História, Métodos e Narrativas / História & Perspectivas / 2018

Para este Número 58, da Revista História & Perspectivas, temos a composição do Dossiê História, Métodos e Narrativas e uma seção de artigos com diferentes temáticas.

Ao definir a temática para a este dossiê, a Revista teve como objetivo reunir artigos que apontam reflexões em torno da valorização da História, do método na pesquisa e no ensino, e das narrativas que articulam campos de investigação e análises importantes para a Historiografia.

Ao fazer uso de diferentes materiais, fontes de pesquisa, narrativas sociais, os pesquisadores nos oferecerem um horizonte de metodologias e interpretações, com distintos olhares para a História em articulação com linguagens e temas diversos – imprensa, charge, música, relato memorialístico, narrativas orais; cidades, migrações, trabalho, formação profissional e outros. Trata-se de trabalho cuidadoso dos estudiosos que fazem despontar uma riqueza de memórias e narrativas sobre diferentes tempos e espaços.

O primeiro artigo, de Itamar Freitas, explora princípios e práticas de uso da História destinados às crianças e aos adolescentes, descreve como epistemologias históricas se disseminaram na formação superior de historiadores e migraram para a formação continuada de professores por meio de manuais de método de ensino nos Estados Unidos da América.

O segundo, de José D’Assunção Barros, tece considerações teóricas e metodológicas em torno de possibilidades de interação entre Música e História: “a Música como recurso para a História; a música como objeto de estudos para a História; música como meio de representação para a História ou para a historiografia; o potencial da relação interdisciplinar a partir da Música para a História, levando em conta possibilidades de usos historiográficos de conceitos musicais como ‘polifonia’ ou ‘acorde’”.

O terceiro, de Alberto Gawryszewski, adota o conceito de charge ideológica para estudar como a imprensa anarquista brasileira, no período entre 1890 e 1930, desenhou a “justiça burguesa” em charges e caricaturas.

Gláucia de Oliveira Assis e Assis Felipe Menin analisam diferentes narrativas para discutir a relação entre memórias, imigrantes e imprensa, no contexto da saída dos haitianos e senegaleses de seus países e seu acolhimento em Caxias do Sul (RS), caracterizada como uma cidade de imigração italiana e que começa a receber imigrantes haitianos desde 2011 e senegaleses a partir de 2012.

Mariana Esteves de Oliveira percorre narrativas docentes como indicativos para a pesquisa acerca da precarização do trabalho e da própria história docente. Ao abordar memórias e percepções docentes, levanta pistas para a compreensão sobre as formas como a precarização atua sobre os sujeitos e discute como a dimensão subjetiva dialoga com a constituição histórica da categoria docente e de suas identidades.

Com o objetivo de preservação da memória sindical, no atual contexto de desregulamentação das relações de trabalho e da mercantilização da educação, no Brasil, Antônio Fernando de Araújo Sá ressalta a importância da “polifonia da memória” para: o trabalho de reconstrução da trajetória do movimento docente na Universidade Federal de Sergipe em articulação com a “complexidade das experiências dos trabalhadores nas últimas décadas de reconstrução democrática no Brasil”; e para a “inclusão do tema da cidadania dos distintos sujeitos sociais no sentido do direito da narração”.

Ana Paula Squinello e Jérri Roberto Marin discorrem sobre os processos de elaboração das representações produzidas acerca de Mato Grosso e suas populações por Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay) em sua experiência de viajante, narrador e expedicionário.

Na segunda seção deste número, consta um conjunto de nove artigos.

Maria Gisele Peres percorre narrativas de viajantes, livros de memorialistas e códigos de postura de Araguari (MG) em busca de evidências acerca da construção de marcos de memória que ganharam espaço no circuito de difusão de uma história sobre a cidade, para discutir a organização dos espaços, a construção de sentidos sobre seu passado e o processo de produção social de lembranças e esquecimentos.

Henry Marcelo Martins da Silva analisa a trajetória da colônia árabe de São José do Rio Preto (SP) no início do século XX. A partir de fontes impressas, como jornais e almanaques locais, descortina momentos de perseguição e conflitos e examina as estratégias do grupo para articular-se às transformações urbanas e empreender um característico e bem sucedido projeto de inserção social.

Felipe Cittolin Abal e Ana Luiza Setti Reckziegel estudam um processo transcorrido durante a ditadura militar brasileira, contra Theodomiro Romeiro dos Santos – sua prisão sua tortura e sua condenação à morte –, para discutir as relações entre a Justiça Militar e a repressão aos opositores da ditadura no Brasil.

Cleber Eduardo Karls, Thaina Schwan Karls e Victor Andrade de Melo debruçam-se sobre revistas e jornais publicados no Rio de Janeiro, no século XIX, para identificar a presença da feijoada no cotidiano da cidade e discutir “as peculiaridades de conformação de uma ideia de cultura nacional em um momento em que o Brasil começava a se forjar como nação”.

André Mota e Gustavo Querodia Tarelow levantam e apresentam documentação inédita para analisar as relações entre a “política da boa vizinhança”, promovida pelos Estados Unidos, e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre 1938 e 1944, no contexto de criação do Hospital das Clínicas. A partir dos artigos publicados na Revista Médico-Social, criada no ano de 1942, os autores apontam evidências da influência do modelo médico-assistencial e tecnológico americanos sobre a medicina paulista.

Osicleide de Lima Bezerra e Geraldo Alexandre de Oliveira Gomes discorrem sobre o processo de elaboração dos valores e das representações sobre o trabalho, levando em consideração noções de utilidade e produtividade e o processo de formação do mercado de trabalho na região Nordeste, para refletir acerca da consagração do trabalho durante o Estado Novo e dos modos como “os ideais do trabalho são erigidos em oposição à ociosidade e à malandragem através da música e da propaganda oficial do governo de Getúlio Vargas”.

Carlos Alberto Medeiros Lima reúne informações sobre a incidência da coqueluche entre crianças do Sudeste rural brasileiro, no período compreendido entre 1840 e 1870. Parte de três razões para se discutir a doença no Brasil: uma ligada à historiografia das doenças; outra, pelos modelos de choque microbiano; e a terceira, ligada às percepções de historiadores em torno da incidência da tuberculose, especialmente nas populações escravas. E discute a difusão da coqueluche, levando em consideração os processos de transmissão ligados aos contatos entre regiões brasileiras no contexto de mudanças do século XIX.

Raquel de Souza Felício e João Henrique Zanelatto desenvolvem reflexão acerca do processo de construção de hegemonia dos professores na direção do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Criciúma e Região, ao longo dos anos 1990. Abordam a luta sindical, as demandas de reivindicações, o perfil da própria categoria de servidores públicos na região, para discutir os fatores que contribuíram para a reconfiguração da categoria, que deixou de ser formada por uma maioria braçal masculina para ser uma maioria de profissionais da área da educação e do gênero feminino.

Felipe Cazetta estuda obras e periódicos que publicaram projetos defendidos por autores espanhóis e portugueses entre os finais do século XIX e início do XX, como Ganivet, Unamuno e António Sardinha, para analisar a circulação de projetos de hispanoamericanismo.

Desejamos a todas e a todos uma boa leitura e agradecemos às pesquisadoras e aos pesquisadores que colaboraram com a Revista História & Perspectivas.

O Conselho Editorial.

História, Métodos e Narrativas. História & Perspectivas, Uberlândia, v.31, n.58, 2018. Acessar publicação original [DR].

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Documentos e Abordagens / História & Perspectivas / 2018

Para este Número 59 da Revista História & Perspectivas, temos a composição do Dossiê Documentos e Abordagens e uma seção de artigos com diferentes temáticas.

Em torno da temática do dossiê, a Revista reuniu artigos de pesquisadores que se debruçaram sobre registros sociais de naturezas, formatos e historicidades distintas para o desenvolvimento de suas investigações. São trabalhos que partem de objetivos diversos, reúnem diferentes instrumentos de análise e abordam variadas dimensões da vida social.

Dessa forma, nos deparamos com práticas investigativas que trabalham conjuntos documentais em amplos horizontes: literatura; literatura de viagem; escritos memorialistas; estudos de história econômica; processos crimes; falas de mulheres materializadas em fontes orais; etnografia e coleta de narrativas em campo; processo de reconhecimento e certificação de comunidades quilombolas; registros de passaporte de imigrantes; livros de registro de habilitações consulares; recenseamento de população; correspondência diplomática; relatórios provinciais. Registros da vida social de espaços, tempos e sujeitos sociais diversos apropriados pela prática investigativa de autores e autoras que compõem este número.

Autoras e autores trazem em comum o engajamento na construção de suas problemáticas em articulação com o levantamento e o questionamento de documentos que tomam como fonte para o processo de conhecimento; e, sobretudo, trazem em comum o fato de evidenciarem às leitoras e aos leitores os percursos dialógicos do trato com suas fontes.

O primeiro artigo, de Amilcar Torrão Filho, dedica-se a rever imagens criadas pela literatura de viagem sobre a mulher luso-brasileira, produzida por viajantes europeus no Brasil entre os séculos XVIII e XIX, para revisitar mitos, como a “ausência de mulheres nos espaços públicos, o ciúme ‘oriental’ de seus pais e maridos, o desleixo das mulheres brancas e a sensualidade das negras e mulatas”.

O segundo, de Cristina Donza Cancela e Luiz Guimarães, analisa a imigração portuguesa em Belém, capital do estado do Pará, ao longo do século XIX, com base em registros de passaporte de imigrantes, livros de registro de habilitações consulares, recenseamento de população, correspondência diplomática, para articular questões em torno do fluxo migratório e de constituição de redes de sociabilidade pautada pela moradia, pelo trabalho e por associações de imigrantes.

O terceiro, de Renan Albuquerque e Georgio Ítalo Ferreira, direcionam-se à abordagem etnográfica do uso de coleta de narrativas em campo, para destacar o movimento de autodeclaração dos comunitários Quilombo do Matupiri, no município de Barreirinha, Amazonas – conceitualmente chamado de etnogênese – enquanto caminho que fomentou a recriação de novos processos de territorialização da região, imbricado ao caminho de afirmação de quilombolas e de fortalecimento de laços afetivos e de pertencimento à terra.

Flavia Maria Morais Lazzaretti e Júlio Eduardo Rohenkohl analisam estudos de história econômica materializados, notadamente nas principais obras de Georg Friedrich List, ocupando-se de efetuar uma comparação entre as descrições e interpretações de diferentes historiadores econômicos a respeito da trajetória de desenvolvimento de países como Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos da América, do século XVIII a meados do século XIX.

Luciana Rosar Fornazari Klanovicz e Fernanda de Araújo Bugai partem da fala de quatro mulheres apenadas no interior do estado do Paraná, considerando a história do sistema prisional no Brasil, para abordam as implicações de gênero do encarceramento feminino no bojo da análise das prerrogativas jurídico-legais do ordenamento jurídico nacional.

As representações do sertão e das mulheres em O Quinze, de Rachel de Queiroz, são discutidas por Régia Agostinho, que percorre o romance para identificar permanências e rupturas, tradições e modernidades no processo de construção de personagens, relações e espaço na escrita literária.

Problematizar o modo como escravos se apropriaram “de um enunciado sobre o trabalho livre veiculado por um jornal liberal, transformando-o num argumento de autoridade para contestarem os abusos de seus senhores e reivindicarem a sua alforria” foi o trabalho de Carlos Eugênio Soares de Lemos e Rafaela Machado Ribeiro. Articulando um conjunto de fontes textuais, como auto de perguntas, jornais, relatórios e inventários, basearam-se “numa abordagem que considera o escravo como sujeito histórico para analisar disputas de sentido sobre o significado de uma suposta ‘insurreição’” em Campos dos Goytacazes, província do Rio de Janeiro, no período de crise do escravismo ao final do século XIX.

Na segunda seção deste número, consta um conjunto de quatro artigos.

Raquel Varela desenvolve uma reflexão acerca dos principias acontecimentos da II Guerra Mundial e da Resistência recordando os campos de concentração nazistas como campos de trabalho forçado no período entre 1939 e 1945, como centro do projeto do Estado nazista e inseridos na cadeira produtiva de empresas da indústria alemã.

Patrícia Nasser de Carvalho estuda as relações entre a crise alimentar e humanitária vivida pela Europa no pós-Segunda Guerra e as ações dos Estados europeus para superála e para garantir sua segurança alimentar. Aborda as decisões das nações europeias com vistas a proteger e estimular a modernização do campo por meio de políticas públicas e promover mudanças estruturais nos processos de produção e de distribuição de bens agrícolas.

Danilo Ferreira da Fonseca constrói um estudo de caso a partir do documento produzido pela Tribunal Penal Internacional para Ruanda para “refletir acerca do lugar que os políticos ruandeses vinculados às pequenas administrações locais, principalmente as comunas, possuíram frente à organização e execução do genocídio de Ruanda em 1994”.

Henrique Antonio Ré “explora as cartas sobre a escravidão brasileira do abolicionista norte-americano James Redpath, e dois textos apresentados por agentes brasileiros na Conferência Antiescravista de Paris” para demonstrar os cruzamentos entre o contexto do reordenamento das posições antiescravistas no mundo atlântico, a escravidão no Brasil e outros interesses em disputa nas relações internacionais na década de 1860, que denomina de década antiescravista.

Desejamos a todas e a todos uma boa leitura e agradecemos às pesquisadoras e aos pesquisadores que colaboraram com a Revista História & Perspectivas.

O Conselho Editorial


Documentos e Abordagens. História & Perspectivas, Uberlândia, v.31, n.59, 2018. Acessar publicação original [DR].

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História, Migração e Meios de Comunicação / História & Perspectivas / 2017

É com grande satisfação que apresentamos o número 56 da Revista História & Perspectivas, com o Dossiê História, Migração e Meios de Comunicação, além de um artigo que aborda a imprensa de fábrica e outros cinco artigos com temáticas diversificadas.

Estudos sobre migrações têm-se multiplicado em várias direções, das universidades às organizações internacionais. O presente Dossiê História, Migração e Meios de Comunicação constitui-se de pesquisas que giram em torno da análise da mobilidade humana e sua articulação com os meios de comunicação, provenientes de pesquisas em Ciências Humanas, em diversos espaços e temporalidades. A migração é um fenômeno histórico e seus volumes crescem com o passar dos anos, apresentando fluxos internacionais, nacionais e regionais. O artigo de abertura do Dossiê, realizado por Marcelo Garabedian, é sobre a construção identitária e o nacionalismo espanhol na Argentina por meio do jornal El Correo Español, de Buenos Aires, no final do século XIX. O segundo artigo é de Lydia Elizalde, que apresenta um estudo do jornal El Correo Español, publicado na Cidade do México também no final do século XIX. Esse artigo enfatiza a fundação e consolidação do jornal El Correo Español durante os primeiros dez anos de sua fundação (1889-1898), destacando o trabalho de seus editores e escritores como empreendedores culturais.

Após esses estudos migratórios espanhóis na América, o foco recai para os estudos no Brasil e suas migrações. Luiz Otávio Costa e Marili Peres Junqueira fazem uma reflexão sobre diferenças e semelhanças dos processos migratórios dos italianos no Brasil e dos nipo-descendentes (Brasil-Japão) por meio da cultura e dos meios de comunicação desses grupos étnicos distintos e em diferentes momentos históricos – final do século XIX, final do século XX e início do século XXI. Tais grupos étnicos aparentemente não teriam características comuns, mas apresentam iterações e processos semelhantes como demonstrado na abordagem que parte da teoria de Bourdieu. Endrica Geraldo, por seu turno, discute como periódicos operários paulistanos, com forte presença de imigrantes italianos, evidenciam, em suas palavras, as relações tensas entre identidade nacional e identidade de classe no interior das lutas por direitos e melhores condições de trabalho. Esse estudo está centrado nas décadas de 1920 e 1930 por sua particularidade dentro das organizações operárias. Jorge Pagliarini Junior apresenta uma reflexão sobre a memória e a trajetória de migrantes retornados da Amazônia Legal para o Paraná entre os anos de 1990 e 2014, apoiando seus estudos em várias fontes, primeiramente com fontes orais, depois em sites e artigos do Jornal Nosso Tempo, publicado no Oeste do estado do Paraná. O encerramento do Dossiê traz uma problematização do conceito de migração, particularizado e exemplificado em Rondônia. Uma grata contribuição de Cátia Franciele Sanfelice de Paula e Célia Rocha Calvo.

Para além do Dossiê, a revista apresenta uma tradução relevante revisitando estudos e a própria trajetória de Stuart Hall e artigos avulsos.

O primeiro artigo traz uma investigação baseada nas revistas A Águia e a Nação Portuguesa para identificar as relações Portugal-Brasil entre os anos de 1910 e 1926, de autoria de Luciana Lilian de Miranda. Cristina Ferreira, em diálogo com os meios de comunicação, analisa como os jornais de fábrica das indústrias têxteis de Blumenau, no período 1963-1968, elaboram suas relações com os trabalhadores, as relações de poder e políticas, além de assuntos internos, de trabalho e outras temáticas. Assim, problematiza, como apontado por ela, os usos da imprensa fabril como fonte de pesquisa para análise das culturas de classe dos trabalhadores na historiografia social do trabalho no Brasil.

Na interface da memória com o mundo dos trabalhadores, Paulo Cesar Inácio explora as contradições internas do processo do golpe civil / militar de 1964 no Brasil, aponta o desafio de abrir outras memórias possíveis no mundo dos trabalhadores, para além de alguns protagonistas e intuições há muito debatidas, passando de uma memória sustentada em processos hegemônicos para memórias alternativas, e dessas para outras mais. João Guilherme de Souza Corrêa nos presenteia com uma análise a partir da influência de Paul Singer para conhecermos o socialismo e a economia solidária no sindicalismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Desta forma, mostra os limites da estratégia política guiada por essa noção de socialismo para a CUT à tão anunciada transformação social.

A finalização desse número cabe a dois artigos cujo foco recai sobre a Educação. Norma Lucia da Silva e Marieta de Moraes Ferreira buscam analisar o processo de profissionalização dos professores de História no antigo norte de Goiás, com o estudo de caso da cidade de Araguaína (Tocantins). Com base no estudo do perfil dos licenciandos do curso de História da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Araguaína e documentos de professores de escolas da rede estadual de ensino, por exemplo, apresentam os dilemas, as dificuldades e a realidade formativa dos docentes na área de História dessa cidade. Astrogildo Fernandes da Silva Jr. e José Josberto Montenegro Sousa analisam o potencial das diferentes fontes e das diferentes linguagens da cultura contemporânea no processo de ensinar e aprender História, na perspectiva de contribuir para a formação cidadã de jovens estudantes do Ensino Médio, creditando que os usos de diferentes fontes e linguagens nas aulas de História do Ensino Médio podem constituir iniciativas, para promover articulação entre os saberes escolares e a vida prática dos jovens estudantes.

Por fim, com o Dossiê História, Migração e Meios de Comunicação, a tradução e esses artigos conclui-se a jornada investigativa desse número 56 da Revista História & Perspectivas. Desejo a todas e todos uma excelente leitura dos artigos na íntegra e que esses possam fomentar outras boas pesquisas no campo da migração e das demais temáticas apresentadas.

Bons Estudos!

Marili Peres Junqueira


JUNQUEIRA, Marili Peres. História, Migração e Meios de Comunicação. História & Perspectivas, Uberlândia, v.30, n.56, 2017. Acessar publicação original [DR].

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Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil / História & Perspectivas / 2017

Para este Número 57, da Revista História & Perspectivas, temos a composição do Dossiê Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil e uma seção de artigos com diferentes temáticas.

Ao definir a temática para a chamada deste dossiê, o Conselho Editorial da Revista teve como objetivo construir um panorama sobre estudos com diferentes abordagens, que enfocassem diversos aspectos envolvidos na constituição da condição de trabalhadora ou trabalhador e de seus modos de vida no Brasil. O propósito era de que a delimitação dessa temática abrangesse estudos sobre questões relacionadas a formação de identidades, construção de ofícios, relações de gênero e etnicorraciais, movimentos sociais, organizações sindicais, memórias, lutas, embates e disputas de trabalhadoras e trabalhadores, implicadas na própria constituição do ser trabalhadora ou trabalhador e de suas vidas em diferentes temporalidades e espacialidades do Brasil.

Apresentamos seis artigos originados de pesquisas em torno de trabalhadores e de trabalhadoras no Brasil, sua experiência de atuação profissional, seus movimentos de organização e luta, relações com imprensa, transformações nas relações de produção e de poder nos espaços de vida, em diferentes temporalidades e conjunturas entre os séculos XIX e XXI.

