As Religiões Mediúnicas e a Política/Revista Brasileira de História das Religiões/2023

A chamada temática – As Religiões Mediúnicas e a Política, em diálogo com outros números publicados na RBHR (v. 9, nº 27 – “As crenças e suas articulações com a política e a sociedade”; v. 10, nº 28 – “As religiões mediúnicas e a História”; v. 13, nº 39 – “Religião e política no mundo contemporâneo”) evidencia como problemática central as interfaces entre as religiões mediúnicas e as questões políticas. Leia Mais

Direitos Humanos, Religião e Democracia/Revista Brasileira de História das Religiões/2022

A dignidade humana é fundamento do Estado Democrático de Direito, com fulcro no artigo 1º, inciso III da Constituição da República Federativa do Brasil. Para a consolidação e fortalecimento da democracia, constitui essencial a promoção da dignidade humana, que também é fundamento dos direitos humanos. Nesse contexto, a religião desempenha papel fundamental, razão pela qual, a presente chamada temática da Revista Brasileira de História das Religiões traz como tema Direitos Humanos, Religião e Democracia. Leia Mais

Trajetórias Globais das Religiões | Revista Brasileira de História das Religiões | 2021

Nesta chamada temática o nosso objetivo foi reunir resultados de pesquisas na forma de artigos científicos que discutissem a problemática de trajetórias globais das religiões em momentos históricos diferentes e as mudanças e transformações que estas crenças, vivências e práticas religiosas sofreram e continuam sofrendo por causa das suas “viagens”, migrações e, consequentemente, múltiplos processos de adaptação nas novas terras, sociedades e culturas.

Sabemos que as ideias religiosas jamais estiveram presas aos limites dos territórios, sendo preciso pensar como tem ocorrido a expansão de “novas” religiosidades. Se, por um lado, vemos a importância dos fluxos migratórios na produção de novos sentidos sagrados, por outro não podemos somente explicar a transnacionalização religiosa por padrões migratórios (OOSTERBAHN; VAN DE KAMP; BAHIA, 2020; ROCHA; VÁSQUEZ, 2013) – deslocamentos humanos desempenham um papel importante, porém vemos que alguns casos seguem a lógica das migrações, e outros são multidirecionais, sendo também conduzidos por interesses individuais (BAHIA, 2015; SILVA, 2014). Leia Mais

Manifestações das religiosidades no espaço cemiterial | Revista Brasileira de História das Religiões | 2021 (D)

Filosofia e Historia da Biologia 37 Manifestações das religiosidades no espaço cemiterial
Assim caminha a religiosidade. Imagem: ValmirSarmento.wordpress.com |

Apresentação

Nós só temos uma certeza

É que a vida tem um norte

Que nos leva para a morte

Faz parte da natureza

E nisso temos clareza.

No mundo qualquer sujeito

Tem tudo o mesmo direito

Não se fazendo mistério

– RICO OU POBRE, O CEMITÉRIO

RECEBE DO MESMO JEITO.

(Mote inspirado em Dalinha Catunda)

O ano de 2020 foi duramente impactado pela pandemia de Covid-19. Contaminação, isolamento, distanciamento social e mortes fizeram parte de nossa realidade nos últimos meses, afetando a todos ainda que de diferentes maneiras. Rituais foram interditados, reduzidos e ressignificados em alguns momentos e este local de despedida e homenagem foi esvaziado de sociabilidades e práticas religiosas, mas infelizmente ocupado pelos numerosos cadáveres vítimas dessa doença. Não apenas como um local cercado onde cadáveres são enterrados, o cemitério enquanto espaço para as manifestações religiosas também sentiu os efeitos dessa mudança recente, celebrações de devoções coletivas e individuais foram neste contexto interditadas. A sepultura enquanto signo da presença do morto para além da morte (ARIÈS, 1975) não pode cumprir plenamente sua função: ainda que continue afastando o cadáver agora contaminado, não permite rituais e simbologias que expressem essa passagem e recordação para os familiares e entes queridos.

Esta dimensão sagrada neste espaço de sepultamentos é encontrada em diversas culturas e é objeto de grande produção historiográfica no Brasil. Um de seus percursores é o sociólogo Clarival do Prado Valadares que na sua obra já clássica Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros enfatiza a transferência na crença de qualidades místicas dos mortos, ou a denominação de almas santas, que antes era limitada a padres para os mortos comuns com a laicização dos cemitérios (VALADARES, 1973, p.441). Sepulturas cujos mortos são dotados de algum tipo de santificação ou poder místico estão presentes em diferentes espaços e tempos. Devoções temporárias ou seculares não indicam um só modelo de morto. Do bandido à criança, vítimas de doenças, epidemias ou assassinatos, a diversidade no caráter do escolhido é tão ampla como a causa de seu falecimento. As formas de manifestação dessas devoções também são distintas, das mais comuns placas passando por gêneros alimentícios, objetos sagrados ou profanos, alguns permanecem e outros inéditos são acrescentados a este rol de ex-votos. A grande possibilidade de promessas, segundo Maia, indica como é a compreensão do milagreiro na vida desses devotos (MAIA, 2019, p. 127).

Essa espontaneidade devocional inspira a análise dessas práticas. Independente da vida ou do bom ou mau exemplo, da aprovação ou não de uma instituição religiosa, o milagreiro estabelece uma relação íntima com o devoto, um afeto concreto e sentido (ANDRADE JÚNIOR, 2008, p.97) Nesta chamada temática o objetivo geral foi reunir pesquisas que discutiram o cemitério para além desse espaço de sepultura dos mortos. Os textos aqui publicados procuraram identificar neste espaço as crenças, vivências e práticas religiosas articulando a necrópole com experiências variadas de devoção e representações individuais da fé.

Nessa perspectiva, reunimos textos que trazem contribuições para o debate do cemitério como espaço possível de múltiplas manifestações religiosas. Nossa amostra aqui publicada, indica as variadas possibilidades de abordagem dessa temática e a abundância de fontes e de pesquisas com diferentes interesses.

A chamada contém cinco artigos em que as relações entre as religiosidades e os cemitérios são pesquisadas a partir de abordagens específicas que apontam para as possíveis dinâmicas desse objeto de estudo. No primeiro artigo de Ludimila Campos, Piedade Mariana e hibridismo cultural na catacumba de Santa Priscila e no sarcófago de Adelfia (séc. III-IV) o processo de enterramentos subterrâneos na Roma Antiga e a mistura entre culturas pagãs e o cristianismo permitem ao pesquisador entender como certos elementos foram apropriados pela nova crença. As inscrições nos sarcófagos caracterizam a riqueza de fontes possíveis para evidenciar o hibridismo que é a marca dessas manifestações. O artigo demonstra como nestes espaços já existia uma religião mortuária pagã e que com o cristianismo essa cultura funerária recebeu novas particularidades.

O segundo artigo é marcado por um grande salto cronológico e espacial. Em Consolo escatológico: cemitérios, morte e porvir em relatos e obituários adventistas durante a Gripe Espanhola, Allan Macedo de Novaes problematiza a questão do espaço cemiterial para uma instituição religiosa em que tal aspecto foi pouco explorado. Sua grande contribuição nessa pesquisa está na análise de um conjunto riquíssimo de fontes que apresentam os cemitérios como espaços de disputa para os membros da Igreja Adventista neste contexto de epidemia, em que o evangelismo e a confirmação da doutrina indicam o predomínio dos ritos fúnebres dirigidos por consolo escatológico. O artigo questiona como a não crença no além e as narrativas apocalípticas influenciam os sentidos de morte e salvação que rondam o lugar do cemitério nas narrativas adventistas da Revista Mensal.

Os milagreiros de cemitério são o tema do artigo Maria Adelaide (XIX) e Antero da Costa Carvalho (XX) a religiosidade popular no espaço cemiterial de Jaciely Soares Silva. A questão da religiosidade popular é analisada a partir de dois estudos de caso um do Brasil e outro de Portugal. Nesta perspectiva, o artigo discute a devoção a Antero em Catalão-GO, Brasil, que em 1930 foi linchado pela população e, Adelaide, pertencente à freguesia de Arcozelo, em Portugal, exumada em 1916, muitos anos após seu falecimento e que seu corpo foi encontrado incorrupto. Casos distintos, em espacialidades distantes, mas que possuem pontos de união, manifestada principalmente pela superação de sua existência privada para a esfera de um sagrado coletivo. A dimensão da apropriação e ressignificação desses mortos constitui elementos de um poder popular de escolha de suas devoções. O protagonismo do devoto é enfatizado nestes dois exemplos.

Nós que aqui estamos a vós ajudamos é o artigo dos pesquisadores José Cláudio Alves de Oliveira e Edvania Gomes de Assis Silva. A comparação entre duas manifestações religiosas cemiteriais é apresentada no texto a partir das análises da devoção nos Estados Unidos no espaço da sala de milagres do cemitério de São Roque (Saint Roch), em Nova Orleans; e no Brasil, no Cemitério da Consolação em São Paulo, nos túmulos de Antônio da Rocha Marmo e de Maria Judith de Barros. O significado cultural do espaço cemiterial é abordado nessa análise que percebe na presença e riqueza de ex-votos a dimensão incontrolável da devoção aos mortos e sua capacidade de interceder nos pedidos dos vivos. Nesta pesquisa, a conexão entre morte ou morto e a graça que pode ser concedida evidencia os múltiplos sentidos dessa devoção. Maria Judith de Barros pode ser solicitada igualmente por estudantes que enfrentam concursos como Enem ou Vestibular e pessoas que estão com problemas conjugais ou desejam adquirir uma casa própria.

Finalizando o volume, contamos com o artigo Morte e cemitério na memória coletiva e identidade étnica dos pomeranos e seus descendentes no Brasil de Renata Siuda-Ambroziak e Cione Marta Raasch Manske. O objetivo deste artigo é refletir sobre o papel da morte e o local do cemitério na memória coletiva entre os pomeranos e descendentes assentados em Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo. A contextualização da inserção dessa comunidade e a articulação com a questão religiosa, já que se configurava em um grupo luterano, influenciaram a ênfase em aspectos étnicos que reforçassem as origens. Os três cemitérios analisados na pesquisa, exemplificam a manutenção das tradições, e também os conflitos entre questões identitárias e a nova realidade enfrentada pela comunidade.

A chamada temática procurou avançar na temática a partir de diferentes propostas teórico-metodológicas em que este espaço dos mortos, o cemitério, permite a compreensão de diversificadas formas de devoção e religiosidade, marcadas pela valorização deste espaço e da memória desse indivíduo morto. Esta dimensão do cemitério permite a compreensão das transformações nos processos do morrer e de nossa relação com os mortos, o que atrai, afasta ou leva ao total esquecimento uma devoção. Num momento tão trágico para a História da Humanidade e especialmente para o Brasil, pensar na valorização dos cemitérios, práticas de memória e o culto aos mortos é um desafio diário e uma forma de resistência.

O volume finda com artigos livres.

Dra. Adriane Piovezan (FIES – Faculdades Integradas Espírita)

Dr. Lourival Andrade Júnior (UFRN-CERES-DHC/Programa de Pós-graduação em História dos Sertões)


PIOVEZAN, Adriane Piovezan; ANDRADE JÚNIOR, Lourival. Apresentação – Manifestações das religiosidades no espaço cemiterial. Revista Brasileira de História das Religiões. Marigá, v.14, n.40, p.5-8, maio / ago. 2021. Acessar publicação original [IF].

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Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência / Revista Brasileira de História das Religiões / 2021

O presente dossiê teve contribuição de treze excelentes textos que nos ajudam a contribuir a atuação intercessão entre cristãos e a política brasileira mais recente. Pode-se dizer que política e religião a cada momento, a cada nova configuração governamental se relacionam de forma distintas tal como narram Judith Butler e Gayatri Spivak (2007) sobre a arena dos diferentes estados nacionais. Agora, nos diferentes estados acaba que se tornou em alguns aspectos, caracterizado pelo questionamento da laicidade por seus atravessamentos.

1 A laicidade e o esboço de suas formas

Assim, uma questão da hora que se coloca sobre as desventuras de religião e política é sobre o aparato caraterizado como “laicidade” no âmbito dos Estados, sobretudo, nas questões da abstenção da religião. Esse sentido e grau de abstenção envolve no âmbito da sociedade uma infinidade de “embates de interpretações envolvidos sobretudo nos nichos promotores e suas diferentes apreensões religiosas” (RICOEUR, 1995, p.313). Esse curto-circuito de intensos conflitos foram apontados em linhas gerais em importante entrevista de Paul Ricoeur de 1995 – um dos raros textos que tratou dessa topografia teórico-social.

A definição de laicidade, as conexões de religião e política no âmbito dos Estados, é primeiro uma variável da conjuntura da gestão governamental do estado. Paul Ricoeur (1995) admite sobre isso que a noção de laicidade é diferente no Egito, na França, Portugal, Gabão e Inglaterra, nisso se alinha com teóricos com Nicos Poullantzas (1976), Judith Butler e Gayatri Spivak (2007) que a interpelação nos estados é uma variável local dependente de cada história social da religião oficial e do conjunto de forças hegemônicas. Por exemplo, Poullantzas (1976) indica que a Inglaterra respeita seu processo de laicidade respaldando os conflitos religiosos internos, mesmo assumindo, a partir a figura da rainha como liderança rainha e dirigente anglicanismo. A laicidade inglesa é descrita por Christian Smith (2003) vai designar de aberta para experiencias de fé, mesmo dando a primazia para o cristianismo de Westminster.

De igual forma Smith (2003) escreve sobre a França emergida no ambiente da Revolução Francesa, prorrogou um critério de laicidade, de retirada de símbolos e expressões religiosas dentro dos gabinetes até o ano de 2018. Por isso, Smith (2003) vai chamar o estado francês de “fechado” as discussões, diálogos e embates das expressões de fé. A partir de 2013, com uma série de campanhas e levantes mulçumanos e de migrantes acarretou na revisão da noção francesa de abolição de símbolos religiosos, até porque ocorriam cobranças das populações mulçumanas por conta das rezas diárias que se fazem na direção de Meca. Essa revisão de décadas da laicidade francesa se deu como uma série de acusações das populações emigradas que se referiram “o racionalismo europeu como racista” (PORTIER, 2019).

2 Laicidade no âmbito da sociedade

A noção de laicidade brasileira é ligada a laicidade portuguesa, uma forma mista das operações dos ambientes ingleses e franceses. Por isso Smith (2003) utiliza a expressão laicidades “mistas”, o que se torna mais desafiadora para as análises, pois admite internamente duplicidades de narrativas e aparentes contradições de argumentos.

Só por isso, afirma-se a importância desta edição da Revista Brasileira de Histórias das Religiões/ANPUH, com a discussão sobre cristãos e política em tempos difíceis.

Ao olhar mais o panorama da sociedade, ainda que sobre as sinalizações dos teóricos franceses, Phillip Portier (2011, p.190-195) indica-se que exista “há a laicidade do Estado, que pode ser referida com uma palavra: abstenção, com conotações restritiva e negativa”. O “Estado laico deve assumir papel de neutralidade em relação à religião e, consequentemente, às instituições religiosas” (PORTIER, 2011, p.195). Logo, seus representantes e estatutos não deveriam privilegiar ou posicionar-se de maneira agressiva em relação a nenhuma manifestação religiosa, o que para Paul Ricoeur (1995) esse caminho seria de uma espécie de “agnosticismo estatal”. Nesse sintagma a separação entre Estado e religião não implica simples ignorância de um em relação ao outro, mas, “há o intento de delimitar de maneira adequada o papel de cada um, de maneira que a religião seja reconhecida pelo Estado como entidade, com regimentos, registro e estatuto público, submetida às leis que regem os demais grupos e agremiações sociais” (RICOEUR, 1997, p.81).

Em termos jurídicos as instituições religiosas não têm o poder centralizador, configurando-se como mais uma associação dentre as outras, portanto, a religião não é “todo o estado, mas parte dele” (PORTIER, 2011, p.196). Paul Ricoeur (1995 p. 181), está convencido de que este conceito de laicização se mostra mais normativo do que efetivo, quando diz: “creio que é preciso ter mais sentido histórico e menos ideológico, para abordar os problemas ligados à laicidade”. O que se quer esmiuçar: os diversos Estados-nação, a partir de sua formação histórica peculiar, há mobilizações próprias sobre as religiões e as instituições estatais.

Junto a esse conceito de laicidade existe outro mais dinâmico. Quando se analisa no âmbito da sociedade civil, a laicidade coloca-se como embate de posicionamentos distintos, como pluralidade e diversidade de perspectivas. Esses conflitos de posicionamentos pressupõe uma sociedade marcada pelo pluralismo de concepções de mundo, de crenças, de ideias, de ideologias, de interpretações e de convicções. Em uma sociedade marcada por esta diversidade, a laicidade assume caráter dinâmico em razão do campo de disputas que se instaura. Esse “conflito de interpretações” não tem por objetivo a harmonização, um consenso. Mas, antes, assume-se que, em muitas questões, a impossibilidade de um acordo é patente. O que não é negativo, desde que se preserve as partes em desacordo. O conflito das interpretações, desde que se preserve os atores e seus argumentos, é uma forma de preservação das liberdades e dos conjuntos.

3 Tensões e questões da laicidade em disputa no Brasil

No Brasil atual, em que cada vez mais se aumentam os atravessamentos entre religião e política, deve-se lembrar que os conflitos de interpretações religiosas são inerentes a formação do Estado republicano (1889) que se mantém neutro, ao menos oficialmente, em relação a instituições religiosas, ou então, deveria ser mantido. Com esses dados sobre religião e política no Brasil podemos vislumbrar incursões dos atores religiosos, em especial católicos e evangélicos, na construção de uma patrulha ideológica nos postos do Estado brasileiro e sua ocupação efetiva, e, todos os níveis, local, regional e federal e se espraiando pelos três poderes. Daí a importância desse dossiê, e sobretudo, que a laicidade brasileira não seja um conceito dado, fixo, mas se encontra em disputa.

É o que se pode perceber, quando o atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, afirmou em 2019 no maior evento evangélico do país, a Marcha para Jesus: “O país é laico, mas eu sou cristão”. Está ocorrendo um claro deslocamento da neutralidade do estado, e o se preservando as partes nos conflitos religiosos internos a nossa sociedade (PY, 2020). Por outro lado, isso sempre foi uma ponta de disputa, como por exemplo, com o advento do Estado de 1892, na primeira Carta Constitucional da República, tratou-se sobre a laicidade brasileira, e por conta dela o clero viram a necessidade de tentar “recatolicizar”, e passaram a investir nas novas instituições republicanas, buscando influenciar decisões políticas e sociais por meio da formação de uma elite intelectual católica (SILVEIRA, 2019).

Um dos marcos desse início e reação católica foi a promulgação, em 1916, da Carta Pastoral de Dom Sebastião Leme, arcebispo de Olinda e Recife, tornou-se, mais tarde, arcebispo e cardeal do Rio de Janeiro pelas mãos do Papa Pio XI (SILVEIRA, 2019). A Carta Pastoral fazia parte de um momento que se delineava desde a origem da República Brasileira, quando a Igreja Católica reuniu suas forças para consolidar reformas internas, como o recrutamento de novos membros estrangeiros para as ordens religiosas, a criação de novas dioceses e a consolidação de um discurso e de uma ação mais homogêneos (SILVEIRA, 2019). Assim, o dossiê apresentará uma série de reflexões teóricas e de objetos empíricos, construtos de seus autores e autoras, na forma de treze artigos que brindam os leitores e pesquisadores dos temas do Brasil contemporâneo.

4 Os artigos do dossiê

Logo em seguida, o trabalho intitulado “Pela “família tradicional”: campanha de candidatos evangélicos para a ALEP nas eleições de 2018”, escrito pelos pesquisadores Frank Antonio Mezzomo, Lucas Alves da Silva, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro, discutem a partir do material de campanha (coletado nas redes sociais e sites) de alguns candidatos a deputados estaduais no estado do Paraná, seus posicionamentos políticos. Os temas centrais encontrados em geral foram: a defesa da escola sem partido, a luta contra a ideologia de gênero, e debates sobre a reprodução da vida. A preocupação destes candidatos é em geral com temas religiosos e morais.

A pesquisadora-docente Dora Deise Stephan Moreira contribui com o artigo denominado “A trajetória de Marcelo Crivella: de cantor gospel a prefeito da segunda maior cidade brasileira em 2016”. O texto discute as ações adotadas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para eleger inicialmente para o cargo de senador o bispo licenciado Marcelo Crivella, e depois, ao cargo a prefeitura do Rio de Janeiro que foi eleito em 2012. A dança entre a imagem religiosa e a imagem política se complexifica e é utilizada por Crivella de forma instrumental, ao sabor das circunstâncias políticas-eleitorais. Em todas as campanhas disputadas por Marcelo Crivella houve a vinculação da sua imagem com o projeto Nordeste. Projeto este desenvolvido pela IURD para fins sociais. Percebeu-se a associação do referido político com a questão midiática, assistencial, religiosa e moralista.

O próximo texto a ser apresentado e de autoria do docente da Universidade do Estado do Pará Saulo Baptista. O título do seu trabalho é “Os Evangélicos e o Processo Republicano Brasileiro”. No início do seu trabalho, o autor faz uma recapitulação histórica da chegada dos protestantes em terras brasileiras e sua presença pública em contraponto a hegemonia católica. Logo em seguida, contextualiza o surgimento e o desenvolvimento dos pentecostais e dos neopentecostais na política brasileira. O texto termina com uma eximia reflexão a respeito da presença dos evangélicos na atual conjuntura política nacional.

O docente Aldimar Jacinto Duarte e Seabra Vinicius contribuem com este número com o texto chamado “O campo político e o campo religioso a partir dos jovens ligados a International Fellowship of Evangelical Students (IFES) na América Latina”. Muito interessante a reflexão desenvolvida a respeito da postura, aparentemente, apolítica do grupo do IFES. Para chegar a esta conclusão foram aplicados questionário via Google-Forms em vinte países da América Latina, obtendo 228 respostas. A análise dos dados foi feita a partir dos conceitos da teoria de Pierre Bourdieu. Tal grupo é majoritariamente formado por jovens universitários.

