Transnational Homosexuals in Communist Poland: CrossBorder Flows in Gay and Lesbian Magazines | Lukasz Szulc

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Lukasz Szulc | Imagem: Studies in Etnicity and Nationalism

O termo Guerra Queer é empreendido pelos teóricos queer a fim de compreender as disputas políticas transnacionais sobre questões LGBTI+ que acabam interseccionando entendimentos diversos sobre cultura, tradição e direitos humanos (ALTMAN; SYMONS, 2016, p. 17).1 O termo guerra ilustra nesses debates as polarizações travadas entre regiões supostamente pró-direitos LGBTI+ e aquelas a priori homofóbicas e opositoras aos discursos sobre direitos humanos que contemplariam questões de diversidade de gênero e sexualidade. O caso russo – particularmente com as recentes legislações LGBTfóbicas – é ilustrativo para a concepção de Guerras Queer.2 O país vem se subscrevendo a uma concepção de contraponto aos modelos europeus ocidentais. Dentro dessa lógica discursiva, a Europa Ocidental tem sido projetada como um tipo de civilização degenerada, tendo suas expressões de homossexualidade, os feminismos e a legalização do casamento civil homossexual interpretados como sinais de destruição da família e da masculinidade – os quais, de acordo com tais posicionamentos, seriam sinais evidentes de fraqueza (RIABOV; RIABOVA, 2014, p. 29). O caso polonês seria um representante recente desses conflitos, em particular a partir da proclamação de “zonas livres de LGBT” por governos regionais e municipais entre 2019 e 2020 (ŻUK; PLUCINSKI; ŻUK, 2021). Portanto, as questões LGBTI+ alcançam cada vez mais protagonismo no cenário global político em torno das discussões sobre direitos humanos.

Entretanto, para se analisar as Guerras Queer é necessário partir da constatação de que tais discursos estão “pobremente embasados em diferenças ‘essenciais’- ‘naturais’ ou ‘tradicionais’ – entre regiões particulares” (SZULC, 2018, p. 224, tradução nossa). Nos casos aqui mencionados, a diferenciação é largamente embasada em noções essencialistas que observam uma presumida imposição ocidental de modos particulares de cultura e direitos humanos. Nesse sentido, a obra “Transnational Homosexuals in Communist Poland: Cross-Border Flows in Gay and Lesbian Magazines”,3 de Lukasz Szulc (2018), é uma relevante contribuição a fim de problematizar os essencialismos que embarcam as Guerras Queer e de sublinhar a potencialidade de um empreendimento que entrecruze uma visão transnacional e/ou global com as historiografias LGBTI+.

Lukasz Szulc é doutor em Filosofia e Comunicação e sua obra foi escolhida como parte de uma série de publicações intitulada Global Queer Politics.4 Com seu livro, o qual aborda aspectos transnacionais do movimento homossexual polonês através de periódicos no decorrer dos anos 1980, Szulc faz duas contribuições principais para a História. Ao se voltar para a homossexualidade no contexto polonês anterior ao ano de 1989, Szulc atesta uma rede de fluxos e trocas multidirecionais que opera como impulsionadora pela construção de um movimento homossexual no país. Ou seja, sua investigação é uma contribuição para a História LGBTI+ global – a qual ainda é largamente centralizada nos ativismos e nas identidades dos Estados Unidos e da Europa Ocidental – como também para a própria História da região – em especial a forma como ainda se lê as dinâmicas atrás e através da Cortina de Ferro.

No primeiro capítulo são apresentados os principais mitos sobre a região da Europa Central e do Leste (ECL) no contexto da Guerra Fria, especialmente relacionados às questões sobre sexualidade.5 Há uma série de concepções que o autor pretende contestar, entre elas se destacam aquelas que observam a região como homogênea em relação à homossexualidade; ou então os discursos que observam os processos políticos, sociais e econômicos de 1989 como uma transição direta a concepções ocidentais sobre ética, democracia, entre outros. Além disso, o pesquisador sublinha o mito largamente subscrito sobre a ideia de total isolamento da ECL atrás da Cortina de Ferro, o que para a História LGBTI+ produziu a ideia de que anterior a 1989 não haveria atividades políticas organizadas na região por direitos LGBTI+ ou fluxos e trocas entre grupos homossexuais dos dois lados da Cortina de Ferro. Ou seja, houve uma desistoricização da homossexualidade na região e a convicção de que após 1989 os países da região começariam um processo para “alcançar” o Ocidente.

