A cidade como objeto de reflexão interdisciplinar (I) / Albuquerque: Revista de História / 2010

Com o lançamento do quarto número, a Revista Albuquerque completa seu segundo ano de existência. Possibilitando aos pesquisadores a divulgação dos resultados de suas pesquisas, propiciando aos estudantes e professores o amplo acesso a informações e à produção acadêmica mais recente, acreditamos que nesse período desempenhamos um papel fundamental, não só para o processo de socialização do conhecimento, mas também para o desenvolvimento científico da área de história, das humanidades e de áreas afins, em Mato Grosso do Sul e no restante do país. Por isso, o número que ora vem a público assume um significado especial, pois representa o momento de consolidação deste periódico, que reafirma seu compromisso de publicar textos de qualidade e relevância científica.

Neste quarto número da Revista Albuquerque, a seção “Artigos” se abre com três textos de suma importância para a compreensão do processo de ocupação colonial dos territórios situados ao longo do rio Paraguai, a rigor uma extensa área de fronteiras indefinidas até praticamente o século XIX, da qual fazem parte os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Partindo da constatação de que o controle daquele território fazia parte dos projetos expansionistas portugueses e espanhóis, no texto intitulado “Mato Grosso e Concepción, uma experiência de fronteira no período colonial (século XVIII)”, Ney Iared Reynaldo debruça-se sobre as estratégias adotadas pelas monarquias ibéricas para ocupar e salvaguardar suas áreas de domínio na região platina, então povoada por diferentes populações indígenas.

Em “Curumaí: uma povoação no caminho de Xerez”, Paulo Cezar Vargas Freire coloca em evidência a povoação de Curumiaí, um pueblo colonial espanhol formado por indígenas guaranis e fundado por religiosos franciscanos na década de 1580, cuja localização ainda é desconhecida. Partindo da proposição de que as escolhas dos locais de moradia, nesta parte da América do Sul, estão imbricadas com os traçados dos caminhos pré-coloniais, que durante os séculos XVI e XVII foram utilizados nos deslocamentos com igual ou maior constância que as vias fluviais, o autor objetiva, de um lado, contribuir para a localização do sítio da povoação de Curumiaí e, de outro, analisar a importância de considerar os caminhos pré-coloniais como um dos elementos para compreender a sucessão de deslocamentos das aldeias, dos pueblos ou das villas numa região em que as transmigrações das populações coloniais foram acentuadas.

A temática de Xerez é retomada por Sandra Nara da Silva Novais e Aguinaldo Rodrigues Gomes em “Campos de Xerez: palco de lutas e conflitos pela exploração da mão-de-obra indígena”, texto no qual os autores propõem apresentar os fatores históricos que inviabilizaram a perpetuação do projeto assuncenho- -castelhano no atual território sul-mato-grossense, abrangendo especificamente a região que na toponímia colonial foi denominada “Campos de Xerez”.

Seguindo a trajetória iniciada com a publicação de seu segundo número, o presente volume da Revista Albuquerque traz o Dossiê “A cidade como objeto de reflexão interdisciplinar”. Dado o volume de artigos apresentados, os editores resolveram dividí-los em duas partes, uma no presente volume e a segunda no volume seguinte. Reconhecendo as cidades como elementos constitutivos da trama cultural e histórica, podendo, portanto, ser observadas como espaços que condicionam múltiplas experiências pessoais e coletivas, tecidos de memórias do passado e de impressões recolhidas ao longo das diversas experiências urbanas, nos textos selecionados para este dossiê, produzidos por especialistas vinculados a variadas áreas do conhecimento, as problemáticas da cidade são delineadas como questões significativas, nas quais emergem temáticas variadas que vão desde representações urbanas sobre a modernidade, até a presença de um léxico urbano para nomear e dar significados aos lugares e às gentes.

Por fim, a seção “Caderno Especial” apresenta dois documentos importantes como contribuição para a compreensão histórica da fronteira oeste. O primeiro, “A retomada de Corumbá vista pelos paraguayos”, é um extrato do Album Graphico de la Republica del Paraguay, de Arsenio Lopez Decoud, e que traz uma visão diferente deste fato importante da Guerra com o Paraguai. O outro, “Repressão ao contrabando no Apa. Instruções. 1917”, demonstrou a preocupação das autoridades alfandegárias em legislar o combate aos descaminhos característicos da região fronteiriça.

Assim, a Revista Albuquerque segue superando os obstáculos comuns de um veículo de divulgação de produção histórica, matendo a sua regularidade e a qualidade de seus artigos.


Editores. Apresentação. Albuquerque: revista de história, Mato Grosso do Sul, v.2, n.4, 2010. Acessar publicação original [DR]

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