Os pesquisadores Ricardo Ramos Shiota e Michelli de Souza Possmozer escreveram o texto denominado “O Brasil cristão da Frente Parlamentar Evangélica: luta pela hegemonia e revolução passiva”, que discute a partir das informações contidas no Facebook da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), criada em abril de 2019. Sabemos que a FPE é entusiasta apoiadora do governo Jair Bolsonaro (sem partido), sobretudo pelo alinhamento ideológico na defesa das pautas de costume ou morais, fundamentalismo religioso e defesa de postura vinculadas aos expecto ideológico de extrema direita. Foram analisadas 209 publicações, entre 01 de abril e 31 de outubro de 2019. A teoria escolhida para analisar os dados foram os conceitos desenvolvidos por Gramsci.

Os autores Cézar de Alencar Arnaut de Toledo e William Robson Cazavechia adotaram como título do texto, “As Formas de Adaptabilidade do Neopentecostalismo Brasileiro à Mídia” e discutem a presença do conservadorismo religioso neopentecostal na mídia brasileira. Historicamente os evangélicos tiveram concessão de rádio, tv, criaram páginas de internet, e o uso das redes sociais com o intuito de posicionarem a respeito dos mais variados temas nacionais na perspectiva do fundamentalismo cristão. O texto é instigante e nos mostra como a mídia é bem trabalhada por este grupo religioso no Brasil.

O texto publicado foi de autoria dos autores Fabio Lanza, Luiz Ernesto Guimarães, José Neves Jr. e Raíssa Rodrigues, cujo título é “Engajamento político e Renovação Carismática Católica em Londrina-PR (2014-2016)”. O texto discute os posicionamentos políticos dos grupos católicos carismáticos (RCC) na cidade de Londrina inteiro de São Paulo. A partir de visitas de campo e entrevistas semiestruturadas, os autores conseguiram perceber a visão de mundo das lideranças deste universo religioso sobre o atual momento político brasileiro, Em geral, os representantes ou postulantes da RCC a cargo para o poder legislativa ou executivo, defendem pautas conservadoras, são fundamentalistas religiosos e benefícios institucionais para organismos de inspiração carismática católica e outros segmentos da Igreja Católica no Brasil.

Ao discutir o governo Bolsonaro na relação religião e política, a união entre católicos e evangélicos tem evidenciado de forma rotineira. O texto “Entre a articulação e a desproporcionalidade: relações do Governo Bolsonaro com as forças conservadoras católicas e evangélicas” escrito por Marcelo Ayres Camurça Lima e Paulo Victor Zaquieu-Higino tenta compreender se esta aproximação pode ser caracterizada como uma ação ecumênica de extrema-direita, num contramovimento do que no passado caracterizou as tentativas de aproximação entre os diferentes grupos cristãos em torno, por exemplo, da Teologia da Libertação e das lutas sociais na América Latina. Uma forte indagação é feita e discutida ao longo do texto: nessa trama religioso-política de extrema-direita, o catolicismo estaria sendo “eclipsado” e o pentecostalismo destacado? Não tenha dúvida que o atual governo aciona a religião para fundamentar suas ações e visões de mundo na política.

O próximo trabalho a ser apresentado traz como título “Guerras culturais e a relação entre religião e política no Brasil contemporâneo” escrito pelos pesquisadores Roberto Dutra e Karine Pessôa. O texto versa da presença da moralidade na política, provocada pela religião nas eleições de 2018. Os autores recorrem as categorias da sociologia política sistêmica de Niklas Luhmann para analisar o fenômeno religião e política na eleição referida.

O artigo chamado “A ‘governabilidade’ petista” escrito pela pesquisadora Amanda Mendonça é bem interessante e supre lacuna na literatura a cerca religião e política, que versa sobre a relação do Partido dos Trabalhadores (PT) com os pentecostais e os católicos, no período que esteve à frente da presidência do Brasil. A autora mostra que evangélicos e católicos uniram-se em torno da defesa de pautas conservadoras e, ainda que dando alguma sustentação político-partidária, causaram conflitos com a gestão petistas por entenderem que a “essência” do governo era contrária ao seu ideário religioso. Por outro lado, os governos petistas ofereceram alianças, cargos e apoio direto e indireto – subvenção de comunidades terapêuticas religiosas para o tratamento de drogadições, concessões de rádio e TV por exemplo – aos grupos cristãos em nome da governabilidade, essa geringonça feita de modos heteróclitos e que em 2018 entrou em um novo patamar de crise.

Os pesquisadores do campo das relações internacionais Anna Carletti e Fábio Nobre com o texto intitulado “A Religião Global no contexto da pandemia de Covid-19 e as implicações político-religiosas no Brasil”, nos mostra como líderes religiosos no Brasil e no mundo reagiram a pandemia Covid-19. Os pesquisadores André Ricardo de Souza e Breno Minelli Batista contribuem com o trabalho intitulado “Os efeitos políticos no Brasil dos sete anos iniciais do Papa Francisco”, tentando compreender as relações políticas e religiosas do Papa Francisco com o governo Jair Bolsonaro (sem partido). Sabemos que o Papa Francisco assume o papado em 2013, logo após, a renúncia do atual Papa Emérito Papa Bento XVI.

E por fim, o docente Graham McGeoch com o trabalho “Field Notes from Brazil: We don’t believe in Democracy”, faz uma interessante reflexão da presença dos elementos religiosos na atual conjuntura política brasileira, elegendo a eleição e o governo Bolsonaro como tema de análise. Daí, extraímos algumas perguntas: Que tipo de democracia é esta que temos e o porquê ela se enredou em uma trama político-religiosa de extrema-direita? É possível acreditar nesse tipo de democracia? E, por fim, que outra democracia podemos sonhar para sairmos uma relação disfuncional, inflamada e perversa entre cristianismo reacionário e política estatal (um estado de sítio) que a democracia liberal-representativa permitiu vir à luz.

Referências

BUTLER, Judith; SPIVAK, Gayatri. Who sings the Nation-State? Language, Politics, Belonging. New York: Seagull. 2007

POULANTZAS, Nicos (Org.), La Crise de l’État. Paris : Presses Universitaires de France, 1979.

PY, Fábio. Pandemia cristofascista. São Paulo: Recriar, 2020.

RICOEUR, Paul. Phenomenology and the social sciences. In: KOREBAUM, M. (Org.). Annals of Phenomenological Sociology, Ohio: Wright State University, 1977.

RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações. Ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro: Imago, 1978.

RICOEUR, P. Leituras 1. Em torno ao Político. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

SMITH, Christian. The secular revolution: power, interests, and conflict in the secularization of American public life. Berkeley: University of California Press, 2003.

SILVEIRA, Emerson. J. S. Padres conservadores em armas: o discurso público da guerra cultural entre católicos. Reflexão, PUCCAMPINAS, v. 43, 2019, p. 289-309.

Fábio Py – Professor do Programa de Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Riveiro. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7634-8615.

Emerson Sena da Silveira –  Doutor em Ciência da Religião, antropólogo, professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5407-596X.

Marcos Vinicius Reis Freitas – Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente do Curso de Pós-Graduação em História Social pela UNIFAP, Docente do Curso de Pós-Graduação em Ensino de História (PROFHISTORIA). (CEPRES-UNIFAP/CNPq). E-mail para contato: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0380-3007.


PY, Fábio; SILVEIRA, Emerson Sena da; FREITAS, Marcos Reis. Apresentação – Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência. Revista Brasileira de História das Religiões. Marigá, v.13, n.39, p.5-12, jan. / abr. 2021. Acessar publicação original [IF].

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História das Romarias no Mundo Ibero-Americano / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020

Rezar com os pés. Nas palavras de romeiros que palmilham o chão em busca dos espaços sagrados, esta é uma das assertivas mais comuns e contundentes na definição da romaria. Ser romeiro incide em constituir-se enquanto sujeito que busca o sagrado a partir do deslocamento dos espaços, que experimenta a sacralidade em cada passo, que transmuta o corpo em epicentro de sensibilidades sensoriais. O corpo do romeiro emerge como evidência da prática e esta, por sua vez, como testemunha de sonhos e desejos. São vestígios tingidos no espaço e no tempo, que sinalizam para a história dos de baixo, das camadas populares.

Esta chamada temática da Revista Brasileira de História das Religiões tem como escopo a história das romarias no mundo ibero-americano. Como prática devocional dos de baixo, experiência social das camadas populares, historicamente marginalizadas, as romarias foram, durante muito tempo, vistas como expressões imóveis, uma penumbra de passado superado que insistia em continuar no presente. Uma presença incômoda do outro: o maltrapilho, o pobre, o sujeito tido por uma elite (clerical, política ou intelectual) como desviante, ultrapassado, desvirtuado ou agonizante. Uma experiência de outrora, engessada e incapaz de se reinventar. Um desvio das camadas populares que para o clero necessitavam de reforma litúrgica; para os folcloristas remetiam a um passado anônimo e atemporal; e, para os políticos, exigiam vigilância e controle, enquanto para a esquerda católica demandava-se a conscientização. Entre esses múltiplos sujeitos que teceram uma polifonia discursiva, responsável pela tessitura de um emaranhado de leituras, havia em comum a certeza de que os romeiros, entendidos como “os outros”, existem para serem “corrigidos”. Em outras palavras, os romeiros formariam um grupo social explicitado pelo desvio.

Neste sentido, a proposta dessa chamada temática consistiu em reunir trabalhos que explicitassem as romarias em duas perspectivas: primeiramente foi pensar as romarias historicamente, superando a frágil ideia de que se trata de um eterno imutável, ou seja, é o desafio de entender as especificidades de cada momento histórico da romaria, pautada na valorização do protagonismo de seus romeiros interpretados a partir de seu contexto. A segunda perspectiva implica no desafio de pensar as rupturas e reinvenções acerca dos espaços sagrados e das experiências romeiras, a partir dos valores atribuídos aos sujeitos protagonistas de tais práticas. O que pensam os romeiros sobre os santuários e seus santos de devoção? Quais hierarquias são tecidas em suas experiências de deslocamento? Em suma, é o desafio de pensar a história a partir do emergir de novos protagonismos.

No mundo ibero-americano, em grande medida, as romarias passaram a se constituir como um dos principais eixos norteadores das identidades nacionais, regionais e locais. Identidades forjadas em contextos específicos, como a emblemática década de 30 do século XX, momento no qual governos nacionalistas passaram a constituir políticas culturais a partir do uso de romarias como símbolos da nação. Esse foi o caso de Nossa Senhora de Fátima (Portugal), Nossa Senhora Aparecida (Brasil), Nossa Senhora de Coromoto (Venezuela), Nossa Senhora de Guadalupe (México) ou Nossa Senhora de Luján, na Argentina. Se em alguns casos, a devoção é usada politicamente como símbolo da nação, também é notória a força popular de devoções regionais, que explicitam a polifonia devocional do multifacetado mundo religioso ibero-americano, como as multitudinárias romarias de Nossa Senhora del Rocío (Almonte, na Andaluzia, Espanha), Nossa Senhora Divina Pastora (Barquisimeto, na Venezuela) e Nossa Senhora de Nazaré (em Belém do Pará, no Brasil). Expressões devocionais visualmente impactantes e que referendam a complexidade da dinâmica intrínseca e extrínseca das romarias.

Neste sentido, a chamada temática reuniu textos que tiveram como foco as romarias em diferentes contextos espaciais e temporais, assim como em suas múltiplas dimensões em âmbito cultural, social, econômico e político, bem como as tensões envolvendo clero, intelectuais, políticos e romeiros. Expressões devocionais lidas a partir de elementos epistemológicos da História, Antropologia e Turismo.

Com isso, publicamos quatro leituras acerca das romarias. O primeiro texto, intitulado “Tradição e história de uma devoção católica no norte peruano (Santíssima Cruz de Chalpón)”, tem como escopo a festa religiosa da Santíssima Cruz de Chalpón, na cidade de Motupe, analisando-a como uma devoção católica específica a partir da perspectiva da tradição oral e da história. Trata-se de uma interessante leitura que articula as memórias de romeiros com experiências devocionais no sul do Brasil, a partir da figura de Juan Agustín de Abad. Com isso, interpreta-se como a festa a Santíssima Cruz de Chalpón, em sua essência, é semelhante a outras manifestações religiosas católicas espalhadas pela América Latina.

O segundo texto, intitulado “Romarias a lugares sagrados no sertão da Bahia: leituras e memórias em Monte Santo”, tem como cerne um dos mais notáveis espaços devocionais do Brasil. O artigo analisa as romarias ao Santuário da Santa Cruz, o antigo no Brasil que representa a Via Crucis de Jesus, desde o seu surgimento em 1785, na Serra do Piquaraçá na cidade de Monte Santo na Bahia. A Via Crucis de Monte Santo começou a ser construída sob a supervisão direta do Frei Apolônio de Todi. Com isso, o texto explicita com no Sertão do Estado da Bahia, as práticas do catolicismo popular são encontradas em diversas cidades, vilarejos ou mesmo no campo, destacando-se Monte Santo, para onde acorrem as romarias ao Santuário da Santa Cruz.

O terceiro texto também mobiliza uma leitura acerca de um centro de romaria na Bahia. Trata-se do artigo “Razões para peregrinar: experiências devocionais no santuário do Sagrado Coração de Jesus da Gruta da Mangabeira (Ituaçu – BA, 1900- 1950)”, que se propõe a investigar a vivência religiosa em Ituaçu – BA, cidade da Chapada Diamantina, na primeira metade do século XX. Assim, a pesquisa elucida o espaço sacralizado, no qual os fiéis rendem graça, renovam seus votos e promessas. Assim, anualmente, entre os meses de agosto e setembro, os devotos e romeiros ocupam a Gruta da Mangabeira com seus cantos, benditos, rezas, ladainhas, novenas e procissões.

O quarto e último artigo da chamada temática provoca outro olhar acerca das romarias. Trata-se do texto “Romaria na Música Popular Brasileira” que desenvolve uma análise reflexiva da temática romaria na Música Popular Brasileira, tendo como aporte as devoções marianas de norte a sul do país. É uma leitura na qual explicita a linha tênue entre sagrado e profano na cultura religiosa e musical dos brasileiros.

Com isso, convidamos os leitores a se deslocarem pelas páginas da Revista Brasileira de História das Religiões e mergulharem em diferentes experiências atinentes ao complexo universo das romarias no mundo ibero-americano. Boa leitura!

Magno Francisco de Jesus

Maria Teresa Arcila


JESUS, Magno Francisco de; ARCILA, Maria Teresa. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.13, n.38, set. / dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

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Pentecostalismo e Política / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020

A chamada temática “Pentecostalismo e política” reuniu pesquisas que analisaram o fenômeno pentecostal e sua influência na política sob diversos ângulos. Os pentecostais como grupo específico do segmento evangélico-protestante brasileiro mantiveram relações políticas de diversos matizes desde seu surgimento no Brasil em 1910 até o atual governo bolsonarista. Composto de doze artigos, sendo onze deles sobre o Brasil e um sobre a Argentina, esta chamada contribui para o debate atual sobre o impacto do fenômeno pentecostal na política desde o início do século XX.

No primeiro artigo, “Igrejas pentecostais e sua atuação política recente no Brasil”, David Mesquiati de Oliveira critica algumas categorias utilizadas para análise da relação entre pentecostalismo e política, faz um panorama da atuação pentecostal e aproximações sobre a relação entre igrejas pentecostais e a política partidária.

No segundo, “Pentecostais na Política: da Constituinte aos dias atuais”, Wanderley Rosa analisa a mudança de postura dos pentecostais, mais perceptível desde os acontecimentos que cercaram a Constituinte em meados da década de 1980, e compara essa atuação com a de setores mais progressistas do protestantismo da época, indicando haver outras agendas possíveis. “Epistemologia pentecostal e presença política”, Kenner Terra afirma que o ethos carismático-pentecostal é experiencial e místico, e não ficou isolado em uma perspectiva pessoal, pois essa nova racionalidade descobriu sua ingerência no mundo, culminando em uma participação pública mais ativa, “seja para o bem ou mal”.

Em “Deus acima de todos? A construção da teo-política na crise das democracias”, Eduardo Gusmão analisa como a crença e a ideia de um divino soberano aplicada à política afeta na construção da subjetividade de uma nação. No artigo “Pentecostais, Fundamentalismo e Laicidade no Brasil: uma análise da atuação da bancada evangélica no Congresso Nacional”, Bertone de Oliveira Souza confrontou os conceitos de fundamentalismo e laicidade e buscou analisar alguns projetos de leis propostos pela bancada evangélica a partir da redemocratização.

“Religião e política: o pentecostalismo, o sínodo para a Amazônia e a política ambiental no Brasil”, escrito por Moab César Carvalho Costa, considera como a teologia pentecostal, sob influência do dispensacionalismo pré-milenista, definiu a perspectiva dos pentecostais em relação às questões políticas e ambientais, que em muitos casos é diametralmente opostas às concepções ecológicas adotadas pela Igreja Católica no Sínodo para a Amazônia. Samuel Pereira Valério, em “Pentecostalismo, catolicismo e bolsonarismo – convergências”, busca mostrar as convergências entre os conservadores, sejam eles evangélicos ou católicos, que se tornaram a base religiosa do eleitorado bolsonarista.

No sétimo artigo, “Governo Bolsonaro e o apoio religioso como bandeira política”, Fábio Falcão Oliveira reflete sobre a base do populismo evangélico do atual presidente do Brasil. Gedeon Freire de Alencar, em “Jair Messias Bolsonaro: o ‘eleito de Deus’?”, mostra o uso instrumentalizador que o presidente Bolsonaro faz da religião, especialmente dos evangélicos e pentecostais, indicando o quanto essas ações podem ser mimetizadas como ações divinas.

Em “Revista A Seara e o debate sobre a inserção da Igreja Assembleia de Deus na política partidária (1956-1958)”, André Dioney Fonseca resgata as publicações de um importante periódico religioso pentecostal que tratou da questão político-partidária já em meados do século XX com posturas bem diferentes do que efetivamente se veio adotar posteriormente. Esse registro é importante para perceber que nunca se viveu uma curva ascendente na questão dos posicionamentos oficiais das igrejas pentecostais. Nicolás Panotto, por outro lado, contribui com um estudo sobre a realidade argentina. Em “Liderazgo, carisma y procesos de identificación en el campo evangélico. El caso de una iglesia pentecostal en Argentina”, Panotto estuda a formação do carisma das lideranças e as relações de poder no campo pentecostal argentino.

Em “‘Pela paz de Jerusalém’: a origem do sionismo cristão, sua influência na igreja protestante brasileira e sua atuação no Congresso Nacional”, Wilhelm Wachholz e André Daniel Reinke analisam o sionismo cristão e a influência das posições direitistas norte-americanas no posicionamento de alguns agentes da bancada evangélica. O número ainda conta uma resenha.

Não temos dúvidas de que os artigos compilados nesta chamada temática oferecerão novas proposições, gerando diálogos profícuos e contribuindo de maneira relevante para o fortalecimento do Estado democrático de Direito. E que todos nós, reforcemos o compromisso da pesquisa constante, da persistência e da certeza de um dos eu líricos de Mario Quintana:

Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho

Eles passarão…

Eu passarinho!

Adriano Lima

David Mesquiati


LIMA, Adriano Souza; OLIVEIRA, David Mesquiati. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.13, n.37, maio / ago. 2020. Acessar publicação original [DR]

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Gênero e Religiosidades: resistências e modos de vida / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020

A chamada temática “Gênero e Religiosidades: resistências e modos de vida” foi proposta com a intenção de congregar trabalhos atentos a práticas e experiências diversas de vida religiosa a partir das categorias gênero e resistência. Consideramos que a pertinência da proposição se fundamenta no exercício de pensar as múltiplas dimensões que conformam nosso Tempo Presente, particularmente no que diz respeito às tensões, imposições e reinvenções quanto às questões de gênero, categoria central para analisar práticas e experiências religiosas.

Articuladas as noções de classe e etnia, as questões de gênero, segundo sugere Ana Maria Bidegain (1996), são úteis não apenas para a escrita da história das religiões, mas igualmente, para possibilitar a compreensão de uma omissão a respeito das mulheres (e, acrescentamos, de outras identificações de gênero) nas religiões em todas as suas formas de estruturação e / ou institucionalização de relações de poder. Conformadoras das maneiras através das quais nos reconhecemos e identificamos, as questões de gênero são abordadas aqui tanto como categoria de análise, quanto como campo multidisciplinar. É interessante notar, neste sentido, uma certa ambivalência do campo religioso que, se muitas vezes se constitui como espaço conservador e, por vezes, repressor, em outros momentos abre linhas de fuga e emerge como espaço de possibilidades para práticas subversivas, apropriações criativas e interpretações insurgentes.

Pensando nisso, esse volume reúne artigos consagrados a refletir sobre religiosidades como lugar / discurso / prática de vida e resistência no que se refere à igualdade de gênero no Brasil e no mundo. Gênero, como categoria histórica e viva, segue em elaboração e afirma-se, hoje, como conjunto de perguntas conforme sugere Joan Scott (2013), o que fica evidente nos textos que integram essa coletânea. Tal multiplicidade encontra-se representada nos textos que compõe a chamada temática no que diz respeito às vinculações religiosas, sujeitos e espaços dos quais tratam e, igualmente, aos métodos e campos nos quais se amparam.

A outra categoria articuladora destes textos, ainda que tenha lugar e forma menos evidentes, é resistência. Pensá-la como categoria significa percebê-la enquanto prática de vida, ainda que não seja textualizada enquanto tal nas fontes de pesquisa. A resistência, esta categoria fluida e fugidia, emerge – conforme observaremos a seguir – nos espaços de ação menos prováveis, de textos a terreiros, como forma de transformar realidades, como sugere bell hooks (2013).

