Protestantismos e História: a propósito dos 500 anos da Reforma Protestante / Fronteiras – Revista de História / 2017

No mês de outubro de 2017 foram realizadas, em diversas partes do mundo, celebrações alusivas aos 500 anos da Reforma Luterana, comumente chamada de Reforma Protestante. O centro das comemorações foi a pequena cidade alemã de Wittenberg, atualmente com pouco mais de 50 mil habitantes e que abriga a Igreja do Castelo de Wittenberg, local onde em 31 de outubro de 1517 o monge Martinho Lutero afixou suas 95 teses com críticas à Igreja Católica. Esse ato foi considerado como o desencadeador dos movimentos que provocaram a maior divisão institucional no interior do cristianismo romano.

Os movimentos contestadores e reformistas subsequentes a Lutero, tais como: o calvinista, o anglicano, os anabatistas, entre outros, provocaram profundas mudanças na vida religiosa na Europa e, posteriormente, em outras partes do mundo. Mais do que a crítica institucional, burocrática, clerical, os tempos posteriores a Lutero apontaram para uma nova posição religiosa do cristão para com o sagrado, o divino. Sem as intermediações dos agentes cultos e letrados, os fiéis passaram a ter acesso direto ao divino por meio da leitura devocional dos textos bíblicos. A tradução da Bíblia para o alemão pode ser considerado o ápice da quebra do monopólio do sagrado por parte da Igreja romana. E essa necessidade, esse imperativo para a leitura da Bíblia, marcou profundamente a identidade desses grupos religiosos e também direcionou a fundação e atuação das novas confissões eclesiásticas que investiam na alfabetização de seus novos membros. No Brasil, a partir do século XIX, algumas igrejas protestantes que por aqui chegaram por meio das missões adotaram a máxima “em cada igreja, uma escola”. Leia Mais

História das Religiões e Religiosidades / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2013

Apresentar mais uma Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR) é motivo de imenso orgulho e satisfação. Fruto de um esforço coletivo dos editores discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, dos membros do Conselho Editorial e do Consultivo, a cada lançamento a REHR tem dado passos relevantes na tarefa de se consolidar como meio de interlocução acadêmica na área de História em Mato Grosso do Sul, e no cenário brasileiro. Nesse sentido, destacamos a confiança dos autores de todo o país que contribuem com seus trabalhos e acreditam na seriedade e qualidade da Revista.

Em sua XIV Edição, a REHR traz o dossiê História das Religiões e Religiosidades. O estudo das manifestações religiosas conquistou espaço em diversas áreas do saber acadêmico no Brasil. Pode ser caracterizado como um campo de estudo “composto, fundamentado em um pluralismo metodológico, influenciado por especializações e tradições culturais e institucionais locais e enredado em uma teia de tensões epistemológicas” [1]. A temática é abordada em áreas como a Antropologia, Teologia, História, Sociologia, Geografia, Ciências da Religião, Filosofia, Psicologia, Comunicação, Medicina e muitas outras. De acordo Antonio Gouvêa Mendonça:

As relações com o sobrenatural condicionam os estilos, as normas e a práxis do homem nas suas relações uns com os outros e com a natureza. Mesmo onde a racionalização filosófica ou científica passa por alto na nomenclatura dos deuses, estão presentes configurações de poderes que desenham universos diferenciados pelos quais os homens lutam, às vezes, até as últimas consequências […] feitios que, embora, sob disfarces diversos, são poderes verdadeiramente religiosos [2].

Essa amplitude para estudo é reflexo do próprio campo religioso brasileiro, caracterizado por uma diversidade de crenças, instituições e práticas religiosas. O sagrado está por toda a parte no país. Diversidade que, infelizmente, mascara diversas práticas de intolerância religiosa, de grupos religiosos maioritários contra minoritários e vice e versa. As ideias, crenças religiosas extrapolam as paredes de igrejas, templos, terreiros, sinagogas etc., e se manifestam em esferas como a da política partidária. Basta recordar as últimas eleições presidenciais, na qual, temas como o aborto foram instrumentalizados por diversas lideranças religiosas em prol de um determinado candidato. Cabe lembrar ainda a presença da chamada bancada evangélica, no Congresso, e das polêmicas que recentemente envolveram o Deputado Marco Feliciano, Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal.

Em 2014, será lembrado o cinquentenário do Golpe Militar, período recente da história brasileira, revelador de cicatrizes e feridas; período esse para o qual instituições religiosas, sobretudo cristãs, participaram ativamente dos “dois lados”. Esse momento histórico tem sido relembrado pelas mídias, especialmente devido à atuação da Comissão Nacional da Verdade, instalada em 2012, e que possui um GT específico para investigar a participação de religiosos durante os governos militares, intitulado “O papel das igrejas durante a ditadura”. “Se conheceres a verdade, a verdade vos libertará”; oxalá esse GT tenha êxito.

No âmbito específico da História não é diferente. O estudo do sagrado passou de uma temática marginal há poucas décadas, especialmente devido a uma herança marxista da academia brasileira, para um campo fértil de estudos. O tema norteia diversos grupos de pesquisa, linhas de pós-graduação e periódicos e influencia uma diversidade de publicações.

E, por falar em publicações, no mês de outubro de 2013 em São Paulo, veio a público um caso curioso e que pode ser considerado um divisor de reflexões para o estudo acadêmico das religiões no país. Durante a sessão de lançamento de livros no I Simpósio Regional Sudeste da Associação Brasileira de História das Religiões, o historiador Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, ao apresentar o livro de sua autoria intitulado “A grande onda vai te pegar. Marketing, espetáculo e ciberespaço na Bola de Neve Church” [3] informou aos presentes que um advogado da referida Igreja o procurara instantes antes tentando dissuadi-lo de lançar a obra, afirmando ao autor que o mesmo “iria ter problemas”. Conforme escreveu Eduardo Meinberg em uma rede social “a Bola de Neve já havia entrado com uma Ação de Indenização e um agravo de instrumento [dias antes da data agendada para o lançamento da obra]. A ação pedia que o livro não fosse publicado, que o evento de lançamento fosse cancelado, [e que o autor] não mencionasse mais o nome da igreja em trabalhos futuros, que retirasse de circulação o que [o autor já havia escrito] sobre a igreja, que retirasse a fanpage do livro do Facebook, e estipulava multa indenizatória de R$ 50 mil caso o livro fosse lançado e mais R$ 10 mil diários após o lançamento”. Felizmente, a ação e o agravo de instrumento foram indeferidos por um juiz e por um desembargador (isto antes da noite de lançamento) [4]. Mesmo com ganho de causa, o pesquisador informou nas redes sociais que nos meses seguintes se sentiu intimidado, amordaçado, constrangido. Esse caso teve diversas repercussões nas redes sociais, em periódicos de grande circulação nacional e nos círculos acadêmicos. A Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) [5] e o GT de História das Religiões e Religiosidades da ANPUH (GTHRR) divulgaram uma Carta Aberta em defesa da referida publicação.

