Sujeitos, espaços e tempos históricos. Edição Especial: egressos do curso de História | Revista Historiar | 2020

Caros leitores da Revista Historiar apresentamos o número 23, de julho a dezembro de 2020, uma edição especial, diria até, celebrativa pela alegria de estarmos vivos e congratulando conquistas. Como as futuras gerações lerão o nosso tempo?

Aqui, no presente, percebemos como um ano de impacto mundial de saúde pública, pandemia causada pelo novo corona vírus (Covid 19), o que nos faz sentir os dramas de sua repercussão na vida cotidiana. “O dia em que a terra parou…”, como previu a música de Raul Seixas, em 1977.

Um tempo em que perdemos milhares de vidas para uma única doença, nossas famílias foram abaladas, e ainda não sabemos quantas mais. Vivemos em dúvida de quem irá sobreviver (até a cobertura completa da vacina em toda população) e se os governos terão sabedoria em agir com justiça social.

Estamos aprendendo com as lições do passado, advindas da experiência com outras pandemias, que os caminhos, os saberes e a responsabilidade dos pesquisadores, dos cientistas e dos governos salvam vidas. Os conhecimentos científicos (em todas as suas áreas), se bem aplicados, apresentam possibilidades de vitória e, assim, no contexto da atual pandemia, é preciso seguirmos com os protocolos sanitários: higiene, afastamento social, encontrar vacina adequada, criar teia de solidariedade… cada um desses caminhos impacta em todos os segmentos sociais.

O que nos coloca a refletir ainda mais sobre o sentido da vida, de estar no mundo. A questão muitas vezes é: como manter a rotina em um tempo tão conturbado e em isolamento social? Vivenciar uma rotina de sociabilidades, através do espaço virtual, que se fortalece cada dia mais, é o que tem nos mantido em movimento. Trazer leituras históricas a público é uma resistência ao tempo do medo e da insegurança. É o que nos inspira a esperança, também.

Em tempo de pandemia, o ato de celebração da vida tem sabor de alívio, de estarmos ganhando tempo. Tempo, que é uma categoria tão cara ao historiador, e aqui lembramos sobre a história do Curso de História da UVA, que em 2021, completará 60 anos de existência e resistência. Uma alegria e conquista para toda região do sertão norte e noroeste do Ceará.

E como celebração de uma data tão significativa, como comemorar?

Comemora-se compartilhando as pesquisas de nossos egressos. Agradecemos aos nossos alunos que nos presenteiam com seus escritos, ao aceitarem enviar seus artigos para essa Edição Especial. A leitura de cada texto enviado, faz-nos lembrar dos jovens calouros, tímidos ao falar nos seminários, das avaliações subjetivas, a quem eram instigados para escrever de três a cinco páginas, e isso sendo potencializado a cada semestre, com suas inserções nas oportunidades que o curso de História lhes oferecia (e oferece), como nos engajamentos em Monitoria, Programa de Educação Tutorial – PET, Centro Acadêmico, no Programa Institucional de Bolsa Iniciação à Docência – PIBID, no Programa Institucional Residência Pedagógica – PRP, até o momento da grande conquista, ao defender seu TCC, o que representa o compartilhamento conosco de seu crescimento intelectual, acadêmico e profissional. Aqui acompanhamos como alçaram voos, ao concluírem o curso de História da UVA, e ingressarem em seus mestrados e doutorados, nas diversas universidades públicas do país.

Recebi com honra, alegria, sorrisos e satisfação o convite para apresentar a Edição Especial Alunos Egressos, representando os bons frutos gerados a partir da sua formação inicial. Formação essa que, ainda, na década de 1990 incluiu a pesquisa na formação do professor de História da UVA, denotando, no percurso do curso, o seu compromisso com o ensino e pesquisa em História.

Convidamos a todos(as) leitores para conhecerem os seis artigos que compõem essa Edição. A pluralidade de temáticas, recebidas na formação de Historiador(a) e que faz parte da sua leitura de mundo, são temas importantes para compreender o contemporâneo, mesmo indo ao estudo do passado longínquo, abordando temas como política, educação, movimentos sociais, patrimônio…

Iniciamos com o artigo “Uma análise da prática docente no ensino de história e cultura afro-brasileira e africana”, de Francisco Moreira de Albuquerque, em que debate o ensino como desafio de colocar a lei afirmativa em prática docente no ensino de história e cultura afro-brasileira e africana a partir da implementação da Lei nº 10.639, de 2003. Articula na experiência de ensino na Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora da Piedade, na cidade de Coreaú/CE, problematizando os desafios enfrentados na sala de aula e nos apresenta que os caminhos precisam ser percorridos para a construção a cidadania e respeito às questões étnicas no cotidiano escolar. O autor foi aluno no Curso de História da UVA nos anos de 2000 – 2004, é professor de História da rede municipal de Coreaú – CE, é aluno no Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA USPI/UFRJ).

O ensino também é uma problemática no artigo “Entre verdades e versões: desafios do ensino e da produção do conhecimento histórico, de Anandrey Cunha, em que discute sobre as questões em torno das funções do ensino de História na contemporaneidade, sobre limites e intencionalidades do revisionismo valorizando, se não a cientificidade, mas a ética e o compromisso com a verossimilhança para com o passado e os desafios em torno de uma educação integral para o século XXI. Destacamos que o autor foi aluno do Curso de 2013 a 2018, sendo bolsista do PIBID/UVA/CAPES, entre 2013 a 2018, atualmente é aluno no Mestrado Profissional em Ensino de História – PROFHISTÓIRA UESPI/UFRJ.