O primeiro artigo, de Luiz Antonio Dias, analisa como o jornal O Estado de S. Paulo retratou os movimentos de trabalhadores, tanto rurais como urbanos, no período que antecedeu o Golpe de 1964, e como justificou o golpe e a violência que se seguiu sobre os trabalhadores. O segundo, de Maristela Novaes e Noé Freire Sandes, discute a presença de profissionais do vestuário (fiandeiras, tecelãs, costureiras, alfaiates, comerciantes) no contexto cultural de Villa Platina, região do Triângulo Mineiro, no início do século XX, a relação dessa sociedade com seu sistema de vestuário e com o comércio direcionado a esse ramo nos termos da redefinição da tradição da manufatura de roupas. O terceiro, de Rosane Marçal da Silva, problematiza elementos e dimensões do processo de intensificação da produção industrial e as mudanças que o trabalho industrial ocasionou na vida dos trabalhadores das indústrias de confecções do vestuário, em Santa Helena, no Paraná, durante os anos 1980-2000. Valéria de Jesus Leite se debruça sobre a organização dos trabalhadores em Montes Claros e Norte de Minas Gerais, suas demandas e suas lutas, entre as décadas de 1970 e 1980, problematizando o processo de modernização econômica. Cleber Augusto Gonçalves Dias e Marina Fernandes Braga Nakayama apresentam reflexões sobre práticas e espaços de sociabilidade de trabalhadores durante o tempo livre e o lazer em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, com base em relatos presentes nos processos crime de homicídio produzidos do período de 1900 a 1924. Escravos que se tornam senhores de escravos é o objeto de discussão de Robson Pedrosa Costa, que investigou um modelo de gestão implementado pela Ordem Beneditina do Brasil em Pernambuco, durante os séculos XVIII E XIX, a partir do estímulo dado a escravos a possuírem os próprios escravos para o trabalho em suas roças.

Na segunda seção deste número consta um conjunto de nove textos.

Luis Fernando Cerri e Caroline Pacievitch cotejando obras de Jörn Rüsen e de Agnes Heller para discutir suas posições sobre consciência histórica e suas possíveis implicações para a Didática da História, face à importância da defesa de valores como a razão, a verdade e a democracia para a formação de historiadores e professores de história. João Paulo Pereira Coelho e José Joaquim Pereira Melo desenvolvem reflexão sobre o conceito de passado em suas dimensões sociais e históricas, considerando as relações entre enfrentamentos sociais e diferentes formas de apropriação do passado.

Rosana Areal de Carvalho se dedica a compreender a publicação da obra de Primitivo Moacyr e discutir o modo como a questão da instrução enquanto responsabilidade do Estado se fez presente no cenário político e cultural brasileiro entre anos 1930 e 1940. Maria Aparecida Leopoldino desenvolveu pesquisa no campo da História da Disciplina Escolar, tomando como objeto de estudo e fonte de pesquisa o manual O Brasil e o Paraná para uso nas escolas primárias, de 1903, no contexto dos ideais republicanos e da construção de uma “história regional”. Ao mesmo tempo, a relação entre intelectuais educação e imprensa durante o debate brasileiro em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 é o objeto de estudo de Maria Cristina Gomes Machado e Mário Borges Netto, que problematizaram o modo como os intelectuais lidaram com a imprensa para divulgar distintos projetos educacionais no conflituoso processo de constituição e consolidação da escola pública estatal.

Kalina Vanderlei Silva dedica-se à análise crítica e paleográfica de três manuscritos setecentistas, da Capitania de Pernambuco, sobre festas públicas, discutindo possibilidades de estudo de documentos camarários e de interpretação das festas como espaços de demarcação de status para a elite açucareira colonial. André Luiz Moscaleski Cavazzani e Sandro Aramis Richter Gomes discutem práticas terapêuticas em uma região da Província de São Paulo, nos anos de 1848 a 1851, a partir do estudo de registros de tratamentos de doenças em memórias de famílias. Também tratando de festas como temática de estudo, Maria Clara Tomaz Machado e Anderson Aparecido Gonçalves de Oliveira analisam práticas e saberes rurais do interior goiano a partir das festividades religiosas em homenagem a São Sebastião.

Adriana Vaz e Rossano Silva estudaram a forma como as disciplinas de desenho foram formatadas na primeira década da Reforma Universitária na Universidade Federal do Paraná para compreender a matriz do ensino de desenho no início dos anos 1970 e suas relações com outras áreas de conhecimento.

Conselho Editorial


Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil. História & Perspectivas, Uberlândia, n.57, 2017. Acessar publicação original [DR].

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Ética, Pesquisa, História: desafios na produção do conhecimento / História & Perspectivas / 2015

Com o n. 52, História & Perspectivas mais uma vez traz a público um conjunto de contribuições à compreensão do processo histórico, nacional e internacional. As interpretações aqui presentes representam uma rica mostra do que se debate e se produz na historiografia atual.

O tema central deste número é “Ética e pesquisa no campo da História”, questão atemporal e que envolve todos os campos investigativos e não apenas a História ou o macro campo das Ciências Humanas e Sociais. E isso remete à necessidade de reflexão, tanto sobre a implementação propriamente dita da pesquisa como sobre a responsabilidade sócio-acadêmica dos que a praticam e dos usos que são feitos dos resultados que, desde muito, fazem parte do cotidiano de todos nós.

É nesse horizonte que o binômio ética e pesquisa tem sido um tema recorrente nos debates da área de Ciências Humanas e Sociais, especialmente se considerarmos o contexto das mudanças significativas que resultaram na sociedade do século XXI, decorrentes da intensificação dos processos de globalização das relações econômicas, culturais e científicas.

Ao longo do tempo, os humanos foram passando da condição de coletores para a de produtores de seus alimentos, de nômades para sedentários, de grupos dispersos para sociedades organizada. Aprenderam a curar suas feridas e a se utilizar da riqueza natural que os cercava, enveredando pelos mares, subindo as montanhas, dominando as florestas e as regiões áridas; enfim, passaram a ter domínio sobre suas condições de sobrevivência, num mundo a princípio inóspito, mas que gradativamente foi sendo submetido. Ao mesmo tempo, geraram regulamentos que garantiam condições variadas de sociabilidade, permitindo o planejamento de sua hegemonia e a das gerações futuras neste mundo, além de registrar e dar sentido à sua trajetória por meio da construção da História.

Esse é um processo longo e doloroso, só possível pela habilidade do homem de observar, registrar, lembrar, fazer relações e tirar conclusões sobre o que acontece à sua volta. Característica que, respeitadas as diferenças, o acompanha desde priscas eras e que passamos a chamar em certo momento de investigação científica ou simplesmente de ciência. Nos moldes em que a conhecemos hoje, passou a tomar forma nos tempos modernos, marcados pelo uso metodizado e contínuo da razão, do experimento na busca de melhorias que garantissem cada vez mais condições de conforto ao homem ou, até, a busca da felicidade.

Muitos percalços foram enfrentados – o confronto com a religião, a luta pela garantia das liberdades –, usos condenáveis do conhecimento foram disseminados – tecnologias de guerra, de tortura, de manipulação das vontades –, mas, ao mesmo tempo, descortinaram-se benefícios infindos por intermédio da prática científica. E, com a dependência cada vez maior do homem em relação à ciência e à técnica, a reflexão sobre os usos, os procedimentos, as consequências das transformações geradas fora do circuito “natural”, gerando impactos e consequências para o meio ambiente para os quais nem o próprio homem estava preparado, geraram uma necessidade de se pensar não apenas os horizontes, mas também os riscos que se abriam e se abrem por conta da preeminência científica que a cada dia se avoluma. E essa reflexão se dá no âmbito da razão, em sociedades que respeitam regras comuns, que aceitam os direitos como patrimônio coletivo e que necessitam de assegurar tanto a convivência como a sobrevivência de todos, vislumbrando na ciência tanto a edificação de um futuro radioso como de uma catástrofe iminente.

Como superar esse impasse? Como conciliar os avanços da ciência com a preservação de valores, com o respeito ao ambiente que nos hospeda e à dignidade humana que construiu esse mundo que nos abriga? Em suma, ainda que seja unânime o reconhecimento do valor e da necessidade da ciência, também se consolidou uma visão comum da importância de se refletir sobre a prática investigativa e sobre a necessidade de se estabelecer parâmetros para sua implementação. É nesse espaço que a ética se apresenta, contribuindo para a reflexão sobre a relação do homem com o conhecimento científico. E é aí também que a História entra, ao inserir a perspectiva histórica nessa reflexão, a relação do homem com a produção e o usufruto do conhecimento ao longo do tempo.

Os textos deste dossiê não pretendem oferecer respostas ou soluções para esses e outros dilemas que assolam o ambiente acadêmico-científico brasileiro. De resto, todos nós sabemos que soluções desse tipo não existem. No entanto, contribuem significativamente para a ampliação da reflexão e para o embasamento teórico-metodológico dos pesquisadores e estudiosos sobre o debate recente em torno das resoluções emitidas pelo Conselho Nacional de Saúde regulamentando os procedimentos de avaliação e controle da prática da pesquisa no Brasil, sobre a formação do pesquisador nas universidades e nos institutos de pesquisa, sobre a pertinência da elaboração de códigos de ética para diferentes áreas, sobre a prevalência atual da bioética sobre as atividades investigativas, etc. O simples enunciado desses temas já permite ao leitor avaliar a dimensão da riqueza e do alcance dos argumentos esgrimidos pelos autores aqui reunidos, especialistas experientes tanto no tema como na prática da pesquisa, bem como na análise do processo histórico.

O presente dossiê, além disso, tem o mérito de oferecer estudos que desvelam os limites e as possibilidades da discussão em torno da regulamentação do agir investigativo, ao sinalizar para outros vetores da ética e da pesquisa, mas tendo em vista uma profícua reflexão sobre critérios centrados nas especificidades das Ciências Humanas e Sociais, em especial no campo da História, principalmente quando a relação pesquisador / objeto é matizada pela atuação intencional e planejada do cientista social. Assim, os textos do dossiê oferecem um fecundo panorama das condições de formação do pesquisador, da produção e divulgação dos conhecimentos científicos, colocando em relevo a forma pela qual a sociedade pode usufruir dos resultados da ciência sem que “prejuízos éticos” se manifestem ou reduzindo os riscos de sua ocorrência.

Repassamos agora ao público não só importantes resultados de pesquisa, mas também a responsabilidade pela leitura, pela avaliação e pela crítica, assim como pela continuidade do debate e da reflexão sobre as relações do homem com a natureza e com seus pares, mediados pela ciência.

Conselho Editorial


Ética, Pesquisa, História: desafios na produção do conhecimento. História & Perspectivas, Uberlândia, n.52, 2015. Acessar publicação original [DR].

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Memória, arquivos e direitos / História & Perspectivas / 2016

Atualmente, vivemos, hoje, no Brasil, momentos que nos impelem a insistir na pergunta sobre que projeto social queremos para nossa sociedade. Parece-nos inadiável retomarmos as reflexões sobre o que é viver em uma democracia, sobre qual seu inverso, sobre como cultivar valores democráticos e valores para a construção e a conquista de direitos sociais.

No Brasil, e em diferentes países, vimos emergir grupos e lutas que reivindicam o direito à memória, enfatizando que, enquanto prática social, deve ser perguntada e investigada para compreendermos campos e percursos de disputa pela história. Essas experiências vêm conquistando vocalização importante nos espaços de debate e de pesquisa, ao passo que ganham formas como conquista social. Muitos historiadores, arquivistas e outros cientistas sociais, em grande medida provocados por estas demandas, têm se dedicado a pensar o direito à memória e seus desdobramentos temáticos.

As articulações entre memória, arquivos e direitos foram a base para a proposição deste dossiê que a Revista História & Perspectivas ora apresenta. O interesse em discutir e aprofundar diferentes dimensões da memória como direito e em explorar as políticas de arquivo e documentação na perspectiva dos direitos humanos motivou esse processo.

Nessa perspectiva, importava trazer para reflexão as análises que tratassem sobre memória, documentação e direitos humanos, sobre as políticas de memória e sua força na afirmação de direitos, sobre os arquivos e centros de documentação compreendidos como lugares de memória e espaços de afirmação de direitos. No âmbito das relações entre ações e políticas de patrimônio, importava considerar o patrimônio documental como dimensão explorada pelos historiadores no processo de luta cultural, de luta pela afirmação e conquista de direitos, incluindo a preservação documental e o direito à memória. O presente dossiê é composto por cinco artigos que destacam a articulação entre memória, arquivo e direitos.

O primeiro artigo, de Ricard Vinyes, “Memoria, democracia y gestión”, nos provoca a pensar nos significados dessas dimensões que formam o título do artigo. Problematiza que políticas públicas de memória devem ser tratadas como condicionantes da qualidade do sistema democrático e argumenta sobre a importância de o Estado garantir, como direito civil, o exercício da memória de passados políticos traumáticos por constituir um patrimônio ético cuja proteção e conservação enriquecem a cidadania.

O segundo artigo, “Direito à memória e patrimônio documental”, de Heloisa de Faria Cruz, aborda as relações entre a historicidade das lutas pelo direito à memória no Brasil, a identificação, a preservação e a patrimonialização de conjuntos documentais relativos à história do Brasil contemporâneo e sua vinculação a acervos de direitos humanos. A autora destaca a força de extensão de uma discussão sobre o direito à memória e sobre a preservação do patrimônio histórico para além dos espaços acadêmicos, indicando a cidadania e as políticas públicas de memória como campo fundamental de disputa, construção de novos espaços de direitos e conquistas sociais.

O artigo “Caminhos para autodeclaração: a luta por reconhecimento de mulheres quilombolas de Santa Tereza do Matupiri, na fronteira Amazonas-Pará” de Renan Albuquerque Rodrigues, João Marinho da Rocha e José Vicente de Souza Aguiar, toma por base diferentes estudos acerca da produção do conhecimento na Amazônia e sobre a Amazônia, junto a memórias de lutas de mulheres quilombolas, para analisar comunidades negras do leste do Amazonas, com destaque para as mulheres como lideranças na luta por direitos e memória na perspectiva da autodeclaração identitária.

“Conflitos pela memória no semiárido cearense: relações entre as comunidades rurais do Tabuleiro de Russas e o DNOCS”, artigo de Mário Martins Viana Júnior e Diego Gadelha de Almeida, analisa os processos de construção de memória investidos por ação do Estado, aqui representado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Essa análise se conjuga ao estudo do processo de construção, em seus conflitos e contradições, de memórias de comunidades rurais da localidade Tabuleiro de Russas, no Ceará, atingidas por políticas de modernização no campo, em fins do século XX e no início do XXI.

O último texto que compõe o dossiê, “Imagens para lembrar: o caso das fotografias do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo – MJDH (1984-1986)”, de Francisca Ferreira Michelone e Roberta Pinto Medeiros, empreende discussão em torno da relação entre memória, fotografia e direitos humanos, explorando fotografias que integram o acervo do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, proposto, organizado e mantido pela Organização Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH).

Compõem ainda esse número da revista cinco artigos e uma resenha que estão em outras duas seções, versando sobre temas diversos. Merece destaque, na última seção, a entrevista realizada com a Professora Cláudia Sapag Ricci, que aborda questões relativas ao texto preliminar da Base Nacional Comum Curricular da disciplina de História.

No que concerne aos procedimentos de escrita dos artigos do dossiê, destacamos o desafio enfrentado por todos os autores em abordar a memória, situando-a no tempo, no espaço e na conjuntura social, para indagar seus significados enquanto prática social e para construir sentidos históricos na relação com cultura, história e cidadania. Outro desafio foi o da atenção permanente para a relação entre pesquisa, acervos documentais e a sociedade onde os registros da vida social e política se constituem, ganham importância ou são silenciados, num processo que, longe de ser natural e linear, é composto pelas marcas de conflitos e pelas contradições que também pontuam a vida em sociedade. A relação que se assinala entre história e memória indica a possibilidade de reconstrução de práticas por meio da abordagem e da problematização dos filtros que traduzam, revelem ou mesmo pretendam ocultar essas contradições e esses conflitos.

Lembramos a reflexão de Déa Fenelon sobre historiografia, pesquisa e a necessária atenção para as pulsações que brotam da própria realidade. No horizonte de conceitos e de áreas por onde nos movemos constam acervos documentais e linguagens que contribuem para definir vigorosas teias em torno dos conceitos de memória e cultura. Atentamos para a noção de que o vivido e o narrado precisam ser pensados, trabalhados enquanto criação de registros e produção de sentidos das relações sociais – de dominação, de subordinação, de conciliação ou de resistência. O que nos faz valorizar a reflexão sobre símbolos, valores, meios que enunciam, forjam, preservam a memória de grupos sociais diversos, para entender as maneiras pelas quais se produzem e também os usos que deles se faz no jogo de perpetuação de efeitos de verdade. Um trabalho acadêmico, mas, sobretudo, um trabalho político.

Heloisa de Faria Cruz

Marta Emisia Jacinto Barbosa


CRUZ, Heloisa de Faria; BARBOSA, Marta Emisia Jacinto. Memória, arquivos e direitos. História & Perspectivas, Uberlândia, v.29, n.54, 2016. Acessar publicação original [DR].

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Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores / História & Perspectivas / 2016

Neste momento de instabilidades e atentados a direitos sociais se faz necessário repensar trajetórias e recompor forças para resistirmos às alterações que temos vivenciado. O dossiê número 55 de História & Perspectivas – Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores –, nesse sentido, busca levantar debate sobre o campo político / social e o campo acadêmico no que tange às transformações no mundo dos trabalhadores.

No processo de elaboração do mesmo, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Ellen Meiksins Wood. A historiadora americana foi importante referência para pesquisas sobre trabalhadores, neoliberalismo, globalização e produção do conhecimento histórico. No interior do dossiê, a Revista presta aqui homenagens a Ellen Wood, publicando um de seus textos, intitulado “Os coveiros do capitalismo”, e o obituário, “Lembrando Ellen Meiksins Wood”, escrito por Vivek Chibber, professor de sociologia da New York University.

Deslocando os focos de análise e trazendo outras temáticas para a reflexão a respeito da militância intelectual, temos a honra de publicar a tradução: “Reflexões sobre Jacoby e tudo mais” de E. P. Thompson. O texto foi proferido entre 1987-1988, quando Thompson participou de atividades no programa de História e Sociedade da Universidade de Minnesota. O texto dialoga, se podemos atribuir este tipo de atividade a Thompson, com o livro “The Last Intellectuals: American Culture in the Age of Academe”, de Russell Jacoby que havia sido recentemente lançado. Entre as temáticas visitadas, destacam-se formas de interligação entre os intelectuais radicais e classes trabalhadoras.

O Dossiê Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores se completa com os seguintes artigos. “Fundição: o concurso literário para operários promovido pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1944”, escrito por Adriano Luiz Duarte, o artigo analisa o romance Fundição, premiado no segundo concurso nacional de romance e teatro promovido pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1944, a partir da relação entre história, literatura e sociedade.

Os temas da descoberta de petróleo no Pré-sal e recentes disputas em torno do sistema de partilha de concessão da exploração dos recursos naturais brasileiros são tratados por Carlos Lucena, Lurdes Lucena e Fabiane Santana Previtali, no artigo: “A resistência petroleira e a privatização no Pré-sal no Brasil”.

O artigo de autoria de Sonia Maria Rummert e Aline Amoêdo Corrêa Ribeiro, “Trabalho e lazer regidos pela mesma lógica de conformação. O caso dos comerciários no SESC, entre as décadas de 1940 e 1970”, aborda o Serviço Social do Comércio a partir de documentos que expressam a ótica da burguesia comercial frente a indícios de resistência, representados por um conjunto de críticas e reivindicações, da fração da classe trabalhadora constituída pelos comerciários.

Luciana Raimundo e Ricardo Gaspar Muller, em “A dívida pública e a desresponsabilização do Estado: A percepção de uma experiência ligada às Finanças Solidárias” partem do estudo de caso do Banco Comunitário União Sampaio, da Agência Popular Solano Trindade e da Associação de Mulheres do Campo Limpo e Adjacências, na zona sul da cidade de São Paulo – dentro dos princípios da Economia Solidária – para, entre outros, discutir a percepção da comunidade organizada sobre as ações do Estado no atendimento das demandas locais.

Em “Gestão eficiente, tecnologia moderna e trabalho arcaico: a indústria de conservas de frutas e hortaliças no pampa gaúcho”, Laura Senna Ferreira e Maria Soledad Etcheverry abordam processos de racionalização do trabalho, modernização tecnológica e precarização da força de trabalho no setor de conservas de frutas e hortaliças, especialmente na cidade de Pelotas (RS), no período correspondente entre anos de 1970 até o final dos anos 2000.

