Esportes e fontes orais | História Oral | 2021

Myay Thai esporte Esportes
Muay Thai techniques | Imagem: Muay Thai-Word

O presente dossiê é fruto de um campo de estudos que está prestes a completar 40 anos. Em artigo de balanço escrito para o Boletim de Informação Bibliográfica, o antropólogo Luiz Henrique de Toledo (2001) balizou o ano de 1982 1 como data matricial para o início das pesquisas acadêmicas dedicadas aos esportes, com particular atenção ao futebol, no âmbito das Ciências Sociais. A referência, por suposto, diz respeito à coletânea organizada por Roberto DaMatta, intitulada Universo do futebol: esporte e sociedade, que reunia pesquisadores da área de antropologia social, em formação na pós-graduação do Museu Nacional, do Rio de Janeiro, em princípios daquele decênio.

Em busca de uma terminologia para o campo, Toledo, nesse mesmo texto, considerava mais apropriada a denominação “antropologia das práticas esportivas”, posto que captava o dinamismo conceitual e uma compreensão mais lata do gradiente de atividades dos esportes. Em acréscimo, evitava o enrijecimento do objeto reificado, segundo mais uma nova e cômoda setorização: antropologia dos esportes. Seja como for, o fato é que nas últimas quatro décadas gerações de pesquisadores, não apenas da antropologia, vêm se interessando em investigar atores, eventos e relações sociais associadas às práticas e às representações esportivas, aos chamados, por outro antropólogo, “futebóis” (Damo, 2006), em suas diferentes escalas, matrizes e dimensões. Leia Mais

Esportes e fontes orais | História Oral | 2021

O presente dossiê é fruto de um campo de estudos que está prestes a completar 40 anos. Em artigo de balanço escrito para o Boletim de Informação Bibliográfica, o antropólogo Luiz Henrique de Toledo (2001) balizou o ano de 1982 1 como data matricial para o início das pesquisas acadêmicas dedicadas aos esportes, com particular atenção ao futebol, no âmbito das Ciências Sociais. A referência, por suposto, diz respeito à coletânea organizada por Roberto DaMatta, intitulada Universo do futebol: esporte e sociedade, que reunia pesquisadores da área de antropologia social, em formação na pós-graduação do Museu Nacional, do Rio de Janeiro, em princípios daquele decênio.

Em busca de uma terminologia para o campo, Toledo, nesse mesmo texto, considerava mais apropriada a denominação “antropologia das práticas esportivas”, posto que captava o dinamismo conceitual e uma compreensão mais lata do gradiente de atividades dos esportes. Em acréscimo, evitava o enrijecimento do objeto reificado, segundo mais uma nova e cômoda setorização: antropologia dos esportes. Seja como for, o fato é que nas últimas quatro décadas gerações de pesquisadores, não apenas da antropologia, vêm se interessando em investigar atores, eventos e relações sociais associadas às práticas e às representações esportivas, aos chamados, por outro antropólogo, “futebóis” (Damo, 2006), em suas diferentes escalas, matrizes e dimensões. Leia Mais

Fontes Orais: Perspectivas de Investigação / História & Perspectivas / 2010

É com prazer que lançamos mais este número da Revista Historia & Perspectivas, que tem como tema central Fontes Orais: Perspectivas de investigação. Alguns dos textos que compõem este dossiê foram apresentados no GT: “História, Historiografia e fontes orais: temas, abordagens e perspectivas de investigação”, no Simpósio Nacional de História – ANPUH, ocorrido em Fortaleza em julho de 2009. O propósito deste GT era possibilitar a discussão com os pesquisadores cujas ferramentas de trabalho historiográfico incluíssem as fontes orais, propondo assim o debate sobre vários temas e colocando em foco diferentes perspectivas de abordagem com as fontes orais, refletindo sobre a contribuição que tais pesquisas proporcionam à historiografia ligada à história acadêmica. Como norte para as discussões apresentou-se os desafios de se compreender o uso das fontes orais como instrumento metodológico que coloca pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, sobretudo os historiadores, no diálogo com outros sujeitos sociais que reclamam, no campo da produção do conhecimento histórico, outras possibilidades de interpretação de suas práticas, memórias e histórias no processo de constituição das relações que formam a sociedade.

Assim, dentre os horizontes propostos neste Grupo de Trabalho estavam os desafios dos pesquisadores de redimensionar suas ferramentas conceituais, problematizando a natureza dos conceitos a serem investigados como dimensão deste movimento de formação histórica da sociedade. O trabalho com fontes orais como um diálogo construído com sujeitos exige refletir outras historicidades e problematizar conceitos com os quais lidamos metodologicamente na produção do conhecimento histórico.