Patricia Folgeman, inicia a chamada temática com discussões em que amplia as relações entre gênero e religiosidades no artigo intitulado “Travestis migrantes, arte y religiosidad en la cultura queer de Buenos Aires” e possibilita pensar formas de vida que reivindicam espaços e visibilidades através de manifestações artísticas das mais variadas. A autora trata de representações religiosas, tradições culturais e refrações ocasionadas por práticas migratórias de cunho geográfico e social. Tais movimentos do mundo “trava” portenho são observados através da arte contemporânea e, assim, os textos, músicas, imagens e performances permitem-nos acessar pervivências, mudanças e rupturas.

Na sequência, “Prostituição e religiões afro-brasileiras em Portugal: gênero e discursos pós-coloniais”, de Joana Bahia, trata das possíveis relações entre o exercício da prostituição e as religiões afro-brasileiras em Portugal. A autora analisa, a partir de diálogos veementes entre história e antropologia, o modo como a imagem da pomba-gira emerge, em relatos, como metáfora sexual e, simultaneamente, religiosa. No artigo a perspectiva decolonial afirma-se em suas nuances históricas generificadas.

“Duelo de Absoluto e Relativos: Os evangélicos, a heteronormatividade e o pós-tradicional”, de José Sena Silveira, encerra este dossiê discutindo a relação entre grupos evangélicos, a heterossexualidade e o pós-tradicional, a partir de um debate teórico e de uma revisão de literatura. O artigo debruça-se, entre outras coisas, sobre uma discussão em torno do papel do binarismo masculino e feminino na construção da heterossexualidade normativa, elemento central para a manutenção do modelo tradicional de família e insinua o medo que questões de gênero / sexualidade sejam tratados fora da moral religiosa.

O volume apresenta-se marcado por uma pluralidade de abordagens, as quais denotam a amplitude dos campos em questão. As relações entre religiosidade, gênero e resistências expressam-se, assim, das mais diversas maneiras em distintas artes de ler, fazer e, fundamentalmente, ser. Além dos textos presentes no dossiê, a revista apresenta ainda artigos livres os quais atestam a amplitude do campo de estudos da História das Religiões e Religiosidades. A edição contém ainda artigos livres e resenha.

Referências

BIDEGAIN, Ana Maria. Mulheres: autonomia e controle religioso na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1996.

HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. São Paulo: Editora WMF Mantis Fontes, 2013.

SCOTT, Joan. Entrevista com Joan Scott realizada por Fernanda Lemos. Revista Mandrágora, São Paulo, v. 19, n. 19, p. 161-164, jan. / dez. 2013.

Caroline Jaques Cubas1 – Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua no Programa de Pós-Graduação em História e Mestrado Profissional em Ensino de História na mesma Universidade. Graduada em História pela Univali, possui doutorado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, com um estágio realizado na Université de Rennes 2. Foi uma das vencedoras do Prêmio Memórias Reveladas de 2015, promovido pelo Arquivo Nacional. Pesquisadora dos grupos de pesquisa “Ensino de História, memória e culturas” (CNPQ / UDESC) e Memória e Identidade (CNPQ / UDESC). E-mail [email protected] Orcid: https: / / orcid.org / 0000-0001-5411-6824

Cintia Lima Crescêncio2 – Professora do curso de História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas. Graduada em História na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestre e Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Realizou pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). É coordenadora do grupo de pesquisa História, Mulheres e Feminismos – HIMUFE. E-mail: [email protected] Orcid: https: / / orcid.org / 0000-0002-2992-9417


CUBAS, Caroline Jaques; CRESCÊNCIO, Cintia Lima. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.12, n.36, jan. / abr. 2020. Acessar publicação original [DR]

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Religião e política no mundo contemporâneo / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020

Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência

O presente dossiê teve contribuição de treze excelentes textos que nos ajudam a contribuir a atuação intercessão entre cristãos e a política brasileira mais recente. Pode-se dizer que política e religião a cada momento, a cada nova configuração governamental se relacionam de forma distintas tal como narram Judith Butler e Gayatri Spivak (2007) sobre a arena dos diferentes estados nacionais. Agora, nos diferentes estados acaba que se tornou em alguns aspectos, caracterizado pelo questionamento da laicidade por seus atravessamentos.

1 A laicidade e o esboço de suas formas

Assim, uma questão da hora que se coloca sobre as desventuras de religião e política é sobre o aparato caraterizado como “laicidade” no âmbito dos Estados, sobretudo, nas questões da abstenção da religião. Esse sentido e grau de abstenção envolve no âmbito da sociedade uma infinidade de “embates de interpretações envolvidos sobretudo nos nichos promotores e suas diferentes apreensões religiosas” (RICOEUR, 1995, p.313). Esse curto-circuito de intensos conflitos foram apontados em linhas gerais em importante entrevista de Paul Ricoeur de 1995 – um dos raros textos que tratou dessa topografia teórico-social.

A definição de laicidade, as conexões de religião e política no âmbito dos Estados, é primeiro uma variável da conjuntura da gestão governamental do estado. Paul Ricoeur (1995) admite sobre isso que a noção de laicidade é diferente no Egito, na França, Portugal, Gabão e Inglaterra, nisso se alinha com teóricos com Nicos Poullantzas (1976), Judith Butler e Gayatri Spivak (2007) que a interpelação nos estados é uma variável local dependente de cada história social da religião oficial e do conjunto de forças hegemônicas. Por exemplo, Poullantzas (1976) indica que a Inglaterra respeita seu processo de laicidade respaldando os conflitos religiosos internos, mesmo assumindo, a partir a figura da rainha como liderança rainha e dirigente anglicanismo. A laicidade inglesa é descrita por Christian Smith (2003) vai designar de aberta para experiencias de fé, mesmo dando a primazia para o cristianismo de Westminster.

De igual forma Smith (2003) escreve sobre a França emergida no ambiente da Revolução Francesa, prorrogou um critério de laicidade, de retirada de símbolos e expressões religiosas dentro dos gabinetes até o ano de 2018. Por isso, Smith (2003) vai chamar o estado francês de “fechado” as discussões, diálogos e embates das expressões de fé. A partir de 2013, com uma série de campanhas e levantes mulçumanos e de migrantes acarretou na revisão da noção francesa de abolição de símbolos religiosos, até porque ocorriam cobranças das populações mulçumanas por conta das rezas diárias que se fazem na direção de Meca. Essa revisão de décadas da laicidade francesa se deu como uma série de acusações das populações emigradas que se referiram “o racionalismo europeu como racista” (PORTIER, 2019).

2 Laicidade no âmbito da sociedade

A noção de laicidade brasileira é ligada a laicidade portuguesa, uma forma mista das operações dos ambientes ingleses e franceses. Por isso Smith (2003) utiliza a expressão laicidades “mistas”, o que se torna mais desafiadora para as análises, pois admite internamente duplicidades de narrativas e aparentes contradições de argumentos. Revista Brasileira de História das Religiões. Só por isso, afirma-se a importância desta edição da Revista Brasileira de Histórias das Religiões / ANPUH, com a discussão sobre cristãos e política em tempos difíceis.

Ao olhar mais o panorama da sociedade, ainda que sobre as sinalizações dos teóricos franceses, Phillip Portier (2011, p.190-195) indica-se que exista “há a laicidade do Estado, que pode ser referida com uma palavra: abstenção, com conotações restritiva e negativa”. O “Estado laico deve assumir papel de neutralidade em relação à religião e, consequentemente, às instituições religiosas” (PORTIER, 2011, p.195). Logo, seus representantes e estatutos não deveriam privilegiar ou posicionar-se de maneira agressiva em relação a nenhuma manifestação religiosa, o que para Paul Ricoeur (1995) esse caminho seria de uma espécie de “agnosticismo estatal”. Nesse sintagma a separação entre Estado e religião não implica simples ignorância de um em relação ao outro, mas, “há o intento de delimitar de maneira adequada o papel de cada um, de maneira que a religião seja reconhecida pelo Estado como entidade, com regimentos, registro e estatuto público, submetida às leis que regem os demais grupos e agremiações sociais” (RICOEUR, 1997, p.81).

Em termos jurídicos as instituições religiosas não têm o poder centralizador, configurando-se como mais uma associação dentre as outras, portanto, a religião não é “todo o estado, mas parte dele” (PORTIER, 2011, p.196). Paul Ricoeur (1995 p. 181), está convencido de que este conceito de laicização se mostra mais normativo do que efetivo, quando diz: “creio que é preciso ter mais sentido histórico e menos ideológico, para abordar os problemas ligados à laicidade”. O que se quer esmiuçar: os diversos Estados-nação, a partir de sua formação histórica peculiar, há mobilizações próprias sobre as religiões e as instituições estatais.

Junto a esse conceito de laicidade existe outro mais dinâmico. Quando se analisa no âmbito da sociedade civil, a laicidade coloca-se como embate de posicionamentos distintos, como pluralidade e diversidade de perspectivas. Esses conflitos de posicionamentos pressupõe uma sociedade marcada pelo pluralismo de concepções de mundo, de crenças, de ideias, de ideologias, de interpretações e de convicções. Em uma sociedade marcada por esta diversidade, a laicidade assume caráter dinâmico em razão do campo de disputas que se instaura. Esse “conflito de interpretações” não tem por objetivo a harmonização, um consenso. Mas, antes, assume-se que, em muitas questões, a impossibilidade de um acordo é patente. O que não é negativo, desde que se preserve as partes em desacordo. O conflito das interpretações, desde que se preserve os atores e seus argumentos, é uma forma de preservação das liberdades e dos conjuntos.

3 Tensões e questões da laicidade em disputa no Brasil

No Brasil atual, em que cada vez mais se aumentam os atravessamentos entre religião e política, deve-se lembrar que os conflitos de interpretações religiosas são inerentes a formação do Estado republicano (1889) que se mantém neutro, ao menos oficialmente, em relação a instituições religiosas, ou então, deveria ser mantido. Com esses dados sobre religião e política no Brasil podemos vislumbrar incursões dos atores religiosos, em especial católicos e evangélicos, na construção de uma patrulha ideológica nos postos do Estado brasileiro e sua ocupação efetiva, e, todos os níveis, local, regional e federal e se espraiando pelos três poderes. Daí a importância desse dossiê, e sobretudo, que a laicidade brasileira não seja um conceito dado, fixo, mas se encontra em disputa.

É o que se pode perceber, quando o atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, afirmou em 2019 no maior evento evangélico do país, a Marcha para Jesus: “O país é laico, mas eu sou cristão”. Está ocorrendo um claro deslocamento da neutralidade do estado, e o se preservando as partes nos conflitos religiosos internos a nossa sociedade (PY, 2020). Por outro lado, isso sempre foi uma ponta de disputa, como por exemplo, com o advento do Estado de 1892, na primeira Carta Constitucional da República, tratou-se sobre a laicidade brasileira, e por conta dela o clero viram a necessidade de tentar “recatolicizar”, e passaram a investir nas novas instituições republicanas, buscando influenciar decisões políticas e sociais por meio da formação de uma elite intelectual católica (SILVEIRA, 2019).

Um dos marcos desse início e reação católica foi a promulgação, em 1916, da Carta Pastoral de Dom Sebastião Leme, arcebispo de Olinda e Recife, tornou-se, mais tarde, arcebispo e cardeal do Rio de Janeiro pelas mãos do Papa Pio XI (SILVEIRA, 2019). A Carta Pastoral fazia parte de um momento que se delineava desde a origem da República Brasileira, quando a Igreja Católica reuniu suas forças para consolidar reformas internas, como o recrutamento de novos membros estrangeiros para as ordens religiosas, a criação de novas dioceses e a consolidação de um discurso e de uma ação mais homogêneos (SILVEIRA, 2019). Assim, o dossiê apresentará uma série de reflexões teóricas e de objetos empíricos, construtos de seus autores e autoras, na forma de treze artigos que brindam os leitores e pesquisadores dos temas do Brasil contemporâneo.

4 Os artigos do dossiê

Logo em seguida, o trabalho intitulado “Pela “família tradicional”: campanha de candidatos evangélicos para a ALEP nas eleições de 2018”, escrito pelos pesquisadores Frank Antonio Mezzomo, Lucas Alves da Silva, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro, discutem a partir do material de campanha (coletado nas redes sociais e sites) de alguns candidatos a deputados estaduais no estado do Paraná, seus posicionamentos políticos. Os temas centrais encontrados em geral foram: a defesa da escola sem partido, a luta contra a ideologia de gênero, e debates sobre a reprodução da vida. A preocupação destes candidatos é em geral com temas religiosos e morais.

A pesquisadora-docente Dora Deise Stephan Moreira contribui com o artigo denominado “A trajetória de Marcelo Crivella: de cantor gospel a prefeito da segunda maior cidade brasileira em 2016”. O texto discute as ações adotadas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para eleger inicialmente para o cargo de senador o bispo licenciado Marcelo Crivella, e depois, ao cargo a prefeitura do Rio de Janeiro que foi eleito em 2012. A dança entre a imagem religiosa e a imagem política se complexifica e é utilizada por Crivella de forma instrumental, ao sabor das circunstâncias políticas-eleitorais. Em todas as campanhas disputadas por Marcelo Crivella houve a vinculação da sua imagem com o projeto Nordeste. Projeto este desenvolvido pela IURD para fins sociais. Percebeu-se a associação do referido político com a questão midiática, assistencial, religiosa e moralista.

O próximo texto a ser apresentado e de autoria do docente da Universidade do Estado do Pará Saulo Baptista. O título do seu trabalho é “Os Evangélicos e o Processo Republicano Brasileiro”. No início do seu trabalho, o autor faz uma recapitulação histórica da chegada dos protestantes em terras brasileiras e sua presença pública em contraponto a hegemonia católica. Logo em seguida, contextualiza o surgimento e o desenvolvimento dos pentecostais e dos neopentecostais na política brasileira. O texto termina com uma eximia reflexão a respeito da presença dos evangélicos na atual conjuntura política nacional.

O docente Aldimar Jacinto Duarte e Seabra Vinicius contribuem com este número com o texto chamado “O campo político e o campo religioso a partir dos jovens ligados a International Fellowship of Evangelical Students (IFES) na América Latina”. Muito interessante a reflexão desenvolvida a respeito da postura, aparentemente, apolítica do grupo do IFES. Para chegar a esta conclusão foram aplicados questionário via GoogleForms em vinte países da América Latina, obtendo 228 respostas. A análise dos dados foi feita a partir dos conceitos da teoria de Pierre Bourdieu. Tal grupo é majoritariamente formado por jovens universitários.

Os pesquisadores Ricardo Ramos Shiota e Michelli de Souza Possmozer escreveram o texto denominado “O Brasil cristão da Frente Parlamentar Evangélica: luta pela hegemonia e revolução passiva”, que discute a partir das informações contidas no Facebook da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), criada em abril de 2019. Sabemos que a FPE é entusiasta apoiadora do governo Jair Bolsonaro (sem partido), sobretudo pelo alinhamento ideológico na defesa das pautas de costume ou morais, fundamentalismo religioso e defesa de postura vinculadas aos expecto ideológico de extrema direita. Foram analisadas 209 publicações, entre 01 de abril e 31 de outubro de 2019. A teoria escolhida para analisar os dados foram os conceitos desenvolvidos por Gramsci.

Os autores Cézar de Alencar Arnaut de Toledo e William Robson Cazavechia adotaram como título do texto, “As Formas de Adaptabilidade do Neopentecostalismo Brasileiro à Mídia” e discutem a presença do conservadorismo religioso neopentecostal na mídia brasileira. Historicamente os evangélicos tiveram concessão de rádio, tv, criaram páginas de internet, e o uso das redes sociais com o intuito de posicionarem a respeito dos mais variados temas nacionais na perspectiva do fundamentalismo cristão. O texto é instigante e nos mostra como a mídia é bem trabalhada por este grupo religioso no Brasil.

O texto publicado foi de autoria dos autores Fabio Lanza, Luiz Ernesto Guimarães, José Neves Jr. e Raíssa Rodrigues, cujo título é “Engajamento político e Renovação Carismática Católica em Londrina-PR (2014-2016)”. O texto discute os posicionamentos políticos dos grupos católicos carismáticos (RCC) na cidade de Londrina inteiro de São Paulo. A partir de visitas de campo e entrevistas semiestruturadas, os autores conseguiram perceber a visão de mundo das lideranças deste universo religioso sobre o atual momento político brasileiro, Em geral, os representantes ou postulantes da RCC a cargo para o poder legislativa ou executivo, defendem pautas conservadoras, são fundamentalistas religiosos e benefícios institucionais para organismos de inspiração carismática católica e outros segmentos da Igreja Católica no Brasil.

Ao discutir o governo Bolsonaro na relação religião e política, a união entre católicos e evangélicos tem evidenciado de forma rotineira. O texto “Entre a articulação e a desproporcionalidade: relações do Governo Bolsonaro com as forças conservadoras católicas e evangélicas” escrito por Marcelo Ayres Camurça Lima e Paulo Victor Zaquieu-Higino tenta compreender se esta aproximação pode ser caracterizada como uma ação ecumênica de extrema-direita, num contramovimento do que no passado caracterizou as tentativas de aproximação entre os diferentes grupos cristãos em torno, por exemplo, da Teologia da Libertação e das lutas sociais na América Latina. Uma forte indagação é feita e discutida ao longo do texto: nessa trama religioso-política de extrema-direita, o catolicismo estaria sendo “eclipsado” e o pentecostalismo destacado? Não tenha dúvida que o atual governo aciona a religião para fundamentar suas ações e visões de mundo na política.

O próximo trabalho a ser apresentado traz como título “Guerras culturais e a relação entre religião e política no Brasil contemporâneo” escrito pelos pesquisadores Roberto Dutra e Karine Pessôa. O texto versa da presença da moralidade na política, provocada pela religião nas eleições de 2018. Os autores recorrem as categorias da sociologia política sistêmica de Niklas Luhmann para analisar o fenômeno religião e política na eleição referida.

O artigo chamado “A ‘governabilidade’ petista” escrito pela pesquisadora Amanda Mendonça é bem interessante e supre lacuna na literatura a cerca religião e política, que versa sobre a relação do Partido dos Trabalhadores (PT) com os pentecostais e os católicos, no período que esteve à frente da presidência do Brasil. A autora mostra que evangélicos e católicos uniram-se em torno da defesa de pautas conservadoras e, ainda que dando alguma sustentação político-partidária, causaram conflitos com a gestão petistas por entenderem que a “essência” do governo era contrária ao seu ideário religioso. Por outro lado, os governos petistas ofereceram alianças, cargos e apoio direto e indireto – subvenção de comunidades terapêuticas religiosas para o tratamento de drogadições, concessões de rádio e TV por exemplo – aos grupos cristãos em nome da governabilidade, essa geringonça feita de modos heteróclitos e que em 2018 entrou em um novo patamar de crise.

Os pesquisadores do campo das relações internacionais Anna Carletti e Fábio Nobre com o texto intitulado “A Religião Global no contexto da pandemia de Covid-19 e as implicações político-religiosas no Brasil”, nos mostra como líderes religiosos no Brasil e no mundo reagiram a pandemia Covid-19. Os pesquisadores André Ricardo de Souza e Breno Minelli Batista contribuem com o trabalho intitulado “Os efeitos políticos no Brasil dos sete anos iniciais do Papa Francisco”, tentando compreender as relações políticas e religiosas do Papa Francisco com o governo Jair Bolsonaro (sem partido). Sabemos que o Papa Francisco assume o papado em 2013, logo após, a renúncia do atual Papa Emérito Papa Bento XVI.

E por fim, o docente Graham McGeoch com o trabalho “Field Notes from Brazil: We don’t believe in Democracy”, faz uma interessante reflexão da presença dos elementos religiosos na atual conjuntura política brasileira, elegendo a eleição e o governo Bolsonaro como tema de análise. Daí, extraímos algumas perguntas: Que tipo de democracia é esta que temos e o porquê ela se enredou em uma trama político-religiosa de extrema-direita? É possível acreditar nesse tipo de democracia? E, por fim, que outra democracia podemos sonhar para sairmos uma relação disfuncional, inflamada e perversa entre cristianismo reacionário e política estatal (um estado de sítio) que a democracia liberal-representativa permitiu vir à luz.

Referências

BUTLER, Judith; SPIVAK, Gayatri. Who sings the Nation-State? Language, Politics, Belonging. New York: Seagull. 2007.

POULANTZAS, Nicos (Org.), La Crise de l’État. Paris : Presses Universitaires de France, 1979.

PY, Fábio. Pandemia cristofascista. São Paulo: Recriar, 2020.

RICOEUR, Paul. Phenomenology and the social sciences. In: KOREBAUM, M. (Org.). Annals of Phenomenological Sociology, Ohio: Wright State University, 1977.

RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações. Ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro: Imago, 1978.

RICOEUR, P. Leituras 1. Em torno ao Político. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

SMITH, Christian. The secular revolution: power, interests, and conflict in the secularization of American public life. Berkeley: University of California Press, 2003.

SILVEIRA, Emerson. J. S. Padres conservadores em armas: o discurso público da guerra cultural entre católicos. Reflexão, PUCCAMPINAS, v. 43, 2019, p. 289-309.

