dos estudos na área de trabalhadores. Joana Vidal de Azevedo Dias Pereira estuda espaços industriais e comunidades operárias na periferia de Lisboa, na virada para o século XX. Joseli Maria Nunes Mendonça no artigo “Sobre cadeias e coerção: experiências de trabalho no Centro-Sul do Brasil do século XIX” trabalha com a história de uma imigrante portuguesa estabelecida no Centro-Sul cafeeiro de meados do século XIX, com o objetivo de recuperar aspectos das experiências vivenciadas por trabalhadores juridicamente livres; Endrica Geraldo com “Os prisioneiros do Benevente” discute a repercussão pública da deportação, no ano de 1919, de 23 imigrantes, incluindo o militante Everardo Dias, episódio que revela aspectos importantes da repressão contra o movimento operário no Brasil. Aldrin Armstrong Silva Castellucci com o texto “Agripino Nazareth e o movimento operário da Primeira República” analisa a atuação dessa liderança socialista no movimento operário brasileiro. Antonio Luigi Negro em “Não trabalhou porque não quis” examina como a Justiça do Trabalho tratou uma greve no ramo têxtil baiano em 1948, procurando aplacar temores e tensões do sistema político e sindical brasileiro. Clarice Gontarski Speranza em “Os mineiros de carvão, seus patrões e as leis sobre trabalho: conflitos e estratégias durante a Segunda Guerra Mundial” estuda uma série de conflitos ocorridos nas minas de carvão no Rio Grande do Sul em 1943, com foco nas lutas pelo cumprimento de leis trabalhistas. Cristiana Costa da Rocha com “Os Retornados: reflexões sobre condições sociais e sobrevivência de trabalhadores rurais migrantes escravizados no tempo presente” dedica-se ao estudo de trabalhadores rurais de Barras, Piauí, que migram repetidas vezes para os estados do Pará, Mato Grosso e Goiás e vivenciam formas de trabalho análogo à escravidão. Fechando o dossiê, Ângela de Castro Gomes no texto “Repressão e mudanças no trabalho análogo a de escravo no Brasil: tempo presente e usos do passado” analisa a ação dos Grupos de Fiscalização Móvel, do Ministério do Trabalho e Emprego, e da Igreja católica, pela Comissão Pastoral da Terra, na apuração e punição das denúncias da utilização do denominado trabalho escravo.

A seção de avulsos apresenta seis artigos. Carmen Teresa Gabriel Anhorn em “Teoria da História, Didática da História e narrativa: diálogos com Paul Ricoeur” tem por objetivo discutir a potencialidade analítica da categoria ‘narrativa’ na reflexão sobre produção, distribuição e consumo do conhecimento histórico. Muryatan Santana Barbosa com “A construção da perspectiva africana: uma história do projeto História Geral da África (Unesco)” analisa a construção dessa grande obra focando o período entre 1965 e 1979; Patricia Santos Hansen com o texto “Território em disputa: a escola na luta entre o republicanismo e a Igreja em Portugal (séculos XIX e XX)” discute conceitos centrais aos processos de secularização e laicização do ensino em Portugal desde a Monarquia Constitucional até o início da Primeira República. Luís Miguel Carolino em “Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, a Academia Real Militar do Rio de Janeiro e a definição de um gênero científico no Brasil em inícios do século XIX” analisa a atuação de um professor de astronomia na Academia Real Militar do Rio de Janeiro que produziu um dos primeiros manuais de astronomia esférica, um gênero maior da literatura científica do século XIX. Luiz Alberto Grijó com “Soldados de Deus: religião e política na Faculdade de Direito de Porto Alegre na primeira metade do século XX” aborda as ideias e concepções filosóficas que predominaram nessa Faculdade, focalizando as disputas entre os católicos e os chamados positivistas. Mara Rúbia Sant’Anna em “De perfumes aos pós: a publicidade como objeto histórico” trata dos anúncios de cosméticos publicados na revista Fon-Fon! de 1911 a 1934, com o objetivo de destacar as rupturas e continuidades.

Este número apresenta ainda entrevistas com os historiadores franceses Christian Delacroix e François Dosse e publica quatro resenhas: Adriana Duarte Leon analisa Boletim Vida Escolar: uma fonte e múltiplas leituras sobre a educação no início do século XX, organizado por Ana Maria de Oliveira Galvão e Eliane Marta Teixeira Lopes; Iara Lis Franco Schiavinatto apresenta Viagem ao Cinema Silencioso do Brasil, organizado por Samuel Paiva e Scheila Schvarzman; Maria Filomena Pinto da Costa Coelho analisa Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média central, de Leandro Duarte Rust, e, por último, Wolney Vianna Malafaia resenha História e documentário, organizado por Eduardo Morettin, Mônica Kornis e Marcos Napolitano.