A proposta era de reunir pesquisas em torno de temáticas como movimentos sociais, trabalho e trabalhadores, culturas e religiosidade, preservação do patrimônio histórico, campo e cidade, refletindo-as não como temas isolados ou divorciados da vida social, mas pensando-as na dinâmica das lutas inscritas nos processos que forjam e constituem memórias e experiências sociais de sujeitos diversos. Estes trazem no diálogo com pesquisadores a formulação de significados do que fora vivido, como dimensão do tempo presente-passado, constituído em suas consciências e das várias tensões que emergem nas formas de narrar e nas linguagens presentes na produção das fontes orais. Deste modo, a proposta era a de reunir pesquisadores que procurassem refletir os significados destas linguagens e das narrativas na história e na historiografia, tentando avançar no entendimento de que elas são práticas sociais, num universo amplo e diversificado, firmando perspectivas com as quais tentamos dialogar para constituir outras histórias, o que inclui possibilidades de pensarmos outra sociedade.

Nos artigos reunidos neste dossiê estas perspectivas e desafios estão presentes, nos textos que priorizam questões relativas a prática do historiador, a Historia Social e a produção de narrativas enquanto fontes para investigação histórica; o debate historiográfico e as formulações conceituais sobre os sujeitos da história, os desafios de refletir sobre esses percursos no campo acadêmico da produção do conhecimento; bem como as pesquisas que aludem à presença dos trabalhadores nos processos de transformação e disputas pelos espaços urbanos; a precarização das condições de vida e as mutações nas relações de trabalho. Pesquisas recentes que apresentam, em sua diversidade temática, a complexidade de refletir os usos das fontes orais nos horizontes da cultura e dos modos de viver das classes trabalhadoras.

Ainda no tema central, o texto de Luisa Passerini, datado em 1979, quando a autora propunha refletir sobre a aceitação e validade de fontes orais para a história européia, considerando a sua importância como equivalente a outras fontes, mas cujos usos firmavam o intuito de alargar os horizontes da pesquisa histórica no sentido de incluir novas esferas da realidade, como por exemplo, a vida cotidiana e as experiências das camadas sociais oprimidas e subordinadas, ampliando e clareando as metas e os objetivos políticos da escrita da história. A autora nos faz pensar sobre o uso destas fontes como inscritas em perspectivas da Historia Social, no que tange a refletir sobre as especificidades destes materiais orais, implicando uma concepção de que se trata de lidar com uma “expressão e representação da cultura”, isto é, “enquanto narrativas textuais e enquanto dimensão da memória, ideologia e desejos subconscientes”. Neste sentido, “fontes orais referem-se a e derivam da esfera da subjetividade”. Supostos que atentavam para a prática metodológica, nesses anos de embates com a tradição positivista e historicista da historiografia européia. Sob este aspecto vale observar para uma questão que, embora inscrita nestes debates mais amplos no final da década de setenta e oitenta, podemos considerar como presente ainda em nossos debates contemporâneos, ou seja, é preciso então “questionar o conteúdo das categorias e ou dos conceitos utilizados no uso corrente das fontes orais”.

Deste modo, os textos que reúnem o dossiê possibilitam refletir sobre questões candentes e presentes nos debates historiográficos. Uma delas, entender que não se trata de “dar voz aos sujeitos”, considerando-os como excluídos da história, mas de compreender por meio destas fontes a gama de uma cultura que se forja no viver das relações conflituosas — de mando, de poder, de subordinação e insubordinação — que historicamente constituem a sociedade capitalista. Talvez esse seja o significado político que fez com que o uso das fontes orais se tornasse corrente em produções recentes e que acabaram tencionando a natureza da escrita da Historia, no sentido de refletir não mais a validade ou não destes registros; isto é, não apenas a incorporação ou não destas novas linguagens e memórias, mas a de continuar firmando a pretensão de dialogar para fora dos muros do estabelecido, refletindo sobre os mecanismos de poder que se constituem na vida social.

Nesse sentido, caro leitor, a leitura destes textos contribuirá para uma reflexão sobre estas questões, que continuam a existir nos contornos do nosso trabalho e dos nossos debates sobre a História Social.

Nos artigos fora do dossiê estão presentes temas que explicitam outras perspectivas retratando temas diversificados, como a interculturalidade e integração social de imigrantes italianos na Venezuela dos anos 1950, que de certa maneira contribui para deslocar marcos de uma periodização que retrata os fluxos imigratórios europeus para a América no século XIX. Ou textos que contribuem para o debate sobre as práticas de formulação e de constituição do Partido Comunista nestes tempos de resistência ao imperialismo norte-americano. E, por último, artigos que abordam reflexões sobre os fundamentos teóricos e metodológicos presentes na prática do ensino da história.

Esperamos que este volume contribua para refletir sobre os caminhos e as perspectivas de abordagem inerentes à nossa prática social, com intuíto de democratizar o ensino, a pesquisa em história e vislumbrar horizontes possíveis de mudanças na vida social.

Conselho Editorial


Fontes orais: Perspectivas de investigação. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1 / 2010. Acessar publicação original [DR].

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