Cultura e resistência – Dez anos sem E. P. Thompson / Esboços / 2004

Como o capitalismo (ou seja, o “mercado”) recriou a

natureza humana e as necessidades humanas, a

economia política e seu antagonista revolucionário

passaram a supor que esse homem econômico fosse

eterno. Vivemos o fim de um século em que essa

idéia precisa ser posta em dúvida.

P. Thompson.

Entre os dias 22 e 25 de setembro de 2003 realizou-se no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina o seminário Politica e Paixão: dez anos sem E. P. Thompson.

A conferência de abertura, na noite do dia 22, proferida pelo professor Ciro Flamarion Cardoso, “Conceito de cultura: um pomo de discórdia” foi seguida, nos demais dias, pelas comunicações coordenadas. No dia 23, apresentaram-se as professoras Célia Regina Vendramini, “Experiência humana e coletividade em Thompson”; Regina Linhares Hostins, “Modo de fazer pesquisa de um historiador” e, por fim, o professor Henrique Espada Lima, “A relação entre E. P. Thompson e a micro-história italiana”. Na noite do dia 24 apresentaram-se, na seqüência, os professores Mário Duayer, “Observações a partir da Carta-aberta a Kolakowski” e o professor Ricardo Gaspar Müller, “Exterminismo e liberdade política”. Por fim, na noite do dia 25 apresentaram-se o professor Sidnei J. Munhoz, “Thompson, marxismo e protesto popular” e Sérgio Silva, “História e teoria social: a contribuição de Thompson para as ciências sociais”.

Com exceção dos textos dos professores Ciro Cardoso e Sérgio Silva, todos os demais compõem o Dossiê ora apresentado pela Revista Esboços. No caso específico do professor Ciro Cardoso, o texto apresentado no seminário foi substituído por outro, cujo título é “The Group e os estudos culturais britânicos: Edward P. Thompson em contexto”.

A organização do Seminário foi uma tarefa coletiva e esteve a cargo, sobretudo, dos professores Célia R. Vendramini, do Departamento de Estudos Especializados em Educação; Adriano Duarte, do Departamento de História e Ricardo G. Müller, do Departamento de Sociologia e Ciência Política. Contou também com a colaboração dos Programas de Pós-Graduação de Educação, História e Sociologia Política, do Gabinete da Vice-Reitoria, do CCOM/CED, da PRAC, da Central de Apoio a Eventos da UFSC, e o apoio e estimulo dos estudantes do Centro Acadêmico Livre do curso de História.

Nosso objetivo era, por um lado, registrar os dez anos do desaparecimento do historiador britânico marxista Edward Palmer Thompson e, ao mesmo tempo, comemorar os 40 anos de lançamento da primeira edição de seu mais famoso estudo, “A Formação da Classe Operária Inglesa” e os 25 anos da publicação de “A Miséria da Teoria”. Por outro, a partir de sua memória, discutir alguns temas relevantes nas ciências sociais e tão caros a suas pesquisas e, ao mesmo tempo, celebrar sua obra do modo o mais adequado à sua tradição: promovendo o debate, a polêmica e o e diálogo, não apenas sobre o fazer da história, mas sobre o fazer da política e suas relações e implicações.

Daí o nome do Seminário, a nosso juízo, muito adequado: Política e Paixão. Adequado porque sua realização nos remete, mais uma vez, ao centro do legado teórico e político dessa rica tradição; reafirma nosso compromisso com o materialismo histórico, como orientação teórica indispensável para a compreensão da história real e nosso engajamento, político e teórico com uma “história a partir de baixo”. As discussões travadas promoveram a defesa da centralidade dos conceitos de “classe” e “consciência de classe” como categorias históricas fundamentais, especialmente em uma época que muitas tendências teóricas procuram negar seu significado e (esvaziar) sua importância, e o resgate de E. P. Thompson como um historiador que “aliou paixão e intelecto, os dons do poeta, do narrador, do analista” e sempre tentou conciliar razão e utopia.

Aproveitamos a oportunidade para agradecer mais uma vez a todos os que estiveram direta ou indiretamente envolvidos na organização e realização do Seminário que dá origem ao presente Dossiê, como também na edição desse número da revista Esboços.

Adriano Luiz Duarte

Ricardo Gaspar Müller

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