No artigo “A educação dos trabalhadores sob a influência do capital internacional: aproximações entre Brasil e Portugal”, Cílson César Fagiani, Robson Luiz de França e Antonio Bosco de Lima traçam discussões sobre o processo de globalização do capital e implicações na educação dos trabalhadores no Brasil e em Portugal, especialmente a partir da década de 1990.

A partir de apontamentos advindos de pesquisas teóricas e estudos realizados sobre trabalho operário, no período 1990-2015, Sérgio Paulo Morais, em “Memórias em disputa: globalização, trabalho industrial e pautas sindicais (1990-2015)”, discute “tradições seletivas”, empreendidas por empresas globais, frente memórias e lutas de sindicatos nacionais.

Além do dossiê, a Revista publica, neste Número 55, os seguintes artigos: “Agronegócio, trabalhadores rurais, sindicalismo: Avicultura no Oeste do Paraná, 1970-2013”, escrito por Vagner José Moreira, discute experiências de trabalhadores rurais na região Oeste do Paraná, no período de 1970 a 2013, perscrutando a inserção desses sujeitos no processo de produção e agroindustrialização de aves, no final do século XX e início do século XXI.

Alexandre Luzzi Las Casas, Rosane Aparecida F. Bacha e Cristiano Marcelo Espínola Carvalho, em “O agronegócio e o marketing rural no estado de Mato Grosso do Sul”, ao discutirem o conceito ampliado de marketing às peculiaridades do agronegócio, e em especial no estado do Mato Grosso dos Sul, apresentam a forte elevação da produção agrícola brasileira nos últimos trinta anos, fazendo um balanço das relações de produção e distribuição de mercadorias advindas daquele setor.

“Da Arena ao picadeiro: uma análise da crise de legitimidade do presidente José Sarney (1985-1990)”, artigo de Ivan Colangelo Salomão, acompanha parte da trajetória política de José Sarney, apresentação motivos que levaram à “hostilidade das ruas e a indiferença do establishment político”.

Carlos Martins Junior e Antonio Firmino de Oliveira Neto discutem ameaça do “caos urbano” derivado do crescimento físico e demográfico das metrópoles, na passagem do século XIX para o XX. De acordo com os autores “as elites dirigentes urbanas aprofundaram um abrangente processo de reformas, cujo sentido ultrapassava em muito a ideia da simples ‘remodelação’ e ‘embelezamento’ das cidades”. Esse enredo é aqui discutido no artigo intitulado: “Representações do “caos urbano” e o sentido das reformas nas metrópoles brasileiras da bélle époque”.

“Narrativas sobre formação e escolarização no curso de história: Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, 1991- 2004” é umartigo assinado por Michele Ferreira da Silva, Wolney Honório Filho e Rita Tatiana Cardoso Erbs, que trata de narrativas de histórias de vida, da formação e escolarização de ex-alunas e professores-formadores do curso de História da UFG (Catalão). A pesquisa, de acordo com os autores, revelou que “o processo de escolarização pode ser formativo, também pode ocupar tanto um papel secundário quanto influenciar negativamente na formação docente”.

Anderson Francisco Ribeiro e Antonio Carlos de Souza contribuem com este número da revista, com o interessante artigo “O lugar da pornografia na sociedade brasileira: as Guerras Púbicas e o direito ao erótico (1964-1985)”. A discussão perpassa o período da Ditadura Militar brasileira e demostra que, frente a repressão e censura a livros e revistas, há um aumento no número de publicações eróticas e pornográficas. Além disso, a discussão aborda e problematiza discursos sobre a sexualidade e a afirmação de identidades masculinas e femininas.

Por fim, esperamos que as análises propostas pelos diversos autores despertem o interesse e incentivem a produção de novos debates.

Sérgio Paulo Morais


MORAIS, Sérgio Paulo. Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores. História & Perspectivas, Uberlândia, V.29, N.55, 2016. Acessar publicação original [DR].

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Ensino – pesquisa em história: desafios e perspectivas / História & Perspectivas / 2015

Há três décadas a relação entre ensino e pesquisa em História vem ocupando centralidade nas discussões de muitos de nós historiadores. Com o fim dos Estudos Sociais, das licenciaturas curtas e ou plenas nas Universidades Públicas e Privadas, a extinção de disciplinas, como OSPB e Educação Moral e Cívica; o restabelecimento das áreas de História e Geografia e de outras das Ciências Humanas nos currículos do ensino fundamental e ensino médio, são evidências de mudanças. Se alguns desafios foram vencidos outros ainda permanecem no horizonte das nossas práticas de trabalho. Entre tantos está o de firmar a educação como um direito a ser conquistado enquanto dimensão da cidadania.

Por certo ainda se tem muito que avançar quando o tema é a pouca ênfase das políticas publicas na valorização do trabalho docente e no aprendizado dos estudantes, resultando em um cenário recorrente de baixos salários e pouca carga horária das disciplinas de Humanas nas grades curriculares do ensino básico. Há necessidade de se rediscutir o predomínio do mercado editorial eletrônico e ou impresso no âmbito da circulação dos conhecimentos, incidindo na maioria das vezes em práticas de ensinar que sucumbem à relação com o pensar histórico. Ou melhor dizendo: necessidade de questionarmos a permanência, no “chão” de muitas escolas, de práticas de ensino desarticuladas dos processos vividos, da realidade sociocultural dos estudantes e professores, pautadas em bases hierárquicas, cuja sustentação se dá por meio de discursos das “competências, habilidades e meritocracia”. Reflexões que estiveram no cerne das criticas ainda no final dos anos 1980 e que apontavam para a necessidade de trazer o direito a uma educação articulada ao direito à cultura e à cidadania. (Chauí, M., 1980).

No cerne dessas criticas estava a necessidade de pensar a educação como campo onde a difusão dos conhecimentos, que se requerem “competentes”, seja feita ao lado e em concomitância com as dissonâncias vividas em todas as dimensões da cultura e ou das muitas e outras “falas” produzidas no cotidiano das relações vividas pelos estudantes, professores e trabalhadores técnicos.

Essa é uma critica que permanece como desafio e uma esperança, pois, felizmente, tem rendido muitas discussões e publicações. Essas se apresentam como propostas alternativas para democratizar as relações de ensino / pesquisa na formação dos professores, nas suas práticas de ensinar, como modos de se relacionar, de incorporar e difundir saberes que se fazem nos diálogos com os estudantes, na sala de aula e noutras relações que constituem as escolas uma instituição pública e permanentemente moldada pelos processos de criação, de reflexão, cujas autorias pertencem a todos os agentes, que trabalham e estudam nelas. (Arroyo, M., 2011)

Agora falemos das Perspectivas, outra palavra que compõe o titulo do Dossiê. Vale lembrar que em 1992 a Revista História & Perspectivas deu a sua contribuição para lidar com o ensino como pesquisa histórica na edição de um dossiê cujo tema foi Historia e Historiografia. O número contou com a presença de vários autores entre eles o de Déa Ribeiro Fenelon, que na época era professora do Programa de Pós Graduação da PUC-SP e também diretora do Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo. O artigo O Historiador e a Cultura Popular: História de classe ou História do povo? foi originalmente apresentado por ela no VI Encontro Estadual de História de Minas Gerais em 1988. Nele várias questões foram trazidas como críticas e como um “chamado” a pensar a função social do historiador e a produção do conhecimento histórico articulado a procedimentos que firmassem a necessidade de valorizar a disciplina História como um campo de muitos fazedores de história em todos os níveis e concepções.

Com essa perspectiva Déa Fenelon apontou alguns problemas nesta questão do ensino / pesquisa em História, aludindo à responsabilidade, de nós historiadores, nas escolhas teóricas pouco debatidas no interior da academia, ou reduzidas aos Eventos da ANPUH. A autora destaca na sua reflexão o fato destes conhecimentos se colocarem como verdades consagradas e ou sacralizadas nos conteúdos curriculares e elencos programáticos, escudados na idéia de que afinal existe toda uma determinada história da humanidade que nossos alunos, futuros professores, precisam dominar para poder transmitir na escola de 1 e 2 graus. Estabelecem-se os conteúdos e a discussão passa a ser apenas sobre a melhor maneira de transmití-los, partindo–se do suposto da hierarquização dos níveis de aprendizagem e de saber que é preciso consagrar. (Fenelon, Déa, 1992, p.8)

A perspectiva apresentada como crítica pela autora era a de buscar uma concepção de História que convivesse com a noção de um tempo / processo histórico indeterminado, o indefinido, o diferenciado, perseguindo assim procedimentos teórico-metodológicos que incorporassem a diversidade e diferença entre sujeitos e grupos, as mudanças e as permanências, reconhecendo que ninguém tem o monopólio do caminho a percorrer para construir a transformação que queremos ver realizada. (Fenelon, Déa, 1992, p.9)

Desse tempo para cá tivemos muitas discussões sobre essa realidade. Elas inclusive deram vazão a diversas propostas inscritas como parâmetros curriculares nacionais, os PCNs, que trazem o movimento de incorporação dessas críticas, por exemplo, ao elencar como trabalho na formação dos nossos estudantes os procedimentos de lidar com a diversidade de linguagens socioculturais. Também tivemos nos anos 1990 muitas mudanças no âmbito da criação de novos cursos de graduação e pós- graduação em História com a incorporação de novos temas nas diferentes abordagens do pensar histórico e historiográfico; a revisão de concepções tradicionais da História Política e Econômica; a emergência de trabalhos no âmbito da Historia Cultural; ao lado da persistência daqueles, na área da Historia Social, que resistem à idéia de que esse campo de investigação é apenas mais uma especialização.

No âmbito das prerrogativas das mudanças institucionais dos currículos da educação básica estão os desafios de problematizar e produzir conhecimentos sobre “cultura afro brasileira e indígena” que envolvem questões a serem enfrentadas. Por isso este dossiê traz artigos que buscam pontuar para fazer avançar nas reflexões sobre o eixo Ensino / pesquisa em História, pensados ainda como desafios e perspectivas.

No conjunto do Dossiê temos 10 artigos diretamente vinculados ao tema. Começamos com o artigo do historiador Michael Merrill que traz a sua experiência de professor nos Estados Unidos junto aos estudantes das classes trabalhadoras. O texto é instigante, pois retoma questões que ainda precisam ser desnaturalizadas, como as perguntas: “O que os trabalhadores sabem da História? O que a História sabe sobre os trabalhadores? No seu texto essas questões atuam como pontos para a sua argumentação de que a História não é fixa e imutável, mas fluida e em constante transformação. Não é o passado. É uma história que nós contamos sobre o passado.

Outro artigo importante para um pensar retrospectivo e prospectivo sobre o ensino / pesquisa em História é o da historiadora Maria do Rosário da Cunha Peixoto. A autora retoma as discussões sobre as diferenças das propostas curriculares realizadas na rede pública, com professores e também com aqueles que eram responsáveis pelo processo de construção das mesmas com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, desde 1986. O objetivo do artigo é discutir o ensino como pesquisa, o que implica considerar a pesquisa o eixo organizador dos currículos escolares dos níveis fundamental e médio e das atividades dos professores de História no exercício da docência e não mais como atividade eventual em sala de aula. Propõe assim o deslocamento do debate – atualmente centrado no confronto das tendências historiográficas e suas formas específicas de escolher e articular as informações ou conteúdos a serem ensinados – para a discussão de metodologias científicas de investigação histórica adequadas aos diferentes níveis de escolaridade.

Numa abordagem diferente o autor Fernando Penna, formado na área da Educação, trata de analisar as concepções de tempo e a percepção da possibilidade da agência no ensino de história. Para tanto, o autor usou como fontes textos de estudantes do ensino fundamental produzidos por um professor da turma, visando tratar a problemática da distância entre passado, presente e futuro em sala de aula, tendo como referencial teórico as propostas de Reinhart Koselleck e Hans Ulrich Gumbrecht. Destaca ainda que as concepções de tempo apresentadas pela maioria dos alunos foram extremamente pessimistas e fatalistas, mas a existência de alguns poucos que acreditavam na responsabilidade de mudar o curso dos acontecimentos aponta para considerações importantes para a prática docente dos professores de história.

Álvaro Nonato Franco Ribeiro e Sônia Aparecida Siquelli, também ligados a área da Educação, apresentam análise das propostas curriculares oficiais que afetam atualmente a educação em Minas Gerais. O objetivo do artigo é argumentar que as idéias neoliberais presentes nas Propostas Curriculares Nacionais (PCN) e no Currículo Básico Comum (CBC / MG) propõem, por meio da adoção de práticas típicas da economia de mercado, desenvolver um sistema educacional pautado na qualidade. Para o ensino de História, essas propostas determinam incluir as fontes históricas em sala de aula e priorizar o desenvolvimento de habilidades e competências que preparem o estudante para o mundo do trabalho. A pesquisa, de natureza qualitativa, realizou uma análise descritiva, crítica e documental dos documentos curriculares oficiais por intermédio da construção de protocolos de análises que evidenciaram pontos convergentes e divergentes entre os PCNs e o CBC / MG.

Carmem Zeli de Vargas Gil, também da área de Educação, com referenciais aportados nos estudos da Historia Cultural, traz como proposta examinar a história de jovens nos conteúdos dos livros didáticos, em especial uma coleção de História para o ensino médio aprovada no Programa Nacional em 2012. O diagnóstico é o de que é possível afirmar que há intencionalidades do editor e do autor em dialogar com situações da vida dos jovens na contemporaneidade, mais do que sua presença na História.

Beatriz Boclin Marques dos Santos, da área de Educação, e Thiago Rodrigues Nascimento, historiador, analisam as controvérsias em relação à memória que associa fortemente os Estudos Sociais apenas ao tempo das propostas dos governos militares. Para os autores essas propostas têm como natureza os contextos dos debates sobre educação ainda nos anos 1920, vinculados aos da Escola Nova. Assim o artigo tem como objetivo analisar a trajetória da disciplina escolar Estudos Sociais no currículo das escolas brasileiras entre as décadas de 1930 e 1970. Com base em uma nova perspectiva historiográfica, resultado de pesquisa em fontes documentais (legislação elaborada pelo CFE) e metodologia da História Oral, bem como por meio de entrevistas com personagens que atuaram como formuladores dessa legislação, salienta-se que a adoção dos Estudos Sociais como disciplina no currículo é uma questão eminentemente pedagógica.

Saindo do foco das retrospectivas e proposições sobre o ensino / pesquisa em Historia, os textos a seguir trazem os desafios postos tanto pela crítica à produção historiográfica, como à produção de materiais para o ensino / pesquisa relacionados ao contexto de aprovação da legislação para as problemáticas das Culturas e Histórias Indígenas e Afro Brasileira, no ensino básico e mais recentemente a obrigatoriedade de disciplinas nos currículos da formação superior.

Carlos José Ferreira dos Santos, historiador e ativista das lutas indígenas, traz importante contribuição no sentido de discutir alguns desafios que dificultam a aplicação da Lei 11.645 / 2008, que tornou obrigatória a temática História e Cultura. Santos destaca a necessidade do diálogo entre o ensino das Histórias e Culturas dos Povos Originários, a produção dos conhecimentos acadêmicos e os saberes / vivências indígenas e, por fim, dos compromissos sociais e culturais dos envolvidos no processo educacional e na produção do conhecimento para enfrentar os desafios na implementação dessa lei. Com esse propósito o texto de Santos possibilita refletir sobre alguns entraves que permanecem na vida social e no horizonte da produção historiográfica quando se trata de produzir pesquisas desencontradas das dimensões das culturas / modos de viver destes povos originários. Por exemplo, a permanência de um olhar externo e classificatório sobre as lutas pelos direitos aos seus territórios, ou ainda, quando fortalecem a invisibilidade no social dessas memórias e dos diferentes protagonistas dessas histórias de lutas.

Nesse sentido o artigo de Santos contribui para problematizar a permanência de um olhar que silencia as diferenças étnicas e culturais quando fixa no imaginário social um olhar político / romântico sobre as ações destes agentes. Um olhar fixado num passado distante e articulado aos marcos das conquistas civilizatórias européias tendo como resultante disso o isolamento, tanto no passado como no presente, de suas existências sociais num processo mais amplo de formação histórica da sociedade brasileira. Já que nesse olhar os indígenas emergem ora como heróis exterminados pela violência dos conquistadores, ora como vitimas e remanescentes de uma cultura em extinção.

O artigo de Susane Rodrigues de Oliveira também contribui para pensar os entraves e os desafios para o ensino da Cultura e História Afro-brasileira e Indígena na educação básica. Partindo das prerrogativas das novas leis sobre a obrigatoriedade destes “conteúdos” nos currículos, a autora analisa os resultados de uma pesquisa realizada por estudantes do curso de História da UnB no estágio supervisionado em escolas do Distrito Federal junto à comunidade escolar da rede pública de Brasília. A sua análise apontou para questões que vão desde a falta de formação dos professores, o enraizamento de preconceitos sociais em relação a alguns conteúdos e a ausência de materiais didáticos livre de alguns paradigmas, até a falta de compromisso da Secretaria da Educação. Esses entraves são para ela alguns dos obstáculos a serem enfrentados.

Desta forma, por diferentes caminhos teóricos os autores relacionados trazem os percursos do debate sobre a relação entre ensino / pesquisa, demonstrando o quão fértil é o campo de diálogo e reflexão, não só para os historiadores como para todos os pesquisadores de outras áreas do conhecimento.

Numa secção de artigos fora do dossiê, este número de História & Perspectivas ainda apresenta as contribuições de autores que trazem diferentes questões relacionadas à formação dos professores; os supostos metodológicos no trato com diferentes linguagens; os desafios no ensino sobre estudos de gênero e a critica à produção historiográfica; bem como os estudos firmados na história local, as problemáticas das fontes e das abordagens. Artigos que ajudam a explicitar o campo diverso das propostas, que instigam debates e revelam diferentes abordagens na produção do conhecimento histórico. Todas estas colocações indicam que os desafios para se trabalhar a formação de professores e pesquisadores continuam no centro das nossas preocupações.

Célia Rocha Calvo


CALVO, Célia Rocha. Ensino – Pesquisa em História: desafios e perspectivas. História & Perspectivas, Uberlândia, v.28, n.53, 2015. Acessar publicação original [DR].

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História Social: E. P. Thompson (1924-2014) / História & Perspectivas / 2014

No cerne das discussões a respeito do ofício e das responsabilidades sociais dos historiadores (e historiadoras), colocamo-nos o desafio de organizar e publicar um Número Especial sobre Edward Palmer Thompson.

No ano de 2013, diversas universidades, centros de pesquisa e grupos políticos ao redor do mundo registraram, de diferentes maneiras, os 50 anos de publicação do livro “A Formação da Classe Operária Inglesa” (1963). Entre 2013 e 2014, registram-se, além do cinquentenário desta obra, os 20 anos de falecimento (1993) e os 90 de nascimento (1914) de seu respectivo autor.

A Revista HISTÓRIA & PERSPECTIVAS, sob a responsabilidade do Núcleo de Pesquisas e Estudos em História, Trabalho e Cidade (NUPEHCIT), por meio de seu Conselho Editorial, tem mantido uma política editorial aberta a diversas proposições teóricas e a multiplicidades temáticas, que são próprias da pesquisa em História.

Muito têm nos preocupado as repercussões em torno dos caminhos da profissionalização de historiadores, sobre o ensino de História em seus diversos âmbitos, a necessária relação entre a produção do conhecimento acadêmico e a sociedade, o papel e a importância política do historiador. Enfim, buscamos perscrutar e colocar em pauta as dimensões induzidas pelas questões “História para quem? História para quê?”.

Registra-se, assim, nesta publicação, concepções, temáticas e trajetórias próprias do historiador / poeta / escritor / militante inglês, que dispensam mais apresentações. Porém, em respeito ao diálogo abrangente que marca, como indicamos, a HISTÓRIA & PERSPECTIVAS, optamos por transpor um ponto de vista comemorativo sobre obra de Thompson, ou mesmo panfletário, em relação ao que pensamos ser “História Social”, adjetivação que complementa o título deste número.

O esforço foi o de propiciar aos leitores um conjunto de textos que possibilitassem renovadas discussões sobre experiências sociais, fazer-se de classe, noções de economia moral, perspectivas sobre ação política, valores, religião e direito. Ou seja, debates que animam pesquisadores e teóricos de diversas vertentes das ciências humanas e sociais.

Este Número Especial, portanto, inicia-se com uma carta escrita e enviada por Kate Thompson. Nela, a renomada escritora de livros juvenis, radicada na Irlanda, filha de E. P. Thompson e Dorothy Thompson, escreve algumas palavras sobre a infância vivida em um lar repleto de músicas e de pessoas, e nos apresenta um ambiente caseiro no qual se confundia rotina, política e trabalho com práticas de sobrevivência de um casal de historiadores ingleses e de seus familiares.

