Outros 1922: Modernismos e modernidades no Brasil | Projeto História | 2022

Ilustracao de Jose Lins do Rego. Detalhe de Capa de Jose Lins do Rego em quadrinhos de Iranildo Buriti e Megaron Xavier Imagem Livraria Cultura
Ilustração de José Lins do Rego. Detalhe de Capa de José Lins do Rego em quadrinhos, de Iranildo Buriti e Megaron Xavier | Imagem: Livraria Cultura

É com imenso prazer que apresentamos o n.73 da Revista Projeto História, do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A temática do dossiê dessa edição abarca a rememoração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna que se disseminaram pelo país, irradiando diferentes aspectos na literatura, música, artes visuais e outras importantes expressões.

Este número da Revista Projeto História é mais uma publicação que resultou das pesquisas cientificas de pesquisadores de outras universidades somadas as realizadas na PUC-SP, que se preocuparam em investigar questões tão pertinentes aos dias de hoje para qualquer disciplina, o que gera uma interdisciplinaridade. São olhares teóricos e simples sobre a modernidade de uma relevância representativa de um sistema cultural brasileiro.

A Semana de Arte Moderna é um tema bastante complexo e importante para as ciências humanas, sociais e culturais e para a discussão historiográfica. E vem se ampliando regularmente e se diversificando cada vez mais, devido as novas formas de sua interpretação. Com isso, estas novas resignações temáticas e recortes enriquecem os olhares que propomos nesta publicação.

Nossos pesquisadores atuam na disseminação e aprofundamento dessas ideias, a começar por:

Dossiê

Heraldo Márcio Galvão Júnior (UFPA) em seu artigo “A História Contada Pelos Dabacuris Selvagens: Antropofagia e Historiografia Da Amazônia” apresenta uma importante análise da aproximação entre o movimento antropofágico e a historiografia brasileira a partir das publicações do paraense Oswaldo Costa nas páginas da “Revista Antropofagia”, onde este, baseado em uma expressiva exposição historiográfica tece críticas a Varnhagen, Capistrano de Abreu, Eduardo e Paulo Prado, por estes autores não terem se detido em uma análise dos problemas brasileiros através da cultura. Mas sim e apenas, tiveram uma visão europeizante. Belo artigo e relevante caminho de reflexão.

A segunda contribuição que apresentamos é intitulada “Ecos de 1922: o Modernismo Paraense no Sistema Literário Brasileiro” de autoria de Fernando de Moraes Gebra (UFFS) que nos mostra uma profunda análise onde discute o sistema literário nacional, proposto por Antonio Candido, e dois subsistemas regionais culturais. Propõe o autor nesta caminhada uma visão da literatura produzida no Pará através da publicação de revistas e suplementos literários onde surgem as produções literárias regionais do modernismo nacional.

O terceiro artigo “Modernismo, Regionalismo e o Lugar Do Futebol na Ficção De José Lins do Rego: uma Leitura de Água-Mãe” sob a pena de Bernardo Borges Buarque de Hollanda (FGV-CPDOC), nos apresenta um texto original sobre a temática do futebol na história do modernismo brasileiro. Para isso, foca suas reflexões na trajetória do escritor regionalista José Lins do Rego, no Rio de Janeiro dos anos 40, sobre o romance “Água-Mãe”, onde abarca o imaginário nacional-popular mostrando as excelentes contribuições do ideário modernista ao longo da primeira metade do século XX.

Seguindo com o texto “Reverberações Da Semana De 1922: Di Cavalcanti “Antes De Tudo” Um Pintor Atemporal” de Ana Helena da Silva Delfino Duarte (UFU) e Rodrigo Freitas Rodrigues (UFMG), os autores deste magnifico artigo trazem à lume a importância de Di Cavalcanti comprometido com uma nova pesquisa plástica, aliada a outras tradições culturais brasileiras. Apresentam o debate intelectual sobre um projeto nacional onde o artista é a figura central para pensarmos as reverberações deste fenômeno moderno nas décadas seguintes destes 100 anos deste significativo acontecimento.