Fábio Py – Professor do Programa de Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. E-mail: [email protected] ORCID: https: / / orcid.org / 0000-0002-7634-8615

Emerson Sena da Silveira – Doutor em Ciência da Religião, antropólogo, professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. E-mail: [email protected] ORCID: https: / / orcid.org / 0000-0002-5407-596X

Marcos Vinicius Reis Freitas – Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente do Curso de Pós-Graduação em História Social pela UNIFAP, Docente do Curso de Pós-Graduação em Ensino de História (PROFHISTORIA). (CEPRES-UNIFAP / CNPq). E-mail: [email protected] ORCID: https: / / orcid.org / 0000-0002-0380-3007


PY, Fábio; SILVEIRA, Emerson Sena da; FREITAS, Marcos Vinicius Reis. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.13, n.39, jan. / abr. 2020. Acessar publicação original [DR]

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Catolicismos e conservadorismos nos séculos XIX e XX / Revista Brasileira de História das Religiões / 2019

A presente Chamada Temática faz parte dos esforços da Rede de Pesquisa História e Catolicismo no Mundo Contemporâneo (RHC) em agregar estudos que tragam contribuições sobre as diversas expressões históricas do catolicismo. Nestes termos, os objetos estudados se voltam para a reflexão sobre problemáticas concernentes à instituição Igreja Católica, à atuação de grupos, movimentos, partidos, ideias, agentes, que por algum meio estejam ligados à visão de mundo do catolicismo no Brasil.

Os textos reunidos revelam, em suas singularidades e, ao mesmo tempo, em suas articulações na perspectiva histórica, o que alguns autores identificam como processos tidos alguns como rejeição e outros enquanto integração do catolicismo a uma modernidade que se pretendia, teoricamente, secularizada. E, demonstram um processo mais amplo dentro do qual comunidades religiosas desenvolvem estratégias de permanência e reflorescimento em face aos desafios de um mundo em transformação.

No tocante à Igreja Católica, se inicialmente as suas posturas foram de rejeição aos elementos que entendera serem parte de uma modernidade, mais adiante houve a virada na direção de uma relativa harmonia ou aggiornamento com o mundo moderno, fazendo emprego progressivo de muitos dos seus instrumentos. É o que argumenta Peter Berger (2001) ao lançar também a tese de que a cena religiosa internacional contemporânea se revelou amplamente contraditória no tocante à associação do binômio modernização e secularização. A complexidade revestiu-se de especial importância a se considerar igualmente que dentro deste cenário várias expressões do sagrado continuaram a ser reveladas em instituições, movimentos, grupos e ou mesmo singularidades, sejam aqueles de natureza conservadora ou mesmo progressista. Houve, ao mesmo tempo, refluxos e novas reconfigurações das religiões, o que se observa, por exemplo, nas permanências e fortalecimentos dos integrismos concomitantemente à pluralidade de visões e adesões religiosos e composições pessoais. O adensamento se amplia ao considerarmos as implicações da busca por certezas, bem como ao nos depararmos com as inseguranças de um tempo fragmentado e relativo. Merece destaque igualmente o peso dos fenômenos na História e os processos de historicização nas escalas espaço-temporais, entre o regional, o nacional e o internacional.

Como já se disse há tempos, os fenômenos religiosos, do ponto de vista temporal, pertencem ao longo prazo e as suas transformações são lentas no que se referem “aos hábitos adquiridos e à visão de mundo” (DUPRONT, 1976). O interesse da História está também neste ponto. Como diria o clássico estudo de Dominique Julia “há uma continuidade de ida e de volta, uma infinidade de reações entre os fenômenos religiosos, a posição dos indivíduos no interior da sociedade e os sistemas religiosos desses indivíduos” (JULIA, 1976).

Não é demais chamar a atenção para as discussões, não tão recentes, sobre as regiões fronteiriças, por exemplo, entre religião e política, porquanto restam poucas dúvidas de que “a escolha dos modos de expressão religiosa é reveladora em si de atitudes políticas pois os modos de expressão são portadores seja de autonomia e de liberdade individual, seja de submissão e de fidelidade” (DONEGANI, 1998). E, no tocante ao catolicismo, nunca é demais lembrar que eu seu seio há uma pluralidade de correntes religiosas com visões de mundo tão diferentes como, por vezes, opostas.

Os textos que compõem o dossiê trabalham objetos que relevam a referida pluralidade de correntes ligadas direta ou indiretamente à Igreja Católica e às múltiplas expressões do catolicismo. Em ‘A cruzada ultramontana contra os erros da modernidade’, Ana Rosa Cloclet da Silva e Thais da Rocha Carvalho investigam o discurso do jornal O Apóstolo, por elas classificado como ultramontano, diante do debate sobre modernidade e secularização, com o objetivo de demonstrar como as práticas discursivas do referido periódico propugnavam um lugar central da religião na sociedade brasileira.

O texto ‘Tem festa de negro em Belo Horizonte: a proibição do Reinado pela Igreja Católica no início do século XX’, é de autoria de Wanessa Pires Lot. Nele a autora procura problematizar a relação entre a Igreja Católica e o poder civil local na recém-criada cidade de Belo Horizonte, tomando como objeto de estudo a proibição à manifestação do Reinado na capital mineira.

O artigo seguinte, de Ipojucan Dias Campos, tem como título ‘A fabricação do medo: catolicismo, casamento civil e divórcio (Belém-PA, 1915)’, toma como ponto de análise o debate em torno de alguns dos temas de grande impacto e complexidade no cenário histórico de princípios do século XX, tendo como estudo de caso a cidade de Belém. Na visão do autor, para manter a sua hegemonia na sociedade local os dirigentes católicos usaram o medo como forma para a desqualificação das funções da união cartorial.

Marcos Jovino Asturian, em ‘A influência dos postulados da Liga Eleitoral Católica (LEC) no processo eleitoral sul-rio-grandense (1946 / 1947)’, se dedica ao estudo da atuação da Liga Eleitoral Católica junto ao processo eleitoral para o governo estadual, particularmente no quadro político-partidário que opunha o PSD ao PTB. Suas fontes primárias, o Correio do Povo e o Diário de Notícias, lhe possibilitam um olhar atento acerca de parte importante das representações construídas por tais periódicos a respeito do referido processo.

No escrito que fecha o dossiê, ‘Frei Constantino Koser: uma face do conservadorismo católico na abertura do Concílio Vaticano II’, as historiadoras Patrícia Carla de Melo Martins e Rosângela Wosiack Zulian voltam os seus olhares para o que denominam de “compreensão teológica” levada à efeito pelo frei Contantino Koser durante o Concílio Vaticano II. Nesta perspectiva, as autoras compreendem os textos de frei Koser voltados para a educação e a ação social enquanto portadores de uma proposta de relação entre a Igreja e a Sociedade.

Com o dossiê em questão esperamos poder contribuir para o fortalecimento dos estudos sobre o catolicismo no Brasil, em suas múltiplas expressões, sempre atentos para o fato de que uma das tarefas do estudioso das religiões, em especial do historiador voltado a pensar o catolicismo, é analisá-lo nas durações, considerando os instrumentais oferecidos pelos campos disciplinares, e procurando dar densidade histórica e teórica às trocas, mediações e relações de interdependência (COUTROT, 2003).

A edição traz ainda artigos livres que versam sobre assuntos diversos, evidenciando a pluralidade dos estudos concernentes às religiões, bem como as opções teórico-metodológicas passíveis de mobilização para o estudo do religioso.

Referências

BERGER, Peter. A dessecularização do mundo: Uma visão global. In: Religião e Sociedade. Rio de Janeiro: n. 21 / 1, 2001. P. 9-23.

COUTROT, Aline. Religião e Política. In: RÉMOND, René (Org.) Por uma história política. 2.Ed. Rio de Janeiro: Ed.FGV, 2003. p.331-363.

DONEGANI, Jean-Marie. Réligion et politique: de la séparations des instances à l’indécision des frontières. In: BERSTEIN, Serge; MILZA, Pierre (dir.) Axes et methodes de l’histoire politique. Paris: PUF, 1998. P.73-89.

DUPRONT, Alphonse. A religião: Antropologia religiosa. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (Dir.) História: novas abordagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves,1976. P.83-105.

JULIA, Dominique. A religião: História religiosa. In: In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (Dir.) História: novas abordagens. Trad. Henrique Mesquita. Rio de Janeiro: Francisco Alves,1976. P.106-131

Cândido Moreira Rodrigues

Renato Amado Peixoto

Rodrigo Coppe Caldeira


RODRIGUES, Cândido Moreira; PEIXOTO, Renato Amado; CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.12, n.35, set. / dez. 2019. Acessar publicação original [DR]

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Pedidos, oferendas e ex votos / Revista Brasileira de História das Religiões / 2019

Esta é uma edição que traz à lume as súplicas, as oferendas e os ex-votos que evidenciam as várias formas de crer e de pedir intervenções sobrenaturais para enfrentar os desafios do cotidiano. O volume ora divulgado apresenta trabalhos que analisam práticas votivas e seus significados, simbologias, ações e objetos, assim como suas implicações na vida dos fiéis.

A edição inicia com um texto de Caroline Perrée que discute a sala dos milagres. A partir da elaboração das tipologias de ex-votos no contexto mexicano a autora explora a compreensão dos bens figurativos, metonímicos e simbólicos das peças depositadas pelos fiéis nas salas de milagres. Já Luís Américo Silva Bonfim lança-se a proposição de um sistema de registro e estudo taxonômico de expressões votivas no campo católico, em especial. Mapeando e analisando mais de duzentos sítios devocionais no Brasil e países sul-americanos, o autor produziu uma sinopse estilográfica e esquemas taxonômicos voltados à função da oferta votiva, ao índice canônico, às propriedades signicas e às formas expressivas dos ex-votos. Ambos os trabalhos que abrem a chamada temática, portanto, contribuem na proposição de elementos metodológicos para avaliação do rico arsenal votivo que encontramos em espaços sagrados voltados à adoração e ao agradecimento de fiéis.

Um segundo bloco de artigos traz estudos de caso. Maria Gargante Llanes avalia a presença de ex-votos na Catalunha partindo de registros escritos, quais sejam, uma topografia mariana do século XVII e uma novela do início do século XX. Lucas Bilbao, por sua vez, apresenta aspectos da religiosidade paroquial e de freguesias da região da campanha de Buenos Aires, na segunda metade do século XIX. O autor volta-se à análise de celebrações religiosas públicas, a materialidade das devoções e as evocações comunitárias.

O artigo de Wesley Fernandes Rodrigues aborda as representações das figuras santas em objetos votivos dos séculos XVIII e XIX no cenário luso-brasileiro, cotejando-as com as diretrizes do Concílio de Trento. Um olhar aos romeiros do Senhor dos Passos, em São Cristóvão / Sergipe, foi o foco do trabalho de Magno Francisco de Jesus Santos. A chamada finda com as discussões encetadas por Edilece Couto e Milton Moura sobre as práticas devocionais ao Caboclo e Cabocla, nos festejos de 2 de Julho, na Bahia, celebração esta que comemora a independência baiana. A integração entre uma festa civil e as idiossincrasias de oferendas legadas às entidades evidencia a fluidez, porosidades e complexidade do cenário sócio-cultural baiano.

O volume traz ainda artigos de Luiz Alexandre Solano Rossi e Érica Daiane Mauri sobre mitologias; de Alfredo dos Santos Oliva e Ricardo Mendes acerca das igrejas-base da Diocese de Apucarana; e de Edite Rocha e Vinicius Eufrásio sobre as práticas de sufrágio e cantoria dos cidadãos de Cláudio / MG. Findando a edição da RBHR temos duas resenhas, de Helmut Renders e de Karin Helena Antunes de Moraes.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Gizele Zanotto

Patricia Fogelman


ZANOTTO Gizele; FOGELMAN, Patricia Alejandra. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.12, n.34, maio / ago. 2019. Acessar publicação original [DR]

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Diversidade Cultural e Religiosa no Contexto da Amazônia / Revista Brasileira de História das Religiões / 2019

Falar da Região Norte é falar de um universo desconhecido para o restante do Brasil. Apesar da produção cientifica em expansão, ainda carecemos de literatura consistente para entender o universo religioso que o contexto amazônico possui – contexto este marcado pelo diversidade religiosa e cultural. Percebemos a presença expressiva de grupos evangélicos pentecostais e neopentecostais em crescimento, liderados pela Igreja Assembleia de Deus (AD), Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), e Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), percebemos um catolicismo em declínio do quantitativo de adeptos, mas ainda muito engajada em questões sociais (a presença da teologia da libertação entre os leigos e padres é significativa). Porém é a influência da cultura indígena e africana que podemos dizer ser algo singular da Amazonia. Ribeirinhos, quilombolas, povos tradicionais, população negra e a população como um todo recorre a práticas de cura vindas da pajelança, usos de ervas, bebidas, danças, águas, sacrifícios visando obter suas curas físicas ou emocionais. Enfim, falar desta região é falar de um mundo desconhecido. Cabe às universidade tentar interpretar este universo à parte.

Neste contexto, esta chamada temática tem por finalidade trazer textos que explorem este universo singular chamado Amazonia. Para tanto trazemos três trabalhos que dialogam entre si e tentam diagnosticar esta pluralidade cultural e religiosa. Temos o trabalho da Profa. Maria da Conceição Silva Cordeiro e do Prof. Marcos Vinicius de Freitas Reis intitulado “‘Oficio de Curar’: querências do destino, intervenção do sagrado”, que discute a questão da busca pela cura pelos povos da Amazonia nas mais variadas expressões religiosas. Temos os trabalhos intitulados “A comunidade de Santa Luzia no Arquipélago do Marajó: vivências e práticas religiosas”, de Sônia Maria Pereira do Amaral e Elivaldo Serrão Custódio, e “Um estudo das relações sociopolíticas e religiosa entre Ribeirinhos”, de autoria de Liliane Costa de Oliveira e Marilina Conceição Oliveira Bessa Serra Pinto. Ambos os textos buscam entender a identidade religiosa de suas localidades e como ocorrem as relações de poder.

O presente volume foi organizado pelos professores Sérgio Junqueira, um dos maiores especialistas no debate do tema Ensino religioso e incentivador e organizador de trabalhos que pensam a Amazonia na atualidade, e pelo Prof. Marcos Vinicius de Freitas Reis, atualmente vinculado a Universidade Federal do Amapá, coordenando o grupo de pesquisa CEPRES – Centro de Estudos Politicos, Religião e Sociedade.

O volume traz ainda artigos livres que versam sobre temas e contextos variados, aprofundando temáticas e indicando a proficuidade dos estudos sobres as religiões e as religiosidades.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Marcos Vinicius de Freitas Reis

Sérgio Junqueira


REIS, Marcos Vinicius de Freitas; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.11, n.33, jan. / abr. 2019. Acessar publicação original [DR]

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Cristianismos de esquerda na América Latina / Revista Brasileira de História das Religiões / 2018

Ao longo da segunda metade do século XX, algo radicalmente novo aconteceu no campo religioso latino-americano. Na medida em que se aceleravam os processos de diversificação cultural e transformação política do continente, emergiu no seio das igrejas cristãs um renovado compromisso ético com a transformação das estruturas vigentes e com a superação da dependência e das desigualdades sociais. Na Teologia e nas Ciências Sociais, a força proveniente desses Cristianismos de esquerda passou a ser tomada como fator decisivo para o sucesso de processos revolucionários, para a luta pela retomada da democracia e para implantação de governos populares com projetos alternativos à hegemonia do capital e ao modelo da felicidade pelo consumo.

Nas primeiras décadas do novo século, mesmo depois de tantas ofensivas neoconservadoras – do Vaticano e da nova configuração das igrejas (neo)pentecostais – ecos desses “outros jeitos de ser cristãos” se fazem presentes nos movimentos de católicos e evangélicos na periferia, na luta de padres, pastores e seus fiéis pelo respeito aos direitos humanos e, mais recentemente, na sinalização do Papa Francisco à importância da crítica radical da “idolatria do dinheiro e do perverso sistema econômico atual, responsável ao mesmo tempo pela extensão da pobreza e pela destruição da natureza”.

Tendo em vista esse panorama, buscamos, de modo geral, com este dossiê, enfocar as aproximações entre cristãos e socialistas, marxistas, anarquistas, enfim um amplo conjunto de atores referenciados teórica e politicamente às esquerdas, bem como as suas repercussões no campo das práticas e representações religiosas ou do seu engajamento em movimentos contestatórios da ordem social vigente. Mais antigas entre os protestantes, essas afinidades surgiram no campo católico, paradoxalmente, como sugere Michel Löwy, a partir de finais do oitocentos, quando a Igreja, depois da amarga “condenação dos princípios liberais e da sociedade moderna (…) pareceu aceitar o advento do capitalismo e do Estado moderno como fatos irreversíveis”. Nascia aí um “catolicismo social” que abriu possibilidades para as críticas (às vezes minuciosas, radicais e profundas) produzidas por grupos que, embora minoritários, tornaram-se muito significativos nos ambientes religiosos europeus.

Na América Latina, a identificação das elites eclesiásticas com as forças do Estado e com projetos coloniais manteve por muito tempo encobertas as vozes de missionários que abraçaram, desde muito cedo, as culturas locais. Na medida em que se multiplicaram as revoltas, convulsões e promessas revolucionárias, figuras do clero emergiam (no presente e no passado), rompendo os silêncios impostos pela violência dos processos de evangelização do continente. Nesse ambiente, os projetos de formação de uma intelligentsia cristã abriram brechas para novas experiências que fundiam referências europeias (como no caso dos padres operários e da economia humanista) com os desafios urgentes e um tanto dramáticos do ter-ceiro mundo. Não à toa Löwy destaca que “no momento em que Fidel Castro, Che Guevara e seus camaradas entraram marchando em Havana, em Roma, João XXIII publicava a primeira convocação para a reunião do Concílio”.

Surgida de “baixo para cima” – nos “movimentos laicos (e alguns do clero), ativos entre a juventude estudantil e nas comunidades” mais carentes – essa fermentação espiritual não tardou a sensibilizar os setores eclesiásticos mais atentos à vida cotidiana de suas igrejas locais e a parcelas importantes do clero regular, “que muitas vezes estavam na vanguarda da nova prática e do novo pensamento teológico”. Nos anos que se sucedem ao Vaticano II, os desafios da sua recepção impuseram organizações de um novo tipo, algumas delas empenhadas na leitura sociorreligiosa do continente, com finalidades pastorais; outras engajadas em processos radicais de transformação da América Latina e cujo caso mais conhecido é o de Camilo Torres, que foi da militância popular à luta armada na Colômbia.

Os novos modelos de vida religiosa, a fundação de institutos que assumiam claramente os métodos das Ciências Humanas e Sociais para compreender a realidade, a criação de uma Teologia da Libertação, a aposta em reescrever a história da Igreja no continente do ponto de vista dos pobres e a proposição de um modelo comunitário alternativo à sociedade paroquial tornaram-se respostas às demandas dos padres conciliares, aprofundadas nas décadas seguintes pelos bispos latino-americanos nas conferências episcopais de Medellín (1968) e Puebla (1979). Conforme descreve Enrique Dussel, um tempo eivado de esperança e sangue, no qual a utopia de uma sociedade igualitária se viu contrastada pelo assalto totalitário dos poderes políticos e os projetos de Igrejas transformadoras se chocaram com a força do aparato burocrático das instituições.

Na impossibilidade de tratar toda a complexidade desses processos, oferecemos aos leitores da Revista Brasileira de História das Religiões um conjunto de abordagens ricas e instigantes, que casam, como era nosso propósito inicial, vários enfoques interpretativos e referencias teórico-metodológicos, produzindo um rico panorama de questões importantes sobre os diferentes cristianismos e as distintas esquerdas.

Abrindo a chamada temática, está o texto de Alex Villas Boas e Ernesto Lazaro Sienna, intitulado “Catolicismo social europeu, rerum novarum e primazia do reino de Deus nas origens do catolicismo de esquerda na América Latina”. Nele, os autores traçam o panorama social e eclesial das revoluções, o impacto do avanço do capital sobre os ambientes católicos e a conformação de uma doutrina social da Igreja que respondesse à deterioração das condições sociais da classe operária. Além de apresentar um panorama das ordens e congregações religiosas do período, e suas personagens que deram corpo aos empreendimentos da Igreja nesse período, o artigo suscita a discussão acerca das noções teológicas e políticas já presentes nos escritos do papa Leão XIII e se desdobram, nas décadas seguintes, dando “origem ao que pode ser entendido como catolicismo de esquerda, terreno fértil para o desdobramento das Teologias da Libertação do século XX.”

Tema caro aos estudos do catolicismo no Brasil, as tensas relações políticas entre Igreja e Estado acaba por ocupar um lugar central na maioria dos textos deste dossiê. Alessandro Rodrigues Rocha, por exemplo, contextualiza a emergência do Cristianismo de Libertação durante os anos de repressão política no Brasil e nos oferece um quadro das transformações no posicionamento do episcopado acerca da ditadura e de seus projetos. Discute ainda a emergência de organismos como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o projeto das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como formas de resistência à violência e aos arbítrios do Estado em associação com o capital.

“A dimensão política da Teologia Protestante da Libertação” é explorada em toda a sua riqueza por Claudio de Oliveira Ribeiro, que retoma as raízes do diálogo entre teólogos católicos e o movimento ecumênico na revista Cristianismo y Sociedade, no Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL) e, mais tarde, no Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI, hoje Koinonia Presença Ecumênica e Serviço). Contemplando os trabalhos de Rubem Alves e Richard Shaull, o autor nos desaconselha a tomar “a publicação de obras como marco fundante da Teologia da Libertação. Isto seria uma negação de seu próprio princípio metodológico, o de partir das experiências práticas concretas. O foco teológico latino-americano são as ações e as experiências no contexto de libertação social e política e as vivências eclesiais renovadoras que foram experimentadas” e, embora menos conhecidas, essas estão disseminadas nas igrejas protestantes do período. Um dos aspectos relevantes do texto é a discussão que apresenta sobre o ecumenismo em seu caráter político, colocando ênfase naquilo que “a doutrina divide, mas o serviço une”, segundo as palavras do teólogo metodista uruguaio Julio de Santa Ana. O autor nos apresenta ainda um rol de importantes teólogos da libertação protestantes na América Latina, suas ênfases teológicas no ecumenismo, “na primazia da graça, na vida em comunidade e nas tensões entre instituição e movimento, em geral frutos do princípio profético valorizado na teologia protestante”. No conjunto, a imagem fornecida é de uma produção teológica bastante comprometida com a “sustentabilidade da vida, com a solidariedade humana, com as formas de inclusão social, de cidadania e de respeito à pluralidade religiosa, com o exercício dos direitos humanos e com a integridade da criação”. Como propõe Ribeiro, “uma profunda e desafiadora aventura espiritual”.