Mais uma vez convidamos nossos leitores a consultar o site da Anpuh e do SciELO e baixar nos computadores ou nos leitores digitais os artigos de seu interesse.

Marieta de Moraes Ferreira


FERREIRA, Marieta de Moraes. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.32, n.64, dez, 2012. Acessar publicação original [DR]

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Os trabalhadores: experiência, cotidiano e identidades / Revista Brasileira de História & Ciências Sociais / 2011

Os estudos sobre o trabalho e os trabalhadores vem sendo, por décadas, uma espécie de indicador sensível das transformações pelas quais passou e passa a história em suas relações com as ciências sociais em geral. Temas de pesquisa, fontes, conceitos e categorias analíticas, modelos interpretativos, enquadramentos teóricos: nenhum dos grandes parâmetros fortes da disciplina passou intacto pelos muitos desafios intelectuais que deram forma ao campo historiográfico contemporâneo.

Mesmo uma análise breve e resumida do panorama dos estudos sobre o trabalho nas seis últimas décadas demonstra esse argumento eloquentemente: tomando como um ponto de partida qualquer (ainda que não inteiramente arbitrário), como os estudos dos historiadores marxistas britânicos que, desde os anos 1950, redefiniram a história da Inglaterra a partir do protagonismo dos trabalhadores, podemos identificar o impulso forte, que marca os desenvolvimentos mais importantes da história social, de integrar à história os instrumentos e perguntas das ciências sociais e da antropologia. Basta lembrar a originalidade do trabalho de alguém como Eric Hobsbawm, por exemplo, que em Rebeldes primitivos (1959) estudou as formas de resistência popular, mostrando como era possível ler a “política” dos grupos subalternos em suas atitudes de desafio da lei e da ordem, como no “banditismo social” do Cangaço. Não faz falta mencionar também outro originalíssimo Englishman, que foi Edward Palmer Thompson, cujos trabalhos sobre o “fazer-se” da classe operária inglesa, sobre as revoltas camponesas pré-industriais ou sobre as relações entre lei, costume e conflito social, foram fundamentais para colocar no centro da história social o tema da experiência e do protagonismo dos atores sociais, bem como mostrar a importância da interrogação sobre a “cultura” entendida em um sentido marcadamente antropológico. Desenvolvimentos e críticas posteriores, como o chamado “cultural turn” e os estudos de gênero, também se dedicaram a repensar categorias identitárias, colocando em causa a própria ideia do “trabalhador”, chamando a atenção para sujeitos e experiências sociais que foram por muito tempo negligenciados pelos estudos mais “convencionais” sobre o trabalho, tradicionalmente centrados nos trabalhadores da indústria (frequentemente do sexo masculino e sindicalizados) ajudando a formular a crítica a uma história do movimento operário que dava destaque unicamente às associações formais dos trabalhadores, bem como às ideias políticas dos seus membros mais destacados, dando como favas contadas a “identidade de classe” e o seu significado.

Foi também o campo amplo dos estudos sobre o trabalho que descobriu e redescobriu outros atores que por muito tempo ficaram à margem da narrativa mestra da história social: não apenas as mulheres (descobrindo, por exemplo, que a “classe operária tem dois sexos” [1]), mas também os escravos e trabalhadores livres pobres na cidade e no campo, os marginalizados, o mundo do trabalho “informal” e precário, o mundo colonial e pós-colonial, em suas dimensões sociais e culturais.

A despeito das inflexões e reviravoltas, das transformações teóricas e conceituais, o leque amplo de estudos a que estamos nos referindo não deixou jamais de reconhecer a centralidade do “trabalho” na experiência social contemporânea.

No Brasil, esse entrelaçamento entre os estudos sobre o trabalho no âmbito das ciências sociais e da história tem uma trajetória igualmente rica, marcada pelas trocas recíprocas e pela atenção constante sobre as transformações do campo político contemporâneo. Aqui, mais uma vez, é nesse horizonte intelectual e político que o influxo entre a história e ciências sociais aparece com mais força e consistência, como atestam os estudos seminais, produzidos já nos primeiros anos da década de1980 (não por acaso, em resposta ao momento político da democratização e do fortalecimento do movimento operário que contribuiu com a dissolução do suporte político da ditadura militar na década anterior), exemplificados por estudos como os de Emir Sader, Maria Célia Paoli ou José Sérgio Leite Lopes – entre outros –, que aliavam a pesquisa sociológica e etnográfica a um olhar profundamente informado pela reflexão histórica.[2] Um princípio inspirador que se manteve forte e que continua a mover os debates e a renovação dos estudos sócio-históricos ainda hoje.

