Comunicação, Modernidade e Arquitetura / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2012

Esta obra é mais do que um simples panorama de estudos com a temática Comunicação, Modernidade e Arquitetura que integra o número 8, jan. / jun. de 2012, da Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade. Trata-se de um demonstrativo da situação da História e da historiografia contemporâneas, tal como vem sendo feita por estudiosos advindos de diversos horizontes e que partilham um mesmo espírito de amor à pesquisa. Dela emana um ponto de partida que conduz, lado a lado, com a estruturação clássica do século XIX às inovações pertinentes à exploração das novas trilhas da história.

De fato, a História não está alheia às profundas mudanças que ocorrem em outras Ciências. Como dizia Jacques Le Goff, são os novos problemas e as novas abordagens que inovam e enriquecem os setores tradicionais da História.

Admitimos de sua leitura que, a partir da escolha de um objeto de estudo já se supõe uma interpretação interior e anterior, gerada pelo nosso interesse do presente. Observamos, assim, que não lidamos com dados puros, mas com uma fragmentação da nossa maneira de ver o universo. Sabemos também que a linguagem em que assinalamos e apontamos um dado será a própria linguagem com que o interpretaremos. Isso nos encaminha ao reconhecimento de que, desde o anseio de saber e de encontrar as formas de apreendê-lo, a nossa intenção de pesquisa reparte-se em duas direções diversas.

A primeira delas está ligada ao real, ao apreender o objeto, ao conhecimento e aos limites e definições do campo investigativo e do que desejamos explorar. A segunda delas revela o nosso tipo de resposta ligado à nossa contribuição, com base nos instrumentos e nos procedimentos a que recorremos para atingir os nossos fins.

Como fonte dessa escolha, cada autor endossa os meios de exploração próprios ao objeto de estudo escolhido. O estilo de cada um desses trabalhos, o seu discurso e os seus objetivos, resultaram na relação entre a sua própria identidade com a pesquisa, suas fontes escolhidas, e a força de vontade para a sua execução. Isso gera, como consequência, um fortalecimento de resultados refletidos no prazer dos resultados, frutos da exploração e da descoberta. Cada um deles, ao reler o produto de suas análises e reflexões pode voltar ao seu plano original, e mesmo sentir o aflorar de novas questões e incertezas. É que as investigações feitas por eles, despertam a curiosidade do historiador em cada um, deixando transparecer, no trabalho concluído, um passado discernível, seus esboços, modelos e versões precedentes até a versão final.

Nas leituras escolhidas para esses escritos, observa-se, ainda, a proximidade da palavra que lemos e, um conjunto de palavras que são precisas, e nos falam do que desejamos conhecer. Os artigos, num total de quinze, se mantêm em seus domínios próprios de interesse, mas em seu conjunto, testemunham o esforço feito pela manutenção da unidade temática.

Fabio Ares, no artigo intitulado Barrio de Montserrat: territorio tipográfico (1780 y 1871), analisou aspectos da imprensa na Argentina, mais especificamente na cidade de Buenos Aires. Patrícia Vargas Lopes de Araújo e Thiago Henrique Mota Silva, por meio do texto denominado Rústicos e civilizados: representações da sociedade, do espaço e do homem mineiro, problematizaram os escritos de José João Teixeira Coelho e de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos.

Luiz Aloysio Mattos Rangel, em Entre livros e televisão: ambiguidades históricas em Fahrenheit 451, tratou das indeterminações históricas a partir da análise da obra de ficção científica Fahrenheit 451, do escritor norte-americano Ray Bradbury. Manuel Coelho Albuquerque, no escrito chamado História, arte e atitude educativa: tensões étnicas e políticas, preocupou-se com as concepções tradicionais a respeito dos indígenas e em como as artes, em geral, podem se alimentar de falsas concepções, como a inevitabilidade do desaparecimento desse povo.

Zélia Jesus de Lima, em Arte de rua na cidade de Salvador (BA): a imagem do negro articulada com a mídia, analisou o papel desempenhado pelos elementos visuais, operando no discurso da arte, focalizando pormenorizadamente a presença do negro baiano nos campos religioso e cultural. Leandro Patricio Silva, no artigo Conflitos entre o Leão e a Baiana em torno da sombrinha: o frevo duplicado e a afirmação da pernambucanidade (1979-1986), discutiu a afirmação da identidade pernambucana na primeira metade da década de 1980 por meio dos conflitos gerados no campo discursivo de Pernambuco em face da apropriação do frevo pelos baianos.