Na mesma perspectiva – da aventura de fé – Marcos Roberto Brito dos Santos narra em seu artigo a luta do padre e teólogo belga José Comblin para permanecer no Brasil, desenvolvendo suas atividades intelectuais e pastorais, tendo em vista o processo de expulsão movido contra ele pelos militares no início dos anos 1970. Na realidade, o autor percorre caminhos mais largos, elucidando aspectos do anticomunismo católico alimentado por grupos conservadores durante a ditadura, o trabalho de espionagem do governo sobre os padres estrangeiros e também as articulações entre os setores mais “progressistas” para respaldar a ação transformadora dessa parcela do clero.

Em “‘Uma leitura Marxista das conclusões de Medellín’: problemas conceituaissemânticos nas relações Igreja-Estado no Brasil (1970-1971), Sérgio Ricardo Coutinho discute os diálogos truncados entre líderes católicos e agentes da ditadura acerca das recepções no Brasil do documento final da II Conferência Geral do Episcopado LatinoAmericano. Partindo da história dos conceitos de Reinhardt Koselleck, o autor nos apresenta as diferentes interpretações de Medellín trazidas à Comissão Bipartite e expressas em reuniões (como Seminário de Estudos “Missão da Igreja e transformação da sociedade brasileira”) e documentos (como “Exemplo de uma leitura marxista das conclusões de Medellín”). Não raro, retomar as oposições dos que viam o texto eivado de “jargão comunista” e linguagem subversiva contra os que o pensavam como manifestação de uma “doutrina integrada, ampla e coerente do desenvolvimento” ajuda a compreender os motivos pelos quais o documento foi olhado “com muita desconfiança por boa parte do episcopado brasileiro e latino-americano, mas acolhido de forma entusiástica pelo jovem clero e organizações laicais”. Para o autor, “receber Medellín de forma entusiasmada era correr sérios riscos diante da conjuntura política da época.

Duas trajetórias de conversão e engajamento em uma ação religiosa transformadora nos são oferecidos por Iraneidson Santos Costa, em “Pedro Gondra y Pedro Plá: dois cristãos a serviço dos pobres da América Latina”. O artigo narra, de maneira cruzada, as vidas religiosas do jesuíta Pedro Arrupe y Gondra e do bispo claretiano Pedro Maria Casaldáliga i Plá. O primeiro é basco e o segundo, catalão. Ambos flertaram com o fascismo e o anticomunismo nas suas juventudes e se sensibilizaram mais tarde com as dores da gente pobre espalhada pelas periferias da terra. Na opinião do autor, isso consolidou em ambos o “ideal de pobreza evangélica (…) como a base da radical opção missionária. Ao que tudo indica, sem se conhecerem pessoalmente, os “dois Pedros” colaboraram grandemente com a igreja latino-americana: Arrupe viajando todo o continente e participando de Medellín (1968) e Puebla (1979); Casaldáliga atuando de maneira vigorosa em defesa dos povos do Xingu, em São Félix do Araguaia.

Finalizando o dossiê, Leonardo Gonçalves de Alvarenga e Nelson Lellis discutem como os conservadorismos religiosos na Bolívia interagem com a figura política de Evo Morales, evidenciando um Cristianismos cujas identidades estão em disputa. O artigo toca questões complexas e delicadas, como a evolução do movimento neopentecostal no país, qual a implicação do art. 88 do Novo Código de Sistema Penal para a sociedade religiosa na Bolívia (?) em que medida a capitalismo e teologia da prosperidade (presentes no pentecostalismo) estão impactando sobre os indígenas (?) e como as igrejas voltadas para mobilização social (mais inclinadas à orientação de esquerda na política) se interpõem neste processo? Para responde-las os autores lançam mão da discussão de Manuel Castells sobre identidade, “que é pensada como construção social que ocorre sempre dentro de um contexto marcado pelas relações de poder”. Assim, a reação às propostas de modificação na legislação encaminhadas por Morales pode ser lida como tensão inerente às sucessivas ondas missionárias que chegam ao país desde o processo de colonização e às disputas recentes de um campo religioso cada vez mais plural. Esta seria certamente uma das questões mais atuais da relação entre cristãos de esquerda (e de direita) no continente.

Este volume da Revista traz ainda um rico debate teórico-conceitual e metodológico, bem como abordagens temáticas que evidenciam a proficuidade e complexidade do estudo do religioso. Em seus artigos livres temas instigantes nos impulsionam à reflexão. Boa leitura!

Fábio Py – Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com estágio sanduíche no Centre d Études Interdisciplinaires dês Facts Religieux (CEIFR) do Centre National de la Recherche Sientifique (CNRS) da École des Hautes em Sciences Sociales (EHSS). Tem pós-doutorado em Políticas Sociais na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, onde é professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais. E-mail: [email protected]

Diego Omar da Silveira – Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Professor do curso da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). E-mail: [email protected]


PY, Fábio; SILVEIRA, Diego Omar da. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.11, n.32, set. / dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Transe, êxtase e possessão / Revista Brasileira de História das Religiões / 2018

Caro leitor,

Com muita alegria lançamos a edição n. 31 da Revista Brasileira de História das Religiões, publicação vinculada ao Grupo de Trabalho de História das Religiões e das Religiosidades (GTHRR) da Associação Nacional de História (ANPUH). Esta edição traz como norte das reflexões dos pesquisadores os transes, êxtases e possessões que marcam tantas crenças.

A chamada temática é iniciada com um artigo de Vanda Fortuna Serafim, que se debruça sobre os fenômenos de transes, êxtases e possessões voltando seu foco para as crenças afro-brasileiras. O texto traz instigantes reflexões conceituais e abre com propriedade esta sessão da Revista. Na sequência o artigo de Linderval Augusto Monteiro e Ana Maria Vallias Silveira aprofunda a reflexão sobre o pensamento de Roger Bastide, especificamente acerca da noção de existência. O terceiro texto voltado às questões da religiosidade afro-brasileira é de autoria de Paulino de Jesus Francisco Cardoso e de Lisandra Barbosa Macedo. A reflexão dos autores trata da musicalidade, dos ritmos e melodias, bem como das relações dessas com o corpo, em crenças afro-brasileiras.

David Mesquiati Oliveira e Kenner Roger Cardozo Terra voltam sua perspectiva analítica para a questãos do êxtase na experiência religiosa pentecostal evidenciando a manifestação e sua importância na hermenêutica dessa matriz. Finalizando a sessão da chamada temática, temos o texto de Denise da Silva Menezes do Nascimento analisando os êxtases e visões de Mechthild de Magdeburb, religiosa beguina que registrou sua experiência produzindo as fontes em avaliação pela autora.

A sessão artigos livres traz textos de variadas temáticas, evidenciando a proficuidade das análises do campo religioso contemporâneo. Entre os temas abordados temos reflexões metodológicas, discurso espírita, secularização em Portugal, exvotos, devoção católica em articulação à crenças e práticas afro-brasileiras, deuses nórdicos, movimentos de matriz oriental e avaliação de lideranças religiosas.

O volume find com uma resenha instigante para estudiosos das religiões e, sobretudo, da história do catolicismo.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Gizele Zanotto

Editora da Chamada Temática


ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.31, n.11, maio / ago., 2018. Acessar publicação original [DR]

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História do Cristianismo / Revista Brasileira de História das Religiões / 2018

Caro (a) leitor (a)!

A Revista Brasileira de História das Religiões tem a satisfação de publicar a Chamada Temática História do Cristianismo, que teve por objetivo reunir reflexões sobre a historicidade do cristianismo e a sua difusão em diferentes tempos espaciais. Como os desafios para tratar essa temática são inúmeros, esta publicação está aberta à pluralidade de interpretações e de opções teóricas e metodológicas. No Brasil, nota-se um crescente interesse de historiadores, cientistas sociais e cientistas da religião em investigar as origens e a história do cristianismo, como podem ser observados nos artigos que compõem este volume.

O primeiro artigo “Império Romano e integração dos cristãos: os cristãos nas cartas de Plínio, o Jovem, e Trajano” é de Renata Lopes Biazotto Venturini e de Alex Aparecido da Costa. Os autores analisam os limites e as possibilidades da inserção do cristianismo na província romana da Bitínia, por meio do estudo de duas correspondências entre Plínio e Trajano, cujos temas eram os cristãos no Império Romano.

Na sequência, o artigo “Paganismo e cristianismo na correspondência entre Agostinho de Hipona e Nectário de Calama”, de José Mário Gonçalves, enfoca as correspondências trocadas pelo bispo católico Agostinho de Hipona e o pagão Nectário de Calama por ocasião dos violentos conflitos ocorridos em 408 d.C., em Calama, cidade da Numídia.

Na linha do debate sobre a Igreja Católica, Dirceu Marchini Neto é autor do terceiro artigo – “O Priorado do Crato da Ordem do Hospital”. Sua proposta é analisar o surgimento e a expansão da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, no Reino de Portugal, durante a Idade Média, e as relações de prestígio e poder que estabelecia com as famílias nobres e com a monarquia.

Youssef Alvarenga Cherem é o autor do artigo “Católicos de rito não latino e a questão do celibato clerical”, que discute sobre as tradições eclesiais e teológicas a respeito do celibato do clero da Igreja Católica e daquelas de ritos orientais, como a Rutena e a Melquita.

O sexto e último artigo do volume “Religião e espaço público: história e pensamento de Edith Stein e sua relevância para a sociedade” é de autoria de Jefferson Zeferino e de Clélia Peretti. A partir do pensamento e da sensibilidade de Edith Stein, enfocam-se as suas percepções sobre a ascensão do Nacional Socialismo, na Alemanha, e sobre a sua ação social enquanto católica.

Por fim, concluímos a Chamada Temática com a entrevista realizada por Salma Ferraz com Ádryan Krisnamurt Edin da Luz, fundador da EQUI Orgânica, em 2012.

A seção Artigos oferece cinco textos que apresentam discussões muito interessantes e com rica pesquisa. Francisco Eduardo de Andrade é autor do artigo “Cativeiros e enredos de libertação dos devotos de cor nas Minas da América Portuguesa”. Em seu texto, aborda as diversas performances dos escravizados, dos libertos e das pessoas livres de cor das Minas Gerais setecentistas e a forma como conceberam e lutaram pela liberdade. A seguir, Joana Bahia, no artigo “O Rio de Iemanjá: uma cidade e seus ritos”, enfoca a inserção histórica do culto no Rio de Janeiro e a importância das oferendas a Iemanjá. O terceiro artigo, “Misticismo em Brasília: New Age e Dom Bosco na pedra angular da capital federal”, de autoria de Pepita de Souza Afiune e Eliézer Cardoso de Oliveira, que enfoca as representações místicas presentes no Monumento da Pedra Fundamental, construído em 1922, na cidade de Planaltina, vinculadas aos sonhos do sacerdote italiano João Dom Bosco e aos discursos de diversos grupos esotéricos. Rogério Luiz de Souza, no texto “A festa como maquinaria dos corpos: a política eugênica nacionalizadora e reinvenção da festa do Divino Espírito Santo”, apresenta as reinvenções da Festa do Divino na cidade de São José, em Santa Catarina, durante a ditadura nacionalizadora de Getúlio Vargas. Por fim, o artigo de Magno Francisco de Jesus Santos, “‘Só aqui no Icó nós temos, uma festa bonita assim’”: sacralização do espaço e da memória na festa do Senhor do Bonfim de Icó / CE”, enfoca a sacralização do espaço e da memória, por meio dos usos do passado atrelados aos episódios centrais da Festa do Senhor do Bonfim de Icó.

A última seção – Resenhas – oferece o texto de oração e experiência cristã no Mediterrâneo Oriental da Antiguidade Tardia e do Medievo, de autoria de Alfredo Bronzato da Costa Cruz.

Agradecemos a todas e todos que contribuíram para a qualidade deste número da revista. Desejamos que tenham uma boa leitura e que continuem divulgando a Revista Brasileira de História das Religiões para novos leitores e pesquisadores!

Emanuela Prinzivalli (Università di Roma “La Sapienza”)

Jérri Roberto Marin (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Universidade Federal da Grande Dourados)


PRINZIVALLI, Emanuela; MARIN, Jérri Roberto. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.10, n.30, jan. / abr., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Visões da Morte / Revista Brasileira de História das Religiões / 2017

A chamada temática Visões da Morte apresenta um conjunto de artigos, com diversas abordagens temáticas e teórico-metodológicas, demonstrando a dinâmica das possibilidades de problematizações possíveis da morte na perspectiva histórica. Espaços dos mortos, ritos fúnebres, enfermidades e morte, luto e pesar, cemitérios, morte simbólica de dadas identidades são algumas das entradas temáticas dos textos que formam o presente volume.

Mortes físicas e simbólicas estão e estiveram presentes em distintas situações e condições sociais, como aquelas que mobilizam o interesse dos estudos dos artigos aqui apresentados. O tema morte é geralmente acionado pelos historiadores ao se realizar questionamentos sobre aspectos diversos das sociedades, isto é, as problemáticas de pesquisa acabam vinculando experiências de morte ou morrer com outras instâncias de vida social em universos culturais específicos. São variadas as compreensões das formas de morrer e de expressar a morte, de tal modo que esse tema, analisado historicamente, implica em considerar as mudanças vivenciadas pelos sujeitos em dado espaço e temporalidade, considerando ainda os elementos culturais e políticos que os constituem.

Nesta edição, a morte é percebida nas vivências das associações religiosas, nos (evidentes) locais de sepultamento, nas experiências sociais de sujeitos religiosos, nas diferentes expressões rituais, nos cuidados com enfermos, no tratamento do corpo morto, nos espaços dos mortos, na expressão escrita e literária, no cemitério como manifestação educativa e turística, nas identidades que (re)nascem e morrem, na morte social simbólica. A chamada temática traz um pouco destas variadas possibilidades de interpretações da morte através de análises de práticas religiosas, sociais e políticas e de manifestações de crenças e outras sensibilidades em torno da morte e do morrer. Atentos aos contextos em que se expressavam estas relações com a morte, os artigos reunidos abordam distintos espaços e expressões culturais, que vão do final do século XVII ao tempo presente.

Entendidos como “temas do sofrimento”, conforme Arlette Farge, os debates em torno da morte, na perspectiva histórica, percebem que “cada época, cada cultura, cada classe social ou grupo sexual tem palavras para clamar o escândalo, para dizer seu medo, para abafar sua mágoa”, considerando que sentimentos de “dor” e “pavor” podem ser expressos de diferentes formas, quer haja “familiaridade” com a morte ou não. A depender do contexto, a morte pode assumir diferentes sentidos, mas Farge questiona se “a morte é menos apavorante, menos escandalosa, menos triste por ser visível, presente, ritualizada”. Os sentimentos diante da morte ganham “formas, palavras, modos de expressão que têm implicações sociais e políticas e que pertencem plenamente à história”.1 Portanto, as diferentes visões e interpretações da morte implicam dadas práticas, ritos e crenças que precisam ser entendidas na sua historicidade.

Basicamente, é da morte ocidental e cristã-católica de que tratam os artigos aqui reunidos, vinculados a crenças e compreensões de ritos fúnebres, de espaços de sepultamento e de condições pós-morte da alma, seja como configurador de vivências específicas, seja como conformador de identidades contemporâneas.

Iniciamos com o artigo de Juliana de Mello Moraes, que analisa os atendimentos fúnebres promovidos pelas Ordens Terceiras de São Francisco aos seus irmãos em trânsito pelo Império atlântico português durante o século XVIII. A historiadora demonstra como estas associações cresceram e acumularam rendas neste período, a ponto de ampliarem o oferecimento de sepultamentos e ritos fúnebres ideais aos irmãos, especialmente em São Paulo e em Braga.

Em seguida, o artigo de Ane Mecenas está focado num contexto específico, o espaço de atuação de missionários para conversão de indígenas Kiriri no sertão da América portuguesa. A autora analisa os discursos de capuchinhos e jesuítas entre o final do século XVII e início do XVIII a respeito da morte e das práticas rituais fúnebres, demonstrando tanto as percepções dos missionários sobre as práticas e crenças da “gentilidade” sobre as enfermidades, como os esforços para o ensino dos significados dos enterramentos e das possibilidades do estado da alma após a morte.

Na sequência, o artigo de Claudia Rodrigues e Vitor Cabral analisa a dinâmica relação entre sepultamentos em espaço sagrado e a configuração das desigualdades sociais em uma paróquia rural do Rio de Janeiro, intitulada Santo Antônio de Jacutinga, no final do século XVIII e início do XIX. Os autores atentam para as hierarquias entre livres e libertos da freguesia, desejosos de sepultamento católico em espaços considerados mais (ou menos) sagrados, na desigual busca pela salvação da alma.

O artigo de Vera Lúcia Caixeta apresenta as atitudes diante da morte de sertanejos no norte de Goiás da primeira metade do século XX, a partir das memórias do francês Frei Audrin expressas no livro “Os sertanejos que eu conheci”, escrito nos anos 1940. Segundo Caixeta, na narrativa de Audrin, o sertanejo desponta como aquele que rezava em comunidade e contava com a proteção dos santos de devoção para o socorro na hora da morte.

O texto de Douglas Atilla Marcelino analisa a obra Redescobrindo o Brasil: a festa na política, de Marlyse Meyer e Maria Lucia Montes, que trata de uma interpretação dos funerais de Tancredo Neves. O historiador está interessado em analisar a representação do luto transformado em festa e sua relação com o imaginário político. A morte do presidente eleito, em meados dos anos 1980, marcaria a inauguração de um novo ciclo, no qual o povo redescobriria a si mesmo.

No artigo de Jenny González Muñoz, o foco está na relação entre cemitério (latino-americanos) e escola para a configuração de trabalhos de educação patrimonial que considerem aspectos memoriais e museais com vistas à conservação e preservação. Para a autora, processos educativos podem sensibilizar sujeitos a perceberem o cemitério como lugar de memória e identidade, importantes para a proteção dos bens culturais.

Nesta lógica de cemitério como evidência de memória e identidade, o artigo de Daniel Luciano Gevehr e Larissa Bitar Duarte aponta para a potencialidade de um cemitério específico da cidade de Jaguarão, extremo sul do Rio Grande do Sul, como referencial turístico. Para os autores, o turismo de necrópole pode dinamizar as interpretações sobre os cemitérios, entendendo-os como lugares de memória e de construção de determinadas características do passado daquela sociedade.

Concluímos a chamada temática com o artigo de Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, que analisa a morte simbólica de pessoas transgêneras e ex-transgêneras na sociedade brasileira contemporânea a partir de suas narrativas, destacando a conversão e desconversão de corpo, sexo e gênero. O autor ainda aponta que os discursos de transfobia religiosa podem ser associados a violências como, por exemplo, o assassinato de travestis e sugere que o discurso de cura gay seja revertido em cura da homofobia, transfobia, travestifobia, lesbofobia, entre outros.

Termino esta apresentação com a esperança de que, sem temores e para não temer, os estudos históricos sobre a morte sejam prósperos e frutíferos no Brasil e que este volume seja inspirador aos leitores da Revista Brasileira de História das Religiões.

Mauro Dillmann – Universidade Federal de Pelotas

Agosto de 2017


DILLMANN, Mauro. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.10, n.29, sete. / dez., 2017. Acessar publicação original [DR]

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Religiões Mediúnicas e a Hiatória / Revista Brasileira de História das Religiões / 2017

Em mais um espaço, aberto pela Revista Brasileira de História das Religiões, vários profissionais reúnem-se para discutir a temática das Religiões Mediúnicas. Trata-se de um assunto extremamente presente na cultura e no cotidiano do povo brasileiro, assumindo a dimensão de um valor caro e partilhado. A crença nos Espíritos, para muito além do Espiritismo é algo vivenciado e orientador do viver individual e coletivo entre nós. Por outro lado, a familiaridade com o invisível, presente nas “mesas” kardequianas e nas “giras” de Umbanda, há muito que se impôs ao repertório das vivências capazes de caracterizar a forma de exteriorizar-se culturalmente do povo brasileiro. Sem fronteiras muito definidas, ultrapassando projetos identitários, essas crenças e vivências são fundamentais para quem se aventura a pensar o Brasil. É com satisfação que vemos hoje, aumentar o número de historiadores, cientistas sociais e cientistas da religião interessados nesses fenômenos e comprometidos com projetos editoriais e de investigação sobre os mesmos.

Neste Dossiê temos, inicialmente, a presença de Pedro Paulo Amorim, abordando a temática da imprensa espírita, em um recorte temporal que vai do século XIX até a década de 1960. Marcos Diniz Silva, por sua vez, estuda a afirmação e legitimação do Espiritismo no campo religioso cearense. Em seguida, Deise Maria Albuquerque de Lima Saraiva e Emanuela Sousa Ribeiro abordam uma questão importantíssima para conhecermos os contornos da literatura espírita produzida entre nós: o papel do negro na mesma. Ainda, sobre o Espiritismo, há o meu artigo, remetendo à discussão sobre as relações entre Espiritismo, Educação e Estado Laico. Pensando as religiões afro-brasileiras, Vanda Serafim aborda as aproximações teóricas entre Nina Rodrigues e Tylor. Já Cairo Katrib contribui com um artigo sobre a controversa figura do Exu no campo umbandista, enquanto os pesquisadores João Luiz Carneiro e Érica Jorge Carneiro refletem sobre a importância da Umbanda Esotérica na conformação da Umbanda no Brasil.

