Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades – I / Revista Brasileira de História das Religiões / 2011

A Revista Brasileira de História das Religiões tem a satisfação de iniciar 2011 com um Dossiê dedicado ao tema Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. Este volume recolhe alguns dos trabalhos apresentados no III Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades, ocorrido entre os dias 20 e 22 de outubro de 2010, na Universidade Federal de Santa Catarina. Como nas duas oportunidades anteriores, o evento reuniu pesquisadores altamente gabaritados e um público qualificado, com o comum interesse no estudo da História das Religiões e das Religiosidades.

Quanto à temática, “Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades”, tratou-se de uma escolha pertinente devido à necessidade encontrada por todos nós de uma reflexão mais sistemática sobre um assunto de capital importância para a pesquisa e ensino. Tratar de religiões e religiosidades é abrir-se a uma discussão extremamente complexa, na qual não faltarão opiniões divergentes, opções teóricas antagônicas e contribuições não redutíveis à pesquisa histórica. A diversidade é sempre bem vinda e o debate acadêmico, sempre necessário.

O material aqui apresentado permite chegar a um público mais amplo uma parte do que foi o Encontro. Além dos textos inéditos dos coordenadores de Simpósios, contamos com duas resenhas. No link Publicações, estão os Anais do III Encontro, com textos completos de alguns dos trabalhos apresentados e enviados à Comissão Organizadora em tempo hábil.

O texto que abre este número da RBHR intitula-se Autobiografias Eclesiásticas: para além da representação de si, no qual Virgínia Albuquerque de Castro Buarque reconstitui as especificidades históricas e textuais da autobiografia eclesiástica católica, mediante sua contraposição a gêneros afins, como a hagiografia e a autobiografia laica.

No texto seguinte, Missionárias protestantes americanas (1870 – 1920): gênero, cultura, história, Eliane Moura da Silva trata as relações entre religião, cultura e papéis de gênero entre 1870 e 1920 tendo como objeto de estudo as missionárias protestantes americanas durante colonialismo e imperialismo.

Mario Teixeira de Sá Junior contribui em Fé cega justiça amolada. os discursos de controle sobre as práticas religiosas afrobrasileiras na República (1889 / 1950) ao abordar os mecanismos que a nascente república brasileira construiu para limitar a laicização do Estado brasileiro contido nas Constituições a partir de 1891, mais especificamente em seu artigo 11 parágrafo 2.

Patrícia Carla de Melo Martins em Padroado Régio no auge do Império brasileiro demonstra a importância do ensino jurídico para a legitimação do Padroado Régio brasileiro, entre as décadas de 1850 e 1870. A utilização da Filosofia Neotomista nas concepções de Direito Natural Positivo, nas Faculdades de Ciências Jurídicas, apresenta-se como hipótese.

O artigo Religiões afro-brasileiras e ética ecológica: ensaiando aproximações, de Antonio Giovanni Boaes e Rosalira dos Santos Oliveira, parte das conclusões de uma pesquisa realizada nas cidades de Recife e João Pessoa e analisa o modo como é percebida a relação entre a natureza e a religião na concepção dos adeptos de religiões afro-brasileiras, focalizando, particularmente, as diferentes formas de identificação entre as divindades e a natureza e a (possível) contribuição da cosmovisão religiosa afro-brasileira para a constituição de uma ética ecológica.

O sexto artigo é de Simone Becker, Entre a História e o Direito, entre humanos e inumanos: o que é que o discurso jurídico tem que só ele detém… e discute as “violências das representações” perpetradas pelos discursos jurídicos (sentenciais), cujas conseqüências extrapolam o contexto dos autos de um processo.

O trabalho de Salma Ferraz Santa Ceia profana analisar algumas paródias do quadro de Leonardo da Vinci, A Santa Ceia, conhecida em italiano como L’Ultima Cena ou Il Cenacolo, pintada em 1495-1497. Junto com o quadro Mona Lisa, Gioconda (1503-1507), também de Da Vinci, são uns dos quadros mais parodiados na estória da arte.

Em História ou Sociologia? A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo em debate Carlos Eduardo Sell retoma as polêmicas e contextualiza o debate acerca do texto mais conhecido de Max Weber atentando a vinculação estabelecida por Weber entre determinadas formas de conduta religiosa e seus reflexos na esfera econômica já engendrava polêmicas logo após a publicação do livro deste pensador.

Contamos ainda com o trabalho de José Rodorval Ramalho, Igreja católica, moral econômica e modernidade, que procura analisar a hipótese de que a Igreja Católica vem aprimorando a sua análise do ambiente capitalista moderno de maneira progressiva, a partir da leitura do texto que comemorou 100 anos da Rerum Novarum, a encíclica Centesimus Annus, assinada pelo Papa João Paulo II.

Rodrigo Portella no artigo Reflexos no espelho: reflexão sobre as Ciência(s) da(s) Religião(ões) nos programas de pós-graduação brasileiros reflete sobre um pouco do debate que se trava nos meios acadêmicos a respeito da identidade acadêmica da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões), particularmente no ambiente da pós-graduação.

Deus é mais: a supremacia da fé evangélica na ótica dos Atletas de Cristo da autoria de Reinaldo Olécio Aguiar busca as raízes de uma interpretação religiosa do esporte e sua conseqüente compreensão da supremacia da “fé evangélica” em relação às outras ofertas simbólicas, provenientes de outras religiões.

Mauro Passos, no artigo Lá vem a Bandeira… os Reis e seus atores, faz um estudo das “Folias de Reis”, particularmente em duas cidades do interior de Minas Gerais. O autor utiliza os procedimentos metodológicos da história oral, através de um conjunto de depoimentos, considerando que a religiosidade faz parte da cultura das classes populares, seu estudo é um importante instrumento para a compreensão das raízes culturais e históricas do povo brasileiro.

Por fim, em Festa católico-carismática e pentecostal: consumo e estética na religiosidade contemporânea, Emerson Sena da Silveira, discute as relações entre religião, consumo e estética a partir de dois estudos de caso na cidade de Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, Brasil. Reflete, ainda, sobre duas singulares manifestações festivas de importantes movimentos no campo religioso do Brasil: a renovação carismática católica e o pentecostalismo.

Esta edição da RBHR traz as resenhas de Daniel Lula Costa e Flávio Guadagnucci Palamin que tratam respectivamente das obras “Tolerância e intolerância nas manifestações religiosas” (2010) e “Identidades Religiosas” (2008) resultantes das conferências e mesas-redondas do I e II Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades – ANPUH.

Boa leitura!!


ANDRADE, Solange Ramos de. Editorial. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.3, n.9, Jan., 2011. Acessar publicação original [DR]