Aprendizagem em ambientes virtuais [recurso eletrônico]: compartilhando ideias e construindo cenários – VALENTINI; SOARES (C)

VALENTINI, C. B.; SOARES, E. M. do S. Aprendizagem em ambientes virtuais [recurso eletrônico]: compartilhando ideias e construindo cenários. Caxias do Sul: Educs, 2010. Resenha de: FLORES, Jerônimo Becker Conjectura, Caxias do Sul, v. 18, n. 1, p. 207-211, jan/abr, 2013.

A obra é organizada pelas professoras pesquisadoras Carla Beatriz Valentini e Eliana Maria do Sacramento Soares, sendo uma síntese dos resultados de pesquisas e experiências do grupo LAVIA.1 O formato digital dessa edição está mais condizente com as propostas apresentadas na mesma, que discorre sobre as tecnologias digitais, em especial ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e suas implicações no contexto educacional.

Escrito por distintos autores, cada capítulo é um nó de uma complexa rede, que leva o leitor a refletir sobre as possibilidades oferecidas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e suas perspectivas no âmbito da educação.

O livro está organizado em três grupos: 1) Analisando aspectos da aprendizagem em ambientes virtuais. 2) Discutindo configurações e possibilidades de interação em ambientes virtuais. 3) Possibilitando comunicação e interação em contextos digitais.

O primeiro capítulo do livro se chama Ciberespaço: terceiro elemento na relação ensinante/aprendente, de Claudia Alquati Bisol. Aponta para o uso de ambientes virtuais de aprendizagem como uma possibilidade de questionar o ensino tradicional baseado na transmissão de informações. A autora tece seus argumentos apoiada em um sólido referencial teórico e também em dados encontrados no AVA de uma disciplina de um curso superior.

O segundo capítulo, denominado Comunidade de aprendizagem: a constituição de redes sociocognitivas e autopoiéticas em ambiente virtual, é escrito por Carla Beatris Valentini e Léa da Cruz Fagundes. As autoras abordam questões intrínsecas aos movimentos de auto-organização dos educandos em ambientes virtuais, à luz da Epistemologia Genética de Piaget e da Biologia do Conhecimento de Maturana.

O terceiro capítulo recebe o título de “Como crescemos… aprendemos tanto…” Construções sociocognitivas em curso a distância, mediado pela web, de Helena Sloczinski e Lucila Maria Costi Santarosa. Trazem um relato de experiência, no qual se fundamentam para defender uma possibilidade real de aprendizagem mediada pela web.

O quarto capítulo é intitulado Razão e emoção em Ambientes de Aprendizagem: em busca da unidade, de Isolda Giani de Lima e Laurete Zanol Sauer. Nele as autoras buscaram aliar os elementos aparentemente dicotômicos razão e emoção, demonstrando uma possibilidade de harmonia entre ambos. Segundo a linha de pensamento apresentada, a construção de um AVA deve considerar não apenas a disponibilização de conteúdos, mas também o bem-estar coletivo, conferindo possibilidades de autonomia, colaboração, reflexão e solidariedade.

O quinto capítulo é denominado Fluxos de interação: uma experiência com ambiente de aprendizagem na web, escrito por Carla Beatris Valentini e Eliana Maria do Sacramento Soares. As autoras defendem o uso do AVA como recurso para desenvolver e potencializar as habilidades e competências.

Para elas, existe a necessidade de superar as ênfases em conteúdos programáticos, utilizando o potencial do ambiente no desenvolvimento da inteligência coletiva referida por Pierre Lévy.

O sexto capítulo se chama Análise dos processos subjetivos na aprendizagem, de Marta Regina de Leão D’Agord. Nele são elencados elementos relevantes e muitas vezes esquecidos dentro do processo de ensino e aprendizagem, como por exemplo, as vivências, experiências e lembranças.

É tecida uma triangulação entre o saber do professor, do aluno e o conhecimento propriamente dito.

O sétimo capítulo é denominado A autoria como um modo de viver no conversar, escrito por Cleci Maraschin. Demonstra as diferenças entre escrever um texto e submetê-lo a uma leitura no ambiente virtual. Segundo a autora, submeter à escrita às apreciações dos colegas e professores provoca um deslocamento na autoria, causando uma exposição do autor, onde o texto ganha dinamicidade, sofrendo a interferência ou influência de diversos autores.

O oitavo capítulo finaliza o primeiro bloco do livro e é nomeado como Aprender e desafiar a aprender em ambiente híbrido, de Helena Sloczinski e Marilda Spindola Chiaramonte. As autoras trazem uma perspectiva onde as modalidades de educação presencial e a distância podem atuar em sintonia, como complementares, em prol do processo de ensino e aprendizagem.

Iniciando o segundo grupo de textos, o nono capítulo se intitula Dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem aos Espaços de Convivência Digitais Virtuais – ECODIS: O que se mantém? O que se modificou? Escrito por Eliane Schlemmer, traz à tona uma discussão sobre a Educação a Distância (EAD). A autora aborda aspectos intrínsecos a um determinado momento histórico da modalidade, caracterizado pelo AVA. Na sequência o foco é mantido no momento atual, apresentando algumas possibilidades em relação às tecnologias digitais. Posteriormente, a temática ganha um contorno teórico com uma abordagem acerca de contextos de aprendizagens. Na sequência adentra nas perspectivas para a efetivação de práticas educacionais em EAD.