A partir dessas constatações, Szulc vai se concentrar no recorte polonês, o que não significa uma ratificação ao nacionalismo metodológico, mas sim uma abordagem transnacional para o estudo da sexualidade observando “as interconexões entre diferentes escalas espaciais de análise como o local, o nacional, o regional e o global” (SZULC, 2018, p. 9). Portanto, apesar de partir de fontes do movimento homossexual polonês, a obra traça fluxos e conexões que ora estão no âmbito local e/ou regional, ora aparecem conectadas aos países vizinhos e frequentemente ultrapassam a Cortina de Ferro. Logo, ao responder suas questões centrais de pesquisa,6 Szulc não apenas se dirige à história LGBTI+ polonesa, mas promove uma compreensão de fluxos e conexões multidirecionais partes de uma integração global na promoção de modelos identitários e de ativismo LGBTI+.

O segundo capítulo traz uma discussão mais densa sobre as relações globais que atravessam a promoção de noções identitárias sobre as sexualidades e concepções de ativismo. Ao refletir sobre o surgimento de conceitos como o global gay (ALTMAN, 1997), Szulc observa a hegemonia do Ocidente entre tais discursos, principalmente a partir do impacto do HIV/AIDS e a globalização de concepções ocidentais sobre a sexualidade. No entanto, apesar de reconhecer disparidades entre os protagonismos globais nos fluxos que entremeiam tais noções, o autor problematiza a forma com que tais conexões e influências têm sido apreendidas. As concepções que observam movimentos e fluxos como exclusivamente unidirecionais – do Ocidente para o “resto” (West to the Rest) – devem ser contestadas, já que ostensivamente colocam o não-ocidental como receptor passivo de uma “ocidentalização” ou “americanização” da homossexualidade. Dessa forma, apesar das desigualdades de tais fluxos – absorvidos pelas dinâmicas geopolíticas e econômicas globais – Szulc chama a atenção para observar o global e o local como esferas que se infiltram mutuamente e se (re)criam dentro de uma rede de fluxos e conexões multidirecionais (p. 42). Nesse sentido, a ECL – vista pejorativamente como um Outro intermediário entre o ocidente e o não-ocidente – necessita, portanto, ser despida dos mitos que a excluem de um olhar que observe sua participação ativa nessa rede global de fluxos multidirecionais.

A fim de atingir essa pluralização de narrativas para a História LGBTI+ global, reconhecer a diversidade com que a ECL compreendeu a homossexualidade é um dos objetivos centrais do terceiro capítulo. Para isso, o autor utiliza especialmente os relatórios produzidos pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas (IGLA) sobre a situação dos homossexuais na ECL – os chamados Eastern Europe Information Pool (EEPI) publicados anualmente entre 1982 e 1989. A partir dos dados fornecidos por tais relatórios, o capítulo consegue remontar a disparidade na região no que concerne à homossexualidade. No que diz respeito, por exemplo, à legalidade da homossexualidade na ECL, as diferenças eram tamanhas que produziam problemas transnacionais.7 A existência ou ausência de grupos organizados nos países também promovia discrepâncias, tendo alguns locais uma superioridade no número de grupos em atividade no país e de poder de ação, como é o caso alemão oriental observado pelos relatórios. Por outro lado, havia na ECL uma ausência constante de representações e discussões públicas sobre a homossexualidade, fato este que impulsionaria largamente a formação de grupos organizados homossexuais na região.

Após rejeitar a crença de uma ECL homogênea em relação à homossexualidade, o jogo de escalas se torna ao contexto polonês. Assim, seu quarto capítulo informa sobre a conjuntura na qual um movimento homossexual na Polônia se desenvolveu anterior a 1989 – o que desconstrói a ideia de que antes da queda do Bloco Soviético não haveria movimentos homossexuais na ECL – e tece uma rede entrecruzada por fluxos globais e impulsionadores locais que estimularam a organização de grupos e publicações homossexuais na região. A Polônia é um caso particularmente complexo já que, apesar da homossexualidade ter sido descriminalizada no país já em 1932 – muito antes que a Alemanha Oriental em 1968 (McLELLAN, 2011), por exemplo – o silenciamento público de qualquer discussão sobre a homossexualidade perdurou fortemente até a década de 1980, especialmente pelo papel conservador empreendido tanto pelo Estado quanto pela influência exercida pela Igreja na região. No entanto, a década de 1980 foi marcada por dois eventos copiosamente impactantes para os homossexuais: a operação Hyacinth e o HIV/AIDS. A operação Hyacinth foi um projeto da polícia polonesa a fim de catalogar informações sobre os homossexuais. Portanto, a partir de processos violentos e prisões arbitrárias, o projeto acabou operando como um forte catalisador local para uma maior atenção política e organizatória entre os sujeitos cujas sexualidades dissidentes estavam expostas a tais hostilidades. Por outro lado, a epidemia do HIV/AIDS – a qual não atingiu o país de maneira feroz em um primeiro momento, mas foi se ampliando no decorrer dos anos – trouxe uma série de fluxos globais discursivos sobre sexualidade e, principalmente, sobre a homossexualidade. Tais fluxos não só obrigaram uma atenção pública maior para as questões sobre sexo, sexualidade e identidade no país, como foram instrumentalizadas pelos grupos homossexuais a fim de justificarem suas ações de organização e divulgação.

