Religion, Politics and International Relations: selected essays | Jeffrey Haynes

Fruto de uma preocupação maior com o impacto de atores não-estatais religiosamente motivados no sistema internacional, o estudo do fenômeno religioso nas Relações Internacionais é uma tendência relativamente nova dentro da área no Brasil e no exterior. Em especial, os atentados de 11 de setembro trouxeram à tona a necessidade de um entendimento maior de como aspectos ligados a religiosidade e a prática de valores ligados a aspectos transcendentais podem impactar decisivamente no relacionamento político entre os países.

Frente a essa preocupação, é notório no Brasil o aumento de estudos, teses e artigos sobre a temática da religião, com especial ênfase à influência da mesma na política externa dos EUA. Não obstante, nota-se ainda a necessidade de uma ampliação desse debate, com um rigor maior no uso dos conceitos e na clarificação de como a religião pode ser entendida em diferentes atividades políticas domésticas e internacionais.

Diante do contexto acima exposto, a obra de Jeffrey Haynes busca preencher algumas lacunas no sentido de contribuir na sistematização do estudo sobre a religião nas relações internacionais. O autor vem se destacando nas últimas décadas no estudo da temática, com inúmeros artigos publicados e papers apresentados em importantes eventos de relações internacionais e ciência política. Sua obra compila as mais relevantes dessas contribuições acadêmicas, atualizadas em 17 capítulos e dividida em duas partes.

Nos primeiros oito capítulos, Haynes discute o conceito de religião e dá especial ênfase ao exame da sua importância na arena política e social contemporânea. Já nos capítulos conseguintes, o autor se preocupa especificamente com a religião nas relações internacionais. Entre cada capítulo de cunho conceitual, o autor intercala estudos de caso focalizados especialmente no contexto africano e norte-americano, porém sem deixar de lado o impacto dos grupos religiosos na política externa de nações importantes no cenário internacional como Turquia, Irã e Índia.

No conjunto da obra, alguns capítulos se destacam pela qualidade analítica que permite guiar adequadamente novos pesquisadores na temática. No capítulo 2, por exemplo, Jeffrey Haynes fornece uma valiosa revisão bibliográfica dos conceitos de religião aplicados à ciência política e relações internacionais e que têm sido utilizados nos últimos anos. Traz também um debate que é central para Haynes na compreensão do aumento da importância da religião nas relações internacionais: a ênfase dada no mundo atual para a ideologia secular e o avanço da modernização. Segundo ele, essa ênfase impulsiona grupos religiosos de se autoafirmarem em um mundo complexo e multifacetado pelo avanço do processo de globalização.

Quando o assunto é o fundamentalismo religioso, o livro dá especial atenção ao Islã (Cap. 3). Essa é uma tendência no pós-11 de setembro dentro da academia norte-americana que singulariza a questão de maneira inadequada, não mostrando a fundo que o fundamentalismo pode ser de diversos matizes. Embora Jeffrey Haynes não consiga se desvencilhar totalmente dessa tendência, é digno de nota o fato de o autor buscar superar a ideia de que somente o Islã teria práticas fundamentalistas que afetam a política entre as nações. Como colocado por Haynes, não se pode perder de vista que há grupos fundamentalistas como Santi Asoke (budista), Gush Emunin (judaísmo) e vertentes cristãs na Nigéria e Estados Unidos – apenas para citar alguns exemplos – que guardam uma importância singular na pressão política através de métodos violentos na busca de atingir seus objetivos junto a governos e nações.

Por fim, cabe destacar que essa obra ajuda a quebrar um importante paradigma de que a religião seria fonte somente de conflitos. Principalmente nos capítulos 5, 7, 8, 12 e 13, o autor demonstra que a religião pode ter um papel fundamental na resolução de conflitos e na construção da paz, ainda que com fricções e pontos passíveis de debate. Para Haynes, mais do que simplesmente indicar a função desestabilizadora de grupos religiosos, caberia também compreender o lado positivo da questão, já que atores não-estatais de matiz religiosa moderada e pacífica são capazes de resolver conflitos internacionais e criar diálogos inter-religiosos que contribuem na manutenção da paz – fato visto nas últimas décadas no Camboja, Moçambique, Nigéria, entre outros.

À guisa de conclusão, pode-se afirmar que essa obra compila as importantes contribuições no estudo da religião e relações internacionais de um autor que é referência na área. Ainda que se possam ter críticas relacionadas à singularização do autor na conceituação de fundamentalismo religioso ou no entendimento da díade etnia/ religião, sua obra guarda uma importância fundamental em introduzir a temática e em sistematizar conceitos e agendas de pesquisa. Além disso, o objeto de estudo do livro é um tópico proeminente nas relações internacionais contemporâneas que promete continuar a ser objeto de análise diante da relevância de atores não-estatais de matiz religiosa na arena internacional.


Resenhista

Marcos Alan Shaikhzadeh Vahdat Ferreira – Docente do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

HAYNES, Jeffrey. Religion, Politics and International Relations: selected essays. New York: Routledge, 2011. Resenha de: FERREIRA, Marcos Alan Shaikhzadeh Vahdat. Meridiano 47, v.13, n.133, p.54-55, set./out. 2012. Acessar publicação original [DR]

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.