O pesquisador Marcos Valério Lima Reis (UFMA) em seu texto intitulado “Terra de Icamiaba de Abguar Bastos e a Fundação do Romance Amazônico” lança olhares atentos à literatura do escritor amazonense Abguar Bastos e sua importância literária na atuação no modernismo amazônico. Usando a obra de Abguar Bastos “Terra de Icamiaba” de 1931 reflete afirmando ser esta a materialidade para o Modernismo brasileiro na Amazônia.

Já o sexto artigo “Um “Ideal Moderno” nas Alagoas de Mãos Pretas” escrito por Anderson Diego da S. Almeida (UFRS) se debruça sobre a modernidade nas Alagoas em 1928 em “Festa da Arte Nova”, onde vislumbra um Estado Nacional que evoluía, embora tardiamente, para um futuro mais moderno. Apresenta o autor nesta pesquisa, temas que são abordados pelos artistas e pela população negra que crescia na cidade de Maceió. Analisa este fato como um reflexo dos significados da Semana de Arte de Moderna de 1922 em São Paulo, tão distante e diferente da realidade alagoana.

A contribuição “Um Paulista Rumo ao Brasil Profundo: Viagens, Tradições Populares e Engajamento Nacional em Mário De Andrade (1927- 1929)” de Alberto Luis Schneider (PUC-SP) e Samara Chiaperini de Lima (PUCSP) nos trazem Mário de Andrade no final da década de 1920, refletindo sobre as viagens que o escritor paulista realizou ao Norte (1927) e ao Nordeste (1928 -29) do Brasil. Segundo os autores, com base nos diários e crônicas do “O Turista Aprendiz”, livro póstumo que foi publicado em 1976, onde Mario de Andrade atribuiu a existência de um sentido nacional ao Brasil através das tradições populares, já manifestados também em Silvio Romero. O escritor de “Pauliceia Desvairada” construiu uma narrativa de respeito à cultura brasileira.

E por fim, o oitavo artigo “A Semana de Arte Moderna de 1992 Revisitada pela Dramaturgia de Carlos Queiroz Teles, Sob a Direção De Fernando Peixoto, no Contexto Da Resistência” de autoria de Rosangela Patriota (PPGEAHC – Mackenzie) e Alcides Freire Ramos (UFU) nos mostram a ressignificação das comemorações dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de (1972) analisando o Teatro da Resistência, de relevante expressão cultural e política durante a década de 70). Diversos artistas passaram a travar uma forte luta através de um discurso artístico. Centram os autores seus olhares no importante Teatro São Pedro administrado naquele contexto por Maurício e Beatriz Segall, que militaram ao lado de expressiva parcela da classe artística. O artigo retrata o contexto da resistência democrática à época.

Diante deste conjunto de textos que incorporam de forma exemplar em suas análises e temática, ou seja, a Semana de 22 em âmbito nacional sob a ótica da multidisciplinaridade. Os estudiosos que colaboraram com este número da Revista demonstram sensibilidade para criar com competência uma análise historiográfica importante e significativa. Nestas páginas, você leitor/leitora, terá acesso a uma rica narrativa realizada por estes pesquisadores.

Artigos livres

No artigo “Ki-Zerbo e M’bokolo Duas Gerações de Historiadores de Bilad Es-Sudan” de autoria de Larissa Oliveira e Gabarra (UNILAB-CE) de Heuler Costa Cabral (UFABC) são analisadas as abordagens historiográficas em KiZerbo e M’bokolo a partir das narrativas de Bilad Es-Sudan, com olhares distintos, do ponto de vista temporal, propondo uma perspectiva mais pontual sobre as novas disputas socais e políticas africanas.