Sobre a lente da nova história política o artigo “Família e Poder no Ceará: uma Abordagem Histórica (1830-1846)”, Bruno Moreno Soares apresenta a atuação da família Mourão no território colonial denominado Vila Nova D’ell Rei, que fazia parte da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, onde atualmente estão situados os municípios de Ipu e Guaraciaba do Norte, você conhecerá, nas palavras do autor: “…um contexto de instabilidade em que liberais e conservadores se sucediam indiscriminadamente no poder, contribuíram para que as desavenças familiares se estendessem à esfera pública. Discutir essas ambiguidades é importante para compreendermos o passado, mas também o presente, já que essas práticas ainda encontram muito espaço nos dias atuais”. Bruno Soares foi aluno na UVA nos anos de 2013 a 2017, dois quais de 2015 a 2017 foi bolsista do PIBID/UVA/CAPES.

Seguindo as páginas encontramos a leitura do artigo de Vera Lúcia Silva que apresenta uma discussão sobre os trabalhadores que formavam o Serviço de Promoção Humana (SPH), buscando conhecê-los na perspectiva da história social, cultural, na cidade de Camocim – CE, anos 1960 a 1970. Tema que ela se apaixonou desde a graduação. Seu texto demonstra sua maturidade acadêmica, uma escrita de escuta e força sobre movimento em busca de prática social. A autora foi aluna no Curso de História da UVA de 2007 a 2011, nesse período foi monitora, bolsista de Iniciação Científica da Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa – FUNCAP, anos 2009 a 2010. Sempre muito engajada e responsável, seguiu nos estudos de pós-graduação, fez especializações, Mestrado em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU e doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Chegamos ao texto “Ribeira do Acaracú: algumas notas sobre a expansão de fronteiras, colonização e os povos sob um contexto agropastoril na periferia da América Portuguesa”, de Maria Rakel Amâncio Galdino, em que analisa a situação dos nativos, os interesses dos colonizadores e outros trabalhadores em movimento, sua pesquisa foi construída utilizando fontes cartorárias, paroquiais e administrativas, em que problematiza que as entradas na região foi formada por um contexto multiétnico, nas sociabilidades das fazendas, povoações e vilas, formando a massa de trabalhadores compondo o tecido social complexo, sobre os séculos XVII e XVIII; eis uma boa leitura sobre o mundo do trabalho em Sobral. A autora foi aluna de graduação nos anos 2004 a 2010, anos que foi atuante e sendo voz estudantil, muito participativa nas aulas, com criticidade e desenvoltura. É Mestra em História Social pela Universidade Federal do Ceará – UFC, e professora da rede pública do Estado do Ceará, e para nossa grata satisfação hoje é preceptora do Programa Residência Pedagógica/CAPES, na área de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú.

Ainda sobre Sobral, o artigo “Notas sobre a demarcação do passado no espaço urbano: o caso das estátuas de Albert Einstein e Belchior em Sobral – CE”, de Edcarlos da Silva Araújo, apresenta uma das marcas identitárias da cidade: política de preservação patrimonial, numa historiografia cultural que você irá percorrer no espaço urbano contemporâneo de Sobral e reconhecendo as marcas do passado. Vale a pena a leitura! O autor foi estudante de História na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), nos anos de 2014 a 2018, período em que foi bolsista do PET, estagiário como mediador cultural do Centro de Referência Cultural e Histórica de Sobral Casa do Capitão-Mor José de Xerez Furna Uchoa, anos de 2015 a 2016. Atualmente é Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – PPGH/UFRN.

Seis jovens estudantes do Curso de História da UVA, em diferentes gerações, hoje autores nessa Edição Especial, através de sua escrita historiográfica nos permitem materializar o poder da educação na vida dos indivíduos e das instituições, ao fortalecerem a historiografia brasileira. Nós professores universitários estamos felizes em contribuir com crescimento de cada um e aplaudimos suas caminhadas e conquistas.

Para ir finalizando, vale ressaltar que no dicionário, a palavra “egresso” quer dizer “que se retirou, que se afastou” ou “que não mais pertence a um grupo”. Nessa Edição queremos registrar que nossos Egressos pertencem à nossa história, fazem parte dos 60 anos e de todos os próximos. Pois a dialética nos permite entender que cada um leva e deixa um pouco de si e do outro.

Aos autores e familiares dos autores, os parabéns são extensivos a eles também, que construíram caminhos de valorização da educação, que foram seguidos por esses que trilharam um excelente caminho e hoje conseguem encantar e esperançar novas gerações.

A todos e todas: boa leitura!


Organizadora

Chrislene Carvalho dos Santos Pereira Cavalcante – Possui graduação em História pela Universidade Federal do Pará (1994), graduação em História pela Universidade Federal do Pará(1994), especialização em Teoria e metodologia da história pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (1998), mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2000), doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas(2005), pós-doutorado pela Universidade Federal do Pará (2012). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Professora PARFOR da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação e professora do Centro Universitário UNINTA.E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

CAVALCANTE Chrislene Carvalho dos Santos Pereira. Apresentação. Revista Historiar, v.12, n.23, jul./dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

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