Diversidade temática e regional, diálogo interdisciplinar e centralidade do trabalho são elementos que se entrelaçam no dossiê da Revista Brasileira de História & Ciências Sociais (RBHCS) que aqui se apresenta e que é dedicado aos estudos sobre os “Trabalhadores: experiências, cotidiano e identidades”. Nele encontramos de saída dois estudos etnográficos sobre o mundo do trabalho: O primeiro é um trabalho comparativo realizado por Marta Cioccari sobre um setor central da história operária – os mineiros – que foram protagonistas de algumas das mais significativas transformações ao longo do último século. Temas como “honra”, “orgulho do trabalho”, bem como os vários pertencimentos dos trabalhadores são investigados em duas comunidades mineiras distintas: Minas do Leão (RS) e em Creutzwald, na Lorena francesa. Flávio Ferreira, por outro lado, foca as relações entre o “tempo do trabalho” e o “tempo da festa”, também explorando o entrelaçamento e porosidade entre a esfera do trabalho e do “não-trabalho” em sua relação com a organização do tempo na Serra da Gameleira (RN). Na sequência, Jairo Falcão apresenta seu estudo sobre as memórias dos portuários de Porto Alegre, mostrando mais uma vez a importância da história oral para a reconstrução de dimensões difíceis de capturar em outros documentos, como as relações entre o trabalho, a memória e o corpo. Finalmente, um grupo de pesquisadoras na área de saúde em Santa Catarina apresentam seu diagnóstico de vida e saúde sobre um bairro de trabalhadores de Criciúma, focando elementos da violência urbana através dos registros da Delegacia da Mulher daquela cidade.

Como se pode ver, trata-se de um conjunto sugestivo de temas e de abordagens que marcam os artigos aqui apresentados, entrelaçando o interesse pelas permanências e tradições dos trabalhadores com dimensões absolutamente contemporâneas da sua experiência. Motivos mais do que suficientes para indicar fortemente a sua leitura.

Notas

1. A referência é do livro de Elisabeth Souza-Lobo, A classe operária tem dois sexos. Trabalho, dominação e resistência. 2a edição, São Paulo: Perseu Abramo, 2011 (1a edição de 1991).

2. Paoli, Maria Célia; Sader, Eder & Telles, Vera Silva. “Pensando a classe operária: os trabalhadores sujeitos ao imaginário acadêmico”. Revista Brasileira de História, Vol. 3, no. 6, 1983, pp. 1291-49. Sader, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da grande São Paulo (1970-1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Lopes, José Sérgio. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. São Paulo / Brasília: Marco Zero / CNPq, 1988.

Henrique Espada Lima – Professor Adjunto do Departamento de História da UFSC. Bolsista de Produtividade do CNPq.


LIMA, Henrique Espada. Apresentação. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Rio Grande, v.3, n. 6, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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Os trabalhadores e o mutualismo | Mundos do Trabalho | 2010

Em pouco mais de vinte anos, a historiografia brasileira dedicada ao “mundo do trabalho” conheceu significativas mudanças de paradigma. Aqui, na apresentação deste dossiê dedicado ao “fenômeno mutual”, não é preciso reforçar a importância das publicações e das análises de E. P. Thompson para a referida renovação. Sem abandonar categorias como “classe” ou “luta de classes”, o marxista inglês entendeu que era preciso compreendê-las como algo processual, dependente da agência (existe como atividade, trabalho) dos sujeitos históricos1 . Através de um novo olhar, fundado na experiência, perdiam espaços as concepções mais ortodoxas e mais estruturalizantes, que eram tão caras aos “velhos” marxistas. Contudo, é necessário destacar que, no Brasil, a introdução e a recepção da obra de E. P. Thompson também dialogaram com novas conjunturas. A História ganhava contornos mais profissionais, o país se redemocratizava, os sindicatos mais combativos se (re)organizavam e os movimentos sociais (re)emergiam, impondo suas agendas aos intelectuais de esquerda2 . Nesse movimento, portanto, as classes subalternas faziam pressão por legitimidade política, direito à memória e à ampla participação social. Leia Mais