Já em “Latinidades Lusófonas e Conservadoras: o Pensamento Político de António Sardinha (1887-1925) e Plínio Salgado (1895-1975) nas Redes Intelectuais Católicas entre Portugal e Brasil na Década De 1920” escrito por Pedro Ivo Dias Tanagino (PUC-SP) aborda os ideários da elite política e intelectual apresentando a latinidade conservadora que aparece nas obras de Antônio Sardinha e Plinio Salgado. Metodologicamente, o autor apresenta conceitos de sociabilidade, geração e itinerário – analisando as ideias políticas transnacionais do conservadorismo católico do Centro Dom Vital refletindo os processos de apropriação e ressignificação cultural.

Sob a pena José Weyne de Freitas Sousa (UNILAB) em “Planos De Assistência aos Desvalidos das Secas na Região Nordeste Do Brasil (1878-1915)” é trazida a discussão sobre a criação de planos assistenciais às populações desvalidas pela seca na região nordeste do Brasil.

Por fim em “Trabalho e Adoecimento no Governo Vargas (Paraíba, 1930- 1945)” de autoria de Leonardo Querino B. Freire dos Santos (IFPP), ao apropriou-se dos jornais de época “A União” e “Voz da Borborema”, alinhados com os grupos dominantes e “A Batalha” e um “Órgão dos Trabalhadores”, o autor analisa a vidas dos trabalhadores paraibanos entre 1930 e 1945 sob o fator de exploração realizada por uma política repressiva.

Entrevista

Neste número da Revista Projeto História, é apresentada a entrevista realizada por Luís Reznik (PPG História Social/UERJ e do ProfHistória/UERJ), Paulo Cesar Gonçalves (Unesp) e Rui Aniceto Nascimento Fernandes (DCH/UERJ e ProfHistória/PPGEH/UERJ), intitulada “Maria Izilda Santos de Matos: memórias, histórias e trajetória”. Onde é recuperada sua memória familiar, seus estudos na infância em São Paulo, a opção pela História como carreira no magistério, a experiência discente na USP, a escolha pela pósgraduação, a conciliação entre docência e pesquisa.

Resenha

A resenha de “História Social da Pobreza No Brasil: Fontes, Métodos e Interpretações” de Fabiano Quadros Rückert; Jonathan Fachini Silva, José Carlos da Silva Cardoso e Tiago da Silva César – de autoria de Avelino Pedro Nunes Bento Da Silva (UFAM), apresenta esta importante obra, que reúne pesquisas de colaboradores que abordam a concentração de capital no Brasil, como fenômeno social e político.

O autor Ênio José da Costa Brito (PUC-SP) resenha “Marco na Formação da Cidadania Negra No Brasil: O Massacre De 17 de Novembro de 1889” de Matheus Gato, O Massacre dos Libertos. Sobre Raça e República no Brasil (1888-1889) de Matheus Gato traz nesta resenha o fato ocorrido em São Luis do Maranhão durante o processo da instauração da república no Brasil, chamado Massacre de 17 de novembro. Tratou-se da mobilização da esfera negra da cidade que protestava contra a Proclamação da República em frente ao jornal “O Globo” sobre um boato que o golpe militar iria restaurar a escravidão. De forma inteligente, o autor nos traz de forma sagaz este importante ocorrido.

Notificação de Pesquisa

A historiadora Ma. Bruna Carolina de Oliveira Rodrigues expõe a pesquisa “Festival Internacional de Cinema do Brasil (1954) – um Retrato pela Imprensa”, sobre o Festival que poderia ter sido um grande momento na história do cinema brasileiro, mas acabou causando mágoas e revelando fragilidades no setor cultural.

Boa leitura.


Organizadores

Yvone Dias Avelino – Professora Titular na PUC-SP. E-mail: [email protected]   ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6786-0572

Aldrin Moura Figueiredo – Professor Titular na Universidade Federal do Pará. E-mail: [email protected]  ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2705-7782


Referências desta apresentação

AVELINO, Yvone Dias; FIGUEIREDO, Aldrin Moura. Apresentação. Projeto História. São Paulo, v. 73, p. 3 – 8, jan./abr. 2022. Acessar publicação original [DR]

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