O jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos | Luiz Alberto Oliveira Gonçalves

De autoria do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Gonçalves, que fez pós-doutorado em Sociologia pela Ecole des Hautes Etudes em Sciences Sociales (Paris-França), e da professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Petronilha Silva, que possui pós-doutoramento em Teoria da Educação pela University of South Africa (Pretória-África do Sul), o livro “O jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos” faz parte de uma coleção denominada “Cultura Negra e Identidades”, cuja coordenação é da educadora Nilma Lino Gomes.

A importância dessa obra é patente para quaisquer sujeitos. Serve tanto para o que educa, como para o que está se formando educador. Serve igualmente aos indivíduos que querem “apenas” praticar a ação de respeitar o outro.

O texto em questão possui como tema central o multiculturalismo, que é uma forma de questionar a ideologia etnocêntrica ou o eurocentrismo, e os desdobramentos dessa política identitária no mundo contemporâneo.

Dito de outra forma, “[…] o multiculturalismo desde sua origem aparece como princípio ético que tem orientado a ação de grupos culturalmente dominados, aos quais foi negado o direito de preservarem suas características culturais.” (p. 17).

Além disso, o multiculturalismo recoloca “[…] o problema da diversidade cultural no centro dos debates políticos de sua época, produz hiatos e descontinuidades na forma como as Ciências Sociais apresentam a sociedade a qual estudam.” (p. 22).

A obra é composta, além da Apresentação e das Referências, por quatro capítulos assim denominados: “O multiculturalismo e seus significados”, “Multiculturalismo e educação nos Estados Unidos”, “O multiculturalismo na América Latina” e “Estudos culturais e pesquisa em educação no Brasil”.

No primeiro capítulo os autores externam pormenorizadamente várias compreensões sobre o significado do que é multiculturalismo, bem como explicitam que inicialmente este tinha como centralidade a questão étnica e procurava dar visibilidade aos negros e indígenas, por exemplo. Posteriormente, o multiculturalismo passou a ser uma forma de defender também outras questões, tais como: gênero, preferência sexual, geração e pessoas que portam o que se chama de necessidades especiais.

Destaca-se ainda nesse capítulo as transformações alavancadas pelo multiculturalismo na sociedade em geral e as contribuições dele (dos agentes que o integram) para determinadas parcelas da população, sobretudo as contribuições no campo dos direitos civis e na área educacional.

O segundo capítulo analisa o surgimento do multiculturalismo nos Estados Unidos da América (EUA) e define quais questões o mesmo defendia e continua a defender nessa sociedade, tendo em vista que os primeiros estudos multiculturais datam do final do século XIX. São externados também os sujeitos que empreenderam lutas em prol dos direitos civis, da afirmação da cidadania e da participação ativa dos “excluídos” na sociedade norte-americana.

Para demonstrar como se deram essas questões foram explicitados os significados de inúmeros temas-assuntos, quais sejam: Black Studies, Estudos Negros, Africologia e o nome do seu fundador, filosofia afrocêntrica, afrocentrismo, Estudos Afroamercianos, Estudos Índio-americanos, Estudos Asiático-americanos, educação multicultural, pedagogia da eqüidade, aprendizado da diversidade e foram externadas também algumas críticas feitas à educação multicutural.

O terceiro capítulo trata do movimento multicultural na América Latina, em especial o brasileiro. Dentre os assuntos abordados, pode-se destacar a contestação da “imagem de paraíso racional” existente no Brasil, bem como o chamado “mito da democracia racial”. Esses elementos são desconstruídos à luz do multiculturalismo afrobrasileiro que, por sua vez, serve inegavelmente para denunciar e alterar a realidade de exploração na qual vivem milhões de agentes históricos.

Essa denúncia foi e é feita por meio da poesia, da música, da literatura militante e da corrente culturalista, em síntese, a Teoria da Negritude e a Teoria do Sujeito. Contudo, esse trabalho não é nada fácil, ao contrário, é extremamente complexo. O Estado, que possui o monopólio da força legalizada, ao procurar construir uma suposta identidade nacional, acaba, por exemplo, por inibir/coibir a pluralidade cultural de inúmeros povos.

Nesse sentido, o Estado nacional constitui-se como um objeto que também precisa ser re-significado pelos agentes multiculturalistas, tal como ocorre com os currículos escolares das instituições ensino, que são, de uma forma ou outra, o principal campo de atuação dos multiculturalistas.

Além desses assuntos, são mencionados no penúltimo capítulo os movimentos sociais que se engajaram na luta pelo respeito à diversidade cultural, ou seja, foram externadas as organizações afro-brasileiras existentes no Brasil e as políticas multiculturais por elas empreendidas para alterar os currículos escolares, para que os mesmos contemplem a diversidade cultural que compõe, efetivamente, a sociedade brasileira.

No último capítulo tem-se um estado da arte da produção científica realizada em Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, cujo tema central de investigação foi o multiculturalismo. Os dados não são nada favoráveis à produção multicultural. Apenas uma pequena parte das dissertações de mestrado e das teses de doutorado abordou a questão multicultural.

Na realidade, o que ocorre é que as políticas multiculturais ainda são pouco contempladas nos currículos escolares, tanto na Educação Básica como na Educação Superior, embora existam vários movimentos sociais lutando para ampliar o espaço de tais políticas. No dizer dos autores, “[…] não se têm claramente formulada uma proposta que garanta, em níveis acadêmicos, uma formação permanente de professores e uma política cultural de envergadura nacional.” (p. 96).

Por fim, vale frisar que o livro “O jogo das diferenças” é um instrumento muito relevante para evidenciar a diversidade cultural que compõe a sociedade brasileira. Sendo assim, quem faz a leitura da obra não pode negar que o Brasil e também o mundo são extremamente multiculturais. Portanto, quem nega a multiculturalidade acaba por negar também a sua própria história.


Resenhista

Nataniél Dal Moro – Mestrando em História PUC de São Paulo e Bolsista CNPq.


Referências desta Resenha

GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. O jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Coleção Cultura Negra e Identidades. Resenha de: MORO, Nataniél Dal. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 1, n. 2, jul./dez. 2007. Acessar publicação original [DR]

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