Em nome de todos os escritores que aqui escrevem, agradeço à equipe da Revista Brasileira de História das Religiões por se mostrar sensível e aberta ao assunto que ora reúne os profissionais presentes neste Dossiê. O volume também agrega artigos livres que exploram a diversidade do campo religioso.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Dr. Artur Cesar Isaia


ISAIA, Artur Cesar. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.10, n.28, maio / sete., 2017. Acessar publicação original [DR]

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As crenças e suas articulações com a política e a sociedade / Revista Brasileira de História das Religiões / 2017

Caro (a) leitor (a)!

“As crenças e suas articulações com a política e a sociedade” é tema da edição inaugural da Revista Brasileira de História das Religiões em 2017. Será possível desconsiderar a articulação entre estes três conceitos, sem que isto se apresente de forma danosa à história escrita e a história vivida?

Os artigos que compõe este número nos apontam alguns caminhos para iniciarmos esta reflexão! Renata A. Siuda-Ambroziak, em “Religião e liderança política no Brasil na virada do século XIX e XX – o caso do Padre Cícero”, nos apresenta um exemplo do político notável e de um santo popular, com o lugar de sua atividade religiosa e política transformado há muito tempo em destino de peregrinações e santuário popular importante.

O segundo artigo, escrito por Nadia Maria Guariza, “Modelos para leigas e religiosas: os livros do padre Júlio Maria De Lombaerde (1878-1944)”, artigo analisa alguns livros do padre Júlio Maria De Lombaerde, missionário belga que veio ao Brasil em 1902 e desenvolveu parte dos seus trabalhos na cidade de Manhumirim (MG), até a sua morte em 1944.

Anaxsuell Fernando Silva, em “Da teologia da Libertação à libertação da teologia: a biografia de um intelectual protestante”, discute o percurso intelectual de Rubem Alves no que tange à sua singularidade – de teólogo da libertação a cronista do cotidiano e escritor de contosinfantis.

“Entre o sacerdócio e a pesquisa histórica: a trajetória de Padre Luiz Sponchiado na Quarta Colônia de imigração italiana-RS” de autoria de Juliana Maria Manfio e Vitor Otávio Fernandes Biasoli, objetiva compreender como Padre Luiz Sponchiado atuou e articulou suas ações nos campos político e cultural em prol da construção de uma “identidade italiana na Quarta Colônia”.

Ana Rosa Cloclet da Silva e Marcelo Leandro de Campos, no artigo “Entre contextos e discursos: a biografia de Samael Aun Weor e o gnosticismo colombiano” examinam alguns episódios da trajetória do esoterista colombiano Samael Aun Weor como estudo de caso, relacionando o caráter apocalíptico e radical de sua doutrina espiritualista com o quadro de violência política e desesperança produzidos pelos anos de guerra civil na Colômbia na metade do século XX e seus impactos no campo espiritualista, a nível de representações e imaginário.

O sexto artigo, “O Caboclo Eduardo e a Festa do 7 de Janeiro em Itaparica, Bahia” de Milton Moura busca reconstituir o perfil histórico do Caboclo Eduardo, fundador do grupo Os Guaranys, que desde 1939 vem participando da Festa de Independência de Itaparica, na Baía de Todos os Santos, aí desempenhando um papel singular.

Em “A estatuária funerária no Brasil: um olhar indagador sobre as imagens de Jesus Cristo nos cemitérios brasileiros”, Maria Elizia Borges e Maristela Carneiro analisam as representações artísticas de Jesus Cristo encontradas em um conjunto de cemitérios de cidades brasileiras de pequeno e médio porte, discutindo seu papel como uma iconografia devocional.

Joana Bahia e Caroline Vieira, por meio do artigo “Performances artísticas e circularidades das simbologias afro religiosas” pensam as performances artísticas ligadas à música e à dança como manifestações culturais capazes de irradiar símbolos dos cultos afro-brasileiros, evidenciando como sua circularidade nos permite compreender esse espaço e tempo de trocas de experiências sobre negritude.

A penúltima contribuição, “Abençoada cura: poéticas da voz e saberes de benzedeira” de Lidiane Alves da Cunha e Luiz Carvalho Assunção adentra no aspecto mágico / religioso dos saberes das benzedeiras e o papel da palavra enquanto elemento de cura, que se faz presente e se performatiza nas palavras das benzedeiras, que não podem ser ensinadas à esmo sob pena de perder sua “força”.

Por fim, “A busca espiritual de viajantes à Índia: filosofia e prática de um estilo de vida” de Cecilia dos Guimarães Bastos ao pesquisar um tipo de peregrino que viaja à Índia, apresenta suas vivências segundo a noção de projeto, uma tentativa consciente de dar sentido à experiência e que é elaborada com base na memória como visão retrospectiva e organizada de uma trajetória e biografia.

Contamos, ainda, com a resenha de duas obras. Santo de cemitério: a devoção ao Menino da Tábua (1978-1994), feita por Carolina Cleópatra da Silva Imediato; e História, ciência e medicina no Brasil e América Latina (séculos XIX e XX), realizada por Mateus Tatsch de Mello.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Serafim

Editora RBHR


SERAFIM, Vanda. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.9, n.27, jan. / abril, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Religiões, religiosidades e biografias: indivíduos e crenças / Revista Brasileira de História das Religiões / 2016

Caro leitor,

A Chamada Temática, aqui publicada, consiste em estabelecer a importância dos estudos biográficos para o estudo das religiões, religiosidades e crenças. Enfatizamos a importância em investigar a trajetória do sujeito concreto, inserido na história, com capacidade de influenciar o meio no qual vive ou viveu. A partir do estudo de biografia e contexto (LEVI, 1998), destacamos a singularidade dessas trajetórias, relacionando o individual com o contexto histórico. Este indivíduo é / foi alguém atuante, pertence a uma crença instituída que lhe dá / deu suporte e permite / permitiu seu discurso e sua prática como tradução do grupo ao qual pertence / pertencia. Quando o indivíduo fala a partir de sua adesão religiosa o faz utilizando códigos referenciais, morais, comportamentais do grupo em que é elemento participante. Utilizar a biografia como documento implica relacionar a história do indivíduo ao seu papel enquanto agente histórico, de intermediário entre as crenças instituídas pelo grupo, do qual participa, e as práticas na sociedade em que vive. Nossa proposta foi materializada nos sete artigos que compõem a Temática.

Maria Betania Albuquerque e Dannyel Teles de Castro analisam a trajetória de vida e os saberes construídos por Rosalina, uma curadora da ilha de Colares, no Pará e como ocorrem os processos de construção e transmissão desses saberes. As práticas de cura realizadas por Rosalina englobavam elementos de diversas tradições (umbanda, esoterismo, Nova Era) configurando um hibridismo religioso e um constante processo de bricolagem de seus saberes.

André Leonardo Chevitarese e Rodrigo Pereira abordam a trajetória de vida de Joãozinho da Gomeia, dirigente de uma casa de candomblé fluminense de origem interétnica Angola que funcionou entre a década de 1940 até 1971, no Rio de Janeiro.

A biografia de Jacobina Maurer, conhecida como a principal liderança do movimento Mucker, do Rio Grande do Sul é abordada por Haike Roselane Kleber da Silva.

Edilece Souza Couto analisa a trajetória de Dom Jerônimo Tomé da Silva, segundo arcebispo do período republicano na Bahia (1893-1924) no contexto das mudanças socioeconômicas e religiosas da primeira república.

Magno Francisco de Jesus Santos discute a trajetória polissêmica do arcebispo Dom Luciano José Cabral Duarte, a partir de seu envolvimento com os camponeses da região da Cotinguiba, em Sergipe nas ações de reforma agrária na década de 1960 e suas relações com o Governo Militar.

O artigo de Elisangela Oliveira Ferreira apresenta a trajetória do missionário negro, João de Deus Penitente, que pregou em uma vasta região das capitanias de Minas Gerais, Bahia e Sergipe, no século XVII. Sua motivação era ensinar a doutrina cristã aos seus “irmãos pretos” que, de acordo com ele, viviam pelo interior do Brasil desamparados da fé católica.

Wilton Carlos Lima da Silva Lima Silva, Rogério de Carvalho Veras analisam e estabelecem analogias entre biografias protestantes e discurso hagiográfico de longa tradição na literatura cristã, a partir de três biografias de protestantes brasileiros publicadas entre 1935-1950.

Finalizando a edição temos artigos livres e resenha.

Agradecemos a todos os autores que enviaram suas contribuições e desejamos boa leitura!

Solange Ramos de Andrade

Renata Siuda-Ambroziak

Organizadoras


ANDRADE, Solange Ramos de; SIUDA-AMBROZIAK, Renata. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.9, n.26, set. / dez., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Catolicismo e Política nos séculos XX e XXI / Revista Brasileira de História das Religiões / 2016

Este dossiê é fruto dos esforços reunidos na Rede de Pesquisa História e Catolicismo no Mundo Contemporâneo (RHC), criada por Renato Amado Peixoto, Gizele Zanotto, Cândido Rodrigues e Rodrigo Coppe Caldeira em meados de 2015. Procuramos juntar aqui vários historiadores ligados à RHC que apresentam o resultado de suas pesquisas, levadas a cabo em instituições de diferentes regiões do Brasil, do Chile, da Argentina e da França.

Esta amostra revela não apenas uma riqueza de objetos de estudo, mas também de diferentes aproximações históricas no fazer teórico-metodológico dos artigos. Noutras palavras, pensamos que o presente dossiê traz contribuições interessantes ao campo de estudos do catolicismo no século XX ao mesmo tempo em que se constitui em mais um passo importante rumo à consolidação da RHC, na medida em que se integra ao esforço de produção das coletâneas “Catolicismos e sociabilidade intelectual no Brasil e na Argentina”, lançado em 2014 e “Manifestações do pensamento católico na América do Sul”, de 2015.

Os variados objetos de pesquisa aqui presentes, estudados em temporalidades e espacialidades históricas diversas, expressam a atualidade e a proficuidade das abordagens que se voltam para pensar as relações entre as formas de manifestação do catolicismo com a política e o político. Da leitura do conjunto dos textos o leitor poderá dialogar com temas, objetivos, fontes e abordagens as mais singulares, mas que guardam entre si os liames do pensar essa interface nos séculos XX e XXI.

Poder-se-á notar que as preocupações dos diferentes autores e objetos aqui tratados se voltam, em termos gerais, a pensar as relações entre a História das Religiões e a História Política, importante e controverso problema que interessa não apenas aos seus pesquisadores, mas também a todo o campo da História, uma vez que nos permite aventar aproximações, conceitos e métodos para a compreensão e explicação do tempo presente,

Nesse sentido, os integrantes do dossiê “Catolicismo e Política nos séculos XX e XXI” privilegiaram certos aspectos dessas interações, tais como o estudo das atuações de agentes importantes à hierarquia ou ao laicato da Igreja Católica no Brasil. Este é o foco do artigo de Milton Carlos Costa sobre Dom Antônio Macedo Costa e a sua “teologia do poder”; do estudo de Carlos André Silva de Moura a respeito de Dom Sebastião Leme e o seu projeto de “politização do clero”; das reflexões de Rogério Luiz de Souza e Edison Lucas Fabrício sobre Leonel Franca e as relações entre modernidade e totalitarismo; do artigo de Leandro Garcia Rodrigues acerca das trocas de missivas entre Frei Betto, Leonardo Boff e Alceu Amoroso Lima em tempos de ditadura e repressão política.

Um segundo conjunto de textos volta o seu olhar analítico para pensar as manifestações das relações entre catolicismo e política expressas em jornais, revistas e movimentos. Este é o caso do estudo de Rodrigo Coppe Caldeira e Albert Drummond acerca da questão da imoralidade nas páginas de O Diário Católico; da análise de Ianko Bett sobre a Revista Catolicismo e o anticomunismo; do artigo teórico-metodológico de Renato Amado Peixoto sobre o conceito de colusão e a sua aplicação no exame da relação entre o catolicismo e a extrema direita, no caso da criação da Ação Integralista norte-rio-grandense; do artigo de Omar Acha revelando as atividades da Ação Católica Argentina por meio da política associativa nas décadas de 1930-1970;

O último conjunto de artigos trabalha com as relações objetivas entre catolicismo e a política partidária. Isabelle Clavel aborda, a democracia-cristã na França através do exame do Movimento Republicano Popular (MRP) e das suas metamorfoses frente à realpolitik, à cultura política republicana e à laicidade. Por sua vez, Marcos Fernández Labbé analisa a democracia cristã chilena dando especial atenção ao desenvolvimento histórico do pensamento católico em torno da ação política e laica na década de 1960.

Desse conjunto de autores, textos e abordagens o leitor poderá extrair as linhas de contato, as singularidades, as rupturas e também as permanências entre as diversas expressões do catolicismo em suas relações com a política e o político.

Vale ressaltar que se aponta que o campo ainda se ressente da falta de novos investimentos, mesmo que a ‘Nova História Política’ já tenha sinalizado, há várias décadas, a abertura de possibilidades e sinalizado outros métodos, aproximações teóricas e enfoques, e que, mais recentemente, a ‘Critical Religion’ e, especialmente, a ‘virada pós-secularismo’ tenham apontado novas perspectivas para se ressituar as relações entre o religioso e o político. Finalizando a edição temos os artigos livres e uma resenha que tematizam relações entre as crenças e os discursos religiosos.

Maio de 2016

Cândido Rodrigues, Renato Amado Peixoto e Rodrigo Coppe Caldeira.


RODRIGUES, Cândido; PEIXOTO, Renato Amado; CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.9, n.25, maio / ago., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Religiões, Religiosidades e Patrimônio Cultural / Revista Brasileira de História das Religiões / 2016

Caro leitor,

É com imensa satisfação que apresentamos essa nova edição da Revista Brasileira de História das Religiões, com a Chamada Temática Religiões, Religiosidades e Patrimônio Cultural.

Investigações que relacionam tais temas têm ocupado, cada vez mais, as preocupações dos pesquisadores, de gestores públicos e técnicos da área da cultura. Há uma evidente relação entre o fenômeno religioso e os processos de patrimonialização. Prova disso são os importantes acervos de bens protegidos pelos diversos órgãos gestores do patrimônio no Brasil e no mundo, os quais obtiveram tal status em virtude da teia de significados religiosos na qual se constituem templos sagrados, lugares, formas de expressão, celebrações, entre outros aspectos, compondo uma plêiade de referências que atuam na organização narrativa de subjetividades e identidades. Ressalta-se que numa perspectiva mais ampla do que pode ser entendido como patrimônio cultural, os dispositivos discursivos remetem às imbricações de elementos materiais e imateriais tanto para a atribuição de valores a bens culturais quanto para a definição de políticas de proteção.

Em consonância com essas questões, o campo de investigação histórica das religiões e religiosidade tem, cada vez mais, diversificado seus problemas e suas fontes de pesquisa. Portanto, a aproximação dessas duas áreas exige olhares cada vez mais atentos e críticos. Dizemos isto, pois entendemos que ainda somos partícipes de uma lógica racional analítica, a qual privilegia, grosso-modo, a decomposição da realidade em partes, a fim de, supostamente, melhor “controlar” o objeto investigado e as informações provenientes do mesmo, perdendo com isso aspectos importantes das relacionalidades existentes nos interstícios dos blocos analíticos.

Isto ganha sentido quando consideramos que vivemos num tempo em que as relações entre fé e razão, materialidade e imaterialidade, ciência e religião e práticas religiosas e políticas não podem mais ser concebidas em termos dicotômicos e excludentes. As intolerâncias e os preconceitos, base de fundamentalismos e exclusão social, desafiam, em várias escalas, os direitos humanos na contemporaneidade.

Nessa mesma vertente, a edição conta ainda com sete artigos que versam sobre temáticas gerais nos estudos das religiões e religiodades e uma resenha.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Gerson Machado

Organizador da Chamada Temática


MACHADO, Gerson. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.8, n.24, jan. / abril, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Mito e Religiosidade Nórdica / Revista Brasileira de História das Religiões / 2015

Caro leitor,

É com imensa satisfação que apresentamos o vigésimo terceiro volume da RBHR com a temática Mito e Religiosidade Nórdica, organizado pelo Prof. Dr. Johnni Langer, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenador do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE), a quem expressamos nossa gratidão pela dedicação, seriedade e qualidade do trabalho realizado.

Iniciando a edição, o Prof. Langer apresenta um panorama dos estudos sobre religiosidade nórdica e a visibilidade por estes alcançados na academia brasileira nos últimos anos. Abrindo as discussões temáticas temos o artigo Vaningi: O javali e a identidade dos Vanir, de autoria de Hélio Pires, seguido por As runas de Cristo – aspectos da conversão da Escandinávia Medieval na Idade Média Tardia, de Álvaro Bragança Júnior. O terceiro artigo, Representações de honra e vingança na Mitologia Nórdica, é de Flavio Palamin. Contamos ainda com Oseberg: rito, mito e memória na construção da identidade nacional norueguesa no século XX, de Mário Jorge Bastos e Munir Ayoub; além de Discutindo o Xamanismo no Mito e na Literatura Escandinava: uma breve revisão historiográfica, escrito por Maria Emília Monteiro Porto e Pablo Gomes de Miranda.

A Saga do Santo Jón, de Arno Maschmann de Oliveira e André Araújo de Oliveira, é o sexto artigo apresentado; logo em seguida contamos com A sacralidade que vem das taças: o uso de bebidas no Mito e na Literatura Nórdica Medieval, de Luciana de Campos e A descoberta do Horizonte, a cristianização dos Vikings na América, de autoria de Gleudson Cardoso, José Lucas Fernandes e André Santos. O penúltimo artigo intitula-se O simbolismo da águia na religiosidade nórdica pré-cristã e cristã, escrito por Johnni Langer, Ricardo Menezes de Oliveira e Andressa Ferreira e, por fim, temos o texto Uma pequena igreja, um grande almofariz cultural: iconografia céltica religiosa em Kilpeck, Inglaterra, século XII, de Elisabete Leal e Amanda Basilio Santos.

A edição conta ainda com três artigos livres. São eles: “Esta religião sobre a qual todos os homens concordam” – a invenção da maçonaria, uma revolução cultural entre religião, ciência e exílios, de Dévrig Mollès e que analisa o interesse crescente pela Maçonaria na América Latina. Pensando esta realidade sociólogos e historiadores das religiões, das relações internacionais ou das ciências regularmente salientarem sua importância nos processos de modernização do século XIX. O autor aponta como, apesar de ser uma questão ainda pouco conhecida na América Latina, a sua atualidade não é duvidosa: o mostra, por exemplo, o persistente conflito ideológico com a Igreja Católica. Para alimentar a compreensão e a reflexão sobre estas questões, o autor questiona qual foi a relação entre a criação da Maçonaria e a revolução cultural do século XVIII, o século do Iluminismo, da ciência e da razão?

O segundo artigo livre, de autoria de Jérri Marin, intitula-se A construção de imagens de D. Carlos Luiz D’Amour durante as visitas pastorais pela diocese de Cuiabá em 1885 e 1886, e analisa as imagens construídas acerca do bispo D. Carlos Luiz D’Amour e da sua gestão durante as duas visitas pastorais que realizou em 1885 e 1886 ao norte e ao sul da diocese de Cuiabá. As fontes são os relatórios das viagens que foram publicados em 1886 e 1890. Por fim, Paulo Rogério Melo de Oliveira, em Padre Roque González: entre a história e a hagiografia, interpreta as biografias / hagiografias escritas em homenagem e em prol da beatificação e santificação do padre Roque González de Santa Cruz, na primeira metade do século XX, buscando perceber como as obras, escritas por jesuítas historiadores, situam-se numa fronteira difusa entre a história e a hagiografia. A edição conta ainda com resenhas de dois livros, quais sejam, Buscando el Reino. La opción por los pobres de los argentinos que siguieronal Concilio Vaticano II e Fim da era constantiniana: Retrospectiva genealógica de um conceito crítico, produzidas respectivamente por María Andrea Nicoletti e Sebastian Pedro Pattin Correio.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto

Editoras


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.8, n.23, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Devoções, festas e sociabilidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2015

Caros leitores!

É com imensa satisfação que apresentamos o vigésimo primeiro número da Revista Brasileira de História das Religiões!

Nesta edição contamos com artigos em torno da temática “Devoções, festas e sociabilidades”, resultante do V Encontro do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH), realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), de 01 a 04 de dezembro de 2014. Nosso especial agradecimento às coordenadoras do evento, professoras Edilece Souza Couto e Elizete da Silva, que tornaram possível mais um debate qualificado e relevante para a temática das religiões e religiosidades e, junto a isso, a consolidação progressiva do GTHRR. “

Devoções, festas e sociabilidades” foi o tema desta edição do encontro, que oportunizou produtivas discussões, agregando significativas contribuições às nossas pesquisas e à nossa atuação docente. O evento contou com duas conferências proferidas pelas prefessoras Dra. Patrícia Folgeman (UBA) e Dra. Solange Ramos de Andrade (UEM).

As mesas-redondas versaram sobre variadas manifestações religiosas, contando com a presença dos seguintes profissionais: Eliane Cristina Deckmann Fleck (UNISINOS), Marta Borin (UFSM), Renata Siuda-Ambroziak (Universidade de Varsóvia Polônia), Antonio Lindvaldo Souza (UFS), Jânio Roque Castro (UNEB), José Roberto Severino (FACOMUFBA), Cândido da Costa e Silva (UCSAL), Edilece Souza Couto (UFBA), Mauro Passos (UFMG), Francisco Cancela (UNEB), Maria Hilda Baqueiro Paraíso (UFBA), Milton Araújo Moura (UFBA), Artur César Isaia (UFSC), Ileana Hodge (Universidad de Cuba), Vanda Fortuna Serafim (UEM), Fabrício Lyrio (UFRB), Íris Verena Oliveira (UNEB), Marli Geralda Teixeira, Elizete da Silva (UEFS), Lyndon Araújo (UFMA), Vasni Almeida (UFT), Leonardo Ferreira de Jesus (Rede Estadual da Bahia), Marcos Diniz (UECE) e André Luis Mattedi Dias (UFBA).