Posteriormente, os leitores encontrarão duas seções temáticas centrais intituladas “O historiador: entre a formação e a ação política” e “Produção historiográfica: desafios e conjecturas”.

Josep Fontana, ao iniciar a primeira das duas partes, escreve sobre o impacto causado pelo livro “A formação da classe operária inglesa” e por outras publicações do historiador inglês na Europa. Em sequência, encontra-se o conhecido texto “E. P. Thompson: história e política”, da saudosa professora Déa Ribeiro Fenelon, orginalmente publicado na Revista PROJETO HISTÓRIA, n.º 12.

Na sequência, “Paradoxo e polêmica, argumento e constrangimento: reflexões sobre E. P. Thompson”, profícuo artigo de Bryan D. Palmer, no qual o livro “A formação da classe operária” é analisado de maneira bastante original.

Posteriormente, Dennis Dworkin, em “E. P. Thompson: historiador militante, militante historiador”, retoma aspectos e trajetórias políticas vividas por Thompson frente a algumas de suas produções acadêmicas, algumas ainda inéditas em português.

O quinto texto desta primeira seção, que busca tratar da ação política em conjunto com a produção historiográfica do autor inglês, foi escrito por Wade Matthews, e se intitula: “Escolas de experiências: 1956, a New Left e a formação da classe operária inglesa”.

José Ángel Ruiz Jiménez, autor de um significativo livro sobre a militância de Thompson contra a Guerra Fria, contribui com o artigo “Orgullo de inglés nacido libre: el compromiso rebelde de E. P. Thompson contra el exterminismo”.

Esta parte inicial encerra-se com a tradução de “Diary”, texto de Perry Anderson. Este foi republicado, nos anos 1990, na Revista argentina “El cielo por asalto” com o título “Diario de uma relación. O título preferido por “El cielo” revela, de modo mais claro, o conteúdo deste significativo artigo, no qual Anderson regista controversos momentos de sua amizade com E. P. Thompson.

Produção historiográfica: desafios e conjecturas, como já dito, intitula a segunda seção deste Número Especial, iniciada pelo registro de uma célebre mesa redonda, ocorrida em outubro de 1985, na cidade de Nova Iorque. Naquela circunstância, Eric Hobsbawm, Christopher Hill, Perry Anderson e E. P. Thompson discorreram sobre “Agendas para uma história alternativa” e, ao final, a conhecida historiadora Joan Wallach Scott proferiu um balanço sobre as apresentações. Devemos a Horacio Tarcus e ao Conselho Editorial da Revista “El cielo por asalto”, a cessão deste registro.

O próprio Horacio Tarcus apresenta, sob o título “José Sazbón: perfil de un filósofo secreto”, o autor do artigo que se segue. Falecido em 2008, José Sazbón, um importantíssimo pensador argentino, ainda pouco conhecido no Brasil, apresenta uma densa análise sobre as disputas, concepções e peculiaridades da historiografia materialista da Grã-Bretanha, em um texto intitulado “Duas caras do marxismo inglês: o intercâmbio ThompsonAnderson”.

Em “E.P. Thompson (1924–1993): a religião dos trabalhadores”, Michael Löwy analisa as perspectivas contidas em textos de Thompson que lidam com a religião, indicando influências de Marx e de Weber nas obras em questão.

Michael Merrill, em “A transformação maior. E. P. Thompson, economia moral, capitalismo”, apresenta diferentes conceitos, usos e atribuições sobre a “economia moral”, demonstrando as influências e concepções que o conceito apresenta na obra de Thompson.

“Cursos universitários para jovens trabalhadores e militantes: uma análise a partir da crítica de Thompson da oposição entre educação e experiência”, de Célia Regina Vendramini, trata de cursos universitários direcionados a jovens trabalhadores e militantes de movimentos sociais do campo, especialmente de iniciativa do Movimento dos Sem-Terra, em parceria com universidades públicas brasileiras.

Fruto de uma dissertação de mestrado defendida na linha de pesquisa TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS (PPGHI / UFU), o sexto artigo desta seção traz abordagens sobre as noções de “Teatro e contrateatro”, apresentada por Thompson em Costumes em Comum, para analisar ações de militantes das Ligas Camponesas em Goiás. O referido texto, intitulado “O teatro do poder e o contrateatro dos posseiros: estratégias e resistências na luta pela terra no norte de Goiás 1950 / 1964” é de autoria de Carlos Alberto V. Borba e Sérgio Paulo Morais.

“A noção de experiência histórica e social em Edward Thompson: percursos iniciais”, artigo de João Alfredo Costa de Campos Melo Júnior, traz discussão sobre o livro “Senhores e caçadores”, publicado no Brasil em 1997. Na visão do autor, o artigo joga luz em conceitos centrais da teoria thompsoniana, em especial na razão do processo histórico e no estudo das origens da Lei Negra.

Uma terceira parte registra a famosa entrevista realizada com Thompson, em 1976, por Michael Merrill, representante, à época, da “Mid-Atlantic radical historians organization” (MARHO). Entre diversas passagens, as controvérsias e posições políticas estão presentes, como estão também postas profundas questões a respeito do ofício: noções como experiência, estruturas sociais e estruturalismo, percepções sobre a história social inglesa frente a outras escolas histórias, tempo e temporalidades, assim como o papel do historiador na escrita da história são profundamente debatidos neste diálogo.

Ao final dessas seções, encontra-se a resenha do livro “E. P. Thompson: política em razão”, dos autores Ricardo Gaspar Müller e Adriano Duarte, denominada “A razão rangendo os dentes: teoria e militância em E. P. Thompson”, escrita por Eder Alexandre Martins e Sara Krieger do Amaral (UFSC).

Tentamos, por fim, trazer aos leitores a oportunidade de reencontrar Thompson a partir de pesquisas, de registros e de textos teóricos em que posições críticas estão presentes. Pensamos que um ambiente de contestações faria jus à obra e vida deste autor inglês. Entretanto, percebemos que as diferentes manifestações de generosidade – com o Thompson e conosco – marcaram o fatigante, mas prazeroso trabalho de organização deste Número.

Cabe destacar, portanto, que este Número Especial não se consolidaria sem a contribuição de pesquisadores que responderam positivamente ao arrojado convite para que escrevessem artigos inéditos ou que autorizassem textos sobre E. P. Thompson para publicação. Josep Fontana, Harvey Kaye, Peter Linebaugh, Geoff Eley, Marcus Rediker, Bryan Palmer, Mike Davis, Dennis Dworkin, Wade Matthews José Ángel Ruiz Jiménez, Michael Löwy, Michael Merrill, Horacio Tarcus, Berta Stolioro, María Alicia Gutiérrez, Joana Luiza Muylaert de Araújo, Adriano Duarte, Ricardo Müller, Regina Vendramini, Antônio Rago Filho e vários outros que atenderam prontamente ao chamado e enviaram textos ou palavras de motivação que nos fizeram seguir e concretizar a proposta.

Por fim, devemos louvar a atitude da direção da Edufu (registar que a professora Joana Luiza Muylaert acreditou nessa proposta ainda na forma de um projeto) e notar a presteza e excelente trabalho dos revisores e demais profissionais desta editora. Encaminhar sinceros agradecimentos a todos os pesquisadores, tradutores, discentes e professores do INHIS, do NUPEHCIT, da Linha Trabalho e Movimentos Sociais, do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC), do Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação e Sociedade (GPTES) e de outras diversas faculdades e instituições parceiras, com destaque para o Centro de Documentação e Investigação da cultura das esquerdas na Argentina (CeDInCI), para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ao Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE e Núcleo de Estudos sobre as Transformações no Mundo do trabalho (TMT); Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e ao Programa de Pós-Graduação em História PPGH-UEPG e Grupo de Pesquisa Mundos dos Trabalhadores: Culturas, Memórias e Identidades de Classe; e dos professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Campus Marechal Cândido Rondon), do Laboratório de Pesquisa Trabalho e Movimentos Sociais e o Grupo de Pesquisa História Social do Trabalho e da Cidade que colaboraram, assim como os autores, com esse projeto.

Atribuímos agradecimentos às revistas colaboradoras deste projeto: “El Cielo por Asalto” (Argentina), “Recerques: História. Economia. Cultura” (Barcelona) e Projeto História (PUC / SP).

Esperamos ter contribuído com um conteúdo relevante, desejamos uma boa leitura e a ampliação dos debates aqui anotados.

Sérgio Paulo Morais

Editor.


MORAIS, Sérgio Paulo. História Social: E. P. Thompson (1924-2014). História & Perspectivas, Uberlândia, Número Especial, 2014. Acessar publicação original [DR].

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DR

25 anos – Percursos do debate historiográfico / História & Perspectivas / 2014

A Revista História & Perspectivas no ano de 2013 completou 25 anos, o que fez com que esse conselho fizesse a proposta de organizar um Dossiê, que trouxesse os percursos do debate historiográfico, nela publicados ao longo de sua trajetória.

A proposta, por um lado busca reconhecer a contribuição dos diversos historiadores vinculados ao Curso de Graduação e ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, como também dos vários historiadores e pesquisadores de outras áreas do conhecimento que estiveram presentes, nesse tempo, por meio dos artigos publicados neste periódico. Com esse reconhecimento procura-se reiterar a proposta original de criação da Revista, que já em 1988, tinha como objetivo incentivar e divulgar, entre a comunidade acadêmica, a produção do conhecimento histórico, tornando-se uma Revista aberta às diversas perspectivas teóricas do debate historiográfico presentes no interior da academia como também fora dela.

Construir um periódico com o perfil voltado para a diversidade das tendências historiográficas, promovendo e, porque não dizer, provocando o diálogo entre perspectivas diferenciadas reveladas nos artigos de autores de diversas instituições do Brasil e de outros países tem sido a proposta que continua orientando nossa política editorial.

Nesta edição comemorativa, no intuito de demonstrar alguns dos percursos historiográficos que compuseram e compõem o perfil da Revista História & Perspectivas, reeditamos alguns artigos, que, a nosso ver, representam a amplitude de questões que circularam no espaço da Revista.

Os artigos dos historiadores Marcos Antonio Silva (1994) e de Caio Boschi (1999) trazem uma questão que consideramos central e que permanece enquanto desafio do presente: o reconhecimento público do trabalho do historiador. Marcos Silva em seu artigo O historiador e suas revistas especializadas, ressalta a importância das publicações especializadas em História, como meio de tornar público o trabalho e o diálogo dos historiadores, além de, “contribuir para a ampliação e democratização da produção do conhecimento nesta área” – premissa apontada como “uma estratégia de resistência do historiador às regras impostas pelo mercado editorial brasileiro”. Já, Caio Boschi, traz em seu artigo O historiador e os arquivos históricos: um depoimento pessoal um relato de experiência sobre o trabalho de microfilmagem da documentação sobre o Brasil em arquivos do exterior, trazendo uma questão articulada às reflexões em torno da História e Informática, sobretudo “o sentido da informatização da documentação para o trabalho do Historiador”.

O artigo Hegemonia: uma nova civiltà ou domínio ideológico de Edmundo Fernandes Dias (1991) é reeditado neste Dossiê comemorativo, por duas razões: a primeira como ato de agradecimento ao autor pelo seu empenho à época investido na publicação do número da Revista História & Perspectivas que teve como tema central a obra de Antônio Gramsci. A segunda razão é por contribuir com a reflexão da obra e a vida de Gramsci apontando que “a capacidade de construir uma hegemonia decorre da possibilidade que uma classe fundamental (subalterna ou dominante) tenha de elaborar sua visão de mundo. Diferenciarse e contrapor-se como uma visão de mundo às demais classes. Mais ainda: elaborar uma visão que seja capaz de estruturar o campo de lutas a partir do qual poderá determinar as frentes de intervenção e articular as alianças”. Nesse sentido o autor trouxe para o debate a proposição de articular a reflexão teórica e metodológica à perspectiva política que segundo suas palavras, significava trabalhar a perspectiva da hegemonia como elaboração de “uma nova civiltà”, apontando assim o sentido vital que, para ele, era a da “reforma intelectual e moral”.

O artigo Amores ilícitos na Paris de Emile Zola de Margareth Rago (1988) expressa a incursão na Revista das novas abordagens com temas como da prostituição em Paris durante a segunda metade do século XIX, visto pelo foco do olhar do romance. Assim, a autora buscou “refletir sobre a condição da mulher neste século de predomínio da moral vitoriana, destacando a emergência da figura da “femme fatale” na literatura e nas artes do período e perguntar sobre as mutações nos hábitos de consumo do amor venal e nas formas de desejo”.

Seguindo a trilha da renovação dos temas na produção historiográfica, o artigo O Gênero da cidade de Michelle Perrot trouxe, em 2001, o que foi compreendido pelos organizadores deste número “como o alargamento do leque temático disponível ao trabalho de pesquisa do historiador. Neste artigo a autora revisita questões urbanas, mostrando como a cidade europeia do século XIX constituiu-se como um lugar ambivalente em termos de hospitalidade para as mulheres, tanto no que se refere ao espaço público como ao privado”.

E para encerrar o Dossiê, dos 25 anos da Revista História & Perspectivas, reeditamos duas entrevistas. A primeira demarca no percurso historiográfico a incursão dos debates dos temas candentes, provenientes das problemáticas sociais e da reflexão em torno dos conflitos agrários e da organização sindical dos trabalhadores no Brasil. Nessa entrevista realizada em 1989 e publicada em 1990, José Graziano da Silva, trouxe a reflexão, necessária à época, da distinção entre o que era uma questão agrícola e o que era uma questão agrária: “questão agrícola diz respeito estritamente aos níveis de produção, à produtividade, aos preços dos produtos, quer dizer ao quanto se produz e a questão agrária diz respeito às relações de produção no campo (…) quando se fala na questão agrária, nas relações que o homem estabelece, seja como proprietário, seja como trabalhador. Nesse sentido a questão agrária envolve todas as questões relacionadas ao homem, trabalhador ou não. Então tem a ver com a propriedade da terra, com a migração, com os níveis de emprego”.

Por outro ângulo, a entrevista de Alessandro Portelli sobre o tema História Oral e Memórias, realizada em 2002, expressou o movimento de reflexão em torno das questões metodológicas no diálogo com as fontes orais, sobretudo as perspectivas vinculadas a produção de entrevistas que, além de envolver um leque amplo de diálogo com outras áreas do conhecimento, implicam sempre nos cuidados éticos na produção do discurso historiográfico. Essa entrevista também marcou um debate realizado com ele quando da sua visita ao Brasil em abril de 2002, com os professores do Instituto de História, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História, Cidade e Trabalho da UFU e do Núcleo de Estudos Culturais: Histórias, Memórias e Perspectivas do Presente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com apoio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica / CAPES.

Cabe salientar que os artigos deste dossiê foram republicados tais como em suas versões originais, para resguardar as intenções e os sentidos de época.

Na seção de artigos avulsos, segue-se a seleção da diversidade dos temas firmados em diversas propostas e metodologias. A relação entre teoria e prática na formação de professores de História de Márcia Elisa Tetê Ramos e Marlene Rosa Cainelli reflete a pesquisa realizada pelas autoras com os estagiários e alunos egressos do curso de História da Universidade Estadual de Londrina. A reflexão sobre impressões, noções, desafios e expectativas em relação à forma como a pesquisa e o ensino são articulados no curso de graduação contribui sobremaneira para compreender os meandros das práticas que formam o profissional de história. Seguindo a trilha dessas preocupações, no âmbito das práticas educacionais, estão os artigos intitulados: Professores da região colonial italiana ensinando Português em tempos de nacionalização Estado Novista: memórias de formação e práticas escolares na década de 1930 de Carmem Maria Faggion e Terciane Ângela Luchese, como também o artigo de Mariângela Bairros e Denise Bussoletti intitulado Formação docente: entre o habitus e o desejo.

O artigo de Rejane Meireles Amaral Rodrigues, sobre ‘Tudo isso é animador’: a cidade de Montes Claros pela imprensa no início do século XX analisa as publicações dos jornais Montes Claros e Gazeta do Norte, cujas notícias tinham a pretensão de fazer de Montes Claros uma cidade moderna. Em sua reflexão a autora pondera sobre as ações que, de acordo com esses jornais, seriam necessárias para legitimar o projeto de cidade, a saber: a instalação dos correios e das comunicações, a construção da estrada de ferro e estrada de rodagem e, principalmente, a denúncia de “hábitos tidos como atrasados”.

O artigo de Thiago Lemos Silva, Neno Vasco por Neno Vasco: a escrita cronística como escrita de si na biografia de um anarquista, reflete sobre as crônicas publicadas no livro Da Porta da Europa e na imprensa anarquista e operária do Brasil e de Portugal. Em sua análise o autor prioriza questões teóricas e conceituais sobre a forma como o cronista escreve sua trajetória individual e coletiva. Já os autores Janaína Rigo Santin e Felipe Cittolin Abal analisam o que denominam como O Liberalismo Cabloco na Constituição de 1824. Num outro enfoque sobre a mesma temporalidade está o artigo de Martha Victor Vieira que traz a reflexão sobre As elites dirigentes goianas e a construção do Estado Nacional brasileiro, analisando os conflitos e negociações realizadas pelos representantes desses grupos dominantes no período de 1831 a 1840.

O artigo de Cleber Vinicius do Amaral Felipe, intitulado Da Dissimulação Prudente ao Simulacro Austucioso: A Epopeia Católica e a Incidência de Artificios de Teor (anti)ético analisa “o lugar da simulação e da dissimulação nas obras Os Lusíadas (1572), de Camões, e Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira”.

No artigo intitulado Disciplina e Coesão na Caserna: O Discurso Militar da Revista a Defesa Nacional pós-1930, Fernanda de Santos Nascimento reflete sobre a intensa publicação de artigos e notas relacionados à questão da disciplina e da hierarquia na instituição militar brasileira pós-1930, nas páginas da revista A Defesa Nacional, acentuando a importância desse periódico no processo de modernização da instituição mediante os acontecimentos vinculados à Revolução de 1930, bem como a incorporação dos tenentes anistiados, destacando a atuação do general Góes Monteiro e dos editores na manutenção da ordem dentro da instituição.

Encerrando a seção dos artigos avulsos estão A Dupla face da Tradição Petroleira e a Reestruturação Produtiva nos anos 90 de Rose Mery dos Santos Costa Leite, cujo objetivo é analisar “a constituição da dupla face da tradição petroleira a partir da estreita ligação entre a vida política nacional e a realidade da maior empresa petrolífera do país e de seus trabalhadores”. E ainda, o artigo de Rodolfo Fiorucci sobre Imprensa, Política, Critica, focando as divergências em torno das políticas do neoliberalismo nas últimas décadas do século XX.

Por último, nesta edição dos 25 anos da Revista História & Perspectivas, temos a homenagem ao querido e reconhecido historiador inglês Eric Hobsbawn que faleceu em 2012, através da resenha Cultura e a Arte como expressões da Fratura Histórica dos Tempos de Lucas André Berno Kölln.

Esperamos que este volume, ao somar-se aos demais desta longa e profícua caminhada, contribua para a reflexão sobre caminhos e perspectivas de abordagens inerentes às nossas práticas sociais, com o intuito de democratizar o ensino, a pesquisa em história, e, tal como já dito, de “vislumbrar horizontes possíveis de mudanças na vida social”.

Célia Rocha Calvo

Sergio Paulo Morais

Conselho Editorial


CALVO, Célia Rocha; MORAIS, Sergio Paulo. 25 anos – Percursos do debate historiográfico. História & Perspectivas, Uberlândia, v.27, n.50, 2014. Acessar publicação original [DR].

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Trabalhadores, Culturas e Movimentos Sociais / História & Perspectivas / 2014

A Revista História & Perspectivas apresenta neste número o Dossiê: Trabalhadores, Culturas e Movimentos Sociais, composto por artigos que trazem reflexões em torno da presença dos trabalhadores, da visibilidade de suas práticas socioculturais na arena pública e as diferentes configurações políticas que essas práticas assumem enquanto movimentos sociais contemporâneos. O nosso objetivo é o de contribuir com o debate, apresentando propostas investigativas com focos diferenciados de análises acerca desse eixo temático. Artigos cuja contribuição está, sobretudo, no apontamento das diferentes problemáticas vinculadas às culturas e experiências do fazer-se dos trabalhadores enquanto protagonistas da História.

