Debates plurais: historiografia e história | História Debates e Tendências | 2022

O ex presidente boliviano Evo Morales Foto Bertand LangloisAFP Historiografia
O ex-presidente boliviano Evo Morales | Foto: Bertand Langlois/AFP

É com satisfação que apresentamos o volume 22, número 1, da revista História: debates e tendências, publicação científica que, ao longo de seus vinte e três anos de existência, tem desempenhado relevante papel de divulgação acadêmica e intercâmbio institucional na área de História. Editada pelo Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade de Passo Fundo, a revista espelha as problemáticas que se articulam em torno da área de concentração do programa, História, Região e Fronteiras, em uma perspectiva transdisciplinar.

A edição atual, Debates plurais: historiografía e história, revela pesquisas com temáticas e fontes diversificadas, de autoria de pesquisadores vinculados à instituições do Brasil e do exterior, e está composta pelas seções Dossiê, Artigos Livres e Entrevista.

Na seção Dossiê, Eduardo A. Escudero, historiador vinculado à Universidad Nacional de Río Cuarto e à Universidad Nacional de Córdoba, Argentina, em Espacio e historia en la programática política de la historiografía del Revisionismo ‘anterior’ al Revisionismo en la Argentina, examina as ideias políticas e historiográficas do intelectual J. Francisco V. Silva (Córdoba, Argentina, 1890-1978) para explicar as causas do desmembramento territorial da Argentina do ex Vice- Reino do Rio da Plata, a partir de 1810. Para tanto, seu discurso será contextualizado no período que abrange a Primera Guerra Mundial (1914-1918), em articulação à revitalização do passado hispano-americano, em contraponto à ideias de intelectuais liberáis da época.

Cláudia Tolentino Gonçalves Felipe, historiadora vinculada à Unicamp, Brasil, em Revisão crítica da historiografia anarquista brasileira: proposições para uma análise transnacional faz um balanço da historiografia anarquista brasileira, problematizando a ideia que considera o anarquismo uma “planta exótica”, que afirma que, a partir da década de 1920, o anarquismo teria sido desprovido de força, e que restringia sua atuação, exclusivamente, por meio de “vetores sociais”. Essas versões, na opinião da autora, negligenciam o caráter multifacetado, histórico, dinâmico do movimento, sendo que uma abordagem transnacional serve para ultrapassar o aspecto datado e estanque à medida em que desnaturaliza fronteiras e se concentra nas diferentes linguagens libertárias.

A historiografia sobre as prisões na Era Vargas: notas preliminares ao debate, de Aurélio de Moura Britto, historiador, com atuação junto ao Centro Universitário de Vitória de Santo Antão (UNIVISA), Brasil, discute historiograficamente a problemática das prisões na Era Vargas, referindo ao arcabouço teórico que embasa o campo dos estudos prisionais e propondo metodologicamente pensar a prisão a partir da dupla relação interna e externa, em contraponto à ênfase dada ao âmbito puramente institucional, ainda predominante na historiografía sobre o tema.

Na seção Artigos Livres, a pesquisa Empresarios y política partidaria: El caso de Pedro Pablo Kuczynski y Peruanos por el Kambio, do cientista político Carlos Alberto Adrianzén García-Bedoya, da Pontificia Universidad Católica del Perú y de la Universidad Antonio Ruiz de Montoya, Perú, discute a relação entre partidos e empresários a partir de um novo marco teórico: o de modelo de partido empresarial, aplicado ao estudo de caso do partido peruano Peruanos Por el Kambio, no contexto da presidencial de 2016.

Em Colonizar ou não, eis a questão: Portugal e suas possessões africanas no século XIX, o sociólogo Rodrigo do Prado, da Universidade de Coimbra, Portugal, aborda a questão do domínio português na África a partir da complexidade de fatores que envolveram a tomada de decisão sobre aquele proceso. O autor afirma que a adoção de políticas para as colônias portuguesas na África extrapolava o reconhecimento da importância estratégica-comercial, por parte da Coroa ou do Gabinete da época. A falta de consenso sobre a exploração das possessões ultramarinas lusitanas ecoava um contexto no qual a falta de recursos para a empreitada eram extremamente escassos.

Em Tempos de pandemia: breves apontamentos sobre sociedade e política no Brasil, o historiador Ronaldo Bernardino Colvero, da Universidade Federal do Pampa ( Unipampa) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil, propõe uma análise da sociedade e da política no contexto da pandemia Covid-19, com objetivo de discutir problemáticas históricas as quais se exacerbaram em tal realidade extraordinária. Nessa leitura destacam-se questões como negacionismo versus conhecimento científico, as desconfianças sobre a vacinação, as quais evoluem à polarização política e à dualidade de interpretações, também em termos de discurso.

Os historiadores Rafael Pinheiro de Araujo e Mariana Bruce, respectivamente vinculados à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e à Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil, no artigo Das lutas populares de El Alto à descontinuidade democrática: uma análise sobre a crise do governo Evo Morales, analisam ese período histórico tomando o espaço da cidade de El Alto, importante base social e política do governo, e o proceso de crescente deterioração do apoio local. Inserido na conjuntura nacional que culmina na renúncia forçada do presidente em 2019, o estudo problematiza a tese sobre a articulação do golpe de Estado perpetrado no país andino-amazônico.

No artigo, Modelos explicativos da chamada economia colonial e a ideia de Monarquia Pluricontinental, Isadora Wayhs Cadore Virgolin, da Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Brasil, busca fornecer elementos teóricos para subsidiar a compreensão do fenômeno da pluriatividade no meio rural, entendida como uma das manifestações das mutações do mundo do trabalho contemporâneo. A pluriatividade, segundo a autora, contribui para considerar o rural como “espaço de vida” e não somente como espaço agrícola e indica uma diversificação de meios de subsistência como caminho para a vitalização do rural.

Na seção Entrevista, a revista registra a importante colaboração do professor Clodoaldo Bueno, da Universidade Estadual Paulista (Unesp): História da Política Externa Brasileira: pioneirismo e itinerário intelectual, realizada por Daniel Rei Coronato e Fernando Comiran ao professor Clodoaldo, que tanto ilumina os estudos da História das Relações Internacionais do Brasil, os orgnizadores manifestam o reconhecimento pela sua trajetória acadêmica e intelectual brilhante e a grande estima pelo colega.

Aos autores(as), aos avaliadores, à direção editorial, científica e técnica da revista, vão nossos agradecimentos por terem, no conjunto das ações, possibilitado a divulgação de importantes resultados de pesquisas na área das Humanidades, colaborando para que a Ciência avance, apesar das adversidades enfrentadas na atual conjuntura.


Organizadores

Ana Luiza Setti Reckziegel – PPGH – Universidade de Passo Fundo, Brasil.

Eduardo Ramón Palermo – Centro de Documentacion Historica del Rio de la Plata y Brasil.


Referências desta apresentação

RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti; PALERMO, Eduardo Ramón. Apresentação. História Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 22, n. 1, p. 03 – 05, jan./abr. 2022. Acessar publicação original [DR]

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