Essa edição da RBHR propriamente dita compõe-se de trabalhos que evidenciam a proficuidade dos estudos temáticos. O texto que abre as discussões “Festas, Devoções e sociabilidades” é uma contribuição da historiadora Patrícia Folgeman e contempla, de modo emblemático, um esforço que perpassa os demais trabalhos, isto é, pensar a “religião” e suas interfaces com outros conceitos utilizados na historiografia como “religiosidade” e “religiosidade popular”, contemplanto o uso de imagens, a criação e circulação de discursos religiosos e as redes de relações sociais derivadas de grupos e instituições.

O texto de Renata Siuda- Ambroziak trata das devoções marianas oficiais em análise comparativa do Brasil e Polônia, especificamente das crenças e práticas em prol de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora do Monte Claro, evidenciando suas aproximações e singularidades. Ainda analisando as crenças e práticas em honra a Nossa Senhora, Marta Rosa Borin avalia as tensões e conflitos referentes à devoção mariana no Rio Grande do Sul no início do século XX. Sua abordagem avalia as devoções a Nossa Senhora Medianeira Mediadora de Todas as Graças e A Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schöenstatt e as tentativas de consolidação e hegemonia aventadas pelos propulsores de cada devoção.

Eliane Cristina D. Fleck atém-se a devoção e piedade dos índios Guarani manifestas na religiosidade das missões jeusítico-guaranis do século XVII, a partir da documentação das Cartas Ânuas, analisadas pela autora. Mauro Passos, por sua vez, avalia a plasticidade da tradição religiosa e da sociabilidade do Congado no interior de Minas Gerais, salientando as idiossincrasias entre a religião oficial e a religiosidade popular ante tais práticas. Um olhar para as práticas devocionais também é foco de análise de Edilece Souza Couto, que em seu artigo atenta para as irmandades e ordens terceiras existentes em Salvador / BA, analisando as transformações arquitetônicas e legais que incindiram sobre as práticas religiosas ali realizadas.

A cultura e a religiosidade indígena e afro-brasileira também estão contempladas nos artigos de Francisco Cancela, Artur Cesar Isaia e Vanda F. Serafim. Cancela apresenta resultados de sua pesquisa acerca dos rituais mágico-curativos realizados em Porto Seguro entre os séculos XVIII e XIX. O autor evidencia o quanto práticas qualificadas como bebedeiras, batuques e superstições pelas autoridades evidenciavam a criatividade de seus partícipes em afirmar, reiventar e ressignificar valores tidos como oficiais para manter elementos de sua cultura. Para tanto o autor evidencia os intercâmbiso culturais e a socibilidade interétnica que se estabeleceram em um contexto de políticas de políticas assimilacionistas empreendidas pelas lideranças luso-brasileiras. Artur Isaia, em análise acerca do papel e atuação dos intelectuais da umbanda, evidencia seu esforço em compreender e “nomear” (termo do autor) a realidade do país considerando a própria religião como um de seus elementos base, “a” religião nacional. Vanda Fortuna Serafim atém-se ao intelectual Raimiundo Nina Rodrigues para analisar como as crenças e as devoções afro-brasileiras foram lidas pelo autor. Em especial, a autora acompanha as digressões de Nina Rodrigues concernentes ào conceito de festa. Revista Brasileira de História das Religiões.

Encerram o eixo temático dois artigos que versam sobre práticas e discursos. Marcos José Diniz Silva dedica-se a analisar o jornal O Nordeste de matriz católica e a construção de representações e valorações negativas ao espiritismo nos anos 1920. Seu foco prende-se aos mecanismos de condenação da crença espírita em expansão no sertão do Ceará. Por sua vez, o texto de Elizete da Silva pontua o investimento educativo e social dedicado às mulheres pelas religiões protestantes.

A Revista conta ainda com dois artigos livres. Em A cura dos corpos e a libertação das almas, Marilane Machado analisa como os discursos da Teologia da Libertação reverberaram na Pastoral da Saúde de Florianópolis / SC, em um contexto de extrapolamento da ação de instituições hospitalares e religiosas para a atuação junto às comunidades. Ana Rosa Cloclet Silva e Laís da Silva Lourenço, com o texto Entre a política e a religião, atém-se aos discursos difusos pelo semanário O Justiceiro , editado pelos padres Diogo Antônio Feijó e Miguel Arcanjo entre 1834 e 1835. Seguem-se a estes artigos livres duas resenhas, a primeira, de Marcos José Diniz da Silva, que apresenta a obra Do outro lado. A história do sobrenatural e do espiritismo, de Mary Del Priore; e a de Diego Omar da Silveira, que evidencia as discussões existentes na obra Intelectuais e militância católica no Brasil, organizada por Cândido Moreira Rodrigues e Christiane Jalles de Paula.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.7, n.21, jan. / abr., 2015. Acessar publicação original

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Mídia, Religiões e Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2014

A vigésima edição da Revista Brasileira de História das Religiões conta com um Dossiê sobre Mídia, Religiões e Religiosidades.

Ao pensarmos nas formas de difusão de informações, visões de mundo, representações e ideias religiosas nos séculos XX e XXI, torna-se necessário lidar como outros tipos de suporte, tais como rádio, televisão, computador, cinema e ciberespaço. Torna-se, portanto, um desafio ao historiador refletir sobre os meios de expressão, adotados pelas religiões e religiosidades, intencionalmente ou não, para transmitir uma mensagem, seja por um canal específico ou por meios de comunicação de massa.

O dossiê Mídia, Religiões e Religiosidades, organizado por Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, conta com seis contribuições. São elas: “Mediatización televisiva de los rituales religiosos: Las Mañanitas a la Virgen de Guadalupe” de Margarita Zires – que trata sobre o uso dos meios de comunicação e processos rituais no México; “Apocalipsis maya: una creencia posmoderna en la era de la información” de Renée de la Torre e Lizette Campechano – que analisam a importância das indústrias culturais e dos meios de comunicação e seu papel ante as profecias de fim dos tempos de 2012; “A representação do Ritual Romano de Exorcismos no filme O Exorcista (1973)” de Solange Ramos de Andrade e Michel Bossone – dedicados a compreender os meandros entre crenças e cinema com um etudo de caso; “Educação e produção de subjetividades da intolerância: As novas fronteiras da intolerância com a Umbanda” de Sidney Nilton de Oliveira – dedicado a analisar como grupos conservadores e fundamentalistas, em especial os neopentecostais, lidam com a umbanda; “Complexidades da religiosidade afro-brasileira no “terreiro” do ciberespaço” de Cristiana Tramonte – que se volta à análise de outras formas de organização e crença de grupos de religiosidade afro-brasileira; e “Ciberespaços para a crítica: Difusão e imagens da Igreja Universal pelo ciberespaço latino-americano” de Marcelo Tadvald – que analisa aprsença da IURD no espaço virtual.

Agradecemos a colaboração de Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho na organização do dossiê!

Em diálogo com a temática das Mídias, temos ainda duas comunicações: “Feições político-midiáticas da concorrência cristã brasileira” de André Ricardo de Souza, Giulliano Placeres e Vinicius Manduca e “Tradição oral e novas tecnologias no candomblé da metrópole” de Ivete Miranda Previtalli.

Na Seção “Artigos Livres”, que conta com 6 artigos, temos as contribuições de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Mauro Dillmann, Fabio Augusto Scarpim, Beatriz Teixeira Weber e Renan Santos Mattos, Ronaldo de Oliveira Rodrigues, Andreia Martins e Gizele Zanotto.

Por fim, concluímos com as resenhas de Anna Maria Salustiano e Emerson Sena da Silveira, respectivamente sobre as obras Religiões e Religiosidades no (do) Ciberespaço e Religião e Juventude: os novos carismáticos.

Boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.7, n.20, set.., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Vida e Morte nas Religiões e nas Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2014

Caro leitor, é com imensa satisfação que apresentamos a edição de número 18, ano de 2014, da Revista Brasileira de História das Religiões!

Iniciamos o ano, apresentamos um Dossiê sobre Vida e Morte nas Religiões e nas Religiosidades!

Os artigos que compõem o Dossiê são resultados de conferências e mesas-redondas apresentadas durante o III Simpósio do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH) – Regional Sul, realizado na Universidade Estadual de Maringá (UEM), de 5 a 7 de novembro de 2013.

Vida e Morte nas Religiões e nas Religiosidades foi o tema desta edição do encontro, que oportunizou produtivas discussões, agregando significativas contribuições às nossas pesquisas e à nossa atuação docente.

O primeiro artigo, Viver e morrer entre irmãos: as irmandades e ordens terceiras de Salvador-BA, de Edilece Souza Couto, foi apresentado na conferência de encerramento do evento e trata da vivência religiosa dos católicos de Salvador nos séculos XVIII e XIX e como esta foi marcada pelas devoções leigas, em especial, as irmandades.

Versando sobre “Religião e Política: biografias, mitos e ritos”, têm-se o artigo O campo religioso sul rio-grandense e a politica de ressemantização da devoção Mariana escrito por Marta Rosa Borin. Ao estudar a devoção a Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças e como esta surgiu no Rio Grande do Sul a partir dos episódios político-militares de 1930, na cidade de Santa Maria, a autora analisa as estratégias do clero sul rio-grandense para consolidar essa devoção no Estado, bem como as motivações para a promoção desta invocação mariana à padroeira do Estado e dos operários.

O terceiro artigo, Vida, morte e ritos de iniciação nas crenças afro-brasileiras por meio de Nina Rodrigues, de Vanda Fortuna Serafim, aborda os “Ritos de Vida e Morte”, atentando as religiões afro-brasileiras por meio dos escritos de Nina Rodrigues. A atenção volta-se aos ritos iniciáticos e às práticas e ritos funerários afro-brasileiros.

O tema “Vida e Morte na Literatura e na História” conta com duas contribuições. A primeira delas, de Aline Dias da Silveira, intitula-se A Morte e a Iniciação Feminina nos Lais de Maria de França e analisa as representações do imaginário feminino sobre a morte na literatura medieval, especificamente, no a lai de Yonec de Maria de França (séc. XII), no qual é possível identificar uma estrutura narrativa mais antiga, de feições míticas. Salma Ferraz, por sua vez, trata da morte na teologia, na mitologia, entre os intelectuais, na arte tumular, na fotografia post mortem, na poesia e na literatura, no artigo A morte nas artes.

Por fim, apresentamos mais duas contribuições que se propõem a pensar “Espaços de Vida e Morte”. Em Prantear os mortos, celebrar a vida: repensando espaços, ritos e protagonistas na América colonial (séculos XVI e XVII), Eliane Cristina Deckmann Fleck, analisa as primeiras impressões que cronistas leigos e missionários formularam sobre as expressões de sensibilidade e de religiosidade dos indígenas Tupi-guarani, em especial, daquelas relacionadas ao festejar e aos lamentos fúnebres. Já Sylvio Fausto Gil Filho, em Conformação simbólica dos espaços da vida e da morte: uma aproximação teórica, a partir de uma aproximação teórica específica com a Filosofia das Formas Simbólicas de Ernst Cassirer (1874-1945), propõe a passagem da ontologia espacial imediata para uma epistemologia do espaço como modo de interpretação do mundo da cultura.

Há de destacar, neste Dossiê, o profícuo debate travado entre pesquisadores e professores das áreas de História, Literatura e Geografia, reiterando a proposta interdisciplinar do GT História das Religiões e Religiosidades –ANPUH. Na sessão Artigos Livres contamos, ainda, com mais quatro artigos inéditos!

O primeiro deles, O martírio no contexto da Companhia de Jesus: a parénese do padre Antônio Vieira, de Fernanda Santos, pretende mostrar como o padre Antônio Vieira consegue articular algumas concepções em sua sermonária, com a eloquência de seu raciocínio católico-cristão e a engenhosidade do seu discurso, sem deixar de ter em vista os objetivos e o ideário missionário e universalizante da Companhia de Jesus.

Ivana Guilherme Simili, em Memórias da dor e do luto: as indumentárias políticoreligiosas de Zuzu Angel, busca pensar as relações das mulheres com as roupas e com a moda política e religiosa por meio da trajetória da mãe e estilista Zuzu Angel. O enfoque privilegia como a cultura das mulheres, da moda e da religião foram apropriadas e significadas pela personagem, para simbolizar e expressar, por intermédio da costura e do bordado, a dor e o luto, em razão da morte do filho pela ditadura militar.

A terceira contribuição, Em nome do direito à vida: o aborto nos documentos pontifícios dos anos 1980, de Aline Roes Dalmolin, analisa as percepções sobre aborto em documentos oficiais católicos publicados nos anos 1980.

No último artigo desta edição, Mercado religioso e as denominações afro-brasileiras numa cidade catarinense, Gerson Machado apresenta reflexões sobre o processo de constituição do mercado religioso na Cidade de Joinville, Estado de Santa Catarina, no período compreendido entre os anos 1980 e 2000.

Encerrando o quadro da Revista, contamos com uma resenha da obra de Tracey Rowland, de 2013, A fé de Ratzinger – a teologia do Papa Bento XVI, enviada por Edison Minami.

Além da estrutura tradicional, nesta edição, a RBHR apresenta os Anais do III Simpósio do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH) – Regional Sul. Os textos são resultados das discussões e apresentações de trabalhos nas três tardes do evento por meio dos Simpósios Temáticos.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Fortuna Serafim

Solange Ramos de Andrade


ANDRADE, Solange Ramos de; SERAFIM, Vanda Fortuna. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.6, n.18, Jan., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Facetas do Tradicionalismo Católico no Brasil / Revista Brasileira de História das Religiões / 2013

Há muito tempo o tema do tradicionalismo católico foi relegado pelos estudiosos ao segundo plano no Brasil. Personagens históricos como Geraldo de Proença Sigaud, Antônio de Castro Mayer, Antônio Mazzarotto, Gustavo Corção, Plínio Corrêa de Oliveira, entre outros, foram postos no ostracismo da história do catolicismo brasileiro. Contextualmente, os tradicionalismos católicos – também chamados de integrismos e conservadorismos – originaram-se no século XIX no interior de grupos clericais e leigos em reação à ascensão de um catolicismo progressista, calcado em premissas da Revolução Francesa e das perspectivas abertas pela ciência moderna.

Em geral, os tradicionalistas baseiam seu pensamento político-religioso em documentos do Concílio de Trento (1543-1563) e em documentos de santos, filósofos, teólogos e pontífices que se destacaram pela crítica ou mesmo pela recusa do mundo moderno, principalmente os pontificados antiliberais do século XIX. Dessa forma, tais grupos formaram-se em oposição a outros, defensores de mudanças expressivas na vivência da fé, na interpretação da mensagem revelada e na atuação mais engajada em assuntos político-sociais (os chamados catolicismos moderno, progressista ou social).

É mister indicar que essa tendência do catolicismo contemporâneo não foi estudada em sua profundidade, principalmente no Brasil. Preocupados com as novas formas de atuação política, que convidavam os cristãos a uma atitude prática frente à vida social do país e que levaram à proximidade com a esquerda política, muitos estudiosos viam nesses personagens a encarnação do que havia de mais retrógrado e reacionário, e, por isso, não mereciam nem mesmo o olhar da academia. Contudo, nesse átimo histórico, esses mesmos personagens tradicionalistas e o pensamento vinculado a eles retornam como fantasmas quando o então papa Bento XVI tomou atitudes como o moto proprio Summorum Pontificum Cura, fazendo emergir questões de fundo que muitos achavam esquecidas ou superadas: a presença do latim na liturgia, a busca de uma fidelidade mais profunda ao Sumo Pontífice e o questionamento a qualquer tipo de transigência com a modernidade e seus valores.

Para muitos a situação configura-se como a de um retorno a modos de vivência e expressão de fé tidas como incompatíveis com os “tempos modernos”, mas que, num olhar atento, evidenciam sua permanência – mesmo que às margens da teologia dominante – e, por que não, sua consistência teológica. Dessa forma, o dossiê Facetas do tradicionalismo católico no Brasil visa responder às necessidades historiográficas e conjunturais que, indubitavelmente, se impõem. Por iniciativa de um grupo de pesquisadores que estudam o tema mais detidamente, a obra visa demonstrar, sob várias perspectivas e olhares, alguns momentos importantes da história do tradicionalismo católico brasileiro.

O professor Ivan A. Manoel, no instigante texto que inicia esta coletânea, se propõe a discutir as origens do tradicionalismo católico, atentando para o fato de que as religiões – não somente a católica – são essencialmente tradicionalistas, no sentido de que a conservação da tradição está no fundamento de qualquer crença religiosa. O catolicismo é uma religião que está ancorada na tradição judaico-cristã e luta intensamente para preservar e reproduzir, especialmente quando se trata de conservar seu lugar destacado nas sociedades em que têm ou tiveram ascendência em dado contexto histórico. No ensaio “Origens do tradicionalismo católico: um ensaio de interpretação”, Manoel defenderá a tese de que o tradicionalismo católico, visando justamente manter e / ou forjar uma tradição, produziu uma concepção de história ancorada nos conceitos retilinear e pendular do processo histórico. A análise da doutrina elaborada pelo tradicionalismo bem como de suas implicações práticas e conceituais é o foco do texto em questão.

O vínculo intelectual entre o pensamento conservador tradicionalista ou conservador contrarrevolucionário e a Revolução Francesa é o mote de análise do texto “Expoentes do pensamento conservador: conservadores tradicionalistas e contrarrevolucionários”, de Cândido Moreira Rodrigues. Lançando luzes ao pensamento de Joseph de Maistre, Louis de Bonald, Juan Donoso-Cortés e Edmund Burke, o autor apresenta os elementos de condenação desses intelectuais à Revolução Francesa e aos seus desdobramentos, enfatizando como tais consequências afetaram o pensamento e a vivência católicos contemporâneos e sucessórios de forma indelével. Evidenciando que fora, sobretudo, a partir desses pensadores que se pautou o pensamento católico conservador dos séculos XIX e XX, Rodrigues finda o texto evidenciando a atualidade do debate mais pormenorizado sobre as próprias raízes do ideário do tradicionalismo católico contemporâneo.

Patrícia Carla de Melo Martins, por sua vez, atenta para a normatização religiosa pautada pelo ideário do tradicionalismo católico, com base na análise de regulamentos instaurados durante o bispado de Dom Antônio Joaquim de Melo (1831-1861) no contexto paulista. No artigo “Moralidade e tradicionalismo católico no século XIX: Códigos de conduta do Seminário Episcopal de São Paulo”, a autora destaca a importância das reformas efetivadas no Seminário Episcopal de São Paulo que, de certa forma, acabaram por refletir a própria reforma conservadora do clero paulistano.

A proposta da professora Tereza Malatian no ensaio “Tradicionalismo monarquista (1928-1945)” é discutir as relações existentes entre a doutrina católica conservadora e o contexto de renovação cristã vigente a partir dos anos 1920 com a formação e atuação dos membros da Ação Imperial Patrianovista Brasileira (AIPB), entidade que reuniu um grupo de intelectuais preocupados em analisar as relações entre Igreja e Estado, bem como em criticar as bases do regime republicano instaurado no país. Ao analisar os elementos basilares do patrianovismo, entre eles a eleição da religião como fundamento de sua proposta política, a autora evidencia a singularidade desse movimento monarquista, nacionalista e cristão, no contexto das primeiras décadas do século XX.

No texto intitulado “Em defesa da Ação Católica: Plínio Corrêa de Oliveira, um baluarte da tradição”, o pesquisador Rodrigo Coppe Caldeira analisa a obra Em defesa da Ação Católica (1943), redigida pelo católico leigo Plínio Corrêa de Oliveira. Com base em uma concepção ultramontana de catolicismo, Plínio teria feito da obra um baluarte da defesa de uma proposta de catolicismo antimoderno, tido como “fiel” às propostas do que chama de “Igreja de sempre”. O autor analisa suas fontes doutrinárias e teológicas, bem como os principais elementos defendidos por Plínio Oliveira, a partir de uma obra que se tornou expoente do pensamento ultramontano ou tradicionalista católico no Brasil.

O artigo redigido por Gizele Zanotto, “Paz de Cristo no reino de Cristo: ideal teológico-político da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP)”, destaca o encadeamento de uma proposta política com a doutrina religiosa defendida pelos membros da TFP no Brasil. Partindo de uma atitude soteriológica pautada no catolicismo das primeiras décadas do século XX, os membros do movimento católico tefepista empenham-se numa luta pela defesa da reedificação da cristandade em nossos dias, como resposta aos problemas do mundo contemporâneo que tanto afligem os católicos ditos tradicionalistas.

Christiane Jalles de Paula analisará o percurso intelectual do líder católico Gustavo Corção, figura de destaque do final dos anos 1940 nos meios católicos, mas que, em função das novas diretrizes defendidas pelo grupo hegemônico da instituição, viu-se cada vez mais questionado em suas posições, especialmente após o Concílio Vaticano II (1962-1965). Em seu artigo “A descoberta da ‘outra’: Gustavo Corção e a recepção do Concílio Vaticano II”, a autora aborda o processo de deslegitimação da postura de Corção, especialmente investigando as relações entre religião e política, situação que o “enquadrou” como um dos representantes do chamado conservadorismo católico no país.

Já Rosângela Wosiack Zulian, no artigo “Entre a ortodoxia e a heresia: uma releitura da tradição católica polonesa na Diocese de Ponta Grossa (PR)”, que encerra esta coletânea, estuda a atuação do bispo Dom Antônio Mazzarotto, tido como defensor da fé e da hierarquia eclesiástica. O ensaio se detém no conflito discursivo entre o bispo e um grupo de católicos poloneses, tidos então como grupo “herético”. Por meio de análise de documentos primários, a autora se debruça sobre os argumentos da mencionada celeuma avaliando o quanto de tal situação está em consonância com o movimento de “romanização” empreendido pela Igreja Católica, visando uniformizar práticas e condutas. Com base na compreensão de que a romanização foi um processo plural, Zulian se debruça sobre os discursos produzidos pelo bispo e pelos poloneses em disputa pela manipulação do poder simbólico religioso.