O artigo de Mariana Mastrángelo tem como objetivo refletir sobre a existência de uma cultura operária esquerdista no interior da Argentina, a partir dos testemunhos de operários, intelectuais e militantes de esquerda que viveram em duas cidades da província de Córdoba, nas décadas de 1930-1940. Seu enfoque tem como suposto as reflexões de Raymond Willians, no que diz respeito a investigar a cultura em seus processos variáveis, em suas definições sociais e, também, em suas inter-relações dinâmicas, apontando que cada cultura contém elementos explorados de seu passado, mas o seu lugar no processo cultural contemporâneo é variável. Desse modo, através dos testemunhos recolhidos, a proposta é de analisar os problemas da memória elucidando na cultura dos seus protagonistas o modo como convivem os elementos “residuais”, “emergentes” e “dominantes” nos processos de narrar / significar / resignificar o presente-passado.

O artigo de Pablo A. Pozzi também parte dos supostos de Raymond Willians sobre cultura ordinária e estruturas de sentimentos, propondo analisar a longa tradição de consignas políticas que conformam cânticos, por exemplo, no “apego” cultural dos trabalhadores pelo futebol, e que também coroaram as participações nos movimentos nacionais de disputas políticas na Argentina. Refletindo as canções e metáforas da linguagem socialmente produzida nessas práticas culturais, o autor busca as articulações e significados das mesmas nos processos de tensão, conflitos e resistências vividos pelos trabalhadores em diferentes conjunturas políticas. Sua hipótese é a de que essa linguagem evidencia propostas programáticas, uma identificação de inimigos e / ou aliados e, em particular, elementos que apontam para a definição de uma “identidade própria”. Nas palavras do autor: a proposta é traçar por meio do estudo de uma série de cânticos e consignas políticas, a permanência de uma subjetividade política de esquerda durante parte do século XX argentino (…) vinculadas a figuras específicas que aparecem em distintos testemunhos de militantes políticos; o impacto do cântico quando o testemunhante busca explicar com maior profundidade um conceito repetindo algumas consignas apreendidas durante as participações nas mobilizações políticas.

Já o artigo Los Indignados de Latino América – de Antonio J. Chica Badel, Giovani Cheuiche Godoy, José María Monzón e Mércia Pereira – busca refletir sobre o que os autores consideram a força dos movimentos sociais nas lutas por melhores condições de vida, melhores oportunidades de trabalho e igualdade. Movimentos que contribuem para o questionamento de paradigmas que sustentam a ideia de uma sujeição tradicional e ou submissa ao sistema dos mercados globalizados. Segundo os autores, tais movimentos sociais reclamam autonomia em relação ao poder das forças econômicas que interferem na organização interna dos países da América Latina.

Outro artigo que contribui para as reflexões desse Dossiê é Breve história das jornadas de junho: uma análise sobre os novos movimentos sociais e a nova classe trabalhadora no Brasil, de Josué Medeiros. É uma reflexão sobre as novas configurações dos movimentos sociais focadas nos protestos ocorridos em junho de 2013 e que foram chamados de Jornadas de Junho. O autor trata esses protestos como novos movimentos sociais, pautado na análise sobre a constituição da nova classe trabalhadora no Brasil. A indagação é sobre a natureza política dos protestos, problematizando a maneira como foram difundidos pela imprensa periódica, atentando para ações e participações dos seus integrantes nas redes sociais, questionando sobre quem eram os agentes ou jovens, protagonistas desses protestos, o que reivindicavam por meio dessas ações, suas visibilidades na arena política mediante a conjuntura e suas propostas de intervenções. Questões que se articulam na hipótese de que as jornadas de Junho de 2013 no Brasil podem ser vistas enquanto um momento de afirmação de novas formas de organização coletiva e que podem ser relacionadas com o debate acerca da nova classe social ou da nova classe trabalhadora, diante das políticas dos governos pós-neoliberais no Brasil.

O último artigo do Dossiê é de Fernando Perli sobre a temática: Impressos, leituras de passado e configurações do ensino de História no Movimento dos Sem Terra (MST), no qual apresenta uma análise relevante sobre as propostas desse movimento no que diz respeito à produção das “representações de passado”, tecidas por lideranças, intelectuais e entidades de apoio como atos que delineiam um lugar para o ensino de História na organização do movimento. O autor faz sua interpretação pautando-se nos processos de produção dos impressos difundidos pelo MST.

Na seção dos artigos avulsos encontram-se textos cujas análises assentam-se em pesquisas sobre memórias, culturas e experiências de trabalhadores de diversas localidades do Brasil. A problemática da participação / organização dos trabalhadores nos movimentos sociais de bairro na década de 1980, no município de Toledo no Estado do Paraná, foi foco da pesquisa de Jiane Fernando Langaro. Em seu artigo, o autor analisa as trajetórias, os aprendizados dessas lutas, por meio das memórias dos seus protagonistas, primando por compreender os significados dessas experiências durante um processo tenso de busca por parte do poder publico municipal em institucionalizar as organizações, associações comunitárias, destacando, principalmente, o caráter de sujeitos históricos daqueles que se envolveram nessas lutas por direitos naquela cidade. Já o artigo de Rosangela M. Silva Petuba dialoga com as experiências dos trabalhadores e de suas famílias na cidade de Ponta Grossa (PR). O interesse foi demonstrar a maneira pela qual esses trabalhadores constituíramse ferroviários, por meio de um modo de vida, entendido como prática social, em que visões e projetos de viver, morar e trabalhar se articulam na vida da cidade e na ferrovia. Experiências que foram analisadas como outra possibilidade de diálogo com o tempo vivido e como alternativa para a construção de outras histórias da ferrovia e de sua relação com a cidade. Noutro enfoque, temos o artigo de Sheille Soares de Freitas e Carlos Meneses de Souza Santos cujo tema é: Laços de Violências em vínculos classistas: os trabalhadores rurais na porção Oeste do Paraná na segunda metade do século XX. A análise problematiza o modo como determinadas relações de poder, estabelecidas por trabalhadores rurais, podem extrapolar definições fragmentárias, indicadas em noções como “mundo do trabalho” e “cotidiano de trabalhadores”.

Ainda nessa seção encontram-se os artigos de Marco Antonio S. de Almeida, intitulado O que ocorreu com os trabalhadores desligados da indústria de transformação da microrregião de Juiz de Fora pós-abertura econômica?; de Antonio de Pádua Bosi – Uma História Social comparada do trabalho em frigoríficos: Estados Unidos e Brasil (1880-1970); e de Alysson Luiz Freitas, – A violência praticada por escravos e homens livres: crimes em comum? que tratam de temáticas relativas às mudanças nos processos de produção capitalista, a exploração do trabalho em situações distintas e comparadas e as transgressões e ou violências praticadas e vividas por trabalhadores em variadas relações de subordinação / dominação em diferentes temporalidades históricas.

Por último, o artigo de Alessandro de Almeida e Edwirgens A. Ribeiro Lopes de Almeida, intitulado Que Presidente sou eu? A telenovela como instrumento de propaganda eleitoral nas eleições de 1989, problematiza a produção de telenovelas pela empresa Rede Globo, no ano de 1989, como instrumento político que contribuiu para a vitória do candidato vinculado ao projeto neoliberal no Brasil.

Vale destacar a nova seção Debates criada nesse número e que aborda Sobre a Profissão do Historiador. Esta seção traz o posicionamento de duas Associações sobre este tema: a da Sociedade Brasileira de História da Ciência – SBHC e da Associação Nacional dos Professores de História – ANPUHNACIONAL. A profissionalização do historiador tem sido debatida em vários fóruns e é uma preocupação constante da ANPUH. A apresentação destes posicionamentos visa contribuir com a divulgação deste debate.

Por fim a seção Resenhas, com o texto: A atualidade do pensamento de Antonio Gramsci para a historiografia contemporânea de autoria de Heloisa Helena Pacheco Cardoso. A autora tece considerações sobre a importante presença dos referentes teóricos de Antonio Gramsci na historiografia brasileira, analisando os artigos publicados no livro intitulado Sociedade Civil. Ensaios Históricos, 2013, organizado por Dilma Andrade de Paula e Sônia Regina de Mendonça.

Celia Rocha Calvo – Conselho Editorial


CALVO, Celia Rocha. Trabalhadores, Culturas e Movimentos Sociais. História & Perspectivas, Uberlândia, v.27, n.51, 2014. Acessar publicação original [DR].

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Estado e Poder: Sociedade Civil / História & Perspectivas / 2013

A Revista História & Perspectivas traz nesta edição o dossiê temático intitulado “Estado e Poder: Sociedade Civil”. O tema remete ao recorte apresentado pelo VII Simpósio Nacional Estado e Poder: Sociedade Civil, realizado em Uberlândia de 20 a 22 de agosto de 2012. O evento, originário do Núcleo de Estudos Estado e Poder no Brasil – Nupep / U.F. Fluminense, nessa 7ª edição, partilhou a organização com o Núcleo de Pesquisa e Estudos em História, Cidade e Trabalho – Nupehcit / UFU, ao qual se vincula a revista. O objetivo do evento foi promover uma avaliação do estado atual dos estudos sobre a problemática da sociedade civil na sua relação com o Estado, em distintos espaços e temporalidades, aprofundando o intercâmbio de pesquisas e reflexões sobre a temática, buscando também identificar os embates atuais em torno de práticas intra e interestados no movimento mais amplo de mundialização do capital, destacando-se os seguintes questionamentos: qual o papel desempenhado pelos agentes sociais e pelos “intelectuais” nesse processo? Como podemos pensar as atuais configurações políticas, sociais, econômicas e culturais do Estado desenvolvimentista, em suas relações internas e internacionais? Como se colocam as questões humanas e ambientais dentro dessa configuração? Como esses embates e combates têm sido travados na sociedade civil? Constatamos que a atual conjuntura impõe novos desafios ao pensamento crítico e nos colocamos diante da necessidade de repensarmos as práticas do passado e do presente, descortinando memórias e procurando abrir sendas e veredas em direção a novas utopias, no esforço incessante de incrementar o diálogo acadêmico com e a partir de práticas sociais, em toda a sua complexidade.

Vale lembrar que a História & Perspectivas, nos idos de 1991, na época Revista do curso de História da UFU, dedicou um número especial aos 100 anos de Antônio Gramsci, com uma observação dos editores que nos parece ainda fundamental: “a elaboração aqui apresentada recusa-se a ‘usar’ Gramsci. Ou seja, recusa reduzir o texto gramsciano à condição de verdade. Mais do que verdade, o pensamento gramsciano é estímulo à produção. Este é o nosso propósito” (Conselho Editorial. História & Perspectivas, n. 5, 1991, p. 3). O “fascínio” dos textos gramscianos se mantém, desafiando ortodoxias, buscando um diálogo aberto a novas indagações, estimulando o pensamento crítico e totalizante e, no fundo, buscando alternativas à realidade existente e apontando para outros possíveis mundos (onde caibam muitos mundos, no dizer zapatista), característica de produções no campo do marxismo.

Recebemos muitas contribuições, com artigos variados, demonstrando a pertinência e atualidade da ampla temática proposta. Todavia, o presente número apresenta apenas alguns dos artigos, ficando os demais para outras edições. Os textos que compõem este dossiê da História & Perspectivas são, em parte, de autores presentes no VII Simpósio, que apresentam artigos onde discutem a relação entre Estado e sociedade civil na perspectiva proposta por Antônio Gramsci. Dessa forma, Elder Andrade de Paula mostra como a recente complexificação da sociedade civil trouxe também novos refinamentos nas práticas hegemônicas, mormente no que se refere ao campo do conservacionismo ambiental, terreno de atuação das grandes ONGs. Sonia Regina de Mendonça trata das políticas agrícolas na primeira metade do século XX, correlacionando sua dinâmica aos interesses patronais agroindustriais organizados junto a dois aparelhos de hegemonia da sociedade civil do período: a Sociedade Nacional de Agricultura e a Sociedade Rural Brasileira. Maurício G. Margalho investiga a sociogênese do projeto industrial dos anos 1930-1940 por meio da trajetória do grupo empresarial Klabin. O artigo de Dilma Andrade de Paula, por meio do conceito de “intelectual”, propõe uma discussão sobre o papel do conhecimento no campo das Ciências Humanas e Sociais, em particular na História, em sua trajetória recente.

O primeiro e o último artigo do dossiê são de autores externos ao evento. Mabel Thwaites Rey e José Castillo, instigados pelo recente retorno de temas como desenvolvimento, dependência e o papel desempenhado pelos Estados Nacionais na América Latina, realizam uma grande revisão bibliográfica dentro do marxismo e do neomarxismo em torno desses temas. É o artigo que abre o dossiê, que auxilia a refletir de maneira global os destinos históricos da América Latina, desde as primeiras décadas do século XX até os dias de hoje, os desafios de ontem e os atuais. Para finalizar o dossiê e instigar a discussão, contamos com artigo de João Alberto, em outra vertente do marxismo, apresentando outra perspectiva de análise do Estado e da sociedade civil, propondo uma reflexão sobre o conjunto da obra teórica de João Bernardo, historiador marxista português, apresentando os “gestores” como classe dominante e o seu poder institucional de controle do processo produtivo capitalista. Acreditamos, com a apresentação de artigos com perspectivas distintas, que a busca de saídas para o “pensamento único” e o “fim da História” não deva ser a formação de novas ortodoxias e novos encarceramentos do pensamento. A complexidade do real nos instiga a buscar a pluralidade e desafiar nossos próprios pressupostos.

Conselho Editorial


Estado e Poder: Sociedade Civil. História & Perspectivas, Uberlândia, v.26, n.48, 2012. Acessar publicação original [DR].

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História do Crime, da Polícia e da Justiça Criminal / História & Perspectivas / 2013

A Revista História & Perspectiva apresenta neste número 49 o Dossiê História do Crime, da Polícia e da Justiça Criminal, composto por 10 artigos, além de outros 06 textos com os mais variados temas, 01 artigo internacional e 01 resenha. Desta maneira, buscamos divulgar pesquisas inéditas sobre uma gama variada de temas e oferecer ao público leitor a possibilidade de conhecer parte do que tem sido produzido por pesquisadores e professores brasileiros nos campos da História e das Humanidades.

A respeito do Dossiê, os documentos judiciários e policiais conservados nos arquivos oferecem representações acerca do que seus contemporâneos acreditavam a respeitoda criminalidade e da ação do aparato jurídico-policial. Como toda documentação, as fontes escritas sobre tais temas não são neutras: aqueles que as nos legaram (policiais, juízes, escrivães, etc.) estavam inscritos e trabalhavam com base numa legislação específica; num código de processo penal e em normas sociais e culturais que foram, em grande parte, determinadas pela sua própria ação, formando assim o conteúdo dos documentos que serão analisados nos artigos desta seção. Entretanto, as fontes e os documentos utilizados pelos pesquisadores não são os mesmos para essas todas estas instâncias (polícia, justiça penal, etc.) e se diferem também de acordo com o local e época de sua produção. O contexto sociocultural da cidade e do campo, por exemplo, produz elementos distintos que devem ser levados em consideração no momento da análise. Essa percepção pode ser expandida para todos os elementos daquilo que denominamos “contexto”.

É importante ressaltar ainda que além das peculiaridades desses tipos de documentos, existe uma diversidade de abordagens possíveis sobre a temática do crime e das suas formas de “repressão”. Estas interpretações caminham desde a história social da criminalidade até as perspectivas mais culturais. Como exemplo destas podemos ressaltaros trabalhos ligados aos conceitos de representação e imaginário ou o estudo das sensibilidades e das formas de viver e pensar de criminosos, policiais, prisioneiros e funcionários do aparato jurídico.

Os artigos que compõem este dossiê, além da diversidade de abordagem, se diferenciam também em relação à temática. Concentram em sua maioria trabalhos ligados à História da Polícia, mas também apresentam textos preocupados em analisar a questão penal; em examinar as representações criadas pela imprensa acerca do fenômeno criminal bem comoobservar as possibilidades abertas pelos processos criminais na percepção de determinadas realidades sociais.

No que diz respeito à História da Polícia, o historiador André Rosemberg aborda no texto “A greve pelas oito horas em Santos (1908): em busca do inimigo imaginário”, o agente policial numa perspectiva ainda não muito usual na academia brasileira. Este é analisado também como trabalhador assalariado; um sujeito inserido num campo de múltiplas ações e conflitos. Sendo assim, o objetivo do autor é incluir o policial no rol das ocupações legitimadas do dito “mundo do trabalho”, e não como mero anteparo à resistência de outrem, cuja função única é contrapor, com violência, em nome dos interesses patronais, do governo ou do capital, as reivindicações dos trabalhadores.

Já Lucas Carvalho Soares de Aguiar Pereira analisa as experiências dos guardas-civis no policiamento do meretrício belo-horizontino entre os anos de 1928 e 1934. Para tal o autor utiliza textos publicados nas colunas policiais dos jornais impressos diários da capital mineira, documentos estes que evidenciam certas relações de sociabilidades estabelecidas entre os funcionários da polícia civil, da Força Pública e as meretrizes e, também, as deficiências do projeto de promoção de um policiamento moral, dada a enorme distância entre a vontade controladora e as práticas sociais.

Considerando as estratégias de segurança implementadas pelas autoridades policiais em Salvador entre os anos de 1937 e 1945, o pesquisador Wanderson B. de Souza destaca a atuação cotidiana dos policiais e o envolvimento dos mesmos com práticas transgressivas, violentas e criminosas. Além de uma contribuição para a história da polícia no Brasil, o texto amplia a temporalidade privilegiada pelos historiadores brasileiros, uma vez que a maioria dos trabalhos sobre polícia no Brasil tem se debruçado sobre a chamada “Primeira República”. É importante ressaltar que o texto tem o mérito de inserir o policial como sujeito social que não é amorfo; um sujeito inserido numa trama de interações sociais que não é de longe uma simples marionete nas mãos da classe dominante utilizado para reprimir os subalternos.

No artigo “Polícia Militar paraense: insubordinação, indisciplina e processo de fortalecimento (1886-1897)”, William Gaia Farias observa através da análise de três eventos marcantes na História do Pará e do Brasil a insubordinação, a indisciplina, o despreparo e o envolvimento da corporação policial em disputas políticopartidárias nos anos finais do Império e no início da República. Com essa pesquisa o autor revela questões importantes sobre a História Militar da Amazônia, utilizando os regulamentos militares, os relatórios de governos, os ofícios, os jornais e obras raras como documentação para sua pesquisa.

Com o intuito de perceber parte do conjunto de medidas utilizadas pelos governos da região Nordeste e de debelar os bandos de cangaceiros que assolavam os sertões, Marcos Edilson de Araújo Clemente analisa como as colunas de oficiais e de soldados volantes foram organizadas e articuladas na década de 1920 e como se colocaram nos embates contra o chamado “banditismo social”. De acordo com o autor, este processo por ele pesquisado está relacionado ao contexto de consolidação das formas de poder republicano no Brasil.

Numa perspectiva mais tradicional, Mônica Diniz observou como os chamados “Termos de Bem Viver” foram utilizados pela polícia de São Paulo entre os anos de 1870 e 1890. Segundo a autora, esse recurso legal foi utilizado pelo aparato jurídico-policial no intuito de controlar a vadiagem e ociosidade numa cidade efervescente e em transformação, cujos grupos subalternos precisavam ser submetidos aos ditames dos grupos dominantes.

Ainda no campo da História da Polícia, Francisco Linhares Fonteles Neto analisa em seu texto o processo de criminalização do consumo do álcool ocorrido em Fortaleza no início do século XX. A documentação policial consultada pelo autor revela a existência de uma preocupação recorrente em torno do uso contínuo de bebidas espirituosas, causadoras de problemas físicos e degeneradores: uma ameaça à norma e à moral desejada. Tal situação levou à articulação dos poderes públicos, em especial a polícia, não só no combate ao consumo de bebidas alcoólicas, mas aos lugares de venda desse produto.

Já o historiador pernambucano Flávio de Sá Cavalcanti de Albuquerque Neto observa as experiências e repercussões do trabalho penal na Casa de Detenção do Recife na segunda metade do século XIX. Preocupado em desvendar elementos fundamentais da chamada “História das Prisões”, constrói um panorama sobre as primeiras experiências com o trabalho penal na principal prisão da província de Pernambuco, bem como analisa os debates ocorridos na Assembleia Provincial, na década de 1870, quando a questão da utilidade – penal e econômica – das oficinas esteve, por várias vezes, na ordem do dia.

