Lugares do fazer: instituições de pesquisa e / ou ensino de história / Aedos / 2010

É com imensa satisfação que apresentamos a edição n° 6 da Revista Aedos. Este número ganha um significado especial para esta revista e para a presente gestão, já que é a última edição apresentada pela gestão 2009-2010, marcando a passagem para o terceiro grupo de discentes. Este modelo de trabalho, adotado até o momento, mostrou-se capaz de manter a qualidade da revista ao mesmo tempo em que propicia aos jovens pesquisadores um campo de atuação, tanto na divulgação de suas pesquisas como no trabalho administrativo de editoração da revista eletrônica. Alegra-nos sobremaneira esse momento, mantendo assim o caráter de trabalho em equipe e atuação dos discentes deste PPG.

No nosso dossiê “Lugares do fazer: instituições de pesquisa e / ou ensino de história”, apresentamos dois artigos que versam sobre instituições de ensino e memória histórica. No primeiro deles intitulado “O papel dos cursos de graduação em História – uma discussão sobre a formação dos profissionais de História”, Aryana Lima Costa retoma, através de um trajeto que percorre os 70 anos do ensino de História em nível superior, uma discussão atual sobre a formação do historiador, por vezes compartimentada entre as tarefas de ensinar ou pesquisar. Em nosso segundo artigo, “Memória e história do ensino superior comunitário no Rio Grande do Sul – o Centro Universitário Feevale”, de autoria de Claudia Schemes, Cristina Ennes da Silva e Cleber Cristiano Prodanov, identificamos a preocupação com a reconstrução da memória de uma entidade comunitária de ensino superior. Nele, convergem o uso de diferentes vestígios do passado, como a história oral, a documentação da instituição e a memória dos agentes ligados à trajetória do estabelecimento de ensino, elementos caros ao debate histórico contemporâneo. Lamentamos somente que a temática proposta no nosso edital não tenha recebido nenhuma contribuição, a saber, os 90 anos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS).

A seção de artigos diversos conta com sete publicações, das mais variadas temáticas e debates historiográficos. Daniel Oliveira, em seu texto “Entre Prazeres e Doenças: enfermos venéreos na sociedade porto-alegrense de fins do século XIX”, apresenta parte dos resultados de uma pesquisa que buscou identificar o perfil dos enfermos acometidos por doenças venéreas que receberam assistência médica na Santa Casa de Misericórdia e no Hospital da Sociedade de Beneficência Portuguesa, ambos de Porto Alegre, durante os anos de 1881 a 1892. O artigo “Sobre os trilhos do progresso: Porto Alegre despede-se dos bondes (1970)”, de Renata Andreoni, contribui para a discussão de um tema ainda pouco discutido em termos de historiografia, a história do transporte e sua relação com a cidade. Através da análise dos textos presentes no jornal Correio do Povo, a autora se propõe a demonstrar algumas das representações do bonde presentes na memória dos porto-alegrenses. Hugo Duarte, através de seu artigo “Em busca da Revolução Brasileira: um debate crítico sobre as teses históricas e a linha política do PCB” procura realizar uma leitura crítica das matrizes teóricas fundamentais para a construção do Partido Comunista no Brasil. Esta análise ocorre por meio da interpretação da linha teórica do partido, assim como da Declaração de Março de 1958, elementos fundamentais que embasariam, posteriormente, as ações dos militantes do partido.

Rafael Kasper, em seu estudo “Conquistando corações e mentes: um estudo da repercussão do „Dia de Anchieta‟ na mídia impressa (1965-1968)” busca analisar a repercussão que o “Dia de Anchieta”, instituído em 1965, teve na grande imprensa brasileira dos anos de 1965 a 1968, percebendo em tal celebração a busca dos católicos por apoio dos militares no poder. O artigo “Construção e afirmação da identidade nacional palestina: da consciência de nação à luta pelo Estado”, de Luiz Salgado Neto, analisa, no quadro das transformações pelas quais passou o Oriente Médio durante o século XX, a construção da identidade nacional palestina, como reação ao movimento sionista e como processo de diferenciação da comunidade palestina em relação ao mundo árabe. Leno José Barata Souza, em “A “Cidade Flutuante” de Manaus: rediscutindo conceitos”, busca repensar alguns conceitos sobre o tema “cidade”, focando sua análise na experiência cultural, urbana e econômica da “cidade flutuante” de Manaus. O último texto dessa seção, apresentado por André Fertig e Tassiana Saccol, ”A Guerra do Paraguai nos livros didáticos de história do Brasil: uma análise de obras publicadas entre 1900-1960”, elabora uma relação pertinente entre a abordagem de livros didáticos e as posições historiográficas sobre a Guerra do Paraguai. Para a próxima edição são aguardados comentários críticos sobre o artigo de André Fertig e Tassiana Saccol, com o objetivo de estimular o debate acadêmico, visando à discussão sobre as contribuições trazidas pelo mesmo.

Na seção Mesa Redonda desta edição, apresentamos o debate travado em torno do texto de Vicente Neves da Silva Ribeiro, Mestre em História pela UFRGS e professor da UFFS, “Populismo radical e processo bolivariano: o conceito de populismo de Ernesto Laclau e as análises da Venezuela contemporânea”. O artigo retoma a discussão acerca do conceito de populismo, pensando a sua aplicação no caso da Venezuela contemporânea. Participaram como comentadores o Prof. Dr. Dagmar Manieri, da UFT, o Prof. Dr. Rafael Rossotto Ioris, da University Of Denver, e a Prof. Drª Lívia Cotrim, do Centro Universitário Fundação Santo André. Por fim, Vicente apresenta sua resposta aos apontamentos produzidos pelos especialistas convidados.

Na seção das resenhas, José Knust trata da obra de Aldo Schiavone, “Uma História Rompida: Roma Antiga e Ocidente Moderno”, que é inserida nas discussões sobre o declínio do Império Romano, voltando-se fundamentalmente para as análises de viés econômico e social. Já nas resenhas de clássicos, Carlos Eduardo da Costa Campos, à luz da análise de Certeau da História enquanto prática social, discute questões teóricas e implicações institucionais sobre a historiografia contidas no capítulo “Operação Historiográfica”, que compõe a obra “A Escrita da História”

Finalizando nossa edição, apresentamos a entrevista com a historiadora Mônica Pimenta Velloso, pesquisadora da área de História Cultural que realiza estágio de pós-doutorado na EHESS, sob a direção de Jacques Lenhardt. A autora dedica-se à temática dos modernismos no final do século XIX e início do século XX, pesquisando as percepções do moderno entre 1890-1914, a partir da ligação entre intelectuais franceses e brasileiros. Em uma conversa com Igor Salomão Teixeira (membro da primeira gestão da Revista Aedos), Mônica falou sobre suas percepções de Paris, suas pesquisas, a relação com a professora Sandra Pesavento, bem como sua trajetória e até mesmo sobre a regulamentação da profissão do historiador.

Por fim, estendemos nossos agradecimentos a todos aqueles que contribuíram com nossos trabalhos ao longo deste ano: autores, pareceristas, funcionários e professores do PPG, equipe da Propesq / UFRGS e todos aqueles que colaboraram de alguma forma com nossas atividades. Este período, de trabalho intenso, porém gratificante, nos estimula a desejar o melhor à nova gestão, e que os colegas possam fazer deste espaço um lugar cada vez mais qualificado para a discussão historiográfica.

Boa Leitura a todos!

Conselho Editorial

Gestão 2009-2010


Conselho Editorial. Editorial. Aedos, Porto Alegre, v.3, n.6, janeiro-junho, 2010. Acessar publicação original [DR]

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