Além das publicações e grupos de pesquisa, é preciso citar os diversos eventos dirigidos a esses historiadores, mas que reúnem estudiosos das mais diversas áreas. Desses, é importante lembrar os encontros nacionais da Associação Brasileira de História das Religiões, realizados bianualmente. A ABHR foi fundada em 1998 com a instalação da Linha de Pesquisa Religiões e Visões de Mundo no Programa de Pós-Graduação em História da UNESP / Assis, e passou a ter caráter nacional em 1999 com a realização de seu I Simpósio, na mesma Universidade. Desde então, a Associação realiza seus encontros maiores a cada dois anos, reunindo grande número de pesquisadores. Nos últimos anos, a entidade foi subdividida em cinco regionais, que promovem igualmente os seus respectivos encontros. Outra contribuição importante da ABHR é a publicação da “Coleção ABHR”, livros que reúnem textos dos respectivos encontros nacionais da entidade. Uma característica dessas publicações é oferecer aos leitores subsídios teóricos para a abordagem das manifestações religiosas. A entidade também é responsável pela publicação da Revista Plura [6], criada em 2010.

É importante citar também as atividades do GT de História das Religiões e Religiosidades da ANPUH. Esse grupo completou 10 anos de fundação em 2013. Foi criado em 2003 na cidade de Dourados / MS, durante a realização do I Simpósio sobre Religiões, Religiosidades e Culturas [7], na então Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a coordenação do Prof. Jérri Roberto Marin. Esse GT teve sua primeira reunião nacional durante o XXIII Simpósio Nacional da ANPUH, em Londrina / PR, em 2005, quando foi eleita a sua primeira gestão (2005-2007). O GT realizou o seu I Encontro Nacional em 2008, na cidade de Maringá / PR. Desde então, realiza os encontros nacionais a cada dois anos. Posteriormente, o GT também foi subdividido em regionais, que passaram também a organizar encontros. Além dos diversos eventos, o GT é responsável pela publicação da Revista Brasileira de História das Religiões 8, criada em 2008.

Em 2013, a Comissão de Estudos para a História da Igreja na América Latina (CEHILA), completou o seu 40º aniversário. Criada na cidade de Quito, no Equador em 1973, a Comissão reúne diversos estudiosos do cristianismo no continente Americano. Realiza encontros internacionais e a CEHILA-Brasil, também criada em 1973, promove encontros nacionais.

Uma característica dessas entidades dedicadas ao estudo das religiosidades é o deslocamento do olhar investigativo das instituições para as vivências e para as práticas religiosas no cotidiano. Nesse sentido, demanda dos estudiosos um olhar amplo, interdisciplinar; um ecumenismo teórico e metodológico. Esse desafio pode ser vislumbrado na diversidade de temáticas que se desdobram a partir do grande tema religião / sagrado, como pode ser conferido nos artigos do dossiê História das Religiões e Religiosidades dessa edição.

Abrindo o dossiê, Ipojucan Dias Campos compartilha o seu artigo intitulado Código Civil e Igreja: construções, discursos e representações (1916-1940). O autor interpreta as relações de força que se estabeleceram no início do século XX, com a aprovação do Código Civil de 1916, entre República e Igreja acerca da secularização do casamento e da separação conjugal. Assim, vislumbra como os tensos debates em torno da laicização foram intensamente apresentados e enfrentados pelas duas instâncias de poder; isso acontecia porque na ocasião estavam em jogo diretrizes em torno dos princípios por onde a família deveria trilhar a sua formação dita legal.

Vagner Aparecido Marques, em seu artigo A Dupla Vida do Pesquisador: etnografia da conversão ao pentecostalismo de membros do PCC na zona leste de São Paulo apresenta algumas inquietações em campo, durante sua pesquisa realizada para o mestrado em Ciências da Religião pela PUC-SP. Os registros apresentados são resultado de entrevistas com Kadu, personagem principal da pesquisa, membro do PCC e de uma denominação pentecostal. O objeto central do trabalho está no questionamento referente ao ato da conversão ao pentecostalismo, sobretudo o binômio conversão = rupturas, que se sustentou como verdade fundamental ao longo de décadas na Sociologia da Religião e nos estudos sobre o pentecostalismo, mas que, em análises de campo, mostrou-se cada vez menos sólido. Ao converter-se ao pentecostalismo, Kadu não deixou de ser “irmão” do PCC para tornar-se “irmão” da igreja, e essa metamorfose em sua trajetória exigiu alguns cuidados no campo de pesquisa. Tais cuidados são discutidos no texto a fim de contribuir para a discussão sobre o papel do pesquisador no campo, seus posicionamentos, proximidade com o objeto e a necessidade de um distanciamento para análise dos dados e das fontes levantadas.

Em A „Orientação pelo Evangelho‟ e a Consolidação do Espiritismo no Brasil (1860- 1940), Ana Lorym Soares analisa o processo de introdução e consolidação do espiritismo no Brasil entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX. Seu objetivo é examinar a relação estabelecida entre o espiritismo e seus contestadores, entre os quais se pode destacar a Igreja Católica e instituições jurídicas, médicas e sanitárias brasileiras, de modo a evidenciar as táticas utilizadas para sair de uma situação de contestação e alçar-se a um patamar aceito entre as várias opções religiosas do Brasil.

No seu artigo Entre a Fé e o Crime: a atuação do Reformador e da Federação Espírita Brasileira diante dos processos criminais contra cidadãos espíritas (1891-1905), Adriana Gomes discute a atuação do periódico espírita Reformador e da Federação Espírita Brasileira diante de processos criminais que cidadãos espíritas se envolveram por adotarem práticas consideradas contrárias à ordem pública. Estes cidadãos passaram a ser inseridos pelas autoridades políticas, policiais e médicas no que juridicamente ficou denominado de charlatanismo e curandeirismo. No Código Penal de 1890 práticas espíritas foram criminalizadas nos artigos 156, 157 e 158, sobretudo, no artigo 157. Aos agentes sociais envolvidos nos processos criminais, sobretudo advogados e juízes, coube à tarefa de diferenciar conceitualmente o que era religioso e o que era magia. Assim como, o que era crença e o que era exploração num emaranhado de práticas e representações subjetivas do que se compreendia como sendo espiritismo.

Walter Valdevino do Amaral compartilha seu artigo “O Abecedário das Filhas de Maria”: práticas de uma religiosidade católica, que analisa o surgimento da Pia União das Filhas de Maria, sua organização e estrutura interna, seus ritos de iniciação e as suas regras comportamentais, com o objetivo de mostrar como esta associação foi fundamental, para a construção de modus vivendi a ser seguido pelas jovens católicas no final do século XIX e início do XX. Para tal análise, adota o conceito de habitus, proposto por Pierre Bourdieu; e a ideia de disciplina, sugerida por Michel Foucault.

O Rock e a Cultura Evangélica Juvenil: música & identidades é o artigo apresentado por Laís Cândida Ferreira. A autora analisa as formas de inserção do rock no cenário protestante brasileiro, bem como sua influência para a formação de identidades juvenis. Para tal objetivo utiliza como fontes de estudo as canções de duas bandas: Oficina G3, atuante no mercado nacional evangélico desde 1990, e Desertor, representante do cenário underground evangélico desde 1995. A análise das canções em seu conjunto, compreendendo questões estruturais e contextuais, mostrou que essas bandas estão dialogando de forma intensa com o mercado secular, tanto em questões estéticas ligadas à sua performance quanto técnicas, referentes à sua musicalidade. Por outro lado, as ideias que procuram ser transmitidas permanecem ligadas à tradição pietista, mesmo no caso da Desertor que tem letras ligadas à temática punk.