No campo das análises das representações Ana Gomes Porto, no artigo “Amigos do Alheio: Vadios, gatunos e ladrões em São Paulo no início da República” realiza uma pesquisa acerca da representação da gatunagem e da criminalidade criada pela imprensa em fins do século XIX. De acordo com a autora, esse processo histórico pode ser indicativo de uma tentativa de delinear uma visão do que deveria ser o “trabalhador ideal”. Todavia, nessa tentativa, muitas vezes ocorria uma confusão que induzia a sentidos e apropriações diversas. Assim, notícias de crime tornavam-se dúbias e difusas para o leitor, que poderia fazer interpretações que, muitas vezes, tinham sentido inverso àquilo que a imprensa tentava transmitir.

Por fim, o historiador Deivy Ferreira Carneiro analisa alguns tipos de conflitos e experiências cotidianas de trabalhadores rurais da cidade mineira de Juiz de Fora entre os anos de 1863 e 1930 através da interpretação de processos criminais de calúnia e injúria. Estes processos criminais revelam principalmente algumas dificuldades enfrentadas especialmente por roceiros e pequenos proprietários para manterem suas terras, fundamentais para sua sobrevivência autônoma aos grandes latifundiários da região, especializados na produção de café. O texto mostra ainda um processo social que acabou auxiliando na constituição de uma economia agrícola complementar e alternativa à economia cafeeira da localidade, a saber: a produção de alimentos voltada ao abastecimento do mercado interno.

Em uma seção dedicada a autores internacionais temos a honra de publicar um texto da historiadora portuguesa Raquel Varela. Intitulado: “Ruptura e Pacto Social em Portugal (1974-2012)”, o artigo faz um vigoroso balanço dos recentes acontecimentos sociais, políticos e econômicos que têm infligindo mudanças radicais aos trabalhadores do continente europeu.

Os textos que completam a edição da Revista História & Perspectivas 49 abordam diversos e importantes temas históricos. Em “Migração, Memória e Território: Os descendentes de imigrantes italianos da Microrregião de Aimorés / MG”, Sandra Nicoli, Patrícia Falco Genovez, Sueli Siqueira abordam aspectos vinculados à memória e à narrativa de descendentes de imigrantes italianos chegados à microrregião de Aimorés / MG, no início do século XX, por meio de metodologia específica de História Oral.

Rosa Maria Ferreira da Silva discute a “construção histórica do conceito de cidade e seu correlato, o urbano;” através de experiências de intervenção urbana na cidade de Patos de Minas, localizada na região do Alto Paranaíba em Minas Gerais, em texto denominado: “Cidade e Urbanização, Progresso e Civilização. Reflexões sobre a cidade oitocentista no sertão das Gerais (Patos de Minas, 1868 -1933)”.

“A poderosa “mão invisível” da vida cotidiana: reflexões sobre gênero e trabalho na história das mulheres camponesas” é o título do artigo de Losandro Antonio Tedeschi. Neste o autor analisa como a desigualdade que afeta a história das mulheres em contextos produtivos, que se reproduzem muitas vezes a partir das próprias organizações populares. Percebe e discute a necessidade de construir ferramentas de análise que vão além das políticas econômicas, sociais e culturais para abordar questões como gênero e pobreza de modo relacional. Por fim, discute como, na atualidade, grande parte as mulheres venceram a exclusão, mas não venceram as desigualdades.

Outro artigo que lida com mulheres no “fazer-se” de suas histórias, agora na condição de operárias, foi escrito para esta edição por Junia de Souza Lima. Em, “Conventos e Fábricas. Reclusão, religiosidade e educação no cotidiano de operárias têxteis – Minas Gerais, final do século XIX”, a autora discute a materialização do imaginário religioso católico no cotidiano de algumas fábricas têxteis mineiras no final do século XIX, cujos conventos podem ser considerados a sua maior simbologia. Neste sentido chama atenção para os aspectos educativos e formativos que essas instituições exerciam sobre as mulheres no cotidiano do trabalho fabril; contribuindo para a formação de uma identidade feminina, atrelada à devoção, à abnegação, à dedicação, à maternidade e à família.

O tema dos Regimentos do Santo Ofício é revisitado por Alécio Nunes Fernandes, que buscou entender o caminho que, segundo os manuais e regimentos da Inquisição portuguesa, deveria ser seguido para se chegar à verdade que interessava àquele tribunal. “A construção da verdade jurídica no processo inquisitorial do Santo Ofício português, à luz de seus regimentos” é o título deste artigo.

Abordando um período histórico anterior às inquisições, João P. P Coelho e José Joaquim Pereira Melo, em “Educação, poder e cidadania na Roma Antiga: algumas considerações sobre a formação do governante”, apresentam uma discussão a respeito do projeto de formação do governante — do príncipe — defendido por Sêneca, a partir das condicionantes históricas nas quais o pensador estava envolvido. A partir da conjuntura história apresentada no texto ora citado, Sêneca desenvolveu reflexões a respeito de uma formação do governante fundamentada em valores como a clemência e a racionalidade, virtudes de caráter harmonizador e pacificador que, como demonstram os autores, estavam em convergência com as necessidades de seu tempo.

Esta edição 49 se encerra com uma significativa resenha do livro “Hobbes e a liberdade republicana” de Quentin Skinner, publicado pela editora da Unesp. O autor da resenha intitulada “A metodologia de Quentin Skinner e o conceito de liberdade em Hobbes” é Eduardo Teixeira de Carvalho Júnior, doutorando em História pela PGHIS / UFPR.

Esperamos que os artigos e as análises apresentadas por tais autores despertem o interesse e colaborem para a produção de novos conhecimentos e novas pesquisas.

Conselho Editorial


História do Crime, da Polícia e da Justiça Criminal. História & Perspectivas, Uberlândia, v.26, n.49, 2013. Acessar publicação original [DR].

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História, Memória e Natureza / História & Perspectivas / 2009

Esta edição de História & Perspectivas nos convida a refletir sobre os temas História, Memória e Natureza, nas suas vinculações e retro-alimentações que podem ajudar a percebê-los como elementos chaves nas transformações requeridas nas sociedades contemporâneas, quando a própria natureza está a mostrar a necessidade da volta à história e à memória para nos posicionarmos sobre os erros e acertos incorridos pela humanidade, uma vez que parte dela já reconhece a urgência desta reflexão.

O dossiê que compõe o número 41 inicia uma reflexão sobre agricultura multifuncional e ruralidade. A autora vai a campo para estudar diferentes histórias de agricultores em uma área que está entre as mais produtivas da Itália central, numa época em que se passa de um modelo no qual a valorização econômica se baseava majoritariamente no aumento da produtividade da terra à piora das externalidades negativas da agricultura convencional. Situação que requer um novo pacto social entre os agricultores e seus concidadãos do resto da sociedade, pois as mudanças necessárias requerem a contribuição de todos os seus membros. Dentre elas, pode-se mencionar as que ocorrem neste importante setor, a agricultura, por aqueles que nele atuam e são portadores de uma “racionalidade campesina”, que assume a reprodução dos recursos e a autonomia como pré-requisitos da administração empresarial. Racionalidade que se explicita na capacidade de trabalhar com cuidado os recursos naturais do setor; e que permite e impõe um modo de viver a própria atividade em uma relação estreita com a natureza e a sociedade (VAN DER PLOEG, 2006). Examina histórias que falam de compromisso, e do que Van der Ploeg chama de cura (cuidado), como elemento que caracteriza quem não tem só o dinheiro como objetivo e motor da ação.

Os três artigos seguintes tratam, primeiramente, de alternativas tais como os sistemas agro-florestais e o desenvolvimento local sustentável para este e outro importante setor, o florestal, que permitem aquele tipo de relação com a natureza ao tempo que fornecem à sociedade alimentos e produtos florestais na perspectiva agro-ecológica. O segundo chama a atenção para a cautela que se deve ter ao discutir um dos problemas ambientais mais sérios da atualidade, as mudanças climáticas – que podem trazer consequências graves para os setores mencionados – e que é também uma questão global, a Amazônia. Considera que o meio ambiente é único, desde a esfera subatômica até a dimensão universal, com resultados entre estes extremos: indivíduo, espécie humana, reino animal e organismos vivos. E baseando-se em pesquisa sobre a Iniciativa MAP (Madre de Dios / Peru, Acre / Brasil e Pando / Bolívia), considerada uma das dez regiões mais ricas em biodiversidade do planeta, os autores do texto seguinte buscam problematizar a luta pela dominação da terra na Amazônia, sob condições de aprofundamento da mercantilização da natureza e perda de controle das populações locais sobre seus territórios / recursos, num processo de “desterritorialização”.

Dentre os três artigos finais do dossiê, o primeiro analisa o modo de vida dos beraderos sanfranciscanos antes da construção da represa de Sobradinho, evidenciando que, além de propiciar a eles meios de vida, o Rio São Francisco era a sua principal referência espacial, temporal, cultural. No segundo se discute as modificações ocorridas na vida do homem do campo do distrito de Martinésia, Uberlândia-MG, a partir da década de 1970, com relação às atividades agrícola e pecuária e às formas de viver, trabalhar, se relacionar, nos sentidos e maneiras de vivenciar a terra e a relação com a natureza. O terceiro artigo aponta para uma dimensão central quando se trata da natureza, a cultura, que a autora relaciona à produção intelectual ou artística, e ao modo de vida de uma sociedade, possuindo ainda, o sentido de cultivar, diretamente vinculado aos temas centrais do dossiê: o cultivo dos meios de vida para as sociedades. Relaciona-o também com o cuidado que este cultivo precisa ter com os recursos naturais. Que sejam usados de acordo com os objetivos de uma sociedade que busque se reconciliar consigo mesma, numa época de tantas contradições, conflitos e possibilidades de reconstruções, os quais permitem esta conciliação consigo e com a natureza da qual faz parte, e sobre a qual atua de formas insustentáveis, como a realidade nos mostra e a memória pode revelar.

O documento seguinte já contribui, em sua interface entre a pesquisa e a extensão, com a investigação e coleta de dados sobre transformações sociais e ambientais na região do Triângulo Mineiro nas últimas décadas, ocorridas com a implantação da cana-de-açúcar e produção de álcool e açúcar. Tem como preocupação fundamental, não apenas recolher material, mas, sobretudo, estabelecer contato e discussões com certos grupos de trabalhadores sobre referências e sentidos dos impactos e transformações relacionados a esta atividade e em relação às experiências vividas.

Com relação aos artigos seguintes, o primeiro analisa a ONG Ação Moradia, que atua através de programas ligados à habitação em Uberlândia, construindo moradias ou fornecendo tijolos ecológicos, além de oferecer cursos profissionalizantes e outras atividades de cunho social. Busca compreender o problema da demanda de moradias nesta cidade e o significado da casa própria como representação de acesso à cidadania e conquista do espaço urbano, além de refletir sobre o papel do estado no planejamento do ambiente urbano. O segundo trata da escravidão em Belém, capital da província do Pará, durante a segunda metade do século XIX, nos variados aspectos de constituição e dinâmica da escravidão naquela cidade, tais como mercado, controle social e os conflitos sociais dentro do espaço urbano. O artigo seguinte mostra a mobilização diferenciada de profissionais médicos (civis e militares), professores catedráticos e estudantes de Medicina e Farmácia da Faculdade de Medicina da Bahia, para o importante apoio aos feridos durante a Guerra do Paraguai. E o quarto texto faz a análise de um artigo publicado na revista Veja acerca do Partido dos Trabalhadores em 12 / 09 / 2007. Se pauta no constructo teórico da análise do discurso de vertente francesa, voltando-se para as noções de sujeito e sentido discursivo propostos por Pêcheux (1997), de heterogeneidades segundo Authier-Revuz (2004), dos conceitos de memória e intericonicidade segundo Courtine (2006), e ainda os conceitos de polifonia e dialogismo, segundo Bakhtin.

As duas resenhas tratam primeiro do desenvolvimento territorial, de caráter multidisciplinar, como importante e vasta área de debate acadêmico, com transbordamentos para a prática de gestão de políticas públicas; por sua forma de percepção da realidade através do re-ordenamento espacial do território, entendido não só do ponto de vista geográfico, mas agregando dimensões econômico-sociais que conferem a algumas regiões características singulares. A partir destas, são analisadas as formas de intervenção estatal (modelo top-down) e o processo de gestão participativa, com demandas locais, coadunando as proposições top-down com as do tipo button-up, não em uma defesa do localismo, mas mostrando a importância do capital-social enquanto detonador de um processo de gestão participativa, alicerçado pelo aparato estatal, concatenando os interesses sub-nacionais com os de âmbito nacional. Na segunda resenha, o autor constrói sua narrativa destacando o lugar central que Otelo ocupa pela seletividade de seu passado, oferecido a ler em um movimento de heroicização, com o propósito de que os acontecimentos sobre o artista tenham o caráter de grandeza, transformando-o em herói do cinema e do teatro, e enfatizando a sua notoriedade, brilhantismo e genialidade, espinha dorsal da escrita do autor, pelo manuseio do passado na construção de uma memória sobre Grande Otelo. Uma referência à memória, destacada neste número da revista História & Perspectivas como central ao papel de todos nós na construção de sociedades historicamente referenciadas, socialmente justas e ambientalmente sustentáveis, tarefa para a qual o brilhantismo de todos está sendo solicitado.

Conselho Editorial


História, Memória e Natureza. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.30, 2009. Acessar publicação original desta apresentação [DR].

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Fontes Orais: Perspectivas de Investigação / História & Perspectivas / 2010

É com prazer que lançamos mais este número da Revista Historia & Perspectivas, que tem como tema central Fontes Orais: Perspectivas de investigação. Alguns dos textos que compõem este dossiê foram apresentados no GT: “História, Historiografia e fontes orais: temas, abordagens e perspectivas de investigação”, no Simpósio Nacional de História – ANPUH, ocorrido em Fortaleza em julho de 2009. O propósito deste GT era possibilitar a discussão com os pesquisadores cujas ferramentas de trabalho historiográfico incluíssem as fontes orais, propondo assim o debate sobre vários temas e colocando em foco diferentes perspectivas de abordagem com as fontes orais, refletindo sobre a contribuição que tais pesquisas proporcionam à historiografia ligada à história acadêmica. Como norte para as discussões apresentou-se os desafios de se compreender o uso das fontes orais como instrumento metodológico que coloca pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, sobretudo os historiadores, no diálogo com outros sujeitos sociais que reclamam, no campo da produção do conhecimento histórico, outras possibilidades de interpretação de suas práticas, memórias e histórias no processo de constituição das relações que formam a sociedade.

Assim, dentre os horizontes propostos neste Grupo de Trabalho estavam os desafios dos pesquisadores de redimensionar suas ferramentas conceituais, problematizando a natureza dos conceitos a serem investigados como dimensão deste movimento de formação histórica da sociedade. O trabalho com fontes orais como um diálogo construído com sujeitos exige refletir outras historicidades e problematizar conceitos com os quais lidamos metodologicamente na produção do conhecimento histórico.

A proposta era de reunir pesquisas em torno de temáticas como movimentos sociais, trabalho e trabalhadores, culturas e religiosidade, preservação do patrimônio histórico, campo e cidade, refletindo-as não como temas isolados ou divorciados da vida social, mas pensando-as na dinâmica das lutas inscritas nos processos que forjam e constituem memórias e experiências sociais de sujeitos diversos. Estes trazem no diálogo com pesquisadores a formulação de significados do que fora vivido, como dimensão do tempo presente-passado, constituído em suas consciências e das várias tensões que emergem nas formas de narrar e nas linguagens presentes na produção das fontes orais. Deste modo, a proposta era a de reunir pesquisadores que procurassem refletir os significados destas linguagens e das narrativas na história e na historiografia, tentando avançar no entendimento de que elas são práticas sociais, num universo amplo e diversificado, firmando perspectivas com as quais tentamos dialogar para constituir outras histórias, o que inclui possibilidades de pensarmos outra sociedade.

Nos artigos reunidos neste dossiê estas perspectivas e desafios estão presentes, nos textos que priorizam questões relativas a prática do historiador, a Historia Social e a produção de narrativas enquanto fontes para investigação histórica; o debate historiográfico e as formulações conceituais sobre os sujeitos da história, os desafios de refletir sobre esses percursos no campo acadêmico da produção do conhecimento; bem como as pesquisas que aludem à presença dos trabalhadores nos processos de transformação e disputas pelos espaços urbanos; a precarização das condições de vida e as mutações nas relações de trabalho. Pesquisas recentes que apresentam, em sua diversidade temática, a complexidade de refletir os usos das fontes orais nos horizontes da cultura e dos modos de viver das classes trabalhadoras.

Ainda no tema central, o texto de Luisa Passerini, datado em 1979, quando a autora propunha refletir sobre a aceitação e validade de fontes orais para a história européia, considerando a sua importância como equivalente a outras fontes, mas cujos usos firmavam o intuito de alargar os horizontes da pesquisa histórica no sentido de incluir novas esferas da realidade, como por exemplo, a vida cotidiana e as experiências das camadas sociais oprimidas e subordinadas, ampliando e clareando as metas e os objetivos políticos da escrita da história. A autora nos faz pensar sobre o uso destas fontes como inscritas em perspectivas da Historia Social, no que tange a refletir sobre as especificidades destes materiais orais, implicando uma concepção de que se trata de lidar com uma “expressão e representação da cultura”, isto é, “enquanto narrativas textuais e enquanto dimensão da memória, ideologia e desejos subconscientes”. Neste sentido, “fontes orais referem-se a e derivam da esfera da subjetividade”. Supostos que atentavam para a prática metodológica, nesses anos de embates com a tradição positivista e historicista da historiografia européia. Sob este aspecto vale observar para uma questão que, embora inscrita nestes debates mais amplos no final da década de setenta e oitenta, podemos considerar como presente ainda em nossos debates contemporâneos, ou seja, é preciso então “questionar o conteúdo das categorias e ou dos conceitos utilizados no uso corrente das fontes orais”.

Deste modo, os textos que reúnem o dossiê possibilitam refletir sobre questões candentes e presentes nos debates historiográficos. Uma delas, entender que não se trata de “dar voz aos sujeitos”, considerando-os como excluídos da história, mas de compreender por meio destas fontes a gama de uma cultura que se forja no viver das relações conflituosas — de mando, de poder, de subordinação e insubordinação — que historicamente constituem a sociedade capitalista. Talvez esse seja o significado político que fez com que o uso das fontes orais se tornasse corrente em produções recentes e que acabaram tencionando a natureza da escrita da Historia, no sentido de refletir não mais a validade ou não destes registros; isto é, não apenas a incorporação ou não destas novas linguagens e memórias, mas a de continuar firmando a pretensão de dialogar para fora dos muros do estabelecido, refletindo sobre os mecanismos de poder que se constituem na vida social.

Nesse sentido, caro leitor, a leitura destes textos contribuirá para uma reflexão sobre estas questões, que continuam a existir nos contornos do nosso trabalho e dos nossos debates sobre a História Social.

Nos artigos fora do dossiê estão presentes temas que explicitam outras perspectivas retratando temas diversificados, como a interculturalidade e integração social de imigrantes italianos na Venezuela dos anos 1950, que de certa maneira contribui para deslocar marcos de uma periodização que retrata os fluxos imigratórios europeus para a América no século XIX. Ou textos que contribuem para o debate sobre as práticas de formulação e de constituição do Partido Comunista nestes tempos de resistência ao imperialismo norte-americano. E, por último, artigos que abordam reflexões sobre os fundamentos teóricos e metodológicos presentes na prática do ensino da história.

Esperamos que este volume contribua para refletir sobre os caminhos e as perspectivas de abordagem inerentes à nossa prática social, com intuíto de democratizar o ensino, a pesquisa em história e vislumbrar horizontes possíveis de mudanças na vida social.

Conselho Editorial


Fontes orais: Perspectivas de investigação. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1 / 2010. Acessar publicação original [DR].

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História & Perspectivas – 20 Anos. Desafios da História e da historiografia / História & Perspectivas / 2009

História & Perspectivas comemora seus 20 anos… Uma trajetória marcada pelo enfrentamento de dificuldades, pela dinâmica das tensões, mas também pelas lutas vencidas, pelo orgulho de estarmos inseridos no debate historiográfico deste nosso tempo.

Em 1988, o primeiro número da revista apresentou, como justificativa para sua criação, a necessidade de se criar um veículo de comunicação onde o debate e a troca de experiências possibilitassem a divulgação e a produção do conhecimento histórico. História & Perspectivas se propunha a ser um espaço que comportasse enfoques teóricos múltiplos e questionamentos capazes de contribuir com a reflexão historiográfica. Acreditamos que esses objetivos têm sido alcançados nessa trajetória de 20 anos, acompanhando as mudanças do presente que solicitam o renovar de nossas análises e de nossas interpretações sobre o passado.