O atravessamento entre processos locais e fluxos transnacionais fica ainda mais evidente quando o quinto capítulo se volta para os periódicos Biuletyn/Etap Magazine e Filo Magazine. Para além de confirmar a centralidade desses periódicos nos processos poloneses de organização do movimento homossexual e de promoção de identidades comuns sobre a sexualidade,8 a análise mostra como influências e trocas que atravessavam a Cortina de Ferro foram fulcrais para a construção dessas iniciativas. Para a fundação da revista Filo, por exemplo, as visitas ao litoral báltico pelo seu editor foram cruciais para a fundação da publicação: o contato com marinheiros homossexuais que ancoravam na região proporcionava o acesso a publicações estrangeiras, as quais não só inspiraram ações semelhantes na Polônia como serviam de fonte de matérias para serem (re)publicadas na Filo. Em direção contrária, ao serem publicados, esses periódicos poloneses dedicados ao público homossexual eram enviados para outras localidades, não só no interior da ECL, mas também atravessando as restrições de censura e de controle de fronteiras. Portanto, a Cortina de Ferro “era permeável, cheio de rachaduras e buracos, que fizeram a ECL envolvida em processos de globalização da homossexualidade […] já anterior a queda do comunismo na Europa” (SZULC, 2018, p. 85, tradução nossa).

Ao analisar os discursos identitários e políticos que eram projetados por tais publicações, os capítulos cinco e seis se debruçam não apenas na análise qualitativa das fontes, mas na transnacionalidade de tais discursos. Em termos identitários, uma perspectiva essencialista sobre a homossexualidade era a que mais se sobressaltava, aproximando-se da retórica do gay power nos EUA. Nesse sentido, para Szulc, essas publicações tomaram emprestadas argumentações de periódicos estrangeiros e tentavam localizar uma naturalidade da homossexualidade a partir de sua historicização, particularmente recuperando o contexto da Grécia Antiga. Isso não deve significar, no entanto, apenas uma reprodução daquilo que conseguia permear a Cortina de Ferro, já que houve um trabalho árduo em apurar a questão da homossexualidade historicamente na região. Portanto, percebe-se uma negociação entre discursos locais e globais, a qual ao mesmo tempo que insere tais discussões em uma rede global multidirecional de influências, também se volta às demandas locais de seus leitores.

As discussões sobre sexo também se faziam presentes nesses materiais. Uma série de relatos sobre a subcultura homossexual alemã tomava espaço significativo em alguns números. Tais relatos se centravam, principalmente, na liberdade sexual e os espaços para encontro entre homossexuais em Berlim Ocidental. Apesar da atração ao leitor operada por tais narrativas, a defesa de uma identidade sexual romântica era mantida nessas publicações, especialmente a fim de defender uma certa ideia de respeitabilidade. Tal instrumentalização ocorria especialmente pelo fato desses grupos e publicações não adotarem uma estratégia combativa, mas sim de assimilação e de reconhecimento no que concerne ao Estado polonês. Além disso, a questão do HIV/AIDS era utilizada na promoção por um ideal romântico sobre o sexo, mas também instrumentalizada como possível defesa frente à iminência proibitiva da censura: caso tais publicações viessem a ser atacadas, o seu trabalho informativo sobre o HIV/AIDS poderia ser empregado como justificativa para a sua manutenção. Ademais, as discussões sobre HIV/AIDS também operam trocas transnacionais: pelo fato de na ECL haver uma carência de pesquisas e políticas públicas em relação ao vírus e a necessidade de medidas de conscientização, grande parte do material divulgado sobre a epidemia provinha de publicações estadunidenses ou da Europa Ocidental – processo que não apenas informava os poloneses sobre o vírus, mas também concepções identitárias específicas sobre a homossexualidade.