O autor Charles David Tilley Bilbao finaliza o dossiê com seu artigo La Mala Mirada: brujas y vacas. No trabalho, aborda um tema clássico dos estudos antropológicos: o mauolhado. Para isso, analisa como este fenômeno cultural se articula em relação aos animais, particularmente, na pecuária. Essas crenças, inscritas na religiosidade popular, tendem atualmente a desaparecer em certos contextos rurais, ao menos da maneira como o conhecíamos. Por esse motivo, realizou uma pesquisa sobre o tema na província espanhola de Asturias, com especial atenção aos métodos de prevenção e cura do mau-olhado em bovinos.

Na seção de artigos livres, Wilian Junior Bonete compartilha o seu trabalho intitulado Notas sobre o Conceito de Consciência Histórica e Narrativa em Jörn Rüsen e Agnes Heller. Consciência histórica é uma expressão que não representa um sentido comum a todos que dela fazem uso e está, muitas vezes, relacionada a realidades distintas e excludentes entre si. Isto porque possui mais do que um conceito, tornando assim difícil sua definição. O artigo enfrenta esse desafio e reflete sobre os fundamentos do conceito de consciência histórica e narrativa a partir das elaborações teóricas de Jörn Rüsen e Agnes Heller. Esses autores são privilegiados por conceberem a consciência histórica enquanto um fenômeno necessariamente humano, cuja operação mental articula passado, presente e futuro como forma de orientação e compreensão das experiências vividas pelo homem no tempo, no espaço, nas diversas circunstâncias da vida prática cotidiana.

No artigo Sexualidade e a História da Mulher na Idade Média: a representação do corpo feminino no período medieval nos séculos X a XII, André Candido da Silva e Márcia Maria de Medeiros apresentam discursos sobre as mulheres na Idade Média por meio de figuras distintas como de Eva, Virgem-Mãe e Madalena, associando-as à sexualidade e à sedução, que, para a época, constituíam formas absolutamente repreensíveis pela sociedade, estruturada pela cultura patriarcal e religiosa.

Nessa edição, a REHR teve a satisfação entrevistar o professor Luis Fernando Ayerbe. Ayerbe (UNESP), que possui larga experiência com pesquisa nas áreas de História das Relações Internacionais e Estudos Internacionais, atuando, em suma, com os seguintes temas: América Latina Contemporânea, Política Externa dos Estados Unidos e Relações Interamericanas. A entrevista e apresentação do professor foi realizada pelo editor Anatólio Medeiros Arce.

Finalizando a XIV Edição, a REHR apresenta duas resenhas: O Erotismo, de Georges Bataille, resenhada por Wallas Jefferson de Lima; e a obra Alcântara: alma e história, de autoria Albani Ramos e Sebastião Moreira Duarte, resenhada por Daniel Rincon Caires.

Convencidos de que os artigos publicados nesse dossiê contribuirão para um conhecimento acadêmico mais consistente, desejamos também que a leitura possibilite reflexões sobre a necessidade do respeito e da convivência com as diferentes maneiras do viver religioso / cotidiano do outro.

Boas leituras.

Notas

1. GEERTZ, Armin W. O estudo da história das religiões no mundo. In: SIEPIERSKI, Paulo D.; GIL, Benedito M. Religião no Brasil: enfoques, dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2007. Coleção de estudos ABHR, 2ª ed.

2. MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, pentecostais e ecumênicos: o campo religioso e seus personagens. São Bernardo do Campo: UMESP, 1997.

3. O livro é fruto da dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Atualmente o autor cursa o Doutorado em História na Universidade de São Paulo (USP).

4. Trechos do perfil de uma rede social utilizados com autorização de Eduardo Meinberg.

5. www.abhr.org.br

6. http: / / www.abhr.org.br / plura / ojs / index.php / plura / index

7. Nos anos de 2006 e 2009 foram realizadas as 2ª e 3ª edição desse Simpósio. Esses eventos reuniram nas cidades de Dourados (2003 e 2006) e de Campo Grande (2009) um grande número de estudiosos das manifestações religiosas, configurando-se como um dos maiores eventos da temática no país. Além dos anais dos encontros, foram publicados dois livros: “Religiões, religiosidades e diferenças culturais” (UCDB, 2005) e “Religiões e identidades” (UFGD, 2012), organizados pelo prof. Jérri Roberto Marin.

8. http: / / www.dhi.uem.br / gtreligiao / index.html

Fabiano Coelho (editor)

Carlos Barros Gonçalves (pesquisador convidado).

Dourados – MS, Primavera de 2013.


COELHO, Fabiano; GONÇALVES, Carlos Barros. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 7 n.14, jul. / dez., 2013. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Bacia Platina: história e representações / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2009

É com imensa satisfação que apresentamos aos leitores a VI Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR). Esta Edição traz o dossiê Bacia Platina: história e representações. A Bacia Platina é a segunda maior bacia hidrográfica do mundo. Possui cerca de 3,1 milhões de quilômetros quadrados de superfície, quase metade em território brasileiro (1,4 milhões de quilômetros quadrados). É responsável pela maior parte da produção da energia elétrica consumida no Brasil. Além disso, configura-se como um importante espaço de comunicação e de transporte entre os países que a compõe.

A proposta de um dossiê voltado aos estudos relacionados à região da Bacia Platina surgiu a partir da reflexão sobre o papel exercido pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), enquanto pólo educacional e científico, na região geográfica na qual está inserida. Além disso, por entender que a Região Platina abarca espaços fronteiriços não somente geográficos, mas históricos, culturais e políticos entre Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Trata-se de uma paisagem complexa, historicizada ao longo do tempo e carregada de peculiaridades. Nesse sentido, os estudos voltados à Bacia Platina protagonizam fenômenos históricos significativos que auxiliam na compreensão das dinâmicas sociais que envolvem os grupos que viveram e vivem nestes espaços. Sendo assim, o presente Dossiê objetiva contribuir para a percepção de que muitos dos dilemas e preocupações surgidos no interior de cada uma das Regiões Platinas não repousam unicamente em aspectos econômicos e financeiros, mas também naqueles que perpassam a história e o cotidiano dos personagens desse imenso cenário.

Com a preocupação de ser um espaço em que pesquisadores e estudantes dos mais variados níveis possam ter a oportunidade de divulgar os resultados dos seus trabalhos, a REHR tem recebido artigos, resenhas e resumos de diversas regiões e Instituições de Ensino Superior do Brasil. A significativa quantidade de trabalhos recebidos atesta o reconhecimento e a credibilidade conquistados em seus mais de dois anos de existência. A nossa mais recente conquista foi a qualificação da REHR pela CAPES (2009).

O esforço coletivo dos editores discentes, alunos do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH / UFGD), dos membros do Conselho Editorial e do Consultivo tem se configurado como basilar para a sustentação e desenvolvimento da Revista. Assim, sem mais delongas, apresentamos os trabalhos que corporificam a VI Edição da Revista História em Reflexão. Iniciando o Dossiê, em A Revolução Federalista (1893-1895): o contexto platino, as redes, os projetos e discursos construídos pela elite liberal-federalista, Marcus Vinicius da Costa ressalta o quanto se torna fundamental repensar a questão em torno de formação dos Estados-nacionais, do federalismo, das revoluções, enfim, repensar a história política da Região Platina. Assim, os objetivos do seu trabalho foram compreender os fundamentos que embasaram o discurso da elite liberal-federalista que comandou a Revolução de 1893-1895; o contexto histórico-político platino no final do século XIX, principalmente na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul; as redes formadas pelos grupos de oposição da Argentina (Radicais), do Uruguai (Blancos) e do Rio Grande do Sul (liberais-federalistas); e o discurso e o projeto político construídos pelos liberais-federalistas do Rio Grande do Sul, liderados por Gaspar Silveira Martins. O fundamento teórico no trabalho transita pela História Política e História Cultural, acrescido de um diálogo interdisciplinar.