De lá para cá, vários Conselhos Editorias assumiram a responsabilidade pela publicação, deixando nela as suas marcas. A todos levamos o nosso reconhecimento pelo esforço e dedicação, conseguindo manter a qualidade do periódico. Publicando artigos de pesquisadores nacionais e estrangeiros e abordando temáticas variadas, a revista tem ocupado um lugar importante no conjunto da área de História. Hoje ela está vinculada ao Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia, sob a responsabilidade do Núcleo de Pesquisa e Estudos em História, Cidade e Trabalho – NUPEHCIT. Nessa nova fase, iniciada em 2007, nossas expectativas encaminham-se para ampliar as possibilidades de compreensão das experiências históricas, analisando os sentidos das mudanças sociais que nos informam sobre os modos de viver em diferentes tempos e espaços. Continuamos com a preocupação de estimular o diálogo com múltiplas posições, assim como o debate com variados campos do conhecimento.

Neste número 40 retomamos, portanto, os Desafios da História e da Historiografia, trazendo artigos que refletem a produção do conhecimento histórico em várias dimensões. Estão no foco das análises: as diferentes perspectivas da historiografia contemporânea; o compromisso político e social do historiador ao interpretar as mudanças históricas, buscando novas formas de compreendê-lo; as leituras diferenciadas a respeito do materialismo histórico-cultural e de vários autores cujos conceitos continuam fundamentais como campos de reflexão e de compreensão das relações entre presente e passado, entre teoria e realidade.

Um tributo a Prof.ª Dr.ª Dea Ribeiro Fenelon se justifica pela contribuição da historiadora à área, na sua luta diária pela História, como também pela sua presença marcante no nosso trabalho, contribuindo com as nossas reflexões, sugerindo caminhos e apresentando opções para nossa inserção no social. Republicamos neste número um artigo de sua autoria, ainda marcado pela atualidade das questões propostas em torno do tema História e Cultura.

Nos artigos, temas variados estão em discussão, lidando com as relações entre história e literatura, história e imprensa, história e cultura e história e política. Duas resenhas encerram esse número de História & Perspectivas, apresentando a primeira, uma avaliação da obra Imagem e conhecimento e a segunda uma análise do livro Jacob Burckhardt´s social & political thought.

Convidamos os leitores a dividirem conosco o prazer da leitura. Esperamos que as análises propostas pelos diversos autores despertem o interesse e incentivem a produção de novos conhecimentos.

Conselho Editorial


História & Perspectivas – 20 Anos: Desafios da História e da Historiografia. História & Perspectivas, Uberlândia, v1, n.40, 2009. Acessar publicação original [DR].

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Produzindo história: ensino e pesquisa / História & Perspectivas / 2008

Educação, pesquisa e ensino são temáticas que continuam fundamentais no debate contemporâneo, neste momento de incertezas e de necessidade de repensar as possibilidades de uma sociedade menos excludente e mais participativa. Embora a educação continue sendo apresentada (abstratamente) como remédio para os males brasileiros, ela é, ao mesmo tempo, questionada nos seus resultados negativos, buscados nos índices de eficiência da escola fundamental e média e nos de produtividade do ensino superior.

Os dossiês que compõem esse número 38 de História & Perspectivas – Produzindo Histórias: pesquisa e ensino e História da Educação – buscam a nossa inserção nesse debate, deslocando os focos de análise e trazendo outras temáticas para a reflexão.

No primeiro estão em debate os livros didáticos, suas interpretações sobre a história e os caminhos de abordagem percorridos. Entre as temáticas, a linguagem imagética e as imagens sobre os negros nos livros de História. Nesse dossiê, uma outra problemática que se coloca para discussão é a das políticas públicas para a educação, englobando as relações entre educação e trabalho, pensando a inserção dos profissionais da área no mercado. Centralização, posturas autoritárias, relações clientelistas, preparo didático-pedagógico estão no foco dos diversos artigos dessa seção.

Duas resenhas contemplam o dossiê Produzindo Histórias: pesquisa e ensino. Elas trazem indicações de leitura sobre o ensino de história e os desafios da área para o século XXI. Ensinar história é uma prática social onde se manifestam diferentes interpretações sobre o mundo e de onde emergem valores que pautam nossas ações enquanto historiadores. Ao contrário das visões superficiais que associam a diversidade ao “tudo é história”, o ensinar exige pesquisa e reflexão teórica para produção de um conhecimento que sempre se renova.

No dossiê História da Educação contamos com análises de situações vividas em outros países, no caso Chile e Portugal, em estudos variados: a educação em asilos femininos; a escola Conde de Ferreira em Mafra; a Escola Nova nos Prêmios Nacionais em Educação no Chile. São preocupações dos autores pensar a educação em múltiplas abordagens, ou seja, como projeto de regeneração moral, como política de salvação da nação pela via da instrução ou pelas influências do pensamento pedagógico de Jonh Dewey. Contemplam esse dossiê artigos de pesquisadoras brasileiras, enfocando as atividades educativas desenvolvidas por oficiais do Exército que contribuíram para a construção da identidade da corporação e o papel educativo da imprensa na formação do cidadão republicano, ao disseminar princípios, como disciplina, e hábitos de trabalho. A cultura escolar da Europa é o foco de uma resenha que aponta para a leitura de uma produção historiográfica sobre a história da educação européia, em uma perspectiva histórico-cultural, abordando temas como currículos, manuais, fontes para pesquisa e tendências de interpretação no campo da História da Educação.

Por último, a reformulação curricular dos cursos de graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia é apresentada neste número de História & Perspectivas como uma experiência de ensino recente, inserida na exigência de mudanças, feitas pelas diretrizes curriculares nacionais. Essa exigência resultou, no caso da UFU, na implantação de um novo projeto pedagógico, ainda em andamento. O nosso objetivo aqui é compartilhar essa experiência com todos aqueles que estão trilhando esse caminho, considerando que as situações vividas pelos diversos cursos superiores possibilitaram escolhas diferenciadas no enfrentamento das exigências da política nacional para a educação.

Conselho Editorial


Produzindo história: ensino e pesquisa. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.38, 2008. Acessar publicação original [DR].

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História da Educação / História & Perspectivas / 2008

Educação, pesquisa e ensino são temáticas que continuam fundamentais no debate contemporâneo, neste momento de incertezas e de necessidade de repensar as possibilidades de uma sociedade menos excludente e mais participativa. Embora a educação continue sendo apresentada (abstratamente) como remédio para os males brasileiros, ela é, ao mesmo tempo, questionada nos seus resultados negativos, buscados nos índices de eficiência da escola fundamental e média e nos de produtividade do ensino superior.

Os dossiês que compõem esse número 38 de História & Perspectivas – Produzindo Histórias: pesquisa e ensino e História da Educação – buscam a nossa inserção nesse debate, deslocando os focos de análise e trazendo outras temáticas para a reflexão.

No primeiro estão em debate os livros didáticos, suas interpretações sobre a história e os caminhos de abordagem percorridos. Entre as temáticas, a linguagem imagética e as imagens sobre os negros nos livros de História. Nesse dossiê, uma outra problemática que se coloca para discussão é a das políticas públicas para a educação, englobando as relações entre educação e trabalho, pensando a inserção dos profissionais da área no mercado. Centralização, posturas autoritárias, relações clientelistas, preparo didático-pedagógico estão no foco dos diversos artigos dessa seção.

Duas resenhas contemplam o dossiê Produzindo Histórias: pesquisa e ensino. Elas trazem indicações de leitura sobre o ensino de história e os desafios da área para o século XXI. Ensinar história é uma prática social onde se manifestam diferentes interpretações sobre o mundo e de onde emergem valores que pautam nossas ações enquanto historiadores. Ao contrário das visões superficiais que associam a diversidade ao “tudo é história”, o ensinar exige pesquisa e reflexão teórica para produção de um conhecimento que sempre se renova.

No dossiê História da Educação contamos com análises de situações vividas em outros países, no caso Chile e Portugal, em estudos variados: a educação em asilos femininos; a escola Conde de Ferreira em Mafra; a Escola Nova nos Prêmios Nacionais em Educação no Chile. São preocupações dos autores pensar a educação em múltiplas abordagens, ou seja, como projeto de regeneração moral, como política de salvação da nação pela via da instrução ou pelas influências do pensamento pedagógico de Jonh Dewey. Contemplam esse dossiê artigos de pesquisadoras brasileiras, enfocando as atividades educativas desenvolvidas por oficiais do Exército que contribuíram para a construção da identidade da corporação e o papel educativo da imprensa na formação do cidadão republicano, ao disseminar princípios, como disciplina, e hábitos de trabalho. A cultura escolar da Europa é o foco de uma resenha que aponta para a leitura de uma produção historiográfica sobre a história da educação européia, em uma perspectiva histórico-cultural, abordando temas como currículos, manuais, fontes para pesquisa e tendências de interpretação no campo da História da Educação.

Por último, a reformulação curricular dos cursos de graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia é apresentada neste número de História & Perspectivas como uma experiência de ensino recente, inserida na exigência de mudanças, feitas pelas diretrizes curriculares nacionais. Essa exigência resultou, no caso da UFU, na implantação de um novo projeto pedagógico, ainda em andamento. O nosso objetivo aqui é compartilhar essa experiência com todos aqueles que estão trilhando esse caminho, considerando que as situações vividas pelos diversos cursos superiores possibilitaram escolhas diferenciadas no enfrentamento das exigências da política nacional para a educação.

Conselho Editorial


História da educação. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.38, 2008. Acessar publicação original [DR].

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Imprensa e Memória / História & Perspectivas / 2008

Imprensa e Memórias é o tema selecionado pela revista História & Perspectivas para compor o seu número 39. Ao longo desses anos, a revista tem enfrentado o desafio de propor reflexões não apenas no âmbito da História, mas de forma ampla no das Ciências Humanas.

Neste presente número, temos a articulação entre imprensa e memórias como um campo rico de investigação e debate. No Brasil, os estudos sobre a imprensa não se circunscrevem aos pesquisadores da área da comunicação e têm avançado em suas problematizações, contando com a importante contribuição de historiadores, cientistas sociais e tantos outros interessados em desvendar as diferentes formas de imprensa, seus complexos caminhos e espaços de composição. Historiadores que trabalham numa perspectiva de fazer uma história da imprensa se somam a outros que, para além desta preocupação, discutem os processos de produção, expansão e instituição da imprensa nas suas múltiplas historicidades, enfrentando diversas linguagens e narrativas que compõem o seu universo.

Tais perspectivas apontam para a imprensa como espaço amplo de produção e circulação de jornais, revistas, livros, materiais impressos e não impressos e, porque não dizer, um lastro de produção virtual que conquista ordem e sentido no mundo contemporâneo da comunicação. As possibilidades de pesquisas proporcionadas por esse campo podem nos colocar diante de muitas histórias: história da imprensa, do livro, do jornal, da leitura, da instrução, e assim podemos seguir enumerando. Histórias que também desvendem seus produtores, seus sujeitos e redes de relações sociais como parte constitutiva da vida em sociedade.

Importante, nesta trajetória, é considerar a articulação entre imprensa e memórias enquanto relação necessária à reflexão de todos nós que lidamos com esses materiais. Como discutir a experiência de produção de memórias dentro do vasto empreendimento da imprensa? De que modo enfrentar sua materialidade, suas linguagens, sua força social? Explorar a memória, nesse sentido, pode tornar possível a construção de uma visibilidade para sujeitos e projetos distintos.

Os artigos que compõem o dossiê apresentam caminhos de reflexão para esses estudos. Seja ao discutir os sentidos de comemoração por ocasião dos 200 anos de imprensa, para pensar no que existe por detrás dos festejos e discursos laudatórios e propor um olhar mais amplo e crítico dos estudiosos para o presente e para as posições que assumimos historiográfica e historicamente em relação aos marcos históricos; seja na investigação da constituição de uma imprensa feita por trabalhadores, para discutir os significados de uma imprensa popular ou ainda compreender os sentidos da experiência desses trabalhadores na cidade. Tudo isso adverte para a necessidade de refletir sobre a existência de múltiplas experiências de imprensa, constituindo força em diferentes espaços de ação, para desvendar os vários circuitos, a formação de redes de comunicação, os caminhos dos livros, da literatura, etc., buscando provocar a construção de novos horizontes de pesquisa em meio às interrogações sobre o tema.

Para além da temática central deste número, a revista publica tradução de artigo de Alessandro Portelli, analisando diferentes maneiras de abordar os fatos históricos, as dos historiadores e as dos narradores sociais, buscando explicar os significados dessas divergências e artigos de pesquisadores de diversas instituições do país, que abordam temas variados que trazem questões metodológicas importantes, como os significados de nação, formação de identidades, história e política.

Na sessão de resenhas são apresentadas duas publicações, onde, na primeira, os desafios de refletir sobre diversidade, políticas públicas e cidadania cultural estão no foco das análises sobre o Apartheid e, na segunda, esse foco se situa nas relações entre memórias, histórias, culturas e linguagens.

Essas investigações permitem entrar na discussão dos vários temas da vida social, dos enfrentamentos cotidianos que circulam entre os jornais, as revistas, a literatura. Permitem perguntar sobre os modos como lidamos com cada conjunto documental, como colocamos as questões para o presente pelo diálogo entre pesquisadores e materiais de pesquisa e para nós mesmos enquanto historiadores e pesquisadores preocupados com as mais variadas realidades. Ao apresentar diferentes percursos de pesquisa, indicados pelas escolhas e maneiras de lidar com as mais variadas fontes e perspectivas de História, para além de fazer circular as idéias, História & Perspectivas lança o desafio do debate.

Conselho Editorial


Imprensa e Memória. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.39, 2008.

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Cultura, cidade e trabalho / História & Perspectivas / 2007

A Revista História & Perspectivas, criada em 1988, completará em 2008 vinte anos de existência, trajetória marcada pelo constante esforço por apresentar investigações, reflexões, produzidas ao longo dos anos pelos Cursos de História da Universidade Federal de Uberlândia, bem como pelos mais diversos pesquisadores do País, que têm colaborado para tornar esta revista um importante espaço de debate.

Em meio a tantos percursos já trilhados, contando com o apoio e trabalho de vários professores e pesquisadores, a Revista vive neste momento uma fase de mudança. A partir do segundo semestre de 2007, o Núcleo de Pesquisa e Estudo em História, Cidade e Trabalho – NUPHECIT assumiu a Coordenação das atividades da Revista História & Perspectivas. Reunindo professores e alunos da graduação e pós-graduação, o Núcleo construiu como tema articulador de suas preocupações a discussão central sobre cidade e trabalho, que tem sido ampliada, nos últimos anos, com a reflexão em torno de memórias e linguagens, resultado de trabalhos desenvolvidos com outros núcleos de estudo.

Desde aquele momento em que nos colocamos o desafio de pensar a cidade e o trabalho como campos de investigação necessários, nossas expectativas encaminham-se para ampliar possibilidades de compreensão das experiências históricas, acompanhando os sentidos das conformações que desenham socialmente modos de viver e suas transformações. Para isso, estimulamos o diálogo com múltiplas posições e estabelecemos o debate com variados campos de conhecimento.

O tema Cultura, Cidade e Trabalho, ao longo das últimas décadas na historiografia brasileira, e também nas áreas afins, tem provocado pesquisadores a apresentar renovadas questões no âmbito das mais diferentes abordagens. Estimulou no passado, e tem nos instigado hoje ainda, a organizar perguntas, explorar múltiplas dimensões das fontes, desafiando as diferentes linguagens que as constituem e nos fazendo olhar para outros espaços de reflexão a respeito da história e de nossa própria prática. Tal tarefa tem exigido dos pesquisadores cada vez mais atenção para nossas trajetórias teórico-metodológicas, assim como para os sentidos políticos de nossas escolhas.

O texto de Alessandro Portelli, aqui traduzido, e os debates que em Uberlândia tivemos com o autor no ano de 2007 têm nos ajudado a aprofundar reflexões entre histórias, memórias e fontes orais, a pensar sobre pesquisas com documentos e narrativas orais, a problematizar os procedimentos históricos na discussão da natureza específica dessas fontes e de outras, a analisar o processo de construção das interpretações na perspectiva da História Social. Os vários artigos que compõem os Números 36 e 37 nos convidam à leitura pelos mais variados percursos investigativos, sejam eles lidando com a história oral, com a imprensa, com outras documentações, que sempre fazem enfrentar diferentes temas e sujeitos: a cidade, o trabalho, a organização do espaço urbano, os usos da água, a atividade garimpeira, a exploração de madeira e a agricultura; trabalhadores negros, pobres, imigrantes, garimpeiros e muitos outros que fazem parte das pesquisas aqui apresentadas.

Com estes temas, pretendemos reavivar campos de reflexão fincados na perspectiva da História Social, cujo entendimento passa pela nossa atenção às relações entre os homens, como constroem suas vidas socialmente, como estas se expressam historicamente entre os diversos grupos sociais, nas lutas sociais, na organização de trabalhadores e moradores da cidade e do campo a constituir vivências que se expressam em formas e ritmos específicos. A trajetória de tornar visível a multiplicidade de processos e sujeitos sociais e suas relações não começou agora, mas continua a nos desafiar. É com esse espírito que, nesse momento, damos prosseguimento às atividades da Revista História & Perspectivas.

Conselho Editorial


Cultura, cidade e trabalho. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.36-37 – jan./dez. 2007. Acessar publicação original [DR].

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História e Poética / História & Perspectivas / 2006

No presente número trazemos um dossiê temático sobre História e Poética. Muito embora este tema seja bastante atual e refletido como problemática de diferentes formas na produção historiográfica contemporânea, ele se inscreve em uma longuíssima duração, que pode ser remontada desde, pelo menos, o século V a.C., quando a civilização grega começou a separar os domínios da épica e da historiografia. Em Aristóteles, especialmente em suas obras sobre poética e sobre retórica, a questão é formulada de uma maneira que se tornou canônica, ainda que reinterpretada constantemente ao longo dos séculos nos campos da Filosofia, da História e da Crítica Literária. Em linhas gerais, tomando a tragédia como gênero exemplar, Aristóteles define a poética como representação verossímil de ações que não ocorreram, mas que tocam questões universais próprias da Filosofia, em oposição à História, entendida como narrativa verdadeira sobre acontecimentos particulares.

Hoje, sobretudo a partir da crise dos modelos totalizantes e positivistas da História, a noção de verdade histórica tornou-se muito mais próxima daquilo que Aristóteles chamava de verossimilhança. A Crítica Literária, por sua vez, preocupa-se crescentemente com o caráter histórico particular de seus objetos. Dessa forma, os limites entre História e Literatura têm-se tornado muito tênues e as abordagens transdisciplinares bastante recorrentes.

Ainda que parcialmente, o presente número da revista H&P mapeia, no conjunto das colaborações que compõem este dossiê, maneiras variadas de estudar historicamente a “literatura” e outros “objetos retórico-poéticos” do passado. Nesse sentido, alguns colaboradores do número têm formação em Literatura e outros em História e seus recortes temporais vão desde a época medieval até o modernismo, cada qual trabalhando a partir de pressupostos teórico-metodológicos próprios.

Mônica Amim e José D’Assunção Barros abordam assuntos inscritos no período medieval. A primeira estuda exemplares textuais da tradição celta, problematizando a sua apropriação como um elemento que colabora para a construção de identidades nacionais européias. Barros, por sua vez, estuda a tradição trovadoresca ibérica nos séculos XIII e XIV, mostrando como ela pode ser lida a partir do momento em que o processo de centralização do Estado português colocava em xeque o poder da nobreza e seus valores políticos. Poética e política é o assunto geral abordado por Lara Vilà, que analisa a adoção do modelo virgiliano de épica no século XVI na Espanha e na Itália, demonstrando as diferenças entre as formas assumidas pelo gênero em dois contextos políticos diferentes do Renascimento.

Os artigos de Luiz Cristiano de Andrade, Luís Filipe Silvério Lima e Ricardo Valle centram-se em temáticas relacionadas às práticas letradas do Império Português nos séculos XVII e XVIII. Andrade avalia os preceitos de “boa historiografia” em Manuel Severim de Faria, mostrando o que poderia caracterizar a História como gênero retórico-poético nos seiscentos, articulando-o ao discurso epidítico. Lima, por sua vez, analisa os significados teológico-políticos do uso recorrente de sonhos, visões e profecias em exemplares retórico-poéticos portugueses do século XVII. Já Ricardo Valle propõe uma releitura dos sentidos políticos dos encômios poéticos de Cláudio Manuel da Costa, revendo noções anacrônicas como “despotismo esclarecido” ou “iluminismo” quando aplicadas à tradição bucólica no século XVIII em Portugal e na América portuguesa.