Apesar dessas trocas e uma hegemonia de representações homossexuais provindas do Norte Global capitalista durante a Guerra Fria, no último capítulo conclusivo da obra, Szulc chama a atenção de que tais fluxos e conexões não podem ser tomados como indicativos de que a formação das políticas homossexuais polonesas nesse período foi totalmente engendrada em tais moldes ocidentais. A escolha de um engajamento informativo ao contrário de um confrontante é uma das diferenças cruciais: se os movimentos homossexuais nos EUA e Europa Ocidental, em grande parte, tomaram, em primeiro momento, um engajamento contestante em relação ao Estado, o movimento homossexual polonês desenvolveu um ativismo informativo, o qual procurava suprir a carência de discussão em torno da homossexualidade.

Se por um lado havia a demanda local por maiores debates sobre as sexualidades dissidentes, foram também alguns impulsionadores transnacionais que alavancaram a construção desse movimento homossexual polonês. Entre eles, Szulc destaca: a circulação de produtos culturais ocidentais sobre a homossexualidade e que atravessaram a Cortina de Ferro; migrações e experiências de viagens internacionais, especialmente por alguns colaboradores dos periódicos; o discurso transnacional sobre a epidemia do HIV/AIDS; e a ação de organizações internacionais que estimulavam tais mobilizações, como é o caso da ILGA com a produção de relatórios sobre a região.

Destarte, Szulc não apenas problematiza mitos sobre a região, como também confirma que uma “construção transnacional da homossexualidade, ou de políticas e identidades LGBT, realmente ocorreu na ECL antes de 1989” (p. 219, tradução nossa). Tal compreensão complexifica largamente tanto os discursos que desistoricizam a homossexualidade na região como impossibilita a manutenção do mito de total isolamento atrás da Cortina de Ferro. Dessa forma, confirma-se a multidirecionalidade dos fluxos, os quais não apenas correm dos supostos centros para as margens, mas na direção também contrária, ainda que com intensidades díspares (p. 223).

Voltar-se ao contexto da formação do movimento homossexual polonês e observar os fluxos multidirecionais que o intersectam contribui para desconstruir o mito em torno de Stonewall (BACCHETA, 2002) nas historiografias LGBTI+.9 A hegemonia em torno de concepções identitárias estadunidenses sobre a homossexualidade são ainda constantes nas historiografias e mantêm os acontecimentos de Stonewall como o início universal para todos os movimentos LGBTI+ contemporâneos, o que reincide a ideia de “americanização” da homossexualidade. No entanto, se por um lado as conexões com o Ocidente eram permanentes, por outro não significaram uma replicação daquilo em curso nas chamadas cidades gays globais dos EUA e Europa Ocidental. A partir dos EEPIs, por exemplo, percebe-se que o movimento homossexual alemão oriental era uma inspiração central atrás da Cortina de Ferro, o que coloca em xeque a suposta hegemonia exclusiva aos EUA. Ou seja, observar os fluxos globais multidirecionais pode auxiliar em um empreendimento analítico queer que não apenes descentralize as historiografias LGBTI+, mas contesta as suposições do que se compreende por Ocidente, não-ocidente, global ou local (OSWIN, 2006).

A obra de Szulc é, dessa forma, não apenas uma contribuição para a História LGBTI+ e para se repensar a ECL e suas dinâmicas geopolíticas da Guerra Fria, mas é também um chamado à História Global. Wiesner-Hanks (2011) já observou o distanciamento incessante entre os Estudos de Gênero e Sexualidade e a perspectiva de História Global. Ainda que na última década inciativas de aproximação tenham sido empreendidas, com destaque para Buffington et al (2014), as intersecções entre os dois campos ainda permanecem tímidas e encontram resistências contínuas. Para Epple (2012), um dos motivos principais para tal indiferença recai nas falácias usualmente propagadas de que a História Global poderia lidar apenas com processos de convergência e as pesquisas sobre gênero e/ou sexualidade cobririam apenas relações de diferença. No entanto, alguns teóricos em História Global já têm desconstruído tais mitos, como é o caso de Kocka (2012), para o qual o traçar de fluxos e contatos pode surpreender o historiador global ao observar a produção de diferenças, ao invés de convergências. É nesse sentido, portanto, que Epple (2012) sugere que ao invés de insistir em tais dicotomias, os pesquisadores de gênero e/ ou sexualidade assim como os de História Global devem focar no olhar relacional de tais campos, dando atenção especial para seus potenciais contestadores contra acepções eurocêntricas, imperialistas e a colonialidade do saber. Nessa direção, Szulc traça problemas de pesquisa a partir do caso do movimento homossexual polonês que servem de inspirações para engajamentos futuros em uma necessária e contínua aproximação dos estudos sobre gênero e sexualidade e as perspectivas globais. Em sua conclusão, o autor observa, por exemplo, que há uma interseção de fatos locais e integrações globais que explicam as razões pelas quais no contexto polonês um engajamento político homossexual só se daria na década de 1980. Para ele, enquanto a não criminalização local da homossexualidade dificultava e adiou um sentimento comum sob uma mesma causa entre os homossexuais, a integração da Polônia a processos transnacionais de transformações socioeconômicas impulsionou uma maior mobilização desses indivíduos na década de 1980 – não esquecendo, no entanto, as próprias motivações locais, como é o caso da operação Hyacinth. Tais ponderações junto da observação de fluxos, conexões e a desconstrução de preceitos eurocêntricos ou imperialistas correspondem aos almejos da História Global e apontam para uma potencialidade significativa caso tais campos passarem a se intercruzar com maior frequência.

