Uma associação para a tecnologia brasileira: Abipti 25 anos | Shozo Motoyama, Paulo Queiroz Marques e Maria Anglélica Rodrigues Quemel

Shozo Motoyama, Paulo Queiroz Marques e Maria Angélica Rodrigues Quemel prestam um importante serviço à documentação e historiografia sobre o desenvolvimento da tecnologia no Brasil da segunda metade do século XX ao reunir documentos, depoimentos e informações diversas sobre a formação da Abipti.

A Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), criada no início dos anos 1980 com o intuito de representar as instituições de pesquisas em tecnologia, demonstrou ao longo de 25 anos, mesmo em situações de turbulências econômicas, autonomia frente às autoridades governamentais, negociando e mostrando aos mesmos, as reais necessidades de fomento de pesquisa e inovação na área tecnológica.

Nos 15 primeiros anos da Abipti, (1980 – 1996), a associação esteve voltada também para a área industrial, motivo pelo qual há um “i” a mais no nome da mesma. Entretanto, a economia brasileira sofreu um impacto muito forte com a abertura comercial dos anos 1990. Assim, a Abipti, principalmente a partir de 1996, focou seus esforços na área de tecnologia em serviços e agronegócios como forma de levar a tecnologia para o campo. Mas deu-se uma migração do foco do setor secundário nos anos oitenta, onde o Brasil tinha 50% da pauta de exportação em produtos manufaturados, para o setor primário e terciário nos anos noventa, fato este mostrado inclusive pelo percentual crescente de instituições privadas desses setores filiadas à Abipti.

A década de 1980 foi marcada pro profunda estagnação da economia brasileira. Desde 1964, o Brasil apenas acentuou o corte abrupto no desenvolvimento autônomo no campo tecnológico. Mas os governos da chamada “Nova República”, além de no evidenciarem a mediocridade da política dos militares, conseguiram superá-la.

Uma primeira razão de tamanho retrocesso estaria na orientação política dos grupos ascendidos ao poder em 1964 e 1985. Por representarem os interesses de uma elite intelectualmente colonizada, tais governos encarariam o investimento em tecnologia como “gasto”, preferindo priorizar o envio da remuneração do capital externo a estimular a demanda interna. Investir em tecnologia estaria, dessa forma, em completo desacordo com o espírito de “vantagens comparativas” primário-exportador e demandante de importações para o resto.

Uma outra razão estaria na macroeconomia. Os choques externos pré-II PND, principalmente a segunda crise do petróleo em 1979, causaram a explosão do endividamento externo do Brasil, devido à alta da taxa de juros no mercado internacional.

Dessa forma, as instituições domésticas de pesquisa em tecnologia precisaram unir forças com o objetivo de fomentar a investigação científica na área. Nesse ambiente, foi criada a Abipti. Em seu início, a Abipti contou com a cooperação direta de dois órgãos de fomento em pesquisas tecnológicas: CNPq e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), passando a associação a ser o interlocutor destes dois órgãos para com os institutos de pesquisa do segmento tecnológico.

No primeiro momento da história da Associação que compreende o período de 1980 a 1995, percebemos sua atuação direcionada a participações em comissões organizadas por entidades estatais. Nesse período, o Brasil perderia considerável volume de investimentos em pesquisas, reprimindo de certa forma, a ação do CNPq e do Finep com relação a recursos destinados a inovação e estruturação das associadas da Abipti.

Em um segundo momento, compreendendo o período de 1996 a 2005, o foco da associação estava voltado para design e agropólos, pois grande parte da indústria nacional havia sucumbido. Neste momento a inflação estava sob controle, pois foi criado um mecanismo de transição de moeda, a URV, atrelada ao dó lar, “âncora cambial”. A exposição das empresas nacionais a concorrência externa havia se agravado, pois o cambio entre 1994 e final de 1998 estava supervalorizado, o que aumentava as importações. A Abipti voltaria o seu foco para a capacitação de recursos humanos de suas associadas, bem como workshops e palestras como forma de incentivar a adoção de novas tecnologias aos produtores rurais, uma das formas mais visíveis da associação em diminuir as diferenças regionais do país. Nesse âmbito, foi útil um banco de dados das entidades que faziam parte da comunidade de ciência e tecnologia denominada Apolo, o outro banco de dados contava com os registros das associadas da Abipti – Athena.

Compreendendo o novo paradigma do mundo, e a real situação brasileira, a Abipti, promoveu algumas mudanças em seu estatuto de forma a aumentar o número de associados, mudou o nome da entidade para Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica – Abipti, permanecendo a sigla. Havia muita resistência com relação ao nome anterior para os institutos de agropecuária.

Embora o desenvolvimento via tecnologia no Brasil pareça estar longe, de fato justamente por isso, a atuação da Abipti se faz essencial. Exatamente por isso a iniciativa de Motoyama, Marques e Quemel com esse livro é de grande relevância para a ciência em nosso país.


Resenhista

Luis Juliano Macedo Vieira – Bacharel em Ciências Econômicas. Pós-graduando em Economia pela PUC-SP.


Referências desta Resenha

MOTOYAMA, Shozo; MARQUES, Paulo Queiroz; QUEMEL, Maria Angélica Rodrigues (Orgs). Uma associação para a tecnologia brasileira: Abipti 25 anos. Brasília: Paralelo 15; Abipti, 2005. Resenha de: VIEIRA, Luis Juliano Macedo. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 03, n. 05, p.116-119, julho, 2006. Acessar publicação original [DR]

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