A autora Lenir Gomes Ximenes, em seu artigo intitulado As Relações dos Índios Terena na Região Platina: imposições e alternativas, apresenta alguns resultados da pesquisa “Os índios Terena de Buriti e o Estado brasileiro”, em andamento no programa de Mestrado em História da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Para sua composição foram consultados documentos, como relatórios de presidentes de província, perícia histórica e antropológica; além da bibliografia historiográfica e antropológica do tema. O espaço no qual se insere o estudo é a Bacia Platina, mais especificamente o Pantanal (situado no Brasil, nos estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul), e seu prolongamento: o Chaco, que abrange a Argentina, o Paraguai e a Bolívia. O objetivo principal é compreender as relações dos índios Terena neste espaço (Chaco – Pantanal), com outros povos indígenas e com as frentes de colonização. O recorte temporal está centrado nos séculos XVIII e XIX. No entanto, é preciso antes analisar como foi construída a noção que atribui a origem dos Terena ao Chaco paraguaio.

O trabalho de Valéria Dorneles Fernandes, Escravização de Pessoas Livres na Fronteira Brasil-Uruguai: Pelotas (1850-1866) discute que em meados do século XIX, a recém estabelecida República do Uruguai proíbe a escravidão em seu solo. Esta decisão entra em choque com os interesses do Império brasileiro, sobretudo dos senhores de escravos da região Sul. Por conseqüência disso, chegam à polícia da província do Rio Grande denúncias do rapto em solo uruguaio de negros libertos ou nascidos livres, que são vítimas do tráfico de escravos na fronteira e vendidos ilegalmente no Brasil. As denúncias dão início a inquéritos e processos criminais para averiguar os fatos. Assim, seu artigo visa analisar os processos criminais referentes a estes crimes, ocorridos na cidade de Pelotas entre os anos 1850 e 1866.

Luciano Morais Melo, no artigo Fiel da Balança: o Paraguai e a disputa pelos recursos das águas platinas entre Brasil e Argentina (1954-1979) objetiva fazer uma análise do papel representado pelo Paraguai na disputa pelos recursos das águas dos rios da Bacia do Prata entre Brasil e Argentina no período de 1954 a 1979. Através de uma diplomacia pendular, o Paraguai soube tirar enormes proveitos da rivalidade entre os dois grandes vizinhos, atuando como verdadeiro moderador no equilíbrio pelo poder na Bacia do Prata.

Em O Poder Legalizado no Processo de Formação das Fronteiras Econômica e Demográfica no Sul do Estado de Mato Grosso (décadas de 1960-70), o pesquisador Nataniél Dal Moro procura explicitar algumas das ações empreendidas pelo poder legalizado, sobretudo via governo federal, notadamente nas décadas de 1960 e de 1970, para integrar o oeste ao leste do Brasil. Essa integração foi bastante ampla, entretanto, o texto aborda com maior ênfase as integrações econômicas e demográficas.

O autor Luiz Eduardo Pinto Barros no artigo A Dinâmica das Relações de Brasil e Paraguai Sobre a Questão Fronteiriça (década de 1960), ressalta que desde o final da década de 1930 e início dos anos de 1940 o Brasil desenvolveu uma política de busca de aproximação com o Paraguai. Essa aproximação se consolidou com o estabelecimento da ditadura de Stroessner no Paraguai. Mas em meados da década de 1960 já sob a ditadura militar, o governo brasileiro enviou soldados para a região das Sete Quedas, próxima a fronteira com o Paraguai, o que causou um período de tensão entre os dois países. O impasse sobre Sete Quedas foi um caso isolado no histórico das relações de Brasil e Paraguai durante o século XX, mas foi um marco nas negociações que resultaram no acordo para a construção de uma usina hidrelétrica administrada por ambos os países, sendo este o maior tratado político e econômico na história da diplomacia entre Brasil e Paraguai.

Encerrando o Dossiê, Paulo Roberto Cimó Queiroz nos brinda com seu instigante trabalho intitulado O Desafio do Espaço Platino às Tendências de Integração do Antigo Sul de Mato Grosso ao Mercado Nacional Brasileiro: um hiato em dois tempos. O autor discute que o espaço correspondente ao atual estado brasileiro de Mato Grosso do Sul foi incorporado no século XVI aos circuitos do Paraguai colonial, mas já no século XVII, no contexto que S. B. de Holanda denomina refluxo assuncenho, a presença espanhola foi sendo substituída pela luso-brasileira, passando portanto essa região a vincular-se, ainda que de modo inicialmente tênue, ao sudeste da América portuguesa. Em meados do século XIX, com a liberação da navegação brasileira pelo rio Paraguai, essa região voltou, de certo modo, a fazer parte do espaço platino. Nesta perspectiva, o trabalho busca evidenciar que, a despeito das notáveis mudanças induzidas pela livre navegação, esse último período de vinculação ao espaço platino constituiu, na verdade, uma espécie de “hiato”, no interior do processo mais longo representado pela vinculação com o mercado nacional brasileiro.

Na sessão de artigos livres, o professor Alexander Martins Vianna em seu artigo A Desfiguração do Corpo Político em “Ricardo III”, pretende demonstrar o quanto que a materialidade textual do Q1(1597) da peça “Ricardo III” expressa, como tese moral, que a segurança da ordem pública tradicional emergiria se as autoridades patriarcais das grandes casas do reino fossem fortalecidas em cooperação com a autoridade régia. Para tanto, os grandes do reino deveriam abrir mão das vinganças privadas e do faccionismo político, reconhecer a dignidade régia como a encarnação institucional da justiça soberana e das leis civis, assim como, aceitar o dever de adequação de seu comportamento particular aos atributos das dignidades sociais e institucionais que configuram os vínculos de reciprocidade hierárquica do corpo político.

Andrea Dal Pra de Deus, no trabalho A Lei e o Rei na Hispania Tardo-Antiga: uma perspectiva da teoria política de Isidoro de Sevilha (Hispania, século VII), enfatiza que durante o período Tardo Antigo da Península Ibérica, os esforços para se estruturar a instituição monárquica enquanto unidade político-administrativa estiveram passo a passo com a regulamentação jurídica da sociedade política. Um expoente em termos de teorias políticas do período foi, sem dúvida, o bispo Isidoro de Sevilha. Na sua obra Sentenças, dirige três volumes à instrução moral da sociedade política hispano-visigoda do sétimo século. Isidoro de Sevilha vincula o soberano à lei, delimitando que o exercício do poder apenas é garantido ao rei se este guia-se pela justiça e observa os preceitos cristãos.

