Pensamento histórico: teorias, métodos, conceitos / Revista de Teoria da História / 2011

Consolidando o debate sobre a pertinência da Teoria da História para o desenvolvimento do pensamento histórico, este número visa instigar reflexões acerca de sua relação com o trabalho conceitual e metodológico.

Abrindo o Dossiê Pensamento histórico: teorias, métodos, conceitos, o artigo do Professor convidado José Carlos Reis, O lugar da teoria-metodologia na cultura histórica, trabalha a necessidade da reflexão teórico-metodológica em todos os âmbitos do pensamento histórico, evitando restringi-la a etapas isoladas do fazer historiográfico, incorrendo em uma compartimentação estanque na própria pesquisa historiográfica e na cultura histórica em geral. Para o professor, tal reflexão deve ultrapassar as demandas institucionais da História como disciplina acadêmica.

Perpassando de maneira igualmente abrangente e profunda o âmbito do pensamento histórico, em suas diversas formas, está a contribuição de Dominique Vieira Coelho dos Santos. Em seu artigo Acerca do conceito de representação, ele problematiza uma questão premente nos estudos culturais, especialmente no contexto da discussão sobre a pós-modernidade: a representação como ponto central de diversas reflexões teóricas sobre as possibilidades do conhecimento das coisas humanas.

Neste sentido, são complementares as reflexões de Luana Neres de Sousa, em seu artigo Objetividade e Intersubjetividade: uma análise acerca da pretensão de cientificidade na História. A autora apresenta as discussões sobre a objetividade desde a constituição da História como ciência, passando pelas críticas ao “positivismo”, e pelas atuais polêmicas na historiografia acerca do caráter científico da história, buscando articular o pensamento sobre a consciência histórica em Jörn Rüsen e o problema das identidades em Stuart Hall.

Aprofundando o debate a respeito da proximidade entre os campos histórico e ficcional, Warley Alves Gomes, em seu artigo O fingir historiográfico: a escrita da história entre a ciência e a ficção, trata das polêmicas acerca do imbricamento de elementos ficcionais na operação historiográfica, desde os textos fundadores de Hayden White, Michel de Certeau e Carlo Ginzburg até as refinadas contribuições de Luís Costa Lima.

Ainda a respeito do diálogo entre história e literatura, os apontamentos de Lainister de Oliveira Esteves se concentram no problema do uso de fontes literárias para o conhecimento histórico. Em seu artigo História e Literatura: possibilidades do fazer historiográfico, ele discute a historicidade da literatura e suas potencialidades documentais a partir do projeto literário do escritor norte americano Henry Miller.

Partindo para o campo da história oral, a reflexão metodológica de Antônio Marcos de Almeida Ribeiro sobre este tipo de abordagem em História Oral Brasileira: trajetórias e perspectivas, busca traçar o panorama de sua prática na historiografia brasileira, estabelecendo os momentos decisivos de sua consolidação.

Em seu artigo Da premissa metafísica à história do sentido: a verdade em questão e sua concepção como objeto em Nietzsche, Sérgio Campos Gonçalves apresenta, a partir de uma exegese, como o filósofo alemão desloca a questão da verdade das reflexões essencialmente metafísicas para o âmbito da crítica histórico-filosófica.

Aproximando o pensamento antropológico dos problemas da Teoria da História pela via da crítica pós-estruturalista, o artigo de Philippe Delfino Sartin, Sobre liminaridade: relendo Victor Turner em chave pós-estrutural, apresenta algumas propostas para a concepção dos objetos na pesquisa historiográfica, discutindo a relação entre as noções de indivíduo e estrutura.

Isadora Tavares Maleval em seu artigo Bento Mure e a querela médica nas páginas da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1847, ressalta os aspectos institucionais, políticos e ideológicos que envolvem a construção do conhecimento histórico, a partir de uma análise dos eventos conflituosos envolvendo um médico homeopata e o IHGB nas tentativas de se produzir uma imagem homogênea do Instituto, com o intuito de legitimar um projeto político para o Brasil Imperial.

O artigo de Rodrigo Oliveira de Araújo, Ensaio sobre a historiografia da formação do capitalismo brasileiro sob a perspectiva teórico metodológica de João Bernardo, apresenta um balanço historiográfico a respeito do capitalismo no Brasil, enfatizando, a partir das teorias do pensador português, a superação de uma perspectiva estritamente burguesa e a formação de uma nova categoria no interior da luta de classes: os gestores.

O último artigo, Da revolução, a modernidade e o progresso: a emergência da filosofia da história em Kant, Hegel e Marx, de Ruben Maciel Franklin, versa sobre a relação entre o pensamento sobre os eventos dos séculos XVIII e XIX, e as emergentes filosofias da história, centradas nos conceitos de progresso, modernidade e revolução, desde o pessimismo dos poetas Goethe e Baudelaire à análise marxiana da luta de classes, apontando os caminhos para a construção do moderno conceito de história.

Finalizando o presente volume da Revista de Teoria da História, temos ainda a resenha de Alexandre Cursino sobre o livro de Jack Goody, O Roubo da História, recentemente traduzido para a língua portuguesa.

Os Diretores.


ALVES, Frederick Gomes; BORGES, Clayton F. e F.; SARTIN, Philippe Delfino. OLIVEIRA, Flávio Silva de. Apresentação. Revista de Teoria da História, Goiânia, v.6, n.2, dez, 2011. Acessar publicação original [DR]

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