Notas

1 O termo homossexual será utilizado nessa resenha para se referenciar à forma com que majoritariamente se identificavam as sexualidades dissidentes nos anos 1980. No entanto, o termo LGBTI+ é evocado a fim de se adequar ao Manual de Comunicação LGBTI+, o qual recomendou o uso hodierno da sigla mais diversa LGBTI+ (REIS, 2018).

2 Houve a proibição para que instituições LGBTI+ realizassem algum tipo de parada gay em Moscou pelos próximos 100 anos e a inserção de leis proibitórias em algumas regiões em relação ao que chamam de “propaganda sobre homossexualidade” (STELLA, 2013).

3 Em tradução livre: “Homossexuais Transnacionais na Polônia Comunista: Fluxos Transfronteiriços em Revistas Gays e Lésbicas”. A obra é acompanha de um site onde algumas fontes utilizadas, assim como entrevistas com os informantes, podem ser acessadas: https://www.transnationalhomosexuals.pl

4 Mais informações, assim como as outras obras publicadas, podem ser encontradas na página da editora: https://www.palgrave.com/gp/series/15246

5 A noção de Europa Central e do Leste (ECL) segue a compreensão proposta por Krammer (2003, p. 179, tradução nossa) para o qual a expressão deve ser apreendida em seu senso político, não geográfico. Para tanto, a ECL “se refere aos seis países além da União Soviética que eram membros do Pacto de Varsóvia até meados de 1991: Bulgária, Checoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia e Romênia”.

6 Segundo o autor, elas seriam: “[…] quais foram as conexões transnacionais entre homossexuais, especialmente homossexuais ativistas, nos lados opostos da Cortina de Ferro? Quais foram os fluxos transfronteiriços de produtos culturais, paradigmas identitários e modelos de ativismo relacionados à homossexualidade? Podemos de fato traçar alguns aspectos da globalização da homossexualidade, ou políticas e identidades LGBT, na ECL já antes de 1989? (SZULC, 2018, p. 9).

7 É o caso de um cidadão da Checoslováquia, um local em que a homossexualidade era legalizada, e que foi preso na URSS durante a sua estadia no país e acusado de práticas homossexuais, passíveis de severa punição no país. O cidadão tcheco foi sentenciado a cinco anos de prisão (SZULC, 2018, p. 74).

8 Como também é o caso em diversos outros países, como o brasileiro Lampião da Esquina (RODRIGUES, 2018) ou o alemão ocidental Siegssäule (DERDAK, 2011).

9 Nome da série de protestos ocorridos no bar de mesmo nome em Nova York em 1969 em que um grupo de sujeitos LGBTI+ protestaram ao longo de dias contra as batidas policiais realizadas no local.

Referências

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Resenhista

Henrique Cintra Santos – Mestre em Linguística Aplicada. Doutorando, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História. https://orcid.org/0000-0003-1989-8992 E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

SZULC, Lukasz. Transnational Homosexuals in Communist Poland: CrossBorder Flows in Gay and Lesbian Magazines. Cham: Palgrave Macmillan, 2018. Resenha de: SANTOS, Henrique Cintra. História global e sexualidade: apontamentos a partir do movimento homossexual polonês atrás da cortina de ferro. Esboços. Florianópolis, v. 29, n. 51, p. 557-566, maio/ago. 2022. Acessar publicação original [DR]

 

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