O pesquisador Francivaldo Alves Nunes em seu artigo intitulado Entre a Agricultura e a Civilização: terra, matas e povoamento no Pará Oitocentista, se propõe a discutir os variados significados da agricultura no Pará das últimas décadas do século XIX; evidenciando que além de uma questão de consumo e produção, a criação dos núcleos agrícolas na região Bragantina, a exemplo da Colônia de Benevides, foi também motivada por preocupações civilizatórias marcadas por um incentivo do Estado para um melhor aproveitamento da terra, do exercício de domínio das matas, promoção do povoamento; e igualmente disciplinarização dos sujeitos sociais envolvidos na construção desse espaço. Assim, destaca que o fomento à produção, reformas das técnicas agrícolas, intensificação dos sistemas de cultivo e aumento da produtividade são diretrizes recorrentes nos projetos de reformulação da agricultura desenvolvidos no Brasil no período imperial. Esses projetos objetivavam estimular a produção agrícola, seja para maior equilíbrio entre os volumes de importação e exportação, seja para atender as demandas do mercado interno. A criação dos núcleos coloniais constituiu-se em ações governamentais que buscavam atender essas demandas relacionadas à produção e consumo. Atribuía-se assim a agricultura uma dimensão econômica, mas também civilizatória.

No trabalho Michel Foucault: uma crítica historiográfica em a Arqueologia do Saber, Eduardo de Melo Salgueiro busca realizar uma análise sobre as principais críticas apontadas pelo filósofo francês Michel Foucault em sua obra A Arqueologia do Saber, publicada em 1969, de onde repercutiu algumas das mais ácidas criticas em relação às ciências humanas e conseqüentemente à historiografia no século XX. Para isso, apresenta de maneira sucinta ao leitor como se deu a trajetória da vida acadêmica desse intelectual francês, expondo as principais características da obra do autor e a importância de suas análises no âmbito das Ciências Humanas.

Em O Historiador Max Weber: a indologia weberiana frente ao historicismo alemão, o autor Arilson Silva de Oliveira explicita que Max Weber se apropriou das exigências metodológicas do historicismo alemão contra toda filosofia iluminista natural e toda filosofia idealista da história. Ele as depurou no intuito de evitar as conclusões do romantismo e dos desvios psicologistas do neo-historicismo. Neste sentido, analisa como ele muniu-se de um método particular, resgatou a racionalidade e a utilizou como parâmetro para compreender historicamente a sociedade indiana frente ao historicismo desencantado de sua época.

Cara ou Coroa? Um jogo entre a teoria das ações de Certeau e a das masculinidades de Connell, de Fernando Bagiotto Botton, em um tom expressamente ensaístico, busca aproximar e ao mesmo tempo confrontar a teoria das ações do teórico francês Michel de Certeau com a teoria das masculinidades do pesquisador australiano Robert Connell. Através desse exercício pretende trazer algumas contribuições teóricas para o estudo das masculinidades nas Ciências Humanas.

Manoel Pereira de Macedo Neto contribui significativamente com seu artigo intitulado Parâmetros Curriculares Nacionais de História: desafios e possibilidades da história ensinada na Educação Básica. Sua proposta é fazer uma análise sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Ensino de História. Para a realização do trabalho, discutiu os PCNs de História, o contexto de sua elaboração, a sua proposta de trabalhar a História a partir de eixos temáticos e a relação entre a História ensinada e a construção da cidadania. Nesse sentido, observou que os PCNs propõem o ensino de História, a partir de eixos temáticos, comprometido com o exercício da cidadania e com a construção de uma sociedade plural e democrática. Contudo, a falta de um maior envolvimento da sociedade na elaboração do documento tem dificultado a concretização dessa proposta.

A autora Alexandra do Nascimento Aguiar, no trabalho A Incapacidade e o Mérito: considerações sobre o direito ao voto (1860 – 1880) pretendeu reconstituir as falas favoráveis e contrárias à seleção do eleitorado e que culminaram na Lei Saraiva em 1881, cuja proibição do direito de voto para o analfabeto foi responsável pela redução do eleitorado para 1% da população brasileira. Nesta perspectiva, discute que entre os anos 1860 e 1880 surgiram publicações e ocorreram debates em defesa da restrição à participação eleitoral sob a justificativa da necessidade de aperfeiçoamento do sistema representativo.

Os pesquisadores Rodrigo Fontanari e Pedro Geraldo Tosi, no artigo Grandes Elites e Pequenas Cidades: hierarquia mercantil e urbana no complexo cafeeiro paulista (1890- 1914) procuraram analisar as relações entre as formas de acumulação de capitais na cafeicultura, intimamente vinculadas à atividade creditícia, e a urbanização em um município paulista: Santa Cruz das Palmeiras, no período de 1890 a 1914. O trabalho baseia-se em recentes pesquisas na área da história econômica que visa à dinâmica da economia e o manuseio de fontes documentais ainda pouco estudadas, dentre as quais os Livros Cartoriais, principalmente as dívidas hipotecárias e os penhores agrícolas. Todavia, explicitam-se como as formas de financiamento interferiram no processo de urbanização, pois as elites centralizavam cifras consideráveis de capitais, reinvestiam-nos em grandes cidades e, ainda, não pagavam os impostos locais.

Fechando a sessão de artigos livres, Thiago do Nascimento Torres de Paula em O Destino dos Filhos de Ninguém: os expostos-adultos da Freguesia de Nª Srª da Apresentação Setecentista, ressalta que seu trabalho é parte de uma pesquisa sobre crianças expostas (abandonadas) na Freguesia de Nª Srª da Apresentação, na Capitania do Rio Grande do Norte, na segunda metade do século XVIII. O objetivo é analisar como a sociedade da freguesia em seu cotidiano construiu espaços de vivência para os adultos que um dia foram enjeitados. Os assentos de batismo foram as fontes utilizadas. Os procedimentos adotados nesta documentação foram: transcrição, fichamento e quantificação. Quantificaram-se os seguintes elementos: naturalidade, gênero, condições de legitimidade dos filhos e os locais de abandono dos tais adultos quando recém-nascidos. A partir daí, o autor observou a presença “regular” dos “protagonistas anônimos” da história em meio à comunidade.

Dando prosseguimento, tivemos a satisfação de fazer uma entrevista com o Prof. Dr. Antonio Jacó Brand (UCDB), que gentilmente se disponibilizou em responder algumas perguntas sobre a sua trajetória de vida profissional, como historiador e indigenista. A sua narrativa é muito interessante, tendo em vista que se tornou uma referência nacional para os estudos sobre os povos indígenas, sobretudo, em relação às etnias Guarani e Kaiowá. Em sua fala, faz observações face a denominada História Indígena, sobre os estudos e pesquisas em relação aos índios de Mato Grosso do Sul, a questão dos direitos e reivindicações desses agentes para a identificação de territórios tradicionais e a função relevante dos pesquisadores e Universidades nesse processo, sobre as ações de grupos ligados a instituições religiosas junto as populações indígenas, a origem e aplicação do conceito de confinamento e as análises críticas de que tem sido alvo nos últimos anos, e em relação as temáticas que vem se dedicando a estudar. Anterior a entrevista, o Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira (UFGD), a quem agradecemos pela gentileza, em Autor, obra e meio: a apresentação de etno-historiador, apresenta aos leitores de forma emocionante e com muita propriedade o professor Antonio Jacó Brand.

Nesta edição, contamos com as seguintes resenhas: Os Dentes Falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII, de Robert Darnton, resenhada por Diogo da Silva Roiz. O autor José Antonio Fernandes nos apresentou a resenha da obra Dourados: memórias e representações de 1964, de Suzana Arakaki; e por fim, a resenha do livro A Misteriosa Chama da Rainha Loana: romance ilustrado, de Umberto Eco, escrita por Lenita Maria Rodrigues.

