Os Estados Unidos na Era Trump / Esboços / 2017

Desde a emergência do fenômeno da Pax Americana no final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se mantém como a nação hegemônica do sistema internacional. Esta liderança se sustenta em uma série de mecanismos políticos, estratégicos, econômicos, sociais e culturais que a partir de 1945 influenciam a dinâmica das relações estatais e transnacionais. Seja para gerir a estabilidade, ou para gerar a instabilidade, os norte-americanos influenciam decisivamente os rumos da política global, mas se encontram cada vez mais imersos em suas contradições e fragmentações domésticas. Neste contexto, o objetivo desse Dossiê “Estados Unidos” pela Revista Esboços é apresentar uma análise histórica e contemporânea de alguns componentes internos e externos que caracterizam esta hegemonia, em constante processo de construção e desconstrução nos séculos XX e XXI.

Abrindo o Dossiê, o artigo “A presença do petróleo nos Estados Unidos: o hidrocarboneto na história de uma grande potência”, de José Alexandre Altahyde Hage, Doutor em Ciência Política pela UNICAMP e Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), apresenta um panorama sobre a questão energética nos Estados Unidos, traçando sua evolução desde os primórdios da exploração de petróleo internamente e seu peso como elemento de projeção global. Porém, energia e petróleo não se consistem nos únicos elementos desta projeção.

No texto seguinte “Do Estado empreendedor ao mito da não-intervenção: a inovação como instituição nos Estados Unidos”, o Professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Doutor em Relações Internacionais pela UNESP, Hermes Moreira Jr. aborda um tema central da liderança hegemônica e sua sustentação: a inovação como base do progresso e fortalecimento nacional, desmistificando, e comprovando, o peso do Estado neste campo, e a forte interdependência entre o setor público e privado neste país.

Por sua vez, no que se refere aos elementos de poder mais subjetivos, Matheus de Carvalho Hernandez em “Os Estados Unidos e as negociações sobre a criação do posto de Alto Comissário para Direitos Humanos” aborda um tema controverso nos Estados Unidos: os direitos humanos. Com isso, o autor, Doutor em Ciência Política pela UNICAMP, Professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), avalia, a participação da hegemonia em mecanismos de proteção e promoção dos direitos humanos, e as contribuições positivas e negativas dos Estados Unidos, para o debate sobre a governança multilateral neste campo.

Ainda no que se refere a direitos humanos, mas indo além deste recorte, com foco na relação bilateral Estados Unidos-Cuba, Alfredo Juan Guevara Martinez Mestre em Relações Internacionais pela PUC-MG, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU) e do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da UNESP (IEEI-UNESP) e Visiting Scholar na University of South Florida, no Institute for the Study of Latin America and the Caribbean (ISLAC) analisa esta interação estatal e suas particularidades: o antes e depois da Revolução Cubana, o contexto da Guerra Fria e o fim da bipolaridade, a questão cubana como tema de política doméstica e o papel dos grupos de interesse, as transformações do século XXI de Obama a Trump são algumas das temáticas abordadas.

Visando contextualizar estas transformações do ponto de vista interno a partir de 1989, Cristina Soreanu Pecequilo, Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), dos Programas de PósGraduação San Tiago Dantas UNESP/UNICAMP/PUC-SP, Economia Política Internacional UFRJ e Ciências Sociais UNESP, Pesquisadora do CNPq e do NERINT/UFRGS, delineia os fenômenos políticos domésticos que caracterizam os Estados Unidos no pós-Guerra Fria. O choque entre democratas e republicanos, as disputas inter e intrapartidárias, o peso dos atentados terroristas de 11/09/2001 e as transformações sociais, econômicas do país são contextualizadas para demonstrar a crescente polarização do país.

Esta polarização, a política doméstica, e seus impactos nas relações internacionais, o peso da religião e da Guerra Global Contra o Terror na sociedade estadunidense e seu sistema partidário são o objeto da reflexão em “God wants me to be President: o Papel do Cinturão Bíblico na Política Contra o Terror Durante os Governos de George W. Bush”, de Filipe Almeida do Prado Mendonça & Gabriel de Almeida Ribeiro, respectivamente Professor Adjunto do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia.

De um ponto de vista mais específico, Carlos Gustavo Poggio Teixeira & José Felipe Calandrelli Professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (PUC-SP/UNESP/UNICAMP), coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Política Externa dos Estados Unidos (NEPEU e Graduando em Relações Internacionais pela PUC-SP, pesquisador do Núcleo de Estudos sobre a Política Externa dos Estados Unidos (NEPEU) avaliam a trajetória do neoconservadorismo e a sensível avaliação do que Donald J. Trump representa neste espectro político em “Donald Trump e o Neoconservadorismo”.

Adiante, as contradições Trump e o fenômeno eleitoral a ele associado são também avaliados por Fernanda Magnotta & Victor Grinberg, em “Trump: Mídia, Opinião Pública e a Espiral do Silêncio” indicando a importância do papel da mídia no pleito de 2016. Os autores são respectivamente Mestre e Doutoranda pelo PPGRI San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI) e do Núcleo de Estudos sobre a Política Externa dos Estados Unidos (NEPEU) e Especialista em Mídia, Política e Sociedade pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), certificado em estudos de Marketing Digital e professor de Relações Internacionais e Ciências Econômicas da FAAP.

Fechando o dossiê, Corival Alves do Carmo Professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe e Mestre em Economia pela Unicamp, debate um dos tópicos mais latentes, contraditórios e eficientes da agenda de campanha presidencial em “Donald Trump: a resposta norte-americana aos efeitos desestabilizadores da globalização do capital: as críticas à globalização e os impactos econômicos que esta agenda poderá ter para o elemento econômico da hegemonia do país.

A partir deste conjunto de artigos espera-se oferecer uma importante contribuição aos estudos sobre Estados Unidos, nação muito comentada, mas pouco conhecida ainda em suas especificidades. Com isso, a revista Esboços abre novas perspectivas de debate, reforçando seu papel acadêmico na promoção do diálogo interdisciplinar na história, na sociologia, na ciência política e nas relações internacionais.

Cristina Soreanu Pecequilo.

Organizadora

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