Finalizando o capítulo são apresentadas algumas pesquisas sobre tecnologias e contextos de aprendizagem.

O décimo capítulo se chama A Formação de grupos em ambientes digitais/ virtuais, de Maria de Fátima Webber do Prado Lima e Carine Geltrudes Webber. As autoras abordam a temática de trabalhos coletivos, segundo perspectivas apontadas por Pierre Lévy. Ponderam que os movimentos coletivos e o pensamento em rede podem ser fomentados pelo trabalho em AVA, inferindo nos processos cognitivos e levando à inteligência coletiva.

Também ponderam que os grupos possuem uma estrutura própria, indo além da soma de indivíduos, o que pode potencializar os trabalhos em grupo.

O décimo primeiro capítulo é intitulado Reflexões sobre os recursos para interação em ambientes virtuais de aprendizagem, escrito por Naura Andrade Luciano, Elisa Boff e Marilda Spindola Chiaramonte. As autoras fazem menção às possibilidades de mudança no processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista as implicações das tecnologias na sociedade e na educação.

No entanto, elas apresentam o argumento que a docência ainda é um componente significativo, uma vez que o ambiente por si só não garante a aprendizagem, que somente será efetivada por meio da prática pedagógica.

Iniciando o último grupo de textos do livro, o décimo segundo capítulo é intitulado Docência interativa, presencial e online, escrito por Marco Silva.

O autor aborda questões relativas às práticas docentes no contexto das TIC. Ele aponta para a necessidade de o professor superar o modelo educacional baseado na transmissão, passando a ser mediador, e não detentor do conhecimento. Por último expõe questões relativas aos desafios da docência e da escola, tendo em vista as implicações da cultura digital.

O décimo terceiro capítulo é chamado de Significações da consciência em ambientes virtuais, escrito por Jane Rech. A autora apresenta relações entre razão e emoção, conceitos aparentemente dicotômicos. Também aborda aspectos cognitivos que podem contribuir no processo de ensino e aprendizagem, com auxílio da Internet.

O décimo quarto capítulo é intitulado O lugar da linguagem nos ambientes virtuais de aprendizagem: notas sobre os gêneros textuais, de Normélio Zanotto. O autor apresenta aspectos linguísticos presentes no uso de AVA.

Escreve sobre a necessidade da sintonia entre orientadores e orientandos, em relação à escrita. São apontados gêneros textuais emergentes da era digital.

O décimo quinto capítulo se chama Ambientes de aprendizagem inteligentes, escrito por Marcos Eduardo Casa, Alexandre Moretto Ribeiro e João Luis Tavares da Silva. O trio aponta possibilidades de uso de computadores nas escolas. Apresentam argumentos que defendem o uso das TIC no contexto educacional, elencando elementos como motivação e interatividade. Também apresentam experiências positivas nesse sentido.

O décimo sexto capítulo tem por título Feedback e aprendizagem em ambientes de realidade virtual na rede, de Diana Domingues. A autora considera o ciberespaço como um local onde as pessoas incorporam personagens chamados Avatares, onde as máquinas acabam ganhando contornos humanos. Apresenta conceitos como autonomia e autorregeneração, sendo o sistema produtor e produto simultaneamente.

O último capítulo do livro se chama Linguagem, jogo digital e educação linguística, de Dinorá Fraga. A autora tece comentários sobre o auxílio que o AVA pode oferecer à educação, situando o educando como um ser humano capaz de sentir e pensar. Com essa abordagem, problematiza a humanização da educação em ambientes virtuais de aprendizagem, por um viés sistêmico.

Finalizando a obra, as organizadoras desenvolvem uma síntese, ponderando sobre os ambientes virtuais de aprendizagem como recurso  que pode possibilitar, mas não garantir a aprendizagem. Expõem um fundamentado argumento onde consideram ambientes virtuais e presenciais não como concorrentes, mas como complementares. No final do livro ainda existe um glossário, que pode auxiliar de maneira significativa o leitor, expondo vários conceitos tratados no decorrer de todo texto.

Em síntese, o livro Aprendizagem em Ambientes Virtuais: compartilhando ideias e construindo cenários, é uma tecitura bem feita, que relaciona diversos aspectos relativos a educação, tecnologias e cultura digital. Os capítulos permitem a permeação entre si. Assim, várias ideias estão presentes em mais de um capítulo, entrelaçadas e relacionadas entre si, condizendo com a tônica sistêmica da obra.

Nota

1 Laboratório de Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Grupo de pesquisa cadastrado junto ao CNPq, cujo foco das investigações são as aprendizagens em ambientes virtuais. Maiores informações em <hermes.ucs.br/lavia/index.html>.

Jerônimo Becker Flores –  Mestrando Educação na Universidade de Caxias do Sul. E-mail: [email protected]

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