Encerrando a apresentação dos trabalhos que compõem a VI Edição da REHR, apresentamos ainda dois trabalhos. A Profª. Drª. Graciela Chamorro, em Contribuições para a História Indígena Contemporânea organizou e apresentou alguns trabalhos resenhados, sendo eles heterogêneos e de diversos níveis. Ao apresentá-los, chama a atenção para a pertinência das temáticas tratadas, das metodologias e das fontes utilizadas; para a atualidade das questões que orientaram as pesquisas e para a riqueza dos dados coletados.

Adiante, a acadêmica Regiane Francisca Barbosa, vencedora do Concurso de Redação em comemoração aos 36 anos do Curso de História de Dourados (UFMS / UFGD), em sua redação intitulada O Aluno do Curso de História na Sociedade Sul-Mato-Grossense, descreve em sua visão alguns apontamentos relevantes sobre os estudantes (e futuros docentes) e o curso de História perante a sociedade Sul-Mato-Grossense. No decorrer do ano de 2009 foram realizadas diversas atividades alusivas a essa comemoração na Faculdade de Ciências Humanas da UFGD. O referido concurso foi iniciativa do Centro Acadêmico de História de Dourados (CAHISD) em parceria com os docentes do Curso e com a REHR. Nesta direção, entendemos que o nosso Periódico deva ser um elo entre toda a comunidade acadêmica, nos seus mais diversos níveis, também abrindo espaços para a publicação de textos desse gênero.

Fiquem a vontade para se aventurar no universo das palavras! Desejamos a todos ótimas e prazerosas leituras.

Fabiano Coelho

Carlos Barros Gonçalves

(Editores)

Dourados – MS, Primavera de 2009.


COELHO, Fabiano; GONÇALVES, Carlos Barros. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.3, n.6, jul. / dez., 2009. Acessar publicação original [DR]

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História, Produção Intelectual e Cultura Material / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2008

A IV Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão apresenta o Dossiê História, Produção Intelectual e Cultura Material. Trata-se de uma homenagem a VI Semana de História “História, Memória e Produção Intelectual”, realizada entre os dias 27 a 30 de novembro de 2007, na Universidade Federal da Grande Dourados, sob a coordenação de discentes do Programa de Mestrado em História.

O Evento contou com a participação de pesquisadores de várias instituições de MS e Estados vizinhos, além dos professores ligados ao Ensino Básico. A VI Semana de História teve, entre outros objetivos, o debate das dificuldades encontradas na divulgação das pesquisas e estudos realizados no âmbito das Ciências Humanas e as relações entre os órgãos de fomento e as instituições de pesquisa.

Além disso, o Evento visou proporcionar espaço aos graduandos, pós-graduandos e docentes da UFGD para a apresentação / divulgação de pesquisas e estudos em andamento e concluídas, tendo em vista debater as dificuldades encontradas na realização e / ou divulgação dos conhecimentos. Quando se fala em produção de conhecimento, quase sempre se refere à construção de saberes registrada sob a forma escrita. Nos meios acadêmicos essa é, ao mesmo tempo, uma exigência das agências de fomento e uma forma de controle institucional de produção. Se isto só não bastasse, por sermos avaliados pelo que produzimos, nos tornamos “pessoas-produtos”. O próprio jogo institucional nos ordena em pesquisadores melhores e piores, medíocres e brilhantes, nos distribui em níveis hierárquicos sob siglas bem definidas pelas agências de fomento. Passamos a nos olhar com a discriminação que tais classificações acabam por engendrar. Separamo-nos assim, arrogantemente, uns dos outros, dentro do castelo que habitamos (Regina Maria de Souza, 2008, anped.org.br).

Diante dos dilemas e angústias que perpassam o cotidiano dos “produtores de conhecimento”, da difícil tarefa de encontrar palavras adequadas para dar forma aos conhecimentos, a IV Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão, mais do que oportunizar o espaço para a divulgação dos trabalhos, ora apresentados, objetiva contribuir para tornar menos frio e solitário a construção e divulgação dos saberes e, a partir de uma perspectiva de “cumplicidade científica” diminuir o “sinônimo” de pessoas produtos que de forma silenciosa e quase imperceptível espreita o dia-a-dia dos construtores de conhecimento.

O primeiro artigo, intitulado “Pintando o Brasil: artes plásticas e construção da identidade nacional (1816-1922)”, de autoria da professora Drª Giselle Martins Venâncio salienta que hoje é praticamente consensual a idéia de que é a prática de tombamento e preservação de bens culturais o que permite a construção da identidade nacional. Assim sendo, o presente texto busca investigar formas plásticas – particularmente a chamada arte do barroco mineiro, as pinturas históricas do século XIX e o modernismo – que, preservados em museus, tombados em seus locais de origem ou reproduzidos em livros e / ou obras didáticas, contribuíram para plasmar imagens de uma memória nacional e para a consolidação da idéia de nação no Brasil.

O autor Pablo Barbosa, em seu texto “Saberes antropológicos e práticas coloniais em Portugal entre 1933 e 1974”, relata que a institucionalização do Estado Novo Português, em 1933, possibilitou, por um lado, que as técnicas etnográficas fossem reapropriadas pelos funcionários coloniais e, por outro, que o saber etnológico, como instrumento político, colaborasse na gestão das populações indígenas. Partindo de uma reflexão sobre a obra antropológica de Jorge Dias, procura analisar, em primeiro lugar, as convergências entre racionalidade científica e racionalidade administrativa dentro de um contexto colonial e em segundo lugar, estudar de que forma o saber antropológico conhece um duplo movimento de instrumentação e de legitimação dentro do universo político português entre 1933 e 1974.

No texto “As relações diplomáticas entre o Barão de Caxias, os Farroupilhas e os Governos Platinos e provincianos durante a Revolução Farroupilha” Jéferson Mendes destaca que durante a guerra contra os farroupilhas, o general e presidente da província do Rio Grande do Sul, Luiz Alves de Lima e Silva, o barão de Caixas, manteve intensa atividade diplomática, militar e administrativa. Assim, discute a correspondência e atividades diplomáticas de Caxias com lideranças do Prata, dos rebeldes e do governo imperial. As fontes que trabalha, se encontram no acervo do Núcleo de Documentação Histórica (NDH), do PPGH-UPF. Nelas ficam demonstradas as estratégias e táticas do barão para vencer os farroupilhas, os procedimentos para neutralizar o apoio externo aos rebeldes e as alianças com líderes platinos.

Amanda Pinheiro Mancuso, em “A História Militar: notas sobre o desenvolvimento do campo e a contribuição da História Cultural” propõe um exercício de reflexão teórica sobre o papel da história militar e as críticas que lhe são freqüentemente dirigidas, articulando essas questões com as reflexões sobre a construção histórica empreendida pela História Cultural, de forma a mostrar que as fraquezas e vulnerabilidades que atingem a produção histórica militar são as mesmas a que está sujeita de maneira geral toda produção historiográfica. O objetivo da autora, não é redimir a história militar e sua produção oficial pelo caráter ideológico comumente incutido nessas produções, mas sim, tornar o leitor atento a essas características que são marcantes nas construções históricas oficiais em função do papel institucional que exercem, de forma a ultrapassar barreiras culturais que se colocam diante dos historiadores e que acabam reproduzindo visões essencializadas sobre “os militares” como categoria de análise.