Silvia Cristina Martins de Souza, Daniela Santos e Marcos Rogério Cordeiro Fernandes tratam de obras e autores da literatura brasileira do século XIX e do início do século XX. O teatro musicado de Francisco Correa Vasques é o assunto de Souza, que o aborda sob o prisma da História Social e Cultural do Império Brasileiro e de sua corte, analisando a obra Orfeu na Roça. Santos revisita a obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, tratando-o como testemunho do processo de higienização da cidade e de suas implicações políticas no final do século XIX. Por último, Fernandes investiga a representação modernista da sociedade brasileira, analisando a poesia de seus expoentes mais canônicos: Mário de Andrade e Oswald de Andrade.

Com este dossiê, a revista História & Perspectivas oferece mais uma ótima contribuição para divulgação de pesquisas inéditas e originais nos campos da historiografia e áreas correlatas desenvolvidas no Brasil e no exterior, tratando de um assunto que, apesar de antigo, mostra-se atual e renovado.

Guilherme Amaral Luz – Organizador do Dossiê.


LUZ, Guilherme Amaral. História e Poética. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.34, 2006. Acessar publicação original [DR].

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Cultura Popular / História & Perspectivas / 2006

Neste número da revista História & Perspectivas, além do Dossiê História e Poética, já previsto, publicamos também o Dossiê Cultura Popular. O Dossiê História e Poética foi organizado por Guilherme Amaral Luz, que também fez a apresentação detalhada dos artigos que compõem o mesmo. Este dossiê faz parte de um planejamento anual do Conselho da H & P, que definiu para o ano de 2006, com possibilidade de continuidade nos próximos anos, a prática de fazer a “chamada” para artigos tendo como norte algum tema já preestabelecido. Nosso intuito ao realizar este tipo de “chamadas” é o de aprofundar um tema de forma interdisciplinar e abrangente. Para isso, realizamos uma ampla divulgação da chamada, a fim de recebermos artigos de pesquisadores nacionais e internacionais, além de tentarmos traduzir artigos inéditos relativos ao tema em questão. A proposta dos dossiês facilita o convite a pesquisadores já consolidados no estudo do tema em questão, a fim de contribuir com o aprofundamento do debate. Neste primeiro número em que efetivamos esta proposta, acabamos por formar dois dossiês porque, coincidentemente, recebemos quatro artigos com recortes e temáticas afins, o que nos permitiu agrupá-los na forma de um dossiê que contempla análises sobre e / ou problematizam a concepção de Cultura Popular, seja nos estudos históricos de festas populares e jogos de capoeira, seja na apresentação etnográfica de festas religiosas, tais como as Folias de Santos Reis e as práticas dos seus intermediários culturais.

Nos próximos números da História & Perspectivas, teremos respectivamente os dossiês Subversão e Áfricas. Outra novidade editorial da H & P será sua inserção no SEER-IBICT-MCT, ou seja, a publicação deste periódico também em formato eletrônico, o que possibilitará o acesso gratuito e on-line a todos os artigos no seguinte endereço: www.historiaperspectivas.inhis.ufu.br.

Conselho Editorial


Cultura Popular. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.34, 2006. Acessar publicação original [DR].

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Subversões / História & Perspectivas / 2006

 

Diz que eu não sou de respeito

Diz que não dá jeito

De jeito nenhum

Diz que eu sou subversivo

Um elemento ativo

Feroz e nocivo

Ao bem-estar comum

(Chico Buarque. Fica. 1963)

Há um forte aspecto moral atrelado ao vocábulo “subversão”, como bem o sintetizou Chico Buarque, na figura do sujeito “nocivo ao bem-estar comum”. A preservação do bem-estar comum é justamente uma prerrogativa daqueles que mantêm a ordem, ou seja, as autoridades responsáveis pela preservação das estruturas que nos tornam parte deste coletivo “comum”. A comum-unidade seria nossa garantia de pertencimento, constituição portanto de uma identidade subjetivo-objetiva, pois nos daria o sentido efetivo de ser à medida em que estamos em um grupo.

Nesse contexto hipotético de “bem-estar comum”, a subversão assume uma conotação política extremamente negativa, na medida em que emperra ou ainda, inviabilizaria o necessário e esperado desenvolver dos indivíduos, grupos, sociedades. Uma problemática cara à modernidade foi justamente o deslocamento da concepção de subversão e de atos subversivos para o campo das lutas contra todo tipo de estruturas e conjunturas excludentes, opressivas, repressoras e promotoras da desigualdade. A subversão, nessa abordagem genérica, seria então tudo aquilo que gera tensão, posicionamento crítico, inversão, suspensão, desestabilidade, de maneira indireta ou direta, nas normas e estruturas predominantes sejam no plano moral, político, religioso, subjetivo, amoroso, tempo-espacial, etc., etc.

A opção por agregar diversas pesquisas com diferentes recortes temáticos, teóricos e temporais, que incluíssem no rol de problemáticas a questão das práticas subversivas nos pareceu extremamente oportuna, no contexto da cultura brasileira e internacional atual. Vivemos ainda o impacto de uma “ressaca moral”, resultante das decepções contínuas e dos aparentes / efetivos fracassos dos projetos revolucionários que deram fôlego e ânimo para as gerações que nos antecederam. As possibilidades de transformações radicais, amplas e de cunho global não ressoavam como mero devaneio de esquerdistas jovens e barbudos. No meio da dor e vazio de presenciar minguadas assembléias de trabalhadores (em especial dos profissionais do ensino superior), centrais sindicais e sindicatos em “pé de guerra”, movimentos populares cooptados por governos ditos populares, conflitos étnicos e confrontos bélicos nos morros, nas montanhas, no deserto, brotava verde, bem verde mesmo, a pergunta: não há “reação”? A apatia e silêncio dos lugares antes considerados legítimos representantes do coro dos descontentes é sinal de que nos consideramos “vencidos” ou simplesmente não queremos mais “brincar” de democracia com lugares e cartas marcadas e estruturas estatais viciadas? Foram as práticas, os atos e sujeitos da subversão que sofreram mutações e nossos conceitos, categorias e ferramentas não mais se ajustam à dinâmica dos novos movimentos? Onde podemos encontrar os sinais vitais do que resiste, desconcerta e revigora nossa esperança na construção de formas e modos de ser e de viver menos claustrofóbicos? Onde estão os novos e muitas vezes invisíveis muros que nos enredam e nos alienam dos laços afetivos, da participação política, do engajamento no nosso “bem-estar”? O que temos feito consciente, voluntária e involuntariamente em função daqueles princípios básicos e elementares que caracterizaram a modernidade: autonomia, a liberdade, diante de nossa servidão aos outros e ao império dos nossos desejos e sentidos? A “sociedade de consumo” teria consumido a matéria-prima de nossas ilusões e paixões revolucionárias e domesticado nossas agendas políticas?

O lado instigante do termo subversão é justamente este, a não inerência de um projeto específico ou de uma ideologia ao seu conteúdo político. Nem toda subversão colabora ou vai ao encontro das transformações que ousaríamos promover na luta por subjetividades menos egocêntricas, sociedades menos desiguais em termos de distribuição e usufruto das riquezas naturais e sociais. Certas subversões no interior, por exemplo, de um estilo musical ou artístico mainstream não necessariamente contraria os interesses da Indústria do disco ou do status quo das artes tomadas como objetos de luxo de extremo valor financeiro. No entanto, o olhar atento para as manifestações inusitadas ou vulgarizadas no estilo pop “autorizado” de determinadas práticas subversivas, as quais, em alguns casos, utilizam-se da linguagem kitsch para se manifestarem, abrem poros, ainda que minúsculos, por onde se renova o oxigênio que alimenta nossa produção de outras humanidades.

Cada artigo que compõe este dossiê traz um destes poros, aberturas e instigam nossa capacidade crítica e ética a rever temas clássicos. Ampliam, ora com telescópio, ora com microscópio, nossa percepção do mundo e da própria noção e singularidade das subversões que, felizmente, nos rondam. Os artigos foram organizados em três grupos seqüenciais: 1) o grupo de artigos que, por diferentes vias, problematizam as sexualidades subversivas, ou, ainda, os conceitos e o próprio histórico do que consideramos ser a sexualidade, a prostituição, o homoerotismo, as diferenças entre identidade de gênero e identidade sexual, e as variações na composição estética da imagem ora viril ora efeminada de homens que “transam” homens. Assim, Piscitelli nos apresenta uma instigante e polêmica análise dos conflitos entre o próprio pensamento feminista, os “acordos” e protocolos (no caso o de Palermo) que visam garantir direitos de minorias e o enunciado produzido pelas trabalhadoras do sexo sobre o lugar que ocupam no jogo do mercado sexual e suas expectativas de vida, que muitas vezes frustram o ideal moralista que temos sobre o ato da prostituição e o perfil vitimado da praticante. Algumas fronteiras, tais como a migração de mulheres brasileiras para a Europa para trabalharem na indústria do sexo e o Tráfico (e toda a violência nele implícita) de pessoas, são alvo de uma fina reflexão que tem na categoria do consentimento um dos principais aportes. Parizi, a partir de sua prática como psicólogo, nos coloca diante de imagens fotográficas e cinematográficas cujo conteúdo traz à baila um rico contexto histórico de mudanças na auto-imagem do “homossexual” e algumas tentativas que convivem com a tensão entre enfrentar a homofobia a partir de práticas afirmativas ou autodestrutivas. O universo erótico produzido por Tom of Finland potencializa o que Piscitelli havia denominado de relação entre “sujeição-subversão”. Daniel Barbosa dos Santos, a partir de uma leitura rente da história da sexualidade de Michel Foucault e de D. Halperin, envereda pela indagação antropo-filosófica sobre os possíveis elos e distâncias culturais entre a tradição clássica helenista, sua arte erótica e a ética das práticas e predileções sexuais por parceiros do mesmo sexo e a maneira como a modernidade “cria” determinadas condições de objetividade à sexualidade e à homossexualidade. O último artigo deste grupo, embora não toque na questão da sexualidade, aborda, de maneira instigante, as relações de gênero e as reformulações das representações do masculino e do feminino no sertão nordestino. Nesse sentido, tendo a prática do bordado como mote, Martins e Liliana Chagas estudam as mudanças nas relações de trabalho, cultura e identidade do sertanejo, pois junto com a nova “técnica” vem toda uma mudança nos modos de subjetivação.

O segundo grupo tem a arte como ponto de partida para pensar as ligações entre o estético e o político, as acomodações e subversões do repertório artístico no diálogo com o seu momento. Assim, Costa retorna à poética de Pablo Neruda unindo trajetória literária e trajetória de vida e engajamento político naquilo que elas se complementam e-ou transcendem. Marko Monteiro, enfrenta um tema “da hora”. A bio-arte, as mútuas e múltiplas interfaces entre teconologia, corpo e criação estética propondo fundamentalmente uma revisão das nossas concepções artísticas e filosóficas sobre a materialidade do corpo e de seu diálogo com a racionalidade tecno-lógica contemporânea que extravasa e recria os limites entre natural-cultural, biológico-maquínico.

Os últimos artigos do dossiê tocam nas feridas da historiografia, tanto nas questões metodológicas e conceituais, quanto nos temas clássicos do debate político. Débora Andrade, com fôlego e densidade, busca na releitura e reescrita da biografia do historiador escocês do século XIX, Thomas Carlyle, conjugar sua obra escrita com os grandes embates políticos e pensadores de sua época. Mais do que um contexto de sua produção intelectual, a autora provoca a historiografia contemporânea a rever os lugares atribuídos a Carlyle, não para redimi-lo ou glorifica-lo, pelo contrário, para avaliar a dimensão de sua contribuição e temporizar a áurea conservadora do autor e a importância dos temas que o mesmo trouxe à tona, tais como o entendimento moral e político do culto aos heróis em diferentes momentos históricos. Alysson Freitas analisa as representações mais comuns ao universo sertanejo, elaboradas pela historiografia colonial. Coloca como contraponto as interpretações e produções representativas de um “novo sertão”, produzidas no século XIX, em contraste com as leituras historiográficas do período.

Por último, de certa maneira o texto que finaliza o dossiê e inaugura uma nova sessão na revista, figura o ensaio experimental de Fabrício que não só coloca o tema da subversão como reflexão, mas subverte de forma lúdica e instigante o que em geral concebemos como corpo do texto e notas de rodapé. História e literatura se bicam uma vez mais, colocam uma à outra seu próprio inventário de questões dirigidas ao Alienista e seus arredores estético-éticos.

Pode ser que o leitor desconfie, indague, revire ou se entusiasme com as diferentes leituras agrupadas neste dossiê. No entanto, o mais importante é que deixe seu olhar e seu ver voltados para as brechas, frestas, que o façam atinar para as suas próprias subversões.

Karla Bessa

Dezembro de 2006


BESSA, Karla Adriana Martins. Subversões. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.35, 2006. Acessar publicação original [DR].

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Nação-Região; Memórias: abordagens, escritura / História & Perspectivas / 2004

Reunindo trabalhos que tratam de momentos decisivos da história da ocupação da terra e da gestão da população em Minas e no Triângulo Mineiro, este número 31 da revista História & Perspectivas abre-se com um dossiê composto por alguns estudos relacionando as transformações regionais com a história política, econômica e cultural do país.

O abrangente campo destas relações nação-região é visto sob vários aspectos: primeiramente através de um artigo sobre as forças militares da Capitania de Minas Gerais na segunda metade do século XVIII num contexto de intenso recrutamento militar devido às guerras de fronteiras no sul; em seguida estas relações são consideradas numa perspectiva sócio-econômica em dois estudos que examinam, num caso, o trabalho escravo na economia de subsistência do Triângulo Mineiro no processo de inserção da região na economia capitalista, e no outro, a política agrícola implementada nos anos 1960 a 1985, a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural e os custos sociais desta modernização rural em termos regionais e nacionais. Ainda no campo destas relações nação-região, publicamos uma análise sobre a influência do catolicismo e das características culturais regionais na expansão da religião kardecista no Brasil.

Este número apresenta também um outro conjunto temático formado por três artigos sobre a memória. Eles abordam, segundo seus diferentes objetos de análise, as formas de produção social, individual, os modos de representação e de escrita da memória – ou do esquecimento, conforme trata deste último o texto sobre a construção de uma memória histórica paulista que cria seus mitos, mas exclui importantes aspectos de seu passado. A questão das representações da memória é trabalhada através das experiências cotidianas da mulheres brasileiras na passagem do século XIX para o XX, vistas na escrita literária de Júlia Lopes de Almeida. Este conjunto se encerra com uma reflexão metodológica sobre uma modalidade específica de documento histórico, o diário pessoal, registro que, na maioria dos casos, permanece anônimo e restrito a uma determinada localidade, mas pode, no entanto, ser fonte de extração de várias possibilidades temáticas por parte do historiador.

Este número traz ainda dois artigos, os quais, por meio de temáticas distintas, e situando-se em abordagens disciplinares diferentes, uma delas referente à sociologia política e a outra à história da cultura brasileira na segunda metade do século XX, tratam da cultura democrática no Brasil contemporâneo. O primeiro tem como tema a discussão sobre a agenda política presente na atual reforma do estado, observando a necessidade de uma reflexão teórica na qual o problema da responsabilidade institucional seja equacionado considerando-se as dificuldades existentes para estabelecer escolhas sociais democráticas no meio sócio-político brasileiro. No segundo, a questão da democracia na cultura nacional é analisada sob uma outra perspectiva: aquela da sua supressão durante a ditadura militar instaurada a partir de 1964 e vista por meio de uma análise do jornal O Pasquim, que na sua oposição à ditadura redefiniu a imprensa alternativa brasileira por meio da crítica dos costumes, do humor e da inovação da linguagem jornalística.

Encerrando este número, publicado por ocasião do quadragésimo aniversário do golpe de 1964, apresentamos um texto da dramaturgia brasileira que é um testemunho contundente da situação de rebaixamento político e moral gerada pela violência imposta ao país durante a ditadura militar: trata-se de uma seleção de trechos da peça Torquemada, de Augusto Boal, que retrata a covardia, a violência física e psicológica da prática degradante da tortura.


Nação-Região; Memórias: abordagens, escritura. História & Perspectivas, Uberlândia, n.29-30, jul./dez., 2003 – jan./jul., 2004. Acessar publicação original [DR].

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Espaço rural brasileiro: constituição, tensões e rebeliões / História & Perspectivas / 2003-2004

Este volume reúne os números 29 e 30 da Revista História & Perspectivas Mais uma vez apresentamos um número duplo, visando reestabelecer a periodicidade desta publicação cujo atraso deve-se a contratempos que ultrapassam o alcance da equipe editorial.

O volume se abre com um dossiê sobre o espaço rural brasileiro, abordando diferentes aspectos de sua história e que dizem respeito à várias regiões nacionais. Os textos tratam da constituição rápida e violenta do espaço, das formas de exploração, das tensões, das rebeliões e modos de sobrevivência que caracterizaram a ocupação da terra no território brasileiro, trazendo análises sobre localidades situadas nas atuais regiões nordeste, sudeste e centro-oeste.

Os demais trabalhos que constam neste volume tratam de assuntos diversos, e representam também uma importante contribuição para a historiografia brasileira.

Assim, neste período do quadragésimo aniversário do golpe militar de 1964, cuja triste memória tem sido objeto de diversas análises – algumas das quais formarão um próximo dossiê desta revista –, publicamos um oportuno artigo que retoma um outro aniversário político nacional: os 110 anos da Revolução Federalista que agitou de maneira violenta especialmente a região sul do Brasil entre 1893 e 1894.

Também no que se refere às heranças políticas e culturais presentes na formação social brasileira, este volume apresenta dois textos que analisam o modo pelo qual a escravidão foi enquadrada em dois momentos históricos distintos: no período colonial, através da obra de Antonil, e no final da era escravagista, através de um estudo sobre o discurso político-pedagógico de Joaquim Nabuco.

Ainda neste número duplo de História & Perspectivas publicamos um bem documentado artigo sobre a profissão médica em Minas Gerais no século XVIII; uma análise sobre um tema caro às ciências humanas em geral – a noção de progresso –, vista pela lente iluminista presente no debate travado por Friedrich Engels sobre a obra de Lewis Morgan; um artigo que retoma a obra do compositor Carlos Lyra enquanto criador e mediador cultural; uma oportuna entrevista com medievalistas brasileiros, os quais nos falam das potencialidades, e também, das incompreensões que muitas vezes ainda se fazem presente no que se refere aos estudos sobre a história medieval elaborados por pesquisadores brasileiros.

Como contribuição que encerra o volume, publicamos uma resenha sobre o livro “Desafios da escrita”, do historiador francês Roger Chartier.


Espaço rural brasileiro: constituição, tensões e rebeliões. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.29-30, jul./dez., 2004. Acessar publicação original [DR].

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História & Perspectivas | UFU | 1988-2018

HISTORIA PERSPECTIVAS UFU História

A Revista História & Perspectivas (Uberlândia, 1988-2018) publica artigos acadêmicos inéditos, resultados de trabalhos de pesquisa histórica em diferentes temporalidades articulados às ciências humanas. Também está aberta a receber contribuições vinculadas `às propostas de trabalho em diferentes instituições e movimentos sociais, tais como entrevistas, documentos históricos, traduções e resenhas na área de História e afins; por meio dessas ações busca-se fomentar o diálogo entre diferentes instituições nacionais e estrangeiras e difundir experiências de produção de conhecimentos, firmando os princípios do debate plural e interdisciplinar. […]

A revista História & Perspectivas foi criada no ano de 1988, ligada aos cursos de História da Universidade Federal de Uberlândia. Deste ano para cá, a revista passou por várias administrações, com Conselhos editoriais diferenciados, que garantiram a publicação de seus exemplares dentro daquilo que foi definido como seus objetivos, ou seja, os de se tornar “ambiente que comporte enfoques teóricos múltiplos, criatividade e questionamentos que ensejem o crescimento intelectual…” (Ano 1, nº1).

Atualmente, a revista está sob a administração do Núcleo de Pesquisa e Estudos em História, Cidade e Trabalho, NUPEHCIT. Em 2012 a Revista teve significativo reconhecimento pelos avaliadores do Qualis/Capes: passando do conceito B1 para A2. Além disso conquistou avaliações positivas em outras áreas do conhecimento, demonstrando sua força de expansão entre pesquisadores no Brasil e fora do Brasil. A revista vem mantendo a periodicidade semestral, com chamadas nos sites do NUPHECIT, INHIS,UFU e, também, pela pagina eletrônica da ANPUH Nacional. A revista está indexada http://www.latindex.unam.mx

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

ISSN 2176-4352 (Online) . [Coletar 1988-2008]

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