Complementam esse dossiê as seções de artigos livres, comunicações e resenhas. A primeira delas inicia com artigos dedicados à análise da obra dos intelectuais Michel de Certeau, Edward Burnnet Tylor, Sêneca e Jacques Maritain. O artigo de Virgínia Buarque debruça-se a avaliar as contribuições de Certeau para a História das Idéias Religiosas quando chamado à colaboração com análises sobre a história inaciana no contexto posterior a Segunda Guerra Mundial. Já Vanda Fortuna Serafim avalia a repercussão da obra de Tylor para os estudos da religião, em especial, pela mobilização da obra Primitive Culture. Já José Carlos Silva de Almeida apresenta elementos da vida e obra de Sêneca sob a perspectiva de sua aproximação com a comunidade e as práticas hebraicas. Por fim, Névio de Campos estuda a questão da natureza humana na obra de Maritain, sobretudo em sua proposta de humanismo integral, em contraposição crítica ao denominado humanismo antropocêntrico.

Na sequência temos um artigo dedicado às práticas medievais a partir da ênfase na importância das letras e palavras no contexto cristão anglo-saxão. Em seu texto Elton Oliveira Souza de Medeiros se debruça sobre o Pater Noster em sua articulação entre elementos mágicos e cristãos. Roberto Bueno, por sua vez, pesquisa os elementos de argumentação autoritária derivadas das obras de Danoso Cortés, Jaime Balmes e Carl Schmitt. O último artigo da seção, de autoria de Cintia Régia Rodrigues dedica-se à análise da relação que a Igreja Católica – via atuação de capuchinhos franceses – e o governo estadual do Rio Grande do Sul mantiveram com as populações nativas em princípios do século XX.

O dossiê complementa-se com a seção Comunicações e o artigo de Sezinando Luiz Menezes, José Henrique Rollo Gonçalves e Saulo Henrique Justiniano Silva, que analisam o messianismo judaico no contexto da consolidação do Tribunal do Santo Ofício na metrópole portuguesa do século XVI. Já a resenha da obra Os mortos e os vivos: uma introdução ao espiritismo, de autoria de Reginaldo Prandi e aqui avaliada por Marcos José Diniz Silva, fecha este volume da RBHR.

Esperamos que a riqueza temática e analítica deste volume seja aproveitada por todos os nossos leitores. Junto a isso, desejamos que a Revista Brasileira de História das Religiões do Grupo de Trabalho de História das Religiões e Religiosidades da ANPUH consolide-se em sua nova plataforma, iniciada justamente com esse dossiê.

Boa leitura a tod@s!

Gizele Zanotto

Rodrigo Coppe Caldeira

ZANOTTO, Gizele; CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões, Maringá- PR, v.6, n.16, maio, 2013. Acessar publicação original [DR]

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Memória e Narrativas nas Religiões e nas Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2013

Há cerca de dois anos, por ocasião do III Encontro do GT História das Religiões e das Religiosidades, que ocorreu em Florianópolis, surgiu a proposta de o IV Encontro se realizar na UNISINOS. O I, o II e o III encontros realizados em Maringá, Franca e Florianópolis trataram de temas como “Identidades Religiosas e História”, “Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas” e “Questões Teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades”. Já para o IV, o tema proposto foi “Memórias e narrativas nas religiões e religiosidades”.

O desafio lançado pela Coordenação do GT História das Religiões e das Religiosidades em outubro de 2010 foi aceito pelo Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos, assim como pelos demais parceiros, que foram sendo agregados ao longo dos anos de 2011 e 2012.

Vale lembrar que em 2012, foram celebrados os 50 anos da realização do Concilio Vaticano II convocado em 1962, pelo Papa João XXIII, que representou uma atualização da Igreja Católica ao mundo moderno. Este evento teve suma importância na renovação da comunidade católica mundial e modificou a caminhada da mesma no Brasil. Dentre suas determinações destacam-se a legitimação do papel dos leigos na evangelização em áreas de difícil acesso e a substituição do latim pela língua vernácula tornaram a Igreja mais próxima do povo e mais atenta aos problemas sociais que a América Latina enfrentava nesse período. Em 2012, também foi comemorado o centenário da obra clássica de Emile Durkheim, “As Formas Elementares da Vida Religiosa”, livro que é um dos marcos fundadores dos estudos de Antropologia na Escola Francesa e das Ciências Sociais da religião.

Inserido neste contexto, o IV Encontro do GT ANPUH-Nacional História das Religiões e das Religiosidades, que ocorreu na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) de 07 a 09 de novembro de 2012, efetivamente, oportunizou aos pesquisadores e comunidade em geral um espaço de diálogo, aprendizado e troca de experiências e conhecimentos sobre as religiões e religiosidades, instigando-os a refletirem criticamente sobre as posturas de indivíduos e grupos religiosos em suas ações nos âmbitos religiosos, culturais, políticos e sociais. E ainda, sobre a importância de uma prática cidadã valorativa das diferenças sociais e políticas em nosso país para, desta forma, evidenciar a relevância de análises interdisciplinares sobre a temática das religiões e das religiosidades.

A quarta edição do GT História das Religiões e das Religiosidades – Memórias e Narrativas nas Religiões e Religiosidades reuniu pesquisadores de renome e jovens pesquisadores graduandos, pós-graduandos, mestres e doutores em História, Ciências Sociais, Filosofia, Teologia, Educação e Antropologia de várias regiões do Brasil (RS, SC, PR, SP, RJ, MG, BA, PE, PI, MA, AM e MS) e, pela primeira vez, de pesquisadores da Argentina, da Bolívia, do Uruguai e, inclusive, da Polônia, que, ao longo de três dias tiveram a oportunidade de compartilhar suas pesquisas, projetos de investigação e estudos mais consolidados.

Neste dossiê apresentamos 16 Artigos, 3 Comunicações e 1 Resenha, selecionados pelo Conselho Editorial da RBHR e que representam a importância dos encontros do GT e da publicação dos melhores trabalhos apresentados.

Boa Leitura!

Eliane Cristina Deckman Fleck

Solange Ramos de Andrade

Organizadoras do Dossiê

FLECK, Eliane Cristina Deckman; ANDRADE, Solange Ramos de. Editorial. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.5, n.15, Jan., 2013. Acessar publicação original [DR]

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Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades – II / Revista Brasileira de História das Religiões / 2012

A Revista Brasileira de História das Religiões tem a satisfação de publicar a segunda parte do Dossiê dedicado ao tema Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. Este volume recolhe os trabalhos apresentados sob forma de conferencias ou mesas redondas, no III Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades, ocorrido entre os dias 20 e 22 de outubro de 2010, na Universidade Federal de Santa Catarina. Como nas duas oportunidades anteriores, o evento reuniu pesquisadores altamente gabaritados e um público qualificado, com o comum interesse no estudo da História das Religiões e das Religiosidades.

Quanto à temática, “Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades”, tratou-se de uma escolha pertinente devido à necessidade encontrada por todos nós de uma reflexão mais sistemática sobre um assunto de capital importância para a pesquisa e ensino. Tratar de religiões e religiosidades é abrir-se a uma discussão extremamente complexa, na qual não faltarão opiniões divergentes, opções teóricas antagônicas e contribuições não redutíveis à pesquisa histórica. A diversidade é sempre bem vinda e o debate acadêmico, sempre necessário.

O presente Dossiê está composto de duas conferências e cinco mesas redondas, totalizando quiinze contribuições inéditas de pesquisadores reconhecidos por seus trabalhos em suas áreas de pesquisa.

Reproduzimos abaixo, o discurso de abertura do Encontro, proferido pelo Prof. Dr. Artur Cesar Isaia:

Saudamos a todos que participaram do III Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades, da ANPUH, que foi pensado tendo justamente vocês como parâmetro e como motivação principal. Esse Evento é de todos nós, ele existe em função de nós e sua razão de existir é justamente o atendimento às nossas demandas. Daí a temática desta edição “Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades”.

Este tema foi sugerido após discussões coletivas no II Encontro realizado em Franca, na UNESP. Assim como foi escolhida a UFSC e a cidade de Florianópolis como sede do evento quero dizer que essa escolha encheu de orgulho a comunidade acadêmica da UFSC, pelo carinho e pela confiança com que o nome de nossa Universidade foi lembrado. Quero dizer, igualmente, que trabalhamos muito para que as expectativas de vocês não ficassem aquém desta edição do Evento.

Sabemos bem da responsabilidade que é sediar este III Encontro do GT História das Religiões e das Religiosidades – ANPUH . Responsabilidade pela qualidade acadêmica dos associados ao GT História das Religiões da ANPUH. Responsabilidade pela qualidade acadêmica daqueles que mesmo não fazendo parte deste Grupo de Trabalho, com ele colaboram sempre, seja tomando parte ativa neste Evento, seja publicando na Revista Brasileira de História das Religiões, seja nas muitas maneiras informais de diálogo acadêmico que tanto acrescentam à nossa vivência profissional.

Este III Encontro Nacional de História das Religiões e das Religiosidades não poderia ter acontecido sem o concurso valioso do CNPq, da CAPES, da Fundação Cultural de Joinville, da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC. Desde já nosso reconhecimento muito especial a essas instituições e eu aqui faço este agradecimento em nome da Comissão Organizadora e, certamente, de todos os participantes deste Encontro.

Desejamos, a todos, uma boa leitura!

Artur Cesar Isaia

Solange Ramos de Andrade

Ivan A. Manoel

Organizadores do Dossiê

ANDRADE, Solange Ramos de; MANOEL, Ivan A.; ISAIA, Artur Cesar. Editorial. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.5, n.14, set., 2012. Acessar publicação original [DR]

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Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades – I / Revista Brasileira de História das Religiões / 2011

A Revista Brasileira de História das Religiões tem a satisfação de iniciar 2011 com um Dossiê dedicado ao tema Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. Este volume recolhe alguns dos trabalhos apresentados no III Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades, ocorrido entre os dias 20 e 22 de outubro de 2010, na Universidade Federal de Santa Catarina. Como nas duas oportunidades anteriores, o evento reuniu pesquisadores altamente gabaritados e um público qualificado, com o comum interesse no estudo da História das Religiões e das Religiosidades.

Quanto à temática, “Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades”, tratou-se de uma escolha pertinente devido à necessidade encontrada por todos nós de uma reflexão mais sistemática sobre um assunto de capital importância para a pesquisa e ensino. Tratar de religiões e religiosidades é abrir-se a uma discussão extremamente complexa, na qual não faltarão opiniões divergentes, opções teóricas antagônicas e contribuições não redutíveis à pesquisa histórica. A diversidade é sempre bem vinda e o debate acadêmico, sempre necessário.

O material aqui apresentado permite chegar a um público mais amplo uma parte do que foi o Encontro. Além dos textos inéditos dos coordenadores de Simpósios, contamos com duas resenhas. No link Publicações, estão os Anais do III Encontro, com textos completos de alguns dos trabalhos apresentados e enviados à Comissão Organizadora em tempo hábil.

O texto que abre este número da RBHR intitula-se Autobiografias Eclesiásticas: para além da representação de si, no qual Virgínia Albuquerque de Castro Buarque reconstitui as especificidades históricas e textuais da autobiografia eclesiástica católica, mediante sua contraposição a gêneros afins, como a hagiografia e a autobiografia laica.

No texto seguinte, Missionárias protestantes americanas (1870 – 1920): gênero, cultura, história, Eliane Moura da Silva trata as relações entre religião, cultura e papéis de gênero entre 1870 e 1920 tendo como objeto de estudo as missionárias protestantes americanas durante colonialismo e imperialismo.

Mario Teixeira de Sá Junior contribui em Fé cega justiça amolada. os discursos de controle sobre as práticas religiosas afrobrasileiras na República (1889 / 1950) ao abordar os mecanismos que a nascente república brasileira construiu para limitar a laicização do Estado brasileiro contido nas Constituições a partir de 1891, mais especificamente em seu artigo 11 parágrafo 2.

Patrícia Carla de Melo Martins em Padroado Régio no auge do Império brasileiro demonstra a importância do ensino jurídico para a legitimação do Padroado Régio brasileiro, entre as décadas de 1850 e 1870. A utilização da Filosofia Neotomista nas concepções de Direito Natural Positivo, nas Faculdades de Ciências Jurídicas, apresenta-se como hipótese.

O artigo Religiões afro-brasileiras e ética ecológica: ensaiando aproximações, de Antonio Giovanni Boaes e Rosalira dos Santos Oliveira, parte das conclusões de uma pesquisa realizada nas cidades de Recife e João Pessoa e analisa o modo como é percebida a relação entre a natureza e a religião na concepção dos adeptos de religiões afro-brasileiras, focalizando, particularmente, as diferentes formas de identificação entre as divindades e a natureza e a (possível) contribuição da cosmovisão religiosa afro-brasileira para a constituição de uma ética ecológica.

O sexto artigo é de Simone Becker, Entre a História e o Direito, entre humanos e inumanos: o que é que o discurso jurídico tem que só ele detém… e discute as “violências das representações” perpetradas pelos discursos jurídicos (sentenciais), cujas conseqüências extrapolam o contexto dos autos de um processo.

O trabalho de Salma Ferraz Santa Ceia profana analisar algumas paródias do quadro de Leonardo da Vinci, A Santa Ceia, conhecida em italiano como L’Ultima Cena ou Il Cenacolo, pintada em 1495-1497. Junto com o quadro Mona Lisa, Gioconda (1503-1507), também de Da Vinci, são uns dos quadros mais parodiados na estória da arte.

Em História ou Sociologia? A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo em debate Carlos Eduardo Sell retoma as polêmicas e contextualiza o debate acerca do texto mais conhecido de Max Weber atentando a vinculação estabelecida por Weber entre determinadas formas de conduta religiosa e seus reflexos na esfera econômica já engendrava polêmicas logo após a publicação do livro deste pensador.

Contamos ainda com o trabalho de José Rodorval Ramalho, Igreja católica, moral econômica e modernidade, que procura analisar a hipótese de que a Igreja Católica vem aprimorando a sua análise do ambiente capitalista moderno de maneira progressiva, a partir da leitura do texto que comemorou 100 anos da Rerum Novarum, a encíclica Centesimus Annus, assinada pelo Papa João Paulo II.

Rodrigo Portella no artigo Reflexos no espelho: reflexão sobre as Ciência(s) da(s) Religião(ões) nos programas de pós-graduação brasileiros reflete sobre um pouco do debate que se trava nos meios acadêmicos a respeito da identidade acadêmica da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões), particularmente no ambiente da pós-graduação.

Deus é mais: a supremacia da fé evangélica na ótica dos Atletas de Cristo da autoria de Reinaldo Olécio Aguiar busca as raízes de uma interpretação religiosa do esporte e sua conseqüente compreensão da supremacia da “fé evangélica” em relação às outras ofertas simbólicas, provenientes de outras religiões.

Mauro Passos, no artigo Lá vem a Bandeira… os Reis e seus atores, faz um estudo das “Folias de Reis”, particularmente em duas cidades do interior de Minas Gerais. O autor utiliza os procedimentos metodológicos da história oral, através de um conjunto de depoimentos, considerando que a religiosidade faz parte da cultura das classes populares, seu estudo é um importante instrumento para a compreensão das raízes culturais e históricas do povo brasileiro.

Por fim, em Festa católico-carismática e pentecostal: consumo e estética na religiosidade contemporânea, Emerson Sena da Silveira, discute as relações entre religião, consumo e estética a partir de dois estudos de caso na cidade de Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, Brasil. Reflete, ainda, sobre duas singulares manifestações festivas de importantes movimentos no campo religioso do Brasil: a renovação carismática católica e o pentecostalismo.

Esta edição da RBHR traz as resenhas de Daniel Lula Costa e Flávio Guadagnucci Palamin que tratam respectivamente das obras “Tolerância e intolerância nas manifestações religiosas” (2010) e “Identidades Religiosas” (2008) resultantes das conferências e mesas-redondas do I e II Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades – ANPUH.

Boa leitura!!


ANDRADE, Solange Ramos de. Editorial. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.3, n.9, Jan., 2011. Acessar publicação original [DR]

Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas / Revista Brasileira de História das Religiões / 2009

Caro leitor,

Neste terceiro número, a RBHR apresenta o Dossiê Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas, resultante dos debates que nortearam o II Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades da ANPUH, organizado pelo GT Regional de São Paulo, na cidade de Franca, de 13 a 16 de outubro de 2008.

Visando consolidar as propostas do I Encontro, realizado em Maringá, PR, no mês de maio de 2007, o II Encontro manteve o mesmo fundamento e o mesmo formato já empregado: Palestras de abertura e encerramento, Mesas Redondas de caráter interdisciplinar, com a presença de pesquisadores e especialistas das diversas áreas do conhecimento e Simpósios Temáticos propostos por pesquisadores e especialistas em História das Religiões.

Composto por vinte contribuições inéditas, escritas pelos coordenadores dos Simpósios Temáticos e demais participantes, este Dossiê apresenta uma significativa parcela dos debates realizados pelas diversas instituições brasileiras acerca da tolerância e da intolerância, presentes nas diversas manifestações religiosas. Infelizmente, nem todos os expositores entregaram os seus trabalhos por escrito para a edição deste número.

No link Publicações, estão os Anais do II Encontro, com textos completos de alguns dos trabalhos apresentados e enviados à Comissão Organizadora em tempo hábil.

Este Editorial não poderia deixar de agradecer a hospitalidade e a competência da Comissão Organizadora da UNESP de Franca: os docentes, representados pelo Prof. Dr. Ivan A. Manoel, os discentes, representados por Juliano Alves Dias e, os assistentes administrativos, representados por Juliana A. de Paulo Damasceno.

Agradece, também, a todos os colaboradores deste número pela importância e qualidade dos textos enviados.

Boa Leitura!

Solange Ramos de Andrade

Editora


ANDRADE, Solange Ramos de. Editorial. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.1, n.3, Jan., 2009. Acessar publicação original [DR]

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Identidades Religiosas e História / Revista Brasileira de História das Religiões / 2008

Este primeiro número da Revista Brasileira de História das Religiões trata de um Dossiê dedicado ao tema Identidades Religiosas e História. Este volume recolhe os trabalhos apresentados no I Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades, ocorrido entre os dias 7 e 10 de maio de 2007.

Este primeiro número da Revista Brasileira de História das Religiões trata de um Dossiê dedicado ao tema Identidades Religiosas e História. Este volume recolhe os trabalhos apresentados no I Encontro do GT Nacional de História das Religiões e das Religiosidades, ocorrido entre os dias 7 e 10 de maio de 2007.

“Identidades Religiosas” foi a escolha temática pluri e transdisciplinar para este evento, abrangendo um dos campos mais pesquisados no âmbito da História das Religiões e das Religiosidades atualmente e integrou as propostas das conferências, das mesas-redondas e dos simpósios temáticos, que discutiram questões relativas às mais variadas abordagens acerca das identidades religiosas desenvolvidas nos diversos campos do conhecimento: história, arqueologia, geografia, psicologia, filosofia, teologia, artes, sociologia e antropologia.

O material aqui apresentado, é claro, não expressa plenamente a riqueza das apresentações e dos debates, mas permite chegar a um público mais amplo uma parte do que foi o Encontro. Além dos textos dos coordenadores de Simpósios, escolhemos os textos mais representativos enviados pelos participantes do Encontro.

Desejamos que este primeiro passo fortaleça e efetive, ainda mais, a história das religiões como área de conhecimento. Boa leitura!

Solange Ramos de Andrade


ANDRADE, Solange Ramos de. [Identidades Religiosas e História]. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.1, n.1, maio, 2008. Acessar publicação original [DR]

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História das Religiões | UEM | 2008

HISTORIA DAS RELIGIOES3 Manifestações das religiosidades no espaço cemiterial

A Revista Brasileira de História das Religiões (Maringá, 2008-), publica textos originais e inéditos de temáticas vinculadas a História das Religiões, buscando manter um diálogo interdisciplinar com as diferentes áreas do conhecimento.

A Revista tem por missão viabilizar o registro público do conhecimento e sua preservação acerca do fenômeno religioso.

  • Disseminar a informação e o conhecimento gerados pela comunidade científica sobre fenômeno religioso no mundo atual e fornecer elementos que contribuam para o estudo da sociedade brasileira.
  • Contribuir para a compreensão das relações entre as mudanças no campo religioso e as transformações que estão ocorrendo na sociedade em geral, possibilitando o conhecimento sobre o processo de crescimento e diversificação religiosa presente no Brasil.
  • Consolidar a pesquisa sobre história das religiões e ampliar a rede de pesquisadores.
  • Possibilitar a compreensão das religiões mais recentes por meio do acompanhamento na história da maneira como elas progressivamente se compuseram.
  • Criar um espaço de referência nacional e internacional de divulgação dos estudos sobre religiões e religiosidades.
  • Valorizar e efetivar a história das religiões como uma área do conhecimento e suas relações com a construção da história da sociedade brasileira.
  • Publicar resultados de pesquisas envolvendo ideias e novas propostas científicas.

Como publicação de referência na área, a revista exige o grau mínimo de doutor para autores interessados na submissão de artigos. No caso de autoria coletiva, pelo menos um dos autores deve possuir tal titulação, sendo para os demais a exigência mínima da titulação de mestre. Cada autor/coautor poderá publicar artigo, em qualquer das sessões, a cada 2 anos.

A Revista tem periodicidade quadrimestral e, portanto, publica três números por ano, relativos aos seguintes períodos de cada ano:

  • Número 1: janeiro-abril.
  • Número 2: maio-agosto.
  • Número 3: setembro-dezembro.

Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.

ISSN 1983-2850 (Online)

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