Em “A religiosidade na dança: entre o sagrado e o profano”, Solange Pimentel Caldeira apresenta um breve histórico da presença da Dança no contexto do sagrado nas antigas civilizações até seu banimento da liturgia oficial da Igreja Católica. Enfoca a tradição dançante mantida nos guetos e a preservação, pela cultura popular, de algumas festas para Santos da Igreja Católica, que chegam ao Brasil vinculadas à questão da tradição herdada do processo de formação da sociedade brasileira, com suas variadas influências e contribuições, como as Festas Juninas, para São Pedro, Santo Antônio e São João, sempre com música e dança e a Festa-Dança de São Gonçalo, que acontece e se perpetua no espaço social e geográfico mineiro, como vivência religiosa-profana.

A professora Fabiane Tamara Rossi, no seu artigo intitulado “Aula de História com Zeca Baleiro: uso da música-canção como recurso didático no Ensino Médio” problematiza a música-canção como elemento utilitário ao Ensino e, mais especificamente, a obra musical de Zeca Baleiro enquanto provedora de temáticas para o ofício do professor de História do Ensino Médio. Para isso faz uso da obra do cantor (de 1997 a 2004), além de reportagens veiculadas na imprensa. Para correlacionar a música e o ensino embasou a pesquisa nos PCNs e Currículo Básico do Distrito Federal. Inicialmente discute a utilização da música enquanto recurso didático em sala de aula. Em seguida, problematiza o universo de referências de Zeca Baleiro, trazendo sugestões para a utilização de suas canções no ensino de História do Ensino Médio.

No texto “Dos Excessos Tropicais à Moderação dos Costumes: um debate sobre a idéia de processo civilizador na obra de Gilberto Freire”, Vanderlei Sebastião de Souza a partir da leitura das obras Casa-grande & Senzala e Sobrados e Mucambos, ambas publicadas por Gilberto Freyre na década de 1930, o objetiva discutir o modo como a idéia de processo civilizador, conforme o sentido desenvolvido por Norbert Elias, pode ser apreendida na interpretação que Gilberto Freyre lança em relação à sociedade e à cultura brasileira.

O artigo “Historiografia e História Cultural: representações de Capistrano de Abreu na historiografia brasileira”, da autora Ítala Byanca Morais da Silva, atenta para o fato de que Capistrano de Abreu, como muitos dos intelectuais que lhe foram contemporâneos, foi objeto de práticas deliberadas de construção da memória, sendo a criação da Sociedade Capistrano de Abreu (1927-1969) a materialização das aspirações dos “discípulos”, amigos e pares de Capistrano de Abreu em torná-lo um personagem memorável para a história da inteligência brasileira. Esta instituição passou por vários momentos representativos da produção historiográfica nacional, e em seus últimos anos de atividade foi dirigida pelo historiador José Honório Rodrigues. Dessa forma, objetiva discutir as representações construídas sobre Capistrano de Abreu por esta sociedade.

Em “Sebastianópolis, ou o Rio de Janeiro em vários tons” Stela de Castro Bichuette terá como foco de estudo a cidade do Rio de Janeiro, muitas vezes chamada de Sebastianópolis por Adelino Magalhães, o qual se desenvolverá tomando como ponto de partida a visão caleidoscópica que o autor tinha da então capital federal. Os contos de Adelino Magalhães trazem para o período do começo do século XX uma literatura de cunho mais social, buscando revelar uma cidade diferente da dos ideais republicanos de higienização, de ordem e de progresso, ou seja, de um modelo de Brasil moderno que a elite política pretendia naquele início de século.

O artigo “O Ciclo Produtivo de Hortelã no Oeste do Paraná: outras memórias”, do autor Gilson Backes, apresenta uma investigação em curso sobre experiências vividas por trabalhadores do ciclo produtivo de hortelã, migrados para o Oeste do Paraná durante as décadas de 1960 e 1970. Tal caminho demarca novos olhares sobre este espaço, valorizando as dinâmicas sócio-culturais processualizadas durante o período, a exemplo do aumento de alunos nas escolas. Este ponto de vista contribui no sentido de pensar e interagir com outras memórias produzidas e / ou que permanecem reelaboradas neste cotidiano, não obstante a insistência de silêncios. As narrativas orais são problematizadas na perspectiva de diálogo, aponta outras interpretações para uma compreensão mais ampliada deste espaço, por sua vez constituído por múltiplas relações, conflitos e temporalidades.

Lúcio De Franciscis dos Reis Piedade Filho, em seu texto “O imperialismo e a representação do Congo em Tintim na África”, discorre acerca do imperialismo em seus contextos histórico, econômico e social, e o impacto dessa política nos países do continente africano. O estudo recai sobre o Congo Belga, e a partir daí será abordada a representação do país em questão na história em quadrinhos Tintim na África. É apresentado, antes e sumariamente, a biografia do autor da obra, o belga Hergé, e o contexto histórico no qual ele se inseria. Na perspectiva do período tratado pela obra, a década de 30 do século XX, levou em consideração os seguintes aspectos: a supremacia do homem branco, os embates entre o colonizador e os colonizados, as missões cristãs “civilizadoras” e a exploração no Congo Belga.

No texto “Representações Femininas na Aristocracia da Florença do Quattrocento”, a autoraMaría Verónica Pérez Fallabrino, tem como objetivo analisar as representações femininas segundo como eram concebidas nos ambientes da alta aristocracia da Florença do século XV. A partir da estreita relação entre História e Literatura, o estudo apoiou-se em obras literárias produzidas por teóricos da época, resgatando através delas o ideal feminino exaltado e reproduzido entre os membros da elite florentina.

O professor Dr. José Adilçon Campigoto em seu artigo “O Código da Vinci e a produção da história na perspectiva hermenêutica”, discute sobre os métodos da hermenêutica e a proposta da interpretação filosófica de Hans-Georg Gadamer para historiadores a partir dos personagens da trama O Código da Vinci, de Dan Brown. Tenta-se descrever e classificar os modos de interpretação utilizados pelas figuras dramáticas diante da resolução de um acontecimento enigmático: o assassinato do curador do museu do Louvre, Jacques Saunière. A metodologia interpretativa utilizada pelo policial Bezu Fache é comparada aos procedimentos dos personagens historiadores, Langdon e Sir Leigh. A atitude interpretativa adotada pela protagonista Sophie compara-se à proposta da hermenêutica filosófica. Um contraponto aos métodos: contextual, psicológico e filológico.

Em “Plutarco e a tradição cultural grega no império”, a autora Maria Aparecida de Oliveira Silva ressalta que a permanência das práticas culturais gregas em plena época romana desperta o interesse dos estudiosos da Antigüidade, em especial daqueles que procuram compreender a natureza da Segunda Sofística. A despeito das dominações militar e econômica impostas aos gregos pelos romanos, esse movimento literário espelha o vigor e a excelência da tradição cultural grega, manifestada em sua literatura, capaz de superar tais barreiras. Por esse motivo, vários estudiosos atribuem à Segunda Sofística um caráter ideológico, no qual os autores gregos desse período escreveriam somente para a divulgação e a manutenção da política imperial. Assim, o artigo discorre sobre o quanto essa análise torna-se insuficiente no caso de Plutarco, uma vez que o intuito desse autor é demonstrar a contribuição grega na formação do Império.