Jucélia Bispo dos Santos, através do escrito intitulado Espaços públicos e construção de discursos: o Pelourinho como expressão da baianidade, ateve-se em analisar alguns discursos que estiveram presentes no processo de restauração deste espaço citadino, ocorrido entre 1992-1993. Bárbara Maria Caldeira e Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti, coautoras do artigo História e Fotografia: do protótipo daguerreótipo ao papel de fonte visual no planejamento didático, problematizam a relação entre História e a Fotografia com o objetivo de discutir a importância da imagem como documento e fonte histórica representante do século XX e, portanto, facilitador do processo ensino-aprendizagem na construção e na identificação dos alunos como sujeitos históricos e culturais.

Elizangela Patrícia Moreira da Costa e Vanessa Fabíola Silva de Faria, no escrito intitulado Atitudes linguísticas de migrantes sulistas em Mato Grosso: um estudo em Sinop, verificaram as tendências nas atitudes linguísticas que migrantes sulistas manifestam em relação às variedades linguísticas mato-grossenses, e, ainda, se o falar sinopense apresenta características consideradas típicas do falar mato-grossense. George Araújo, no trabalho denominado Transformações urbanas, migração, imigração e “questão social” em Montevidéu entre fins do século XIX e começos do século XX, relacionou as transformações urbanas, a migração interna, a imigração e a questão social desta cidade, articulando-as com a história do movimento operário latino-americano em Montevidéu entre fins do século XIX e começos do século XX.

Maiara Juliana Gonçalves da Silva, no texto Natal sob o olhar do O Olofote: cenas urbanas na cidade em 1919, analisou as imagens textuais produzidas a respeito das cenas urbanas veiculadas no jornal literário-humorístico O Olofote. Cinthya Luarte Magdaleno, no artigo denominado Privatizar para modernizar: la dinámica agraria en la ciudad de México (1950-2010), mostrou como durante a urbanização e a modernização da cidade do México iniciou-se um processo paralelo de privatização das terras comunais.

Geraldo Barbosa Neto, em A história contada com pedra, areia e imagens: a representação do descobrimento português no litoral potiguar e o monumento do padrão de posse conservado na Fortaleza dos Reis Magos, em Natal (RN), intentou mostrar, por meio de uma análise do vestígio material de um padrão de pedra português e da construção de um cenário histórico para contextualizá-lo, como se criou uma representação do descobrimento do litoral potiguar. Almir Félix Batista de Oliveira, no trabalho intitulado O que se preservou em João Pessoa ou de quando a arte e a arquitetura definem o patrimônio cultural de uma cidade, ateve-se em mostrar como a arte e as formas arquitetônicas foram essenciais para a formatação do patrimônio preservado na cidade de João Pessoa, que é a capital do Estado da Paraíba.

E, finalizando o item Artigos, Henry Albert Yukio Nakashima, em estudo chamado Mesquita: entre a arte e o divino, analisou a relação das artes com as mesquitas, focalizando em especial a cidade de São Paulo, mais particularmente o caso da primeira mesquita a ser inaugurada na América Latina, que data do final da década de 1920 nesta urbe.

Já no item Pesquisas, há dois escritos. Paulo Victor Albertoni Lisboa e a sua orientadora de Iniciação Científica, Amnéris Maroni, no texto chamado O pensamento selvagem e a psicologia infantil: uma crítica à tradição ocidental, detiveram-se em analisar alguns elementos que acusam a fertilidade do diálogo especificamente no tratamento do pensamento selvagem e da psicologia infantil dos autores Claude Lévi-Strauss e Maurice Merleau-Ponty. Por fim, Priscilla Perrud Silva e a sua orientadora de graduação, Zueleide Casagrande de Paula, em A antiga estação ferroviária de Londrina (1946-1950): linguagem arquitetônica do Ecletismo, empreenderam ações para estudar as linguagens arquitetônicas mescladas em meio à plasticidade da Arquitetura Eclética que constitui o edifício que atualmente abriga o Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss.

Para concluir, acredito que, mesmo para quem queira pensar em termos de estruturas mais profundas, bem além dos efeitos que cercam toda a matéria verbal, aqui apreendida neste número da Revista Cordis, não se poderá deixar de verificar, sob qualquer pretexto, os momentos mais fortes de intensidade e evidência aqui dispostos com tanta integridade, anunciando a beleza da heterogeneidade dos escritos.

Fortaleza- CE, junho de 2012

Luciara Silveira de Aragão e Frota

Conselho Editorial


FROTA, Luciara Silveira de Aragão e. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 8, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]

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