Pensar os arquivos: uma antologia | Luciana Heymann e Letícia Nedel

Fruto de um trabalho de tradução e edição de mais de uma década, a coletânea Pensar os Arquivos: uma antologia foi organizada pelas professoras e pesquisadoras Luciana Heymann1 e Letícia Nedel2, tendo sido lançada pela FGV Editora em 2018. Trata-se de uma seleção de textos de revistas especializadas nas áreas de arquivos e estudos históricos, originalmente publicados entre 1991 e 2010, por autores de diferentes origens disciplinares e nacionalidades. A obra tem entre os seus principais méritos o de fazer circular em língua portuguesa artigos relevantes no debate atual em torno da temática dos arquivos, e em conjunto, constituem um bem elaborado “estado da questão”3 sobre o tema.

Para o campo da História da Educação, escopo temático da presente revista, a coletânea reforça a impossibilidade de uma relação asséptica com os arquivos, especialmente nas atuais perspectivas teórico metodológicas sobre as quais está assentada a produção do conhecimento histórico. Dentro da tradicional ideia de que o historiador fala a partir dos documentos, há que se considerar que a operação historiográfica deve falar também a partir dos arquivos, enquanto conjunto documental histórica, cultural e socialmente produzido. Leia Mais

Arquivos pessoais: reflexões disciplinares e experiências de pesquisa | Luciana Heymann, Isabel Travancas e Joelle Rouchou

Embalado por um movimento entendido nos estudos da pós-modernidade como “o retorno do sujeito”1 se percebe há mais de trinta anos um aumento crescente do interesse de pesquisadores quanto a utilização de arquivos que “vão além” daqueles considerados “consagrados”. Mas quais seriam estes arquivos “para além”? A palavra “arquivo” correntemente esta associada à imagem de grandes conjuntos documentais onde podem ser encontrados os saldos das atividades burocráticas de determinada instituição, seja ela pública ou não. Já os arquivos “para além” ultrapassariam essa noção circunscrita de arquivo como um lugar de verdade e imparcialidade.

Como exemplo destes diferenciados corpos documentais, se colocam os arquivos pessoais, que, durante décadas, desde as primeiras manifestações do movimento Annales, ficaram marginalizados pois entendia-se que estes estavam ligados a um fazer histórico a ser superado. No entanto, mudanças no “fazer” historiográfico ligadas sobretudo a releitura de uma história política e o desejo de construção de uma história do “ordinário”, do homem comum, suas práticas e hábitos trouxeram novamente à cena tais vestígios, instigantes testemunhos de trajetórias individuais. Leia Mais