No artigo intitulado “Cenas do Recôncavo: a decadência senhorial na literatura de Anna Ribeiro (1843-1930)”, Marcelo Souza Oliveira objetiva analisar a obra de Anna Ribeiro de Araújo Góes Bittencourt (1843-1930), em especial as produções da década de 1910. Um cruzamento entre os três contos e os romances produzidos nesse período, sobretudo Letícia (1908a), leva o autor a conclusão de que havia uma obsessão da escritora em contar a história da decadência da elite açucareira e escravocrata do Recôncavo baiano, numa perspectiva paternalista. As histórias, as personagens e até mesmo o ambiente que contextualiza as tramas são permeadas por estratégias simbólicas com as quais a autora buscava demonstrar a visão senhorial desse momento histórico.

Astor Weber em seu texto “Os Eyiguayegui-Mbayá-Guaicuru: o tratado de paz de 1791”, pretende mostrar as principais intenções do Governo Colonial português de tornar os indígenas Eyiguayegui-Mbayá-Guaicuru – que se localizavam na Capitania de Mato Grosso – em uma barreira fronteiriça física, objetivando evitar uma possível invasão espanhola àquela região. O Tratado de Paz elaborado em 1791 entre o Governo Colonial português e os indígenas é a fonte histórica analisada no sentido de tecer as reflexões nessa direção. O conteúdo do Tratado mostra que seu teor interessava aos dois lados, tanto aos índios quanto aos portugueses, pois havia a perda da hegemonia local e a aliança vinha no sentido de restabelecer algumas posições. No entanto, uma questão interessante desse episódio é que os indígenas não tinham como saber realmente o teor dessa aliança que ao passar do tempo se mostrou maléfica ao grupo, ocasionando seu declínio demográfico no século XIX.

O artigo “Um acervo de Arte Moderna e Contemporânea e a Identidade Institucional”, do autor Emerson Dionisio G. de Oliveira, procura compreender as narrativas produzidas pelo Museu de Arte de Santa Catarina sobre sua coleção dentro de um quadro mais amplo de difusão da Arte Moderna. Para tanto, constrói uma análise crítica do acervo na relação entre os sujeitos e as instituições, definidos, respectivamente, como doadores e obras doadas ou adquiridas. O museu em questão tornou-se ímpar para essa questão, na medida em que se transformou no mais bem-sucedido empreendimento de ampliação da arte moderna fora dos centros culturais hegemônicos nos anos 40.

No texto “D. João VI no Rio de Janeiro: preparando o novo cenário”, a autora Anelise Martinelli Borges Oliveira ressalta que a transmigração de d. João VI e sua corte para o território brasileiro, em 1808, acarretou várias transformações para a sociedade fluminense e para a corte lusitana. A imagem real foi aclamada e adorada por toda a cidade, conseqüência da representação legitimada na figura do príncipe regente. Assim, entende que tendo em vista remodelar o cenário fluminense, o monarca realiza mudanças nos espaços público e privado numa tentativa de enquadrar a cidade aos moldes europeus da época.

Andrey Minin Martin, no artigo “Terra, Trabalho e Família: considerações sobre a (re) criação do campesinato brasileiro nos movimentos sociais rurais”, apresenta algumas reflexões a respeito da construção da noção de campesinato ao longo das últimas décadas de pesquisa no campo das ciências humanas, abordando algumas de suas principais interpretações. Sem a preocupação de formular um constructo teórico-metodológico desta noção, no sentido de encerrar seu campo de possibilidades de apreensão das potencialidades existentes nas práticas dos sujeitos, buscou a partir das contribuições e da produção de alguns teóricos, apresentar questões que entende como norteadoras para o debate sobre o conceito de campesinato e de agricultura familiar.

Em parceria, Ione Aparecida Martins Castilho Pereira e Arno Alvarez Kern, no artigo “Missões Jesuíticas Coloniais: um estudo dos planos urbanos”salientam que o objetivo do trabalho está centrado no estudo sobre os planos urbanos das reduções Guarani, Chiquitos e Mojos, apontando semelhanças e diferenças, bem como o contexto em que se configuraram. Para tal, tomam por base os resultados das pesquisas realizadas nas missões Guarani sobre urbanidade, espaço e arqueologia, justamente por serem estudos mais diversificados em relação à temática das missões. Como ponto de partida, utilizaremos as plantas dos pueblos de São João Batista (no contexto dos sete povos das missões no Rio Grande do Sul), San José de Chiquitos e Concepción de Moxos (ambas em território Boliviano). Os autores relacionam estas imagens com produções bibliográficas sobre as reduções jesuíticas bolivianas, conhecidas até o presente momento, tendo em vista que este ainda é um assunto pouco conhecido, principalmente, devido à dispersão das fontes sobre as mesmas.

Em seu artigo intitulado “Apontamentos sobre Civilização e Violência em Norbert Elias”, a autora Tânia Regina Zimmermann apresenta discussões acerca dos estudos realizados pelo sociólogo Norbert Elias, a partir de alguns conceitos desenvolvidos por este autor. Civilização e violência são temas constantes e atuais para compreensão do movimento da história. Assim sendo, diferentes acepções e usos destes conceitos foram considerados pelo autor. Relacionam-se no artigo autores como Freud, Peter Gay e Alba Zaluar com Elias. Para Elias, o poder é uma característica de todas as relações humanas e está ligado ao grau de dependência entre os indivíduos seja pela força, pela necessidade econômica, de cura, status, carreira ou por excitação. É destas relações, se apoiando em Norbert Elias, que a autora salienta que são construídos os controles civilizacionais e da violência.

Na sessão de “entrevistas”, a Revista tem a satisfação de publicar uma entrevista com o professor e pesquisador brasilianista Robert Wilton Wilcox. O professor Robert nasceu no Canadá e trabalha, desde 1993 em uma universidade dos Estados Unidos: a Northern Kentucky University, situada em Highland Heights, Kentucky. É um nome conhecido e respeitado nos meios universitários brasileiros, e especialmente sul-matogrossenses, por seus trabalhos sobre a história de Mato Grosso / Mato Grosso do Sul. Fechando a IV Edição da Revista, estão as seguintes resenhas: do livro “Michel Foucault: uma história da governamentalidade” do autor Kleber Prado Filho, resenhado por Ana Claudia Ribas; a resenha feita por Diogo da Silva Roiz e André Dioney Fonseca do livro “A Redução de nuestra Señora de la Fe no Itatim: entre a cruz e a espada”, do autor Neimar Machado de Souza; do livro organizado por Celso Castro, intitulado “Amazônia e Defesa Nacional”, resenhado por Julio César da Silva Lopes; e por fim a resenha do livro “Etnohistorias del Isoso: Chane y Chiriguanos em el Chaco Boliviano (Siglos XVI a XX)”, resenhado por Roseline Mezacasa.

Desejamos a todos ótimas leituras!

Carlos Barros Gonçalves

Fabiano Coelho

(Editores)

Dourados – Primavera de 2008.

Carlos Barros Gonçalves

Fabiano Coelho


GONÇALVES, Carlos Barros; COELHO, Fabiano. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.2, n.4, jul. / dez., 2